domingo, outubro 30, 2016

«É a Cultura, Estúpido!»


Ainda bem que sou teimoso, caso contrário já tinha deixado de participar há algum tempo activamente na vida cultural de Almada. 

É mesmo a única explicação que encontro para esta "minha continuação",  muitas vezes a "pregar para o deserto", de mais de duas décadas a fazer cultura como activista ou como simples organizador.

Sim, porque quando organizamos qualquer evento ele à partida não se destina apenas a meia-dúzia de pessoas. 

Sei que isso acontece por várias razões. Falta de divulgação? Não. Falta de interesse? Sim.

E em Almada ainda se passa outra coisa: fazem-se demasiadas actividades (a própria Autarquia por vezes organiza mais que uma actividade para o mesmo dia e à mesma hora. Ontem à tarde por exemplo tiveram lugar duas inaugurações de exposições e a um lançamento de livro, à mesma hora, em três lugares diferentes e organizados por três estruturas associativas também diferentes.

Na noite anterior houve um concerto do Sérgio Godinho na Academia Almadense e uma peça de teatro na Incrível. Como calculam foi o teatro que ficou a perder, com apenas oito pessoas a assistirem ao espectáculo...

Gritar ao sete ventos: «É a Cultura, Estúpido!», não resolve nada, nem tira ninguém nos sofás, cada vez mais entregues às telenovelas ou ao futebol (hoje não falo das redes sociais, até porque há quem também chame isso aos "blogues"...).

Só há uma forma der combater este "divórcio" entre as pessoas e a cultura, é a aposta na qualidade e não na quantidade.

Por exemplo, a peça a que assisti ontem na Incrível, "Ainda Existem Flores no Jardim" (escrevi sobre ela no "Casario"), merecia mais que as cerca de três dezenas de pessoas que apareceram no Salão de Festas da Colectividade Almadense, um monólogo que contou com a excelente interpretação de Mara Martins (é ela que ilustra estas palavras).

(Fotografia de Luís Eme)

10 comentários:

  1. Totalmente de acordo com o conteúdo do texto. Cumrimentos

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  2. Luís, por aqui passa-se o mesmo.
    Como trabalho na área da cultura, amiúde discutimos este assunto.
    Pegando no exemplo do dia do espectáculo do Sérgio (também esteve aqui há dias com casa cheia, eu incluída), achas que o público dele iria ao teatro?
    Por vezes também temos iniciativas à mesma hora, o que nos leva a dizer que não temos escala para tal. Actualmente, vejo essa coincidência como positiva porque, creio, que na maior parte das vezes vai ao encontro de gostos diferentes.

    Se acho estranho haver poucas pessoas nas inaugurações das exposições e nos lançamentos de livros?
    De modo nenhum, tanto mais se houver outras iniciativas.
    Repara: a exposição não foge e o livro também não. Tenho consciência que isto é muito frio, sim, mas sinto-me muito à vontade para o dizer.
    Estas iniciativas, como outras do género, só fazem sentido e assim captam público, se tiverem um programa paralelo muito apelativo.

    De qualquer modo, tenho pena que a tua exposição não tenha tido mais gente.

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    1. Gostei do "programa paralelo" (que também havia), Isabel.

      O problema é ligeiramente mais complexo...

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  3. Já tinha lido sobre a pesa no Casario. Às vezes demasiados eventos no mesmo dia e à mesma hora, têm um efeito contrário ao que se pretende.
    Um abraço e uma boa semana

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    1. Têm sempre, Elvira.

      Há sempre quem fique dividido.

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  4. como entendo, Luís...
    às vezes é mesmo assim. mas a solução nem sempre é em detrimento da quantidade. há muita coisa a resolver, de fundo, de base.
    temos anos de atraso cultural e é preciso que se ensinem as pessoas.
    tenho um exemplo desses na área em que vivo. e resulta...
    demora é muito tempo...

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    1. Mas eu nem queria ir tão longe, "à base", Laura.

      Além dos anos de atraso cultural, o egoísmo e individualismo faz com que algumas pessoas só participem em actividades em que sejam as "vedetas".

      E sim, passa pela educação, pelo ensinar a gostar... que devia começar logo na primária.

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  5. É fantástica essa tua militância pela cultura. Parabéns, Luís.
    Um abraço.

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