quarta-feira, janeiro 09, 2008

A Sociedade Continua a Recuar no Tempo

Estava a ler um dos textos da Isabel do "Caderno de Campo", sobre a miséria urbana, quando me lembrei de um velho, tido como louco, conhecido popularmente como "Jão Batista", por andar descalço com um varapau nas mãos, ter barbas grandes e usar uma pele de ovelha como casaco...). Ele não era um maluco qualquer, falava com raiva, conhecimento e despeito deste mundo onde vivemos.

Recordei-o com tanta nitidez...
Antes de virar costas ao povo que estava no Largo da aldeia, divertido com o espectáculo, disse uma última frase que ainda provocou mais risadas, mas que a mim, me deixou a pensar. Ainda o estou a ver a olhar para os seus pés descalços sujos e a dizer: «ainda vai chegar o tempo em que vocês também vão andar descalços. Mas não é por quererem, como eu, é por não terem nada para calçar.»
Disse aquilo, com um ar quase profético, como se conseguisse ler nas estrelas e afastou-se.
Claro que esta afirmação foi excessiva, mas como estamos a perder tantas coisas, lembrei-me deste "louco"...
Em apenas uma década o que se perdeu no campo dos direitos humanos...
Coisas que demoraram séculos a conquistar, no campo do trabalho, da saúde, da segurança social, da educação, etc, fogem-nos das mãos, de uma forma inexplicável, nos últimos anos, graças aos "ditadores", que governam os principais países e que se escondem atrás da capa do "liberalismo" económico e social, que não passa de um capitalismo, do mais selvagem que se tem visto por aí.
Embora se produza cada vez mais riqueza no Planeta, as desigualdades e a pobreza são cada vez mais evidentes, e já não é apenas no chamado "terceiro mundo".
E nós vamos assistindo a tudo isto, impávidos e serenos...
A imagem simbólica que ilustra estas palavras é a "Pregação de S. João Baptista", da autoria de Diogo de Contreiras, pintor do século XVI.

12 comentários:

  1. Tempos complicados, Luís.
    Mal sabemos onde tudo isto irá parar.
    Eu temo pelos que cá hei-de deixar, sem segurança de espécie nenhuma.
    Nem no emprego, nem na saúde, nem na justiça.
    Eu disse Justiça?
    Devia ter dito ausência dela.

    Abraço

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  2. Os chamados "loucos" dizem quase sempre coisas muito acertadas...
    De facto isto está difícil.
    Que faremos para que mude?
    Um abraço Luís

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  3. é verdade Luis, estamos a caminhar a passos largos para um País de terceiro mundo, cada vez temos menos condições, quer na saúde, quer no trabalho... por enquanto ainda caminhamos calçados... tem graça, mas é um humor que dá que pensar... eu não vivi o 25 de Abril, sei muito dele pelo que li e pelo o que o meu avô me contou (nas nossas longas conversas), mas sabes eu acho que estavamos a precisar de um segundo 25 de Abril...
    aquele abraço

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  4. Quem são os loucos afinal?!...


    Um abraço*

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  5. Luis, sei que nomeações, prémios e afins destinados aos blogs, não são algo que tu admires muito, mas eu deixei um mimo para Ti, pelo que és e pelo que sinto ao Ler-Te, por isso passa lá e pelo menos recebe-o com todo o meu carinho.
    Aquele abraço.

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  6. :)

    pois assim sendo nada mais tenho a acrescentar.


    O seu post "colado" ao Caderno fica P E R FE I T O.



    _____________________

    bom fim de semana.

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  7. É tudo tão estranho...

    é tudo tão macabro...

    às vezes também penso, do que será dos meus filhos...

    Talvez emigrem...


    abraço Sininho

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  8. Se dizem...

    Pois, mudar, com quem? Com o Menezes?

    abraço Graça

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  9. Precisavámos de governantes mais sérios e competentes, disso não tenho dúvida, Manuela...

    abraço

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  10. Loucos somos todos nós que aturamos esta gente, Maria P.


    abraço

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  11. Recebi-o com todo o carinho, Manuela.

    abraço

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  12. É giro que foi o "post" da nossa amiga Isabel que despoletou, que me recordou do "louco"...

    abraço Isabel

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