quarta-feira, setembro 23, 2020

O Tejo Está Longe de ser "Tudo"...


Eu sei que as palavras dos políticos valem o que valem, mas não estava à espera de ouvir na televisão, a presidente da Câmara da minha Cidade, dizer que "não se importava de ir viver já amanhã para o Bairro Amarelo, com aquela vista maravilhosa".

Para quem não saiba, este é um dos bairros do Concelho de Almada mais problemáticos a nível social. E como se isto não bastasse, uma boa parte dos seus apartamentos estão longe de oferecer condições dignas de habitabilidade. 

Pois parece que se "salva" a vista, tão boa que é capaz de esconder tudo. Ao ponto de ser "invejada" e "desejada" por Inês Medeiros...

Isto pode levar-nos para muitos caminhos. Até podemos viajar até ao século XIX, em que muitos artistas (pintores, poetas e romancistas) viajavam até Almada, para olharem Lisboa, com olhos de ver. Muitos deles disseram inclusive que a única coisa que se aproveitava em Almada era a vista para Lisboa, através dos seus miradouros, quase todos naturais. E tinham razão, a pobreza de então dos almadenses estava espelhada nas ruas da então Vila e pertencia a um "mundo" demasiado distante do seu.

Hoje mais que os miradouros, inveja-se a vista de muitas casas de almadenses (a minha também olha para o Tejo...). E acredito que muito promotor imobiliário, se pudesse, "implodia" o bairro do "Picapau Amarelo" para construir naquele lugar "abençoado" pela vista para o Tejo, dezenas e dezenas de condomínios de luxo...

Pobre gente esta, que não percebe que o Tejo (aliás, fingem que não percebem), apesar da sua beleza, está longe de ser "tudo"...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)

6 comentários:

  1. E porque não vai?, não lhe perguntaram?

    Luís, é incómoda tamanha "inocência" no discurso político.

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    1. Não sei se é inocência, Isabel.

      Acho que é mais sobranceria e estupidez natural...

      E ainda fica pior quando ela diz que o que disse está descontextualizado...

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  2. Que se saiba apreciar e dar valor à beleza. Sem se ignorar a pobreza. Para que não existissem tantas desiguladades. O essencial seria destribuir, corretamente, a riqueza.

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    1. Afinal parece que o Sol não é para todos, Eduardo... Tal como o Tejo.

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  3. Sammy, o paquete24/09/20, 17:03

    Digamos que, politicamente, a personagem não tem nada dentro da cabeça.
    A culpa não lhe pertence completamente, mas a quem a colocou nestas andanças.
    Há muito que, em matéria de cultura, de política, estamos na estaca zero.
    Já não há lugar para o susto.
    Calçamos as pantufas, sentamo-nos frente ao televisor, brincamos com o telemóvel, dizemos que vivemos.
    O título dava outra discussão. O Tejo ainda é tudo. O Vitor Silva Tavares desde a Rua das Madres, na Madragoa, via-o para lá das antenas de televisão. E isso acriciava-lhe os dias.

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    1. A vaidade cega, Sammy.

      Há por ai muito boa gente que queira ser "presidente" de qualquer coisa, sem sequer se preocupar no que se está a meter...

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