quarta-feira, outubro 12, 2016

«Esta gente tem medo de olhar para o Tejo»

Pensei em ti e tentei escrever um poema sobre o que pensavas (e que eu concordava em parte...), quando chegavas a Cacilhas.

Não conseguias gostar de nada. Achavas que não podia existir pior cartão de visita que um lugarejo tão feio, e que maltratasse tanto o Tejo...

Hoje as coisas estão um bocadinho melhores, talvez até gostasses de passear pela Rua Direita, mas sei que é muito pouco.

Entretanto encontrei um recorte de jornal com a notícia sobre a discussão de um dos plano de pormenor locais, em que um  ou dois apaixonados por cidades com torres, queria transformar o morro de Cacilhas num prédio de 100 andares. Se era para ser atracção turística, era uma coisa muito pobrezinha, ali quase ao lado da Fragata e do Submarino, mais a lembrar Pequim que Nova Iorque.

Fiquei a imaginar o que me dirias sobre essa coisa. Talvez me perguntasses quem seriam as pessoas que queriam morar num prédio com tantos andares... Talvez me falasses dos prédios da Reboleira que mais ano menos anos acabam por implodir...

Um dia chegámos a Cacilhas e o barco já não nos quis levar. Ocupámos os vinte minutos que distavam da próxima viagem para Lisboa com um passeio curto pelo Ginjal. Uma das coisas que dissestes foi: «esta gente tem medo de olhar para o Tejo.»

Talvez tenham mesmo medo e precisem de uma torre para olharem o "Rio da Minha Aldeia" de alto para baixo. Como se o Tejo fosse menino para perder a sua grandeza...

(Fotografia de Luís Eme)

6 comentários:

  1. os nossos rios nunca perdem a sua grandeza....

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    1. Pois não, Laura. :)

      Principalmente o da nossa aldeia...

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  2. Nem com o dobro dos andares o Tejo deixaria de ser majestoso.
    Abraço

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    1. Claro que não, Elvira.

      Mas assusta-me onde chega a sombra de um prédio de 100 andares...

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  3. Ainda não passou muito tempo que estive duas vezes em Cacilhas, que pisei pela primeira vez.
    Luís, portanto sou uma estrangeira!
    Para mim, terras que têm água no meio ou nas bordas têm um valor acrescido e isto faz parte daquelas coisas que eu não sei bem explicar. Uma sensação de movimento, de algo que pulsa. E agora que semicerrei os olhos para imaginar Cacilhas sem o rio, sei que não gostaria dela nessas circunstâncias e que é o brilho da água que atenua a degradação.
    Contudo, surpreendeu-me o arranjo daquela rua dos restaurantes. Como se chama?
    Prédios ali? Altos, ainda por cima? Não, não. Controla isso :)

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    1. Tens razão, a rua Cândido dos Reis está com uma vida feliz, Isabel.

      Mas quando sais do barco, a vista é muito pouco atractiva...

      Felizmente mudou-se de presidente de Câmara e parece que se esqueceram das torres...

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