quarta-feira, setembro 24, 2025

A Guerra Colonial e os vários "comboios da liberdade"...


Ontem tive uma conversa extremamente rica, com alguém que viveu intensamente, os primeiros anos da década de setenta do século passado, um tempo de grande união, em que se lutava contra um inimigo comum, o marcelismo (que era apenas o salazarismo retocado...).

Foram tempos em que a maior parte das pessoas, que gostavam de liberdade e de democracia (dos mais conservadores aos mais revolucionários), eram capazes de esquecer as diferenças e baterem-se pelo que achavam melhor e mais justo.

A Guerra Colonial deveria ser um dos aspectos mais abrangentes da sociedade de então, até por que deixavam todas as mães em alvoroço (mesmo as de boas "famílias"...). Eram demasiados os exemplos de jovens que morriam ou ficava incapacitados para todo sempre...

E foi por isso que aumentou no final dos anos 1960 (mesmo que não existam dados, era uma estatística que interessava muito pouco ao governo de então...) a fuga de jovens para as Europas, com a cumplicidade dos pais, familiares e amigos...

Ela foi uma das jovens que ajudou muitos amigos a darem o salto para Espanha, de onde apanhavam o "comboio para a liberdade", que só parava em terras francesas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, setembro 23, 2025

Um dos sorrisos mais bonitos do cinema


Claudia Cardinale deixou-nos hoje.

Foi uma das actrizes que mais encheu as telas com o seu sorriso bonito, num tempo em que a beleza era fundamental na sétima arte.

O curioso, é nunca ter sentido qualquer ameaça de uma Marylin Monroe, de uma Ava Gardner, ou de geografias mais próximas, de uma Sophia Loren...

Sim, nunca lhe faltaram filmes, bons, maus ou assim assim. Em qualquer deles, a Claudia dava nas vistas, muito graças ao seu sorriso, que fazia com que qualquer assassino do Oeste baixasse as armas...

(Fotografia de autor desconhecido)


domingo, setembro 21, 2025

«O que é um mau autarca?»


Deverão existir dezenas de definições e explicações do que é um mau autarca.

Claro que a pergunta que me fizeram, trazia "água no bico", queriam que eu concretizasse as críticas que faço, de vez em quando (são menos do que as que devia, reconheço...), à autarca cá do burgo.

Foi por isso que resolvi não pessoalizar a questão.

Disse apenas que um mau autarca é alguém que consegue, quando comparado com o seu antecessor, fazer pior em praticamente todos os domínios, desde a higiene (contentores cheios de lixo e ruas sujas e mal cheirosas...) às artérias (mau estado do piso e mau fluxo de viaturas...), passando depois por os outros sectores mais sensíveis, como são a melhoria dos espaços verdes (sem os tornarem uma "selva", fazendo com que sejam agradáveis para todos...) ou ainda a oferta social, cultural ou desportiva.

Ou seja, alguém, que em vez de melhorar, piora a qualidade de vida dos seus concidadãos.

E nem falei dos dinheiros, de quem gosta de gastar mais do que tem e mal, muito menos dos compadrios, demasiado visíveis, quando se tem o desplante de arranjar empregos para a família e para os amigos...

Claro que depois houve "retratos" para todos os gostos, onde não poderia faltar o sorriso cínico do alcaide de Lisboa...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, setembro 20, 2025

A Constituição é a Mãe de todas as Democracias


Aquilo que chamamos democracia tem a grande vantagem de permitir a troca de argumentos entre rotos, gente com roupa remendada e, imagine-se, fulanos com fatos engomadinhos de domingo.

O que não permite é que não se cumpra a Constituição, que rege os países democratas, onde estão inscritos os deveres e os direitos de todos, sem qualquer tipo de discriminação. Sim, nas Constituições não há maiorias e minorias, cidadãos de primeira ou de segunda.

É por isso que as verdadeiras democracias não permitem dizer,  - ou fazer tudo o que nos apetece -, às pessoas de quem não gostamos ou com quem não concordamos. Mas não somos nós que impomos os limites, é a Constituição.

Ou seja, até podemos gostar de "xafurdar" em pocilgas, falar aos gritos ou dizer os nomes piores que conhecemos. Não temos é de obrigar os outros a fazerem também estas coisas, que parecem contribuir para a nossa felicidade.

Agora está na moda falar de "linhas vermelhas". Só que normalmente cada um traça as linhas que quer, mais curtas ou mais compridas, ou seja, conforme lhe dá jeito. 

É também por isso, que nunca foi tão importante o papel do Tribunal Constitucional, que até aqui tem funcionado de forma equilibrada, nas escolhas dos seus juízes (embora as direitas, que agora estão em maioria no Parlamento queiram desiquilibrar a balança...).

Tudo isto para dizer que há limites nas democracias. Não é o Presidente da República ou o Primeiro-ministro que os impõem (muito menos os líderes partidários), é a nossa Constituição.

(Fotografia de Luis Eme - Lisboa)


sexta-feira, setembro 19, 2025

Um grande jornalista desmonta, num excelente livro, o maior embuste da nossa democracia: o Chega


Embora algumas personagens fabricadas pela televisão, acreditem que é no "espelho", que está o segredo do sucesso, que basta dizer muitas vezes à imagem que aparece à nossa frente, quase, quase, igual a nós, que somos os melhores, que nos tornamos uns "gigantes", elas sabem que não é suficiente. Por muitos disfarces que usem falta sempre qualquer coisa...

O que nos torna realmente grandes, é o nosso trabalho, aquilo que fala por nós, sem ter à frente e atrás o nosso retrato.

Eu já sabia que o Miguel Carvalho era um grande jornalista. E fiquei a saber que também era um grande ensaísta e investigador, quando escreveu um livro único sobre o Verão Quente. Livro que deve ser amaldiçoado por todos aqueles que agora tentam agarrar com as duas mãos o 25 de Novembro de 1975, mesmo que nesses tempos andassem mais entusiasmados em queimar sedes do PCP na região Norte, que em participar em golpes revolucionários (a participação do PPD no 25 de Novembro é residual e a do CDS praticamente nula...). Estão lá os nomes todos...

Falo de Quando Portugal Ardeu - Histórias e Segredos da violência Política no pós-25 de Abril.

E agora voltou a oferecer-nos outro grande livro, cheio de peripécias. Falo de Por Dentro do Chega - a Face Oculta da Extrema-direita em Portugal.

Falo em "grande", não pelo tamanho (mesmo que ultrapasse as setecentas páginas...), mas pela qualidade, pelo excelente trabalho de investigação realizado. 

As ameaças, os boatos e as perseguições feitas ao Miguel, promovidas por este grupo de malfeitores que anda por aí disfarçado de partido político, com o sucesso que todos conhecemos, não conseguiu vencer a realidade nem a história. 

Sim, neste livro não se poupa qualquer palavra sobre o antes e o durante de uma quase "seita", que nunca escondeu ao que vinha, nem por quem era patrocinada, embora ande por aí demasiada gente distraída. Gente que além de adorar mentiras, parece estar saudosa dos regimes autocráticos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, setembro 18, 2025

Dias de "São Mourinho"...


Ontem e hoje o país foi quase só "José Mourinho", que regressou a Portugal, para treinar o Benfica.

Confesso que depois dos dois últimos jogos dirigidos por Bruno Lage, pensei que era boa ideia começar a  deixar de gostar do Benfica. Como se isso fosse possível...

Pensei nisso, mais a pensar nas exibições que nos resultados, mesmo que as derrotas do Caldas e do Benfica, normalmente me deixem triste. Sabia que o treinador tinha os dias contados, por falar de mais e a equipa jogar de menos, e claro, por estarmos cada vez mais perto das eleições.

Eleições com uma mão cheia de candidatos. Não compreendo o regresso de Vieira, que é passado. Embora goste de Rui Costa, sei que tem cometido demasiados erros como presidente. Penso que uma mudança era bem vinda, para acabar de vez com hábitos antigos.

No campo técnico acredito que o Benfica vai mudar para melhor, mas também sei que o futebol de Mourinho não vai rivalizar com o de Jorge Jesus, que mostrou a todos os benfiquistas que era possível ganhar e dar espectáculo para as bancadas, distanciando-se em qualidade do vulgar jogo do "chuto na bola".

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, setembro 17, 2025

«O que seria de nós, sem as utopias?»


Os nossos filhos discutiam, acaloradamente, estes momentos estranhos que vivemos.

Faziam viagens rápidas, ora pelos EUA de Trump, com passagens por Gaza, e depois, faziam várias paragens pela Capital, a deles, a do "zé das moedas"... e claro, a dos outros.

Às vezes quase que gritavam. Percebíamos que raramente estavam de acordo. Quando tens vinte anos, quase que queres obrigar os outros a pensarem como tu...

Andei para trás no tempo e pensei que talvez fosse pior que eles, com aquela idade, tanto no ambiente de trabalho como em família. Quando comecei a trabalhar, a sério, era o "menino". Os outros rapazes, também jovens, levavam-me no mínimo quatro anos de avanço. Isso fazia com que houvesse alguma condescendência pela minha juventude e rebeldia. Em família, nem por isso. Um ou outro tio, achava que era demasiado novo, para falar disto ou daquilo. Talvez tivessem um bocado de razão. Um bocado não, apenas um bocadinho.

Quarenta anos depois, ali estava eu, a assistir aquele espectáculo raro, ver a nossa juventude a falar e a pensar, em vez de estarem ligados ao rectângulo do costume, com umas coisas nos ouvidos.

Percebia à légua que a minha filha era a "rainha das utopias". A mãe disse-me qualquer coisa, que estava ligada ao mundo dos sonhos.

Eu limitei-me a sorrir e a dizer: «O que seria de nós, sem as utopias?»

(Fotografia de Luís Eme -  Caldas da Rainha)


terça-feira, setembro 16, 2025

Robert Redford: um dos raros actores que era tão, ou mais importante, que os filmes onde brilhava...


Embora este "Largo" tenha "Memória", ultimamente não tem feito homenagens às pessoas com mais de "dois metros", que nos vão deixando, como aconteceu agora com Robert Redford.

Redford foi muito mais que um actor bonito, conseguiu acrescentar sempre algo, aos seus papeis no cinema. Foi um dos raros actores que conseguia ser tão ou mais importante, que os filmes que protagonizava. São muito poucos os que têm este talento. Os primeiros nomes que me ocorrem são os de Robert De Niro e Meryll Streep, mas há também um Tom Hanks ou um Al Pacino, e pouco mais... 

Não esqueço Os Homens do Presidente, um filme de culto do jornalismo e da política (foi exibido, estudado e criticado no Curso de Jornalismo que fiz no Cenjor...). Embora ele tenha deixado a sua marca em todos os filmes que entrou (largas dezenas), mesmo os mais banais.

Além de actor também dirigiu alguns filmes, tendo mesmo ganho o óscar de melhor realizador com Gente Vulgar (que também foi melhor filme).

Mas Robert Redford não se ficou por Hollywood, nem viveu à sombra dos seus louros ou da sua imagem, foi o principal responsável pela criação do melhor festival de filmes independentes dos Estados Unidos da América, o Sundance Film Festival.

(Fotografia de autor desconhecido - uma cena de Os Homens do Presidente, onde contracenou com Dustin Hoffman)


segunda-feira, setembro 15, 2025

Foi aberta a nossa "caixa de pandora"...


As acusações contra um actor e encenador do Porto abriu a nossa "caixa de pandora", onde estão guardados muitos dos casos de assédio e de abusos sexuais do nosso mundo artístico.

Pensava que as histórias que ouvia falar, aqui e ali, iam ficar perdidas no tempo (embora nunca fossem esquecidas pelas vítimas...), porque a globalização e a a popularidade das redes sociais tinham acabado com o nosso tradicional atraso entre países como os  EUA ou o Japão.

Parece que estava enganado. Pelo menos é o que a realidade conta. O "Me Too" está a chegar, com o atraso do costume...

Sim, as denúncias públicas e a desmontagem dos método de trabalhos da escola de teatro do Porto,  onde o assédio e a humilhação, fizeram parte do dia a dia dos alunos (preferencialmente os mais bonitos e mais frágeis), durante anos, parecem ter chegado em força. E o mais provável é que não se fiquem apenas por um actor ou encenador...

Sempre achei estranho que apenas as mulheres se queixassem do abuso de homens, quando os maiores escândalos (e perversões...) sexuais se passavam no mundo masculino, pelo menos nas artes cénicas e na moda (nas europas, nas américas e nas ásias...).

Quem conheceu e conhece (as coisas não devem ter mudado assim tanto...), ainda que de uma forma leve, os bastidores do meio mais apetecível e popular do espectáculo, a televisão, sabe que este sempre foi dominado pelo chamado "lobby gay". E sabe também como se "abriam e fechavam portas"...

A questão que acaba por ficar no ar, é se todas estas denúncias vão ficar apenas por um único caso...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, setembro 14, 2025

«Não. O futebol não é uma arte. É apenas um jogo, que por vezes é jogado por um ou outro artista.»


Por ter feito jornalismo desportivo e por nunca ter sido um adepto ferrenho (tanto do Caldas como do Benfica...), normalmente, discuto futebol sem grandes estados de alma.

Foi por isso que não me manifestei muito no começo da discussão sobre se esta modalidade era um arte ou um simples jogo. Só depois de uma acesa troca de palavras entre os meus amigos Jorge e Gonçalo, é que resolvi "desempatar"...

Claro que lhe faltam vários parâmetros para entrar no mundo das artes. O principal talvez seja o facto de ter um número muito reduzido de artistas, a maior parte dos jogadores limitam-se a ser bons profissionais, cumprindo a sua missão sem terem a preocupação de "fazer arte". 

Foi por isso que disse: «Não. O futebol não é uma arte. É apenas um jogo, que por vezes é jogado por um ou outro artista.»

Depois falámos dos ordenados obscenos que se pagam aos futebolístas, tal como da desculpa, quase esfarrapada, de que é um negócio que movimenta milhões. De facto o futebol movimenta muito dinheiro, só que este está longe de ser bem distribuído. A maior parte dos clubes têm de inventar mais do que deviam, entrando inclusive em alguns negócios no mínimo pouco claros, para conseguirem equilibrar as contas. E mesmo assim, os  passivos são quase sempre superiores aos activos...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


sábado, setembro 13, 2025

As artes e as letras como "ganha-pão" (ou não)


Eu sei que, de certa maneira, sou um purista (para outros costumo ser coisas piores...), por não conseguir olhar para o mundo das artes e letras como uma profissão igual às outras.

Claro que sei que quem escreve, quem pinta, quem canta, quem faz teatro, tem de viver como as outras pessoas, ou seja, tem de ganhar dinheiro com as suas actividades criativas. E também sei que se quiser ser alguém, acima da média, não pode continuar a ser artista apenas ao final do dia ou aos fins de semana.

O curioso é que estas discussões normalmente não nos levam apenas a um lado, são demasiado complexas para se ter um olhar simples. Não deixou de ser curiosa a expressão do Jorge, de que apenas alguma boa fotografia e algum bom cinema, são a preto e branco. E mesmo esses nunca dispensam os cinzentos...

Todos conhecemos pessoas que pintavam apenas para vender. E quando o mercado encolheu, muitos arrumaram os pincéis e as tintas  e começaram a fazer outras coisas, que lhe pudessem ajudar a pagar a renda. O Gonçalo atreveu-se a dizer que os pintores eram pessoas diferentes, para levar logo de seguida com o exemplo do Manuel Ribeiro Pavia, que morreu à mingua. E logo ele que se fartou de trabalhar, de fazer capas de livros e ilustrações para escritores, uns amigos outros apenas conhecidos, sem ter tabela de preços. Como a maioria só se lembrava do Manel Pavia quando precisava, ele foi embora quase sem que se desse por isso...

E depois houve alguém que trouxe o futebol para a mesa. E lá se começou mais uma discussão daquelas, porque para uns este desporto era uma arte e para outros apenas um jogo...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, setembro 12, 2025

A bagunça ideológica e política em que estamos metidos...


A morte de um político conservador numa universidade norte-americana, diz muito de como vai este mundo, povoado de radicalismos, tanto à direita como à esquerda.

Não vou falar do apoiante de Trump, mas sim destes tempos, em que, em vez de se respeitarem pontos de vista diferentes, se apontam dedos e se lançam boatos, quase sempre sem sentido, sobre as pessoas de que não se gosta e que pensam de maneira diferente. E neste caso, prefiro fixar-me na actualidade do nosso país.

O maior exemplo desta bagunça ideológica, começa e acaba no líder do nosso partido de extrema-direita. Nunca nenhum político mentiu tanto, e em vez de ser penalizado, recebeu créditos pelas suas demasiadas deturpações da realidade. Ainda esta semana falou erradamente de gastronomia e não de cidadãos, para criticar a visita do nosso Presidente da República à Alemanha, que segundo o seu ponto de vista viaja demasiado (mas nunca as 1500 difundidas por ele, afinal são apenas 160...). Como sempre, não se retratou das duas mentiras que disse sobre apenas um tema...

O mais curioso, é que hoje apareceu pela primeira vez à frente nas sondagens realizadas para primeiro-ministro.

Não sei o que se passa na cabeça dos portugueses, cuja maioria vive com dificuldades, mas mesmo assim, prefere ir atrás das mentiras de um "bando de gente execrável" - esta semana foi também conhecida mais uma faceta criminal de um candidato às autárquicas deste partido -, que tem tentado virar o Parlamento de pernas para o ar e que se percebe, que mesmo sem estar no poder, já se sente "acima de qualquer lei"...

Talvez hoje tudo seja possível, até a passagem do Seixal, directamente da CDU para o Chega (este partido ficou em primeiro lugar nas eleições para as legislativas neste Concelho...), nas próximas autárquicas...

(Fotografia de Luís Eme - Seixal)