Foi por isso que estranhei que me aparecessem, primeiro uma, depois outra, duas mulheres durante a noite, mais dentro dos pensamentos que dos sonhos. Mulheres que conhecera durante a infância e adolescência (hoje devem ser octagenárias...) e que eram faladas na vizinhança pelos piores motivos. Sim, não eram mulheres de um homem só. Na época não gostava delas, mais pelo que ouvia dizer que o que conhecia das suas vidas... Nunca fomos muito próximos nem muito afastados, porque os bairros eram como as aldeias. Uma era vizinha de um dos meus tios e a outra amante do pai um dos meus melhores amigos de infância. O mais curioso, é que nem sequer me lembro de alguma vez ter tido uma conversa com elas, sobre o que quer que fosse...
Mas elas apareceram-me, como se quisessem ser "humanizadas", que eu oferecesse a explicação para o seu comportamento desviante de "segundas mulheres", ou simplesmente "amantes". Havia uma certeza nas suas vidas: não tinham casado por amor, nem nunca amaram os seus maridos. Talvez até os seus filhos tivessem mais parecenças com os amantes que com os homens com que partilhavam o lar. Talvez...
Ambas tinham fama de ter dezenas de amantes. A rua é assim, a um ponto acrescenta sempre um conto. E se for possível até se pode chegar a romances de cordel, com uma linguagem que ultrapassa a linha erótica. Mas uma delas teve sempre um único amante a vida toda (poderão ter existido outros, mas coisas de pouca importância). Talvez ele fosse o amor da sua vida. Talvez...
Apeteceu-me agarrá-las como personagem de qualquer história de um outro tempo, em que havia "primeiras" e "segundas mulheres". Mas provavelmente ficarão apenas por aqui, pelo Largo, que continua a ser um lugar de passagem de muita gente, que anda apenas à procura de uma rua, de uma porta para entrar...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Fez-me lembrar a minha rua, da infância e adolescência, onde havia, que me lembre, três "amantes". Pelo menos da fama não se livravam. Curiosamente, uma ainda é viva e mora agora perto de onde eu moro (ambas mudámos de rua, mas não mudámos para longe). Vistas à distância, eram apenas mulheres como qualquer outra da rua, e quem as criticava, tinha (muitas vezes) mais telhados de vidro do que elas. Naquela altura, eu não sabia avaliar. Quando cresci, vi como aquela maneira de pensar podia ser extremamente castradora e o "parece mal" dominava. Muitas vezes, nem existia razão para as coisas que apontavam. Apenas, os alvos eram pessoas diferentes.
ResponderEliminarUm bom domingo:))
As nossas ruas são muito iguais, de norte a sul, Isabel.
EliminarQuando crescemos, os nossos olhos ganham outra abrangência e ainda bem.
E bem vinda ao Largo. :)
Caramba!o quanto ele gostou de ler este texto.
ResponderEliminarO pai dizia-lhe que só as mulheres sabem do quesão capazes, que os homens não precisam que lhes seja explicado o que é uma mulher porque não compreenderiam. Donde nunca ter entendido porque se enredaram nessa parvoeira do «me too».
Quase todas as coisas se explicam, Sammy, mesmo as que não têm explicação. :)
EliminarUm texto que gostei muito de ler. Quando estive no hospital em Nampula, conheci uma idosa, que largou o marido para viver "o grande amor da minha vida" palavras suas. Ser amante de um homem casado, que nunca largou a mulher, e foi sua amante até que ele morreu, renunciando até a ser mãe, pois ele tinha filhos com a mulher não queria bastardos na sua família.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom domingo
O amor é quase sempre louco, Elvira.
EliminarE há quem dê tudo por ele, mesmo que seja curto.
O amor tem destas coisas besquisitas, inauditas , que não têm explicação!
ResponderEliminarE que tal histórias de mulheres de um só homem? :)
Abraço
Penso que há mais que "segundas mulheres", Rosa. Ou pelo menos havia. :)
EliminarUma boa oportunidade de escreveres um romance, dando a essas mulheres uma existência humana que não devem ter tido...
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde, meu Amigo Luís.
Um abraço.
Está difícil apanhar o caminho, Graça. :)
EliminarQuantas vidas quantos dramas?
ResponderEliminarSem conta, Severino...
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