Já ultrapassou há algum tempo os oitenta anos e posso dizer que faz parte do meu roteiro diário, pois a sua casa e a sua "varanda" ficam quase logo depois da esquina, assim que saio do prédio onde habito, em direcção a uma das duas cidades por onde me reparto.
Falamos sempre, nem que seja apenas um bom dia, uma boa tarde ou até uma boa noite (mais no Verão, quando o calor pede rua...), às vezes três, quatro vezes por dia.
Normalmente passo sempre apressado (por ser esta a minha forma de andar e também por querer chegar a horas, onde quer que seja...), mesmo assim ela ensaia o dialogo, tanto me pode perguntar pela "patroa e pelas crianças", que já não vê passar há uns dias... como falar do tempo, aqueles coisas que metem vento, chuva ou um belo dia de sol... E nunca me esqueço de lhe oferecer um sorriso.
Um dos seus passatempos é contar as estrelas, procurar a mais famosa, a do Norte, que até faz parte de canções. Às vezes fala-me delas, quando nos encontramos já ao cair da noite.
Ela é o espelho maior da solidão das cidades, mas em vez de se fechar em casa, vem para o seu varandim em busca do "calor humano". Como é simpática, todas lhe oferecem no mínimo um cumprimento, que a ajuda a suportar o tempo e o espaço de uma vida quase vazia de gente...
(Fotografia de Luís Eme)