terça-feira, julho 01, 2025

Olhar, ouvir e ficar a pensar no fim das coisas...


Havia alguma ironia e até humor, na forma como a mulher de idade falou, no balcão da velha drogaria: «Um dia acaba-se tudo, pelo menos para quem acredita que só temos uma vida.»

A frase ficou no ar, não pelos mesmos motivos que foi dita. Sim, eu em vez de me virar para as pessoas pensei logo noutras coisas, assim que comecei a caminhar pela rua.

Comecei por pensar logo na coisa mais difícil e estranha, que um ou outro entendido resolveu atirar à parede, "o fim da história". Não foi dita em jeito de piada, mas só podia ser da família, pois enquanto existirem seres humanos, haverá história...

Depois caminhei para coisas mais simples. Tenho a certeza que não foi Camões que inventou a frase feliz de que "mudam-se os tempos mudam-se as vontades...", a principal responsável pelo final de vida de tantos objectos, de profissões que deixam de fazer sentido (embora aqui seja mais a economia que "mate" alguns trabalhos que se tornam obsoletos ou pouco lucrativos...).

E só não acabam mais coisas, porque agora também se vive das "tradições", que começam a ter mais peso comercial que histórico. E ainda bem, porque além de darem vida a lugares esquecidos, também nos recordam como se vivia noutros tempos. 

E o mais curioso, é trazerem atrás de si o começo de outras coisas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, junho 30, 2025

É sempre bom voltar a pensar nas coisas que parecem ser mais confusas do que aquilo que realmente são


Antes da conversa de ontem, associava os "limites" mais a ditaduras que a democracias.

Depois de pensar no assunto, percebi que ambas têm limites. 

A grande diferença, é que nas democracias a maior parte dos limites são impostos por nós. Nas ditaduras normalmente acontece o contrário, uma boa maior parte dos limites são impostos pelo Estado (até afixam avisos e tudo...).

Eu sei que é uma forma demasiado simplista de falar destes "limites", mas não se afasta muito da realidade.

Claro que mesmo nas democracias, fazem-nos sentir, cada vez mais, até onde podemos ir. Mas isso acontece também pela dificuldade que temos em lidar com a liberdade, que nunca foi a "utopia", de podermos fazer tudo o que nos apetecesse...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 29, 2025

«Acredito, cada vez mais, que as pessoas estão fartas da democracia. E apenas por uma coisa, por ela gostar de impor limites»


A conversa começou com o humor, a tal coisa que para alguns não deve ter limites, e para outros nem por isso, sem nos estarmos a focar em casos particulares ou ligarmos ao desabafo do "humorista da mesa", que disse que cada vez é mais difícil fazer rir as pessoas.

Claro que a conversa avançou logo para outro lado, quando o Carlos  disse: «Quem não quer ter limites, não tem muita vontade de jogar ao jogo da democracia. E também gosta muito pouco de respeitar os outros.»

A resposta, entre a estupefacção e a indignação, foi colectiva. Houve mesmo quem dissesse que os limites faziam parte dos regimes fascistas.

Foi quando o Carlos resolveu ser ainda mais contundente: «Vocês andam mesmo distraídos. Felizmente, em democracia, quase tudo tem limites, ao contrário das ditaduras. Talvez vocês prefiram esses regimes onde vale tudo, onde é costume prenderem-se pessoas, apenas porque sim.»

E foi buscar um exemplo fresquinho: «Não viram o que o senhor todo poderoso da Hungria tentou fazer com a manifestação sobre a liberdade sexual lá do sitio? Ameaçou prender todos os que fossem a manifestação "ilegal". Só não estava à espera que saíssem à rua mais de duas centenas de milhares de pessoas. Deve ter ficado a coçar a cabeça, por não ter prisões suficientes para toda aquela "paneleiragem".»

Foi quando todos percebemos que estávamos a ver o filme errado e voltámos a colocar os pés no chão.

E ele continuou: «O "Monteverde" também não deve gostar nada da palavra limite. Se ele pudesse, tinha silenciado os jornais e continuava a receber avenças da clientela.»

Para depois dar-nos o "safanão final": «Acredito, cada vez mais, que as pessoas estão fartas da democracia. E apenas por uma coisa, por ela gostar de impor limites.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 28, 2025

A alegria de quem nos dá a "novidade", do sobe e desce dos preços


Sei que este é o tempo que querem que "os gelados sejam comidos com a testa", mas... 

Ia dizer que há limites, mas se calhar os limites que existem não são os que eu penso...

Tudo isto porque fiquei a olhar para o pivot, que com um olhar feliz, de quem nos está a dar uma prenda, informava através da televisão que a partir de segunda feira, o gasóleo ia ficar quatro cêntimos mais barato.

Não é que eu seja muito forte a matemática, mas se na última segunda o gasóleo tinha subido oito cêntimos, com esta baixa ainda ficámos a "perder" quatro cêntimos.

O senhor capitalismo sabe-a toda, é por isso que está a entrar a toda a hora nas nossas vidas...

E age como se não houvesse passado, só presente. 

O que nos vale é que é um presente "radioso", graças à cumplicidade dos "fazedores de notícias" e dos rapazes e raparigas que adoram sorrir para as câmaras e tanto podiam trabalhar no "tele-marketing" como nas feiras a vender bisnagas ou frasquitos de banha da cobra.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, junho 27, 2025

Não tenho a certeza que para se ser poeta, dos bons, tenha que se ser, marginal, mas...


Há muito tempo que não estava com um rapaz que escreve poemas e que diz falar com toda a gente, menos com poetas.

Outra coisa curiosa (pelo menos para quem não é do meio...), também não lê poemas, de ninguém. Nem mesmo do seu mestre, esse mesmo, o Herberto Helder, de quem acabou de ler a biografia escrita pelo "polícia dos costumes da nossa literatura".

O grande motor da sua poesia é a imaginação. Depois vêm, quase em fila, os filmes, os romances, as suas viagens solitárias, de preferência por ruas vazias, onde seja possível enfiar as personagens que lhe saltitam de neurónio em neurónio.

O mais curioso, é que ele, a "olho nu", é um cidadão completamente normalizado, com um emprego de funcionário público, daqueles bons, em que pode passar o dia a ver as barcas a passar no Tejo (num dos poucos lugares do Estado que ainda não foi obrigado a virar as costas ao rio...), enquanto arquiva os papeis que lhe vêm parar à mão nos lugares certos (é bom nisso, sempre foi muito arrumadinho...).

Nunca casou. Sempre teve dificuldade em viver com outras pessoas no mesmo espaço. Precisa e gosta da sua solidão, de não ser importunado, muito menos que mexam nas suas coisas. É por isso que nunca teve empregada em casa, é ele que é o "fado do lar".

Apesar de todas estas coisas estranhas, quando está comigo, fala pelos cotovelos. Diz mal de tudo e mais alguma coisa. Como adora sublinhar os livros que lê e mostra-me partes que normalmente me passam ao lado (sei que se fosse crítico, seria um mau crítico...) e que são realmente alarvidades literárias.

O mais curioso é sentir, que além de sorrir, também aprendo uma ou outra coisa a seu lado. Sinto que ele é demasiado inteligente para se sentir confortável neste mundo que nos cerca.

A minha companheira conhece-o de vista e chama-lhe "o meu amigo estranho", sem fazer ideia das coisas que ele diz, seja dos poetas que passam a vida a rimar "cão com cagalhão", dos vizinhos a quem diz bom dia e boa tarde, que fazem um esforço do caraças para fingirem que são felizes, ou ainda, das mulheres que passam o tempo a mandar nos homens e no mundo, mesmo que finjam que isso é mentira...

Ele diz que não precisa nada disso. Não precisa de rimar com as palavras, muito menos de sorrir à vida ou agradar aos outros, com as mulheres incluídas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, junho 26, 2025

Gente que pensa ter mais poder do que o que realmente tem...


Irrita-me ligeiramente a gente que pensa (e finge) ter mais poder do que o que realmente tem.

Um dos lugares onde isso se nota mais é na televisão, no submundo dos comentadores que dizem uma coisa hoje e amanhã o contrário, com o mesmo ar de "entendidos", tanto nos mundos da política como no futebol. 

Parece uma piada mas não é, os comentadores políticos pensam que "podem" demitir ministros, os comentadores desportivos pensam que "podem" despedir treinadores. 

Esquecem-se é que há um primeiro-ministro e que existem presidentes de clubes...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, junho 24, 2025

O horizonte demasiado largo da América do Norte


Uma das coisas que percebi nas conversas que tive com o meu "Tio da América", foi da sensação que quase todos têm a oportunidade de melhorar as suas vidas (mesmo os mais pobres...), de que tudo é possível. Claro que é preciso fazer-se por isso. As tais oportunidades não caem do céu...

Ele disse-me mesmo que essa é a chave do sucesso dos Estados Unidos da América. Há um horizonte demasiado largo à sua volta, que lhes dá a ilusão de que se pode chegar a qualquer lado (pois, é provável que se viva a vida toda atrás de uma mentira)...

Isso explica que seja possível alguém como Trump chegar a presidente e também que os imigrantes (especialmente os nativos dos países próximos, como o México ou o Porto Rico), aparentemente, tão maltratados e perseguidos, mesmo assim não desistam do "sonho americano"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, junho 23, 2025

Tanta confusão que se faz com a palavra Liberdade...


O caso que chegou, estupidamente, a tribunal, entre a humorista Joana Marques e os irmãos Rosado, do grupo musical "Anjos", é um pequeno exemplo do que se faz e entende com a palavra liberdade.

Há mais de um ano falou-se deste caso num jantar de família, fui o único que compreendeu a posição dos "Anjos" e os defendeu, com base num princípio simples, de que não vale tudo no humor. Sei que as pessoas que vivem das piadas não concordam com este ponto de vista, nem as que se gostam de rir com as cenas patéticas do quotidiano, protagonizadas pelos outros (o prato forte servido nas redes sociais...).

Agora que o caso chegou a tribunal, tudo se torna ainda mais ridículo. É uma estupidez a justiça estar a perder tempo com esta diferença de entendimento da liberdade de expressão e da publicação de graçolas sobre terceiros.

A indemnização pedida pelos cantores de mais de um milhão, é ela própria uma piada de mau gosto. Assim como alguns dos seus argumentos em tribunal. O facto da humorista nunca se ter mostrado disponível para retirar o vídeo, que fez e publicou, ou sequer falar com o dueto, diz também muito sobre ela.

Este é mais um daqueles casos, em que se "está a gozar com a justiça" e com a nossa inteligência, por muito que alegrem as redes sociais e aumentem as vendas das revistas castanhas.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


domingo, junho 22, 2025

Será que querem transformar o Irão num novo Iraque?


Não consigo compreender, pelo menos de forma racional, as atitudes bélicas do Israel contra o Irão, muito menos o apoio (desta vez prático) dos EUA.

Também não entendo a reacção passiva da Europa (e de Portugal...) ao agravar de tensões no Oriente, reagindo como se fosse o Irão que tivesse atacado Israel...

Tudo se torna mais grave quando a responsável dos serviços secretos norte-americanos e o representante da Agência Internacional de Energia Atómica defendem que não existe qualquer evidência de que o Irão tenha armas nucleares.

Só faltou mesmo terem inventado um encontro como o das Lages, para que a mesma mentira que destruiu o Iraque, tivesse agora o mesmo efeito no Irão. 

Quem continua a barafustar contra todas estas atrocidades, é António Guterres. Mas de pouco lhe valem as palavras, percebe-se que falar ou estar calado, é quase a mesma coisa. Ou seja, a ONU é cada vez menos respeitada, especialmente pelas grandes potências do Mundo.

Segundo o meu olhar, longínquo e pouco conhecedor das tramas internacionais,  ele já se deveria ter demitido.

Espero que seja apenas a defesa intransigente do humanismo no Mundo, que o esteja a manter à frente da ONU...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, junho 21, 2025

A nossa aparente falta de jeito para ajudar a levantar aqueles que "caem no chão"...


Existem sempre coisas, que nos acontecem, ou que vemos acontecer à nossa volta, que escapam à nossa compreensão de simples mortais. Por serem difíceis de definir, normalmente nem damos grandes palpites, preferimos misturar as "circunstâncias da vida", suficientemente abrangentes para justificar o injustificável e fechar qualquer conversa.

Aconteceu há dias a um amigo, o que me aconteceu há anos. Viu um amigo dos seus tempos de escola, sentado na entrada de um prédio, com os seus parcos haveres, de "filho das nuvens". Olharam-se por breves segundos e baixaram os olhos quase em simultâneo. Depois aproximou-se e perguntou-lhe se ele era o Pedro. Claro que o homem disse que não, que ele estava enganado. Com alguma lata e para desviar o assunto, pediu-lhe uma moedinha. O meu amigo, que tal como eu nunca anda com muito dinheiro na carteira, deu-lhe uma nota de vinte euros, a maior que tinha na carteira. E depois virou costas, sem ficar à espera de agradecimentos e sem voltar a olhar para trás.

Eu depois de o ouvir, contei-lhe o que me acontecera, há uns bons trinta anos, ainda mais dramático. Cruzei-me com um dos muitos companheiros de infância na Rua Augusta. Estava descalço, vestido apenas com uma manta com um buraco que enfiara na cabeça e muito sujinho. Andava depressa e ia dizendo coisas sem nexo. Sei que gritei o seu nome, "Manel", ao mesmo tempo que ele soltou uma gargalhada louca. fiquei atónico por alguns segundos e ele aproveitou para desaparecer no meio da multidão. Ainda andei uns metros na sua direcção, mas nem um sinal dele. Claro que a única coisa que poderia fazer era o mesmo que o meu amigo fez, dar-lhe uma "moeda" maior do que as que ele costumava receber...

Acabámos a falar da "merdola" de  sociedade, em que vivemos, que permite todos estes altos e baixos. 

Não podíamos estar mais de acordo, quando recordámos que quando se entra num "beco sem saída", os familiares, amigos e conhecidos, começam a desaparecer todos à nossa volta. E quando damos por ela, estamos caídos e perdidos na rua...

(Fotografia de Luis Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 20, 2025

As minhas memórias não têm de ser iguais às dos outros...


O meu lado de historiador (e também de jornalista...), durante alguns anos  teve uma relação com os factos, quase imutável. 

A minha teimosia e um menor grau de flexibilidade também não eram grande ajuda. Faziam com que não entendesse que muitas das pessoas que distorciam os factos, o faziam de forma involuntária, não estavam a dizer mentiras, mas sim a relatar a forma como tinham interpretado e guardado a realidade dentro delas.

Hoje, vejo as coisas de forma diferente, é não é pelo facto de ser ligeiramente daltónico, de saber que o verde se aproxima do azul, até na natureza. Sim, o mar e o rio, nem sempre nos surgem com a mesma tonalidade.

Tudo graças a essa coisa que chamamos "vida", que passa o tempo a dar-nos lições. Lições que nem sempre entendemos...

Estou a escrever estas palavras porque hoje estive com familiares que não via há bastante tempo e senti tudo isto. De uma forma aberta e franca, eles iam contando histórias do nosso passado comum (quase sempre deliciosas...), que nem sempre coincidiam com as nossas.

A única coisa que faço, aqui e ali, são uns ajustes no campo temporal, provando através de acontecimentos marcantes, que uma coisa que se passou nos anos oitenta do século passado não se passou nos anos noventa. 

Há muitos acontecimentos importantes que nos ajudam a fazer a tal aproximação, como foram o 25 de Abril, a Expo 98 ou a Pandemia. Ou ainda, no campo familiar, o nascimento ou a perda de alguém.

Mas o melhor disto tudo, é aceitar de uma forma cada vez mais pacífica, que as minhas memórias não têm de ser iguais às dos outros...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, junho 19, 2025

Talvez sim, talvez não...


Foi a terceira pessoa que se referiu ao senhor António como um antigo informador da PIDE.

Nunca levei esta informação a sério, mas à terceira, quase que foi de vez. Quem me relatou este facto foi um amigo, que trabalhou no mesmo lugar que o meu vizinho do prédio da frente.

Fiquei a pensar, até na sua excessiva simpatia. Não se podia falar de uma coisa normal, pelo menos nestes tempos. Mas porque não? Há pessoas assim, no mundo delas não há "gregos nem troianos", apenas pessoas...

E há pessoas que gostam de saber coisas dos outros, são curiosas por natureza.

De repente estava a desculpá-lo. Mesmo se fosse verdade, podia ter sido alguém da PIDE que lhe "dera a volta" e ele podia pensar que ser informador da polícia secreta era um "desígnio nacional".

Mas depois analisei mais cuidadosamente o seu perfil, quase "de mulher". Sim, embora possa existir aqui algum resquício do velho machismo, são normalmente as mulheres que falam com as outras mulheres, a partilharem novidades, para serem as pessoas mais bem informadas da rua e do bairro. Havia ali curiosidade a mais...

Mesmo assim acabei por banalizar a questão, por a "ignorância sempre ter sido atrevida".

Felizmente continuamos a viver em liberdade, sem "secretas". E por outro lado, esta sua imagem de "boa pessoa", pode ser ele a querer redimir-se dos erros do passado, se foi mesmo "bufo"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 18, 2025

"Talvez um dia te encontre"...


Sei que o titulo deste pequeno texto parece retirado de uma canção. 

Mas não, surgiu a partir de uma conversa, sobre o PREC, que, 50 anos depois, ainda não acalmou todas as almas.

Estou a fazer um trabalho sobre uma pessoa especial e tenho falado com algumas pessoas que se cruzaram com ele pelo caminho.

Uma das pessoas com quem conversei, disse-me que a última vez que tinha estado com ele, fora no final de 1975. Nunca mais se encontraram. Começou por se desculpar com a vida, que é uma coisa estranha, muito estranha. Mas depois confessou que embora nunca tenha deixado de ir aos sítios que quis, não fez qualquer esforço para se voltarem a encontrar. 

Não ficou nenhuma mágoa, mas tomaram opções diferentes e acabaram por seguir também caminhos diferentes. O homem que estava à minha frente, com um ar de avozinho simpático, disse-me meio a sorrir meio a sério, que em 1976 e 1977 era um "perigoso esquerdista" e o Zé era um "pacifista"... 

Felizmente houve dois acontecimentos que mudaram o rumo da sua vida: foi trabalhar para a Gulbenkian de Paris e conheceu a mulher da sua vida. Como qualquer emigrante, só voltou ao nosso país de férias, até se reformar.

Acrescentou ainda que houve pessoas amigas e até da mesma família, que não se voltaram a relacionar com ele, meramente por questões ideológicas e partidárias. Com algum humor disse que era uma maçada termos braços, pernas e mãos direccionados de forma diferente, uns no lado direito e outros no lado esquerdo.

Contou-me também que durante todo este tempo teve saudades de dois ou três amigos, de quem era mais próximo. Foi sabendo coisas deles pelos jornais, pelo menos dos mais bem sucedidos profissionalmente, como foram os "manos nuno". Mas, apesar disso, nunca fez nada para os encontrar. E era fácil, até por serem todos pessoas das culturas.

Meio a sorrir, meio a sério, disse-me que foi um erro ter-se fiado no "destino" e ter-se escondido atrás da tal frase, "talvez um dia te encontre"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 17, 2025

O cumprimento diário que não custa nada e sabe bem...


A maior parte das pessoas que cumprimento com um bom dia ou uma boa tarde, são vizinhos e vizinhas, já com alguma idade.

Faço-o com satisfação, por notar que ficam agradados, apenas com este simples cumprimento diário. É algo que não custa nada e que também torna o nosso dia mais solar...

Pensei nisto depois de ler uma notícia sobre o óbvio, que onde se morre mais de solidão, é nas grandes cidades. 

Sim, o barulho dos outros, mesmo nos nossos prédios, não passa de ilusão, é quase igual às buzinas e aos motores dos carros das ruas...

Nas aldeias pode-se viver em silêncio, mas conhece-se toda a gente, sabe-se onde está o outro. E quando se dá pela sua falta, corre-se à sua procura...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, junho 16, 2025

Ficamos sempre mais pobres, mesmo sem nos apercebermos...


Embora Almada seja uma cidade grande, é quase uma "aldeia" no campo cultural.

É por isso que quando nos deixam duas pessoas num curto espaço de tempo (uma semana...), ligadas ao mundo dos livros, perguntamos, por onde andámos, que nunca tivemos "tempo" para ter uma simples conversa (ao telefone não conta...) com elas...

Falo de Armindo Reis e Teresa Rita Lopes, professores, escritores e poetas... O homem esguio que gostava de escrever para crianças e a mulher de olhos cor de mar, que viveu sempre apaixonada por Pessoa.

Se com a Teresa Rita só falei, uma vez, ao telefone, com o Armindo, começámo-nos a cumprimentar há menos de um ano, de uma forma simpática, por almoçarmos às segundas no mesmo restaurante e termos um ou outro amigo em comum...

Não foi por nos deixarem que passaram a ser boas pessoas ou melhores escritores. Até porque nos deixaram os seus livros para os revisitarmos... Mas não deixa de ser estranho, que tenhamos vivido na mesma cidade e tenhamos passado a vida a percorrer ruas diferentes...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, junho 15, 2025

«Porque é que há tanta gente a dar tiros nos pés?»


Às vezes penso que me fazem perguntas difíceis, mais vezes do que deviam.

Outras não. É a realidade a querer saber mais coisas da realidade...

Estive com a Rita. Não a via há meses. 

Falámos muito. Falamos sempre muito, até nos atropelamos, por vezes. E sorrimos em vez de nos chatearmos...

Claro, conversámos sobre o que se está a passar no nosso país. Foi quando ela me fez a pergunta de mais de cem paus: «Porque é que há tanta gente a dar tiros nos pés?»

Disse-lhe que ela é que me poderia falar sobre o assunto, porque a parte mais confusa nisto tudo, parecem ser as mulheres. Nunca vou perceber, porque razão não aproveitam o facto de serem metade da população, para tornar o mundo mais igual em direitos. Fui provocador e acrescentei que talvez lhes agradasse o papel confortável de "donas de casa"...

Ela sorriu e disse: «Talvez...»

Ou seja, também não percebe o que se passa na cabeça de tantas mulheres, exploradas e tratadas quase como objectos, que preferem votar nos políticos e nos partidos que as menorizam e retiram direitos, não escolhendo o que é melhor para elas e para os filhos...

O problema é que não se trata de um problema local. É um problema global.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 14, 2025

Não é artista "pop" quem quer, mas sim quem pode


Pode parecer um pouco ridículo, mas muitas vezes uso a televisão como rádio, e o mais curioso é ter como estação preferida a "Rádio Lusitânia", que só passa música portuguesa, atravessando todos os géneros musicais e visitando todas as épocas.

Faço-o porque a rádio é uma boa companhia. Sim, mesmo que o som saia de dentro da televisão, é rádio que oiço (até por não ter imagens...), é a rádio musical que finje não estar ali, mas está...

Mas não era sobre isso que queria escrever (já começa a ser um hábito).

Na sexta-feira, antes de me deitar, descobri que a RTP1 estava a transmitir um dos concertos de David Fonseca e acabei por ficar a ver e a ouvir. E depois fiquei a pensar em todos os músicos e cantores de qualidade que temos, que têm menos tempo de antena que a gente de "voz torta", que inunda os programas televisivos de entretenimento dos fins de semana e cantam sempre a mesma canção...

Mas ainda fui mais longe e pensei em quatro ou cinco vozes que parecem ter mais mundo, que o deste pequeno país. Sim, que não é artista "pop" quem quer, mas sim quem pode, quem tem arte para tal... o David Fonseca pertence claramente a este grupo restrito, onde também estão a Sónia Tavares (e os Gift), a Manuela Azevedo (e os Clã), o Jorge Palma ou o genial Rui Reininho (e os GNR).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 13, 2025

A voracidade dos dias...


Se passasse outro fim de semana, ou mesmo uma semana, perdido - ou achado - no interior, sem ligar a televisão ou abrir o computador (como não uso smartphone é menos uma ligação ao mundo com que me preocupo...), a guerra entre Israel e o Irão passava-me ao lado, assim como a pretensa transformação do país que se afirmava como "o mais livre do mundo", numa ditadura trampista (sim, é sobretudo de trampa que se fala...).

Esquecia a frase que tinha escrito, quando olhei para trás e pensei nas muitas coisas que planeio fazer e não faço.

Acabara de me confrontar com duas coisas, quase paralelas: ter ideias a mais e coragem a menos...

E agora que os dias parecem ter menos horas (onde é que já vão as 24...), ainda há a desculpa, quase literária, da "voracidade dos dias", para tentar explicar esta inércia cada vez mais natural...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


quinta-feira, junho 12, 2025

«No nosso país é difícil ser tudo...»


A jovem que continuava a sonhar com uma carreira de sucesso como actriz, lamentava-se, «é tão difícil ser artista no nosso país...»

O Gil aproveitou a quase deixa para usar uma lente de aumentar e dizer, «no nosso país é difícil ser tudo...»

O Carlos, atento como sempre, não perdeu a oportunidade de dizer  que no nosso país «a vida só é boa para os filhos de pais ricos ou de políticos sem vergonha.»

Acabámos por ficar todos a sorrir, como se ele tivesse dito uma graça e não uma verdade...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 11, 2025

Ser português e defender o país, não é isto...


É importante dizer que o Dia de Portugal é de todos os portugueses, e não de apenas alguns.

E não é o facto de um partido ter agora sessenta deputados no parlamento, que fica com mais legitimidade para dizer e fazer tudo o que lhe apetece. Deveria ser sim, mais responsável. Mas isso é pedir quase o impossível, como se percebeu pelos comentários xenófobos, provocadores e ignorantes de alguns deputados da extrema-direita, em relação aos discursos de Marcelo Rebelo de Sousa e de Lídia Jorge durante a cerimónia comemorativa de Lagos. 

Mas o pior ainda estava para acontecer, em Santos, com agressões cobardes a actores que fazem parte do elenco da peça, Amor é um fogo que arde sem se ver, da companhia de teatro a  Barraca, por um grupo de "neo-nazis".

Se em relação aos deputados, parece não haver muito a fazer, já em relação às agressões, ainda somos um Estado de direito, e quem agride de forma gratuita tem de ser severamente punido.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 10, 2025

Lá estamos nós, no dia que é muitos dias...


Este dia que podia ser só de Portugal e das Comunidades, também é de Camões, o nosso poeta Luís, que foi capaz de escrever sonetos há mais quinhentos anos, que ainda fazem sentido e têm beleza... e até são cantados...

Pensar que quando a Amália resolveu trazer Camões para o fado, foi quase um escândalo nacional. Nem o meu querido Zé Gomes Ferreira achou graça, apesar de ser bastante avançado para o seu tempo. E depois vieram outros poetas até às vielas, numa clara demonstração do bom gosto da "Rainha do Fado".

Felizmente o Luís também era um homem do futuro, sabia que "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades".

Foi por isso que compreendeu, como poucos, que  "todo o mundo é composto de mudança".

São estas pequenas grandes coisas que fazem com que Luís de Camões continua a ser o nosso "poeta maior".

(Fotografia de Luís Eme - Constância)


segunda-feira, junho 09, 2025

As vitórias escondem tudo, mesmo que seja por um só dia...


As vitórias são o que são no desporto, especialmente no futebol, o lugar onde se passa mais rapidamente de besta a bestial e vice-versa.

Tudo isto para dizer que, nada mudou em relação ao que penso sobre o seleccionador nacional de futebol, Roberto Martinez, depois da vitória na Liga das Nações.

Basta olhar para o onze que escolheu (a insistência em João Neves a defesa-direito ou de Francisco Conceição a titular, sabendo que ele é bom como "agitador" de jogo, ou seja a entrar quando as coisas não estão a correr bem), numa final que era para ganhar denota, sobretudo, "burrice"...

Até o presidente da federação que andou a tomar refeições e a conversar com José Mourinho, Jorge Jesus e Sérgio Conceição, teve de afirmar na televisão que ele vai ficar até ao fim do contrato (veremos...).

A única coisa que sei, é que estes jogadores enormes, mereciam quem aproveitasse melhor as suas potencialidades, sem termos de estar a espera de golpes de sorte ou de recortes individuais, como foram os de um "gigante" chamado Nuno Mendes, de um malabarista como é Rafael Leão e de um guarda-redes extraordinário, como é o Diogo Costa, que adora defender grandes penalidades.

Apesar de considerar o Cristiano, um grande campeão e o maior atleta do mundo, não gosto que esta selecção "continue a ser dele". Ele já não tem condições para ser indiscutível, mas sim, para ser apenas mais um no grupo de vinte e seis (mesmo sabendo que ele nunca irá aceitar essa condição)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 08, 2025

Eu sei que há muito mais coisas, para além da "vida do campo", mas...


Apetece-me escrever, que "não há nada como a vida do campo"... mas claro que há, até mesmo para mim, que desde a infância, a "parte de leão" das férias grandes eram passadas na casa dos meus avós maternos, que eram agricultores a tempo inteiro.

Além da autêntica "quinta pedagógica" que ocupava os dois pátios rente à casa (havia um pouco de tudo, bois, burra, porcos, coelhos, galinhas, por vezes patos, o peru do Natal, e até porquinhos da índia... Havia as fazendas, as vinhas e outros espaços de brincadeira com os rapazes da aldeia, como os pinhais ou até o rio... ou seja, as férias eram um tempo de descoberta e de aventura...

Mesmo com estas memórias, há muito mais vida para lá dos campos. Até porque eu nestes tempos estava longe de adorar o trabalho agrícola, fingia que era um "menino da cidade", ao contrário do meu irmão.

Onde eu já vou...

Queria apenas dizer que passei este fim de semana (foi tudo demasiado rápido...) no campo, acordei duas noites com o chilrear da passarada (que é música para os meus ouvidos e algo de irritante para a minha companheira...).

O mais curioso, é que mesmo com televisão e internet dentro dos telemóveis, ela nunca foi ligada... e não senti falta nenhuma do mundo digital...

Claro que isto só aconteceu porque foram apenas dois dias e duas noites passados nos campos... sem tempo para sentir saudades do que quer que seja...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


sábado, junho 07, 2025

«Ele é mesmo assim ou pinta a cara cor de laranja?»


O mesmo garoto que quis saber o significado da palavra "honra" e que depois usou o aparecimento do Trump para aligeirarmos a nossa conversa, merece mais um destaque.

Sim, porque ele aproveitou a oportunidade  para dizer uma série de coisas curiosas e engraçadas sobre o "jeitoso da américa".

A melhor das várias saídas que teve foi uma pergunta, mais "visual" que todas as outras: «Ele é mesmo assim ou pinta a cara cor da laranja?»

Claro que lhe disse que ele pintava a cara. Devia ter um creme de cenoura especial, para cuidar das rugas. O que eu fui dizer. Foi logo contar à mãe e gargalhada geral.

Não há dúvida de que é mais agradável falar do aspecto, que das artimanhas e mentiras do pretenso "dono do mundo"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 06, 2025

É uma constatação (sem contradições)...


Parece contraditório, mas não é. 

Não é caso único, e ainda bem.

Quem apanha os transportes públicos fica com a sensação de que se fala alto, com e sem telemóvel.  Não sei se existe alguma questão ligada à surdez, mas os africanos e os orientais das índias, exageram no volume das suas vozes.

Mas não é disso que quero falar. É de outra constatação, de se falar demasiado rápido. Quando ouvimos um estrangeiro a falar, ficamos sempre com a sensação de que estão a exagerar na velocidade com que debitam palavras.

O mais curioso, é eles dizerem o mesmo de nós. Sim, é normal um brasileiro não nos "perceber bem", por falarmos demasiado rápido (dizem eles...). Da mesma forma que também é normal um português não perceber bem um brasileiro, por ele falar demasiado rápido (dizemos nós...). E nem vou falar dos outros, dos "alemões" ou dos "ingaleses"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, junho 05, 2025

A aposta na continuidade (parece que a cultura ainda tem cara de "papão"...)


O título que escolhi, "a aposta na continuidade", poderia servir para resumir as escolhas do primeiro-ministro para o novo governo. Mas não. O que quero falar é da Cultura, que agora se junta ao Desporto e à Juventude.

Devo começar por dizer que não tenho nada a dizer, em abono ou desabono, da ministra Margarida Balseiro Lopes.

Mas voltar a desvalorizar a cultura - como tem sido hábito dos sociais democratas -, ora acabando com o ministério, ou tentando banalizar a sua importância na sociedade, é o que é... (Bom bom são os duetos com Tony Carreira, que até mereciam uma cassete para se vender nas feiras...).

O facto da maior parte dos agentes culturais terem a fama (e o proveito) de ser de esquerda, terá a sua influência, como tem tido nas últimas décadas. É mais uma forma de tentar condicionar o mundo das artes e letras, mesmo que isso tenha uma influência negativa na sociedade, cada vez mais ignorante e limitada.

Mas o mais curioso, é juntar o desporto à cultura (a juventude casa com tudo...), tal como aconteceu durante muitos anos no Município de Almada e que eu nunca percebi as vantagens desta "união de facto".

Nota: a última medida de Dalila Rodrigues como ministra da Cultura, diz muito do seu carácter, ao despedir a programadora cultural do CCB, Aida Tavares, minutos antes de se despedir da pasta...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 04, 2025

O Adeus a um excelente fotógrafo, a um Mestre...


Escolhi esta fotografia tirada à nossa poeta maior, Sophia de Mello Breyner Andresen, na sua casa (sei que não é a mais conhecida, foi por isso que a escolhi...) para homenagear o seu autor, um dos nossos grandes mestres da fotografia: Eduardo Gageiro.

(Fotografia de Eduardo Gageiro - Lisboa)


terça-feira, junho 03, 2025

«Já faltou mais, para que o humanismo volte a ser crime»


Ele podia utilizar outras palavras para falar destes tempos, onde começam a crescer sombras por todo o lado, mas usou Humanismo, talvez a mais sensata, mais profunda, mais abrangente, e por isso, também a melhor.

É muitas vezes usado quase como "emblema" de um tempo em que os homens que lutavam pela liberdade, aliás nem era preciso lutar, às vezes bastava "pensar"... Não se chateia nada, nem tem problemas em falar desses tempos, da prisão em Caxias e em Peniche, ou de quando percebeu que o único Deus que existe, está na cabeça de alguns homens, demasiado crédulos, pelo menos para as coisas que lhes convêm...

Tudo isto, porque o "profeta" do partido fascista, que agora que tem sessenta deputados e passou a ser apenas de "direita", já começou a falar do fim do regime, anunciando para breve o começo de uma "nova coisa", que os que espalham a tal palavra de Deus, chamam "novos tempos"...

Mas nem precisamos de falar do nosso "vendedor de ilusões", basta olhar para Gaza, para várias regiões africanas ou para a Ucrânia, para percebermos que o Humanismo é cada vez mais "uma treta"... 

E sim, ele tem razão, o Humanismo está quase, quase a ser crime...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, junho 02, 2025

A exploração diária dos sentimentos (e viva a televisão...)


Uma das coisas que mudou muito nos últimos anos, com a cumplicidade da Televisão, foi a forma de se expressarem os sentimentos.

O que antes era para se sentir, normalmente em privado e intimamente, passou a ser público e até a ter preço (sim há quem venda os "sentimentos" em nome do espectáculo...).

Quem cresce hoje, graças aos exemplos que nos rodeiam um pouco por todo o lado, deve sentir-se confuso, ao ponto de ficar na dúvida em relação à forma como deve expressar os seus sentimentos, com o plástico e o postiço a sobreporem-se cada vez mais ao autêntico...

O mais curioso é continuarmos a descer, graças às "maravilhas" do pequeno écran, que cresceu, ao ponto de quase se disfarçar de "cinema". 

E, em nome das audiências e do negócio, inventa-se todos os dias um "coitadinho" (com mais ou menos pé...) capaz de fazer chorar as calçadas.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 01, 2025

Parece normal, mas é tudo menos isso...


Talvez não seja uma coisa muito inteligente de se escrever, no primeiro dia de Junho. 

Talvez...

Mas foi por hoje ser um dia especial, que pensei na forma, cada vez mais descontraída, como nós, adultos, "usamos e abusamos" do querer das crianças, como se estas fossem o reflexo do espelho onde nos miramos. Sim, damos muitas vezes o empurrão necessário para que elas façam as coisas que gostamos (ou pensamos gostar mas não não tivemos tempo e espaço para 0 fazermos nas nossas infâncias...) e não o que lhes apetece fazer.

Parece normal, mas sei que é tudo menos isso... 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, maio 31, 2025

As palavras difíceis de explicar e de lhes oferecer o seu verdadeiro sentido...


Ele podia perguntar a outra pessoa, mas veio logo perguntar-me a mim (isto de ter fama de "intelectual" tem que se lhe diga...), o que queria dizer "honra", palavra que ouvira duas ou três vezes durante o jantar.

Tive dificuldade em explicar às primeiras aquele miúdo curioso, de oito anos, o significado desta palavra tão em desuso. Percebi que não havia uma forma fácil de explicar algo que fora tão importante no seio das famílias, mesmo nas mais humildes. O quanto era importante para eles honrar os seu nome...

Foi quando me lembrei de lhe dizer que a honra era o orgulho que sentíamos pelos nossos pais, tios ou avós, por serem boas pessoas. Ao ponto de querermos seguir os seus exemplos pela vida fora.

Como acontece com as crianças, não se ficou com uma explicação tão simples e continuou a querer saber coisas: «Então os tios que não são boas pessoas, deixam de ser da família?»

Disse-lhe que não. Por mais disparates que os nossos familiares façam, são sempre da nossa família. Lembrei-me da expressão "laços de sangue", mas guardei-a para mim, achei que era melhor não complicar as coisas...

Não lhe quis estar a dar lições de moral, mas ainda lhe disse que não estarmos sempre a mentir, também era uma questão de honra. O que lhe fui dizer, falou-me logo, com um sorriso, do "maior mentiroso do mundo", esse mesmo o Trump, que quer tudo menos ser uma "pessoa honrada". 

Foi bom, porque nos deu uma oportunidade para mudarmos de assunto...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, maio 30, 2025

«Não é preciso. O que mais se encontra nas livrarias são livros de instruções»


Quando a Ana disse que as pessoas (parece que já não são só os homens...) deviam trazer com eles, livros com instruções, o Carlos não perdeu a oportunidade de nos brindar com o seu humor sarcástico: «Não é preciso. O que mais se encontra nas livrarias são livros de instruções.»

Ela rebateu a frase do nosso amigo comum, dizendo que livros de autoajuda não são a mesma coisa. 

«Pois não.» Disse ele. Para depois acrescentar, logo de seguida: «Mas também existem muitos com instruções. O que não falta nas montras de livros são teorias sobre tudo e mais alguma coisa.»

Pois é. Há mais livros destes à procura de leitores, que romances, por exemplo...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, maio 29, 2025

Porque é que estas pessoas não se demitem?


Soube-se nos últimos dias que a Federação Portuguesa de Judo foi suspensa pelas instâncias internacionais oficiais, devido a dívidas que ascendem a mais de 800 mil euros.

Embora não esteja em causa a participação dos nossos atletas nas competições internacionais mais importantes do mundo, não poderão concorrer com as cores de Portugal, se entretanto a questão não for resolvida.

O mais curioso (ou não), é que os dirigentes actuais da Federação, em vez de assumirem as suas responsabilidades, dedicam-se ao habitual "passa culpa", apontando o dedo ao antigo presidente (apesar de terem tomado parte no anterior executivo...).

Faz-me muita confusão que esta gente não se demita, pois é demasiado óbvio que são incompetentes para gerir uma federação desportiva. 

Não só estão a prejudicar os nossos atletas, como a imagem do nosso país.

(Fotografia de Luís Eme - Caramujo)


quarta-feira, maio 28, 2025

Talvez seja esta a "chave do sucesso" nos nossos dias...


O excesso de comentadores televisivos, alguns dos quais "especialistas de tudo", desde gastronomia, passando pelo futebol e pela política e acabando na guerra, faz com que tenha cada vez mais a ideia de que somos sobretudo um país de "teóricos", com cada vez menos "práticos" em áreas fundamentais, como é a governação.

Muitos destes comentadores tornam-se bons a "vender banha da cobra", e raramente desdenham de qualquer oportunidade que surja de se encostarem ao poder, seja como assessores ou mesmo como actores políticos (André Ventura é o melhor exemplo, era comentador de futebol no "CMTV", vestindo a camisola do Benfica...).

Mesmo sem os ouvirmos, diariamente, percebe-se que seguem - ainda que de forma mais discreta -, a "cartilha" de Trump. São capazes de dizer hoje uma coisa e amanhã o seu contrário, com o ar mais sério do mundo.

Talvez seja esta a "chave do sucesso" nos nossos dias...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, maio 27, 2025

Afinal continua tudo igual: só são diferentes na cor que defendem e no penteado que usam


Com a eleição do novo presidente do FC Porto, pensava-se que tudo mudaria no relacionamento entre os três presidentes dos grandes (Rui Costa, André Vilas Boas e Frederico Varandas). Por terem uma cultura futebolística acima da média, estava aberto o caminho para um tempo com menos jogos de bastidores, mais transparência e mais desportivismo.

Infelizmente quase nada mudou. Um ano e alguns meses depois, pode-se dizer que continuam com os velhos hábitos de antigamente, só falam quando se sentem prejudicados, fechando o bico quando são beneficiados. 

Ou seja, a "filosofia de jogo" é a mesma de um Pinto da Costa, um Sousa Cintra ou um Luís Filipe Vieira. "ganhar, ganhar, a qualquer preço".

Mesmo quando se tentam afirmar "melhores e mais sérios que os outros" (o presidente do Sporting é useiro e vezeiro nesta atitude...), a realidade acaba sempre por os fintar. Isso explica que não se tenha ouvido uma única palavra de Frederico Varandas sobre as agressões de que o avançado italiano do Benfica foi vítima, duplamente, por defesas do Sporting, na final da Taça de Portugal...

Nota: Não temos dúvidas de que o silêncio seria também ensurdecedor por parte dos outros dois presidentes na mesma situação.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, maio 26, 2025

«As pessoas gostam mais de um mundo faz de conta, onde a mentira tem a mesma validade que a verdade, que de um mundo com leis e valores claros»


Nunca pensei vir a concordar com o Rui, mas basta olhar para os acontecimentos do último ano no nosso país, para se perceber que a ética e a moral são cada vez mais, coisas da ficção (dos livros e do cinema).

Cada vez tenho  menos dúvidas de há cada vez mais gente que vive satisfeita dentro da realidade paralela, alimentada sobretudo pelas redes sociais. Quando ele disse, «As pessoas gostam mais de um mundo faz de conta, onde a mentira tem a mesma validade que a verdade, que de um mundo com leis e valores claros», ninguém foi capaz de discordar.

Sei que não é um fenómeno nacional, basta olhar para Trump, que não consegue dizer uma frase sem introduzir qualquer dado falso. E pior ainda, em poucos minutos é capaz de dizer uma coisa e também o seu contrário. Bolsonaro foi o que foi (e continua cheio de saudosistas...), Milei é o que é. E Ventura pode ser uma coisa mais perigosa do que se pensa (o seu crescimento começa a assustar aqueles que acham que ele não passa de um "palhaço", como eu)...

No dia a dia, é capaz de ser mais divertido, andarmos a mentir uns aos outros, colocando a realidade num segundo patamar. Só que isso tem um preço...

Mais tarde ou mais cedo, vamos todos pagar um preço demasiado alto, por alimentarmos este "mundo faz de conta". É assim que surgem as ditaduras, onde a mentira passa a ser a "linguagem oficial" do poder, ao mesmo tempo que quem defende a democracia, os factos e a liberdade, é empurrado para o lado errado da sociedade. Ou seja, é preso ou silenciado, por vezes da pior maneira. 

Exemplos não faltam por esse mundo fora...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)