domingo, junho 15, 2025

«Porque é que há tanta gente a dar tiros nos pés?»


Às vezes penso que me fazem perguntas difíceis, mais vezes do que deviam.

Outras não. É a realidade a querer saber mais coisas da realidade...

Estive com a Rita. Não a via há meses. 

Falámos muito. Falamos sempre muito, até nos atropelamos, por vezes. E sorrimos em vez de nos chatearmos...

Claro, conversámos sobre o que se está a passar no nosso país. Foi quando ela me fez a pergunta de mais de cem paus: «Porque é que há tanta gente a dar tiros nos pés?»

Disse-lhe que ela é que me poderia falar sobre o assunto, porque a parte mais confusa nisto tudo, parecem ser as mulheres. Nunca vou perceber, porque razão não aproveitam o facto de serem metade da população, para tornar o mundo mais igual em direitos. Fui provocador e acrescentei que talvez lhes agradasse o papel confortável de "donas de casa"...

Ela sorriu e disse: «Talvez...»

Ou seja, também não percebe o que se passa na cabeça de tantas mulheres, exploradas e tratadas quase como objectos, que preferem votar nos políticos e nos partidos que as menorizam e retiram direitos, não escolhendo o que é melhor para elas e para os filhos...

O problema é que não se trata de um problema local. É um problema global.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 14, 2025

Não é artista "pop" quem quer, mas sim quem pode


Pode parecer um pouco ridículo, mas muitas vezes uso a televisão como rádio, e o mais curioso é ter como estação preferida a "Rádio Lusitânia", que só passa música portuguesa, atravessando todos os géneros musicais e visitando todas as épocas.

Faço-o porque a rádio é uma boa companhia. Sim, mesmo que o som saia de dentro da televisão, é rádio que oiço (até por não ter imagens...), é a rádio musical que finje não estar ali, mas está...

Mas não era sobre isso que queria escrever (já começa a ser um hábito).

Na sexta-feira, antes de me deitar, descobri que a RTP1 estava a transmitir um dos concertos de David Fonseca e acabei por ficar a ver e a ouvir. E depois fiquei a pensar em todos os músicos e cantores de qualidade que temos, que têm menos tempo de antena que a gente de "voz torta", que inunda os programas televisivos de entretenimento dos fins de semana e cantam sempre a mesma canção...

Mas ainda fui mais longe e pensei em quatro ou cinco vozes que parecem ter mais mundo, que o deste pequeno país. Sim, que não é artista "pop" quem quer, mas sim quem pode, quem tem arte para tal... o David Fonseca pertence claramente a este grupo restrito, onde também estão a Sónia Tavares (e os Gift), a Manuela Azevedo (e os Clã), o Jorge Palma ou o genial Rui Reininho (e os GNR).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 13, 2025

A voracidade dos dias...


Se passasse outro fim de semana, ou mesmo uma semana, perdido - ou achado - no interior, sem ligar a televisão ou abrir o computador (como não uso smartphone é menos uma ligação ao mundo com que me preocupo...), a guerra entre Israel e o Irão passava-me ao lado, assim como a pretensa transformação do país que se afirmava como "o mais livre do mundo", numa ditadura trampista (sim, é sobretudo de trampa que se fala...).

Esquecia a frase que tinha escrito, quando olhei para trás e pensei nas muitas coisas que planeio fazer e não faço.

Acabara de me confrontar com duas coisas, quase paralelas: ter ideias a mais e coragem a menos...

E agora que os dias parecem ter menos horas (onde é que já vão as 24...), ainda há a desculpa, quase literária, da "voracidade dos dias", para tentar explicar esta inércia cada vez mais natural...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


quinta-feira, junho 12, 2025

«No nosso país é difícil ser tudo...»


A jovem que continuava a sonhar com uma carreira de sucesso como actriz, lamentava-se, «é tão difícil ser artista no nosso país...»

O Gil aproveitou a quase deixa para usar uma lente de aumentar e dizer, «no nosso país é difícil ser tudo...»

O Carlos, atento como sempre, não perdeu a oportunidade de dizer  que no nosso país «a vida só é boa para os filhos de pais ricos ou de políticos sem vergonha.»

Acabámos por ficar todos a sorrir, como se ele tivesse dito uma graça e não uma verdade...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 11, 2025

Ser português e defender o país, não é isto...


É importante dizer que o Dia de Portugal é de todos os portugueses, e não de apenas alguns.

E não é o facto de um partido ter agora sessenta deputados no parlamento, que fica com mais legitimidade para dizer e fazer tudo o que lhe apetece. Deveria ser sim, mais responsável. Mas isso é pedir quase o impossível, como se percebeu pelos comentários xenófobos, provocadores e ignorantes de alguns deputados da extrema-direita, em relação aos discursos de Marcelo Rebelo de Sousa e de Lídia Jorge durante a cerimónia comemorativa de Lagos. 

Mas o pior ainda estava para acontecer, em Santos, com agressões cobardes a actores que fazem parte do elenco da peça, Amor é um fogo que arde sem se ver, da companhia de teatro a  Barraca, por um grupo de "neo-nazis".

Se em relação aos deputados, parece não haver muito a fazer, já em relação às agressões, ainda somos um Estado de direito, e quem agride de forma gratuita tem de ser severamente punido.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 10, 2025

Lá estamos nós, no dia que é muitos dias...


Este dia que podia ser só de Portugal e das Comunidades, também é de Camões, o nosso poeta Luís, que foi capaz de escrever sonetos há mais quinhentos anos, que ainda fazem sentido e têm beleza... e até são cantados...

Pensar que quando a Amália resolveu trazer Camões para o fado, foi quase um escândalo nacional. Nem o meu querido Zé Gomes Ferreira achou graça, apesar de ser bastante avançado para o seu tempo. E depois vieram outros poetas até às vielas, numa clara demonstração do bom gosto da "Rainha do Fado".

Felizmente o Luís também era um homem do futuro, sabia que "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades".

Foi por isso que compreendeu, como poucos, que  "todo o mundo é composto de mudança".

São estas pequenas grandes coisas que fazem com que Luís de Camões continua a ser o nosso "poeta maior".

(Fotografia de Luís Eme - Constância)


segunda-feira, junho 09, 2025

As vitórias escondem tudo, mesmo que seja por um só dia...


As vitórias são o que são no desporto, especialmente no futebol, o lugar onde se passa mais rapidamente de besta a bestial e vice-versa.

Tudo isto para dizer que, nada mudou em relação ao que penso sobre o seleccionador nacional de futebol, Roberto Martinez, depois da vitória na Liga das Nações.

Basta olhar para o onze que escolheu (a insistência em João Neves a defesa-direito ou de Francisco Conceição a titular, sabendo que ele é bom como "agitador" de jogo, ou seja a entrar quando as coisas não estão a correr bem), numa final que era para ganhar denota, sobretudo, "burrice"...

Até o presidente da federação que andou a tomar refeições e a conversar com José Mourinho, Jorge Jesus e Sérgio Conceição, teve de afirmar na televisão que ele vai ficar até ao fim do contrato (veremos...).

A única coisa que sei, é que estes jogadores enormes, mereciam quem aproveitasse melhor as suas potencialidades, sem termos de estar a espera de golpes de sorte ou de recortes individuais, como foram os de um "gigante" chamado Nuno Mendes, de um malabarista como é Rafael Leão e de um guarda-redes extraordinário, como é o Diogo Costa, que adora defender grandes penalidades.

Apesar de considerar o Cristiano, um grande campeão e o maior atleta do mundo, não gosto que esta selecção "continue a ser dele". Ele já não tem condições para ser indiscutível, mas sim, para ser apenas mais um no grupo de vinte e seis (mesmo sabendo que ele nunca irá aceitar essa condição)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 08, 2025

Eu sei que há muito mais coisas, para além da "vida do campo", mas...


Apetece-me escrever, que "não há nada como a vida do campo"... mas claro que há, até mesmo para mim, que desde a infância, a "parte de leão" das férias grandes eram passadas na casa dos meus avós maternos, que eram agricultores a tempo inteiro.

Além da autêntica "quinta pedagógica" que ocupava os dois pátios rente à casa (havia um pouco de tudo, bois, burra, porcos, coelhos, galinhas, por vezes patos, o peru do Natal, e até porquinhos da índia... Havia as fazendas, as vinhas e outros espaços de brincadeira com os rapazes da aldeia, como os pinhais ou até o rio... ou seja, as férias eram um tempo de descoberta e de aventura...

Mesmo com estas memórias, há muito mais vida para lá dos campos. Até porque eu nestes tempos estava longe de adorar o trabalho agrícola, fingia que era um "menino da cidade", ao contrário do meu irmão.

Onde eu já vou...

Queria apenas dizer que passei este fim de semana (foi tudo demasiado rápido...) no campo, acordei duas noites com o chilrear da passarada (que é música para os meus ouvidos e algo de irritante para a minha companheira...).

O mais curioso, é que mesmo com televisão e internet dentro dos telemóveis, ela nunca foi ligada... e não senti falta nenhuma do mundo digital...

Claro que isto só aconteceu porque foram apenas dois dias e duas noites passados nos campos... sem tempo para sentir saudades do que quer que seja...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


sábado, junho 07, 2025

«Ele é mesmo assim ou pinta a cara cor de laranja?»


O mesmo garoto que quis saber o significado da palavra "honra" e que depois usou o aparecimento do Trump para aligeirarmos a nossa conversa, merece mais um destaque.

Sim, porque ele aproveitou a oportunidade  para dizer uma série de coisas curiosas e engraçadas sobre o "jeitoso da américa".

A melhor das várias saídas que teve foi uma pergunta, mais "visual" que todas as outras: «Ele é mesmo assim ou pinta a cara cor da laranja?»

Claro que lhe disse que ele pintava a cara. Devia ter um creme de cenoura especial, para cuidar das rugas. O que eu fui dizer. Foi logo contar à mãe e gargalhada geral.

Não há dúvida de que é mais agradável falar do aspecto, que das artimanhas e mentiras do pretenso "dono do mundo"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 06, 2025

É uma constatação (sem contradições)...


Parece contraditório, mas não é. 

Não é caso único, e ainda bem.

Quem apanha os transportes públicos fica com a sensação de que se fala alto, com e sem telemóvel.  Não sei se existe alguma questão ligada à surdez, mas os africanos e os orientais das índias, exageram no volume das suas vozes.

Mas não é disso que quero falar. É de outra constatação, de se falar demasiado rápido. Quando ouvimos um estrangeiro a falar, ficamos sempre com a sensação de que estão a exagerar na velocidade com que debitam palavras.

O mais curioso, é eles dizerem o mesmo de nós. Sim, é normal um brasileiro não nos "perceber bem", por falarmos demasiado rápido (dizem eles...). Da mesma forma que também é normal um português não perceber bem um brasileiro, por ele falar demasiado rápido (dizemos nós...). E nem vou falar dos outros, dos "alemões" ou dos "ingaleses"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, junho 05, 2025

A aposta na continuidade (parece que a cultura ainda tem cara de "papão"...)


O título que escolhi, "a aposta na continuidade", poderia servir para resumir as escolhas do primeiro-ministro para o novo governo. Mas não. O que quero falar é da Cultura, que agora se junta ao Desporto e à Juventude.

Devo começar por dizer que não tenho nada a dizer, em abono ou desabono, da ministra Margarida Balseiro Lopes.

Mas voltar a desvalorizar a cultura - como tem sido hábito dos sociais democratas -, ora acabando com o ministério, ou tentando banalizar a sua importância na sociedade, é o que é... (Bom bom são os duetos com Tony Carreira, que até mereciam uma cassete para se vender nas feiras...).

O facto da maior parte dos agentes culturais terem a fama (e o proveito) de ser de esquerda, terá a sua influência, como tem tido nas últimas décadas. É mais uma forma de tentar condicionar o mundo das artes e letras, mesmo que isso tenha uma influência negativa na sociedade, cada vez mais ignorante e limitada.

Mas o mais curioso, é juntar o desporto à cultura (a juventude casa com tudo...), tal como aconteceu durante muitos anos no Município de Almada e que eu nunca percebi as vantagens desta "união de facto".

Nota: a última medida de Dalila Rodrigues como ministra da Cultura, diz muito do seu carácter, ao despedir a programadora cultural do CCB, Aida Tavares, minutos antes de se despedir da pasta...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 04, 2025

O Adeus a um excelente fotógrafo, a um Mestre...


Escolhi esta fotografia tirada à nossa poeta maior, Sophia de Mello Breyner Andresen, na sua casa (sei que não é a mais conhecida, foi por isso que a escolhi...) para homenagear o seu autor, um dos nossos grandes mestres da fotografia: Eduardo Gageiro.

(Fotografia de Eduardo Gageiro - Lisboa)


terça-feira, junho 03, 2025

«Já faltou mais, para que o humanismo volte a ser crime»


Ele podia utilizar outras palavras para falar destes tempos, onde começam a crescer sombras por todo o lado, mas usou Humanismo, talvez a mais sensata, mais profunda, mais abrangente, e por isso, também a melhor.

É muitas vezes usado quase como "emblema" de um tempo em que os homens que lutavam pela liberdade, aliás nem era preciso lutar, às vezes bastava "pensar"... Não se chateia nada, nem tem problemas em falar desses tempos, da prisão em Caxias e em Peniche, ou de quando percebeu que o único Deus que existe, está na cabeça de alguns homens, demasiado crédulos, pelo menos para as coisas que lhes convêm...

Tudo isto, porque o "profeta" do partido fascista, que agora que tem sessenta deputados e passou a ser apenas de "direita", já começou a falar do fim do regime, anunciando para breve o começo de uma "nova coisa", que os que espalham a tal palavra de Deus, chamam "novos tempos"...

Mas nem precisamos de falar do nosso "vendedor de ilusões", basta olhar para Gaza, para várias regiões africanas ou para a Ucrânia, para percebermos que o Humanismo é cada vez mais "uma treta"... 

E sim, ele tem razão, o Humanismo está quase, quase a ser crime...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, junho 02, 2025

A exploração diária dos sentimentos (e viva a televisão...)


Uma das coisas que mudou muito nos últimos anos, com a cumplicidade da Televisão, foi a forma de se expressarem os sentimentos.

O que antes era para se sentir, normalmente em privado e intimamente, passou a ser público e até a ter preço (sim há quem venda os "sentimentos" em nome do espectáculo...).

Quem cresce hoje, graças aos exemplos que nos rodeiam um pouco por todo o lado, deve sentir-se confuso, ao ponto de ficar na dúvida em relação à forma como deve expressar os seus sentimentos, com o plástico e o postiço a sobreporem-se cada vez mais ao autêntico...

O mais curioso é continuarmos a descer, graças às "maravilhas" do pequeno écran, que cresceu, ao ponto de quase se disfarçar de "cinema". 

E, em nome das audiências e do negócio, inventa-se todos os dias um "coitadinho" (com mais ou menos pé...) capaz de fazer chorar as calçadas.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 01, 2025

Parece normal, mas é tudo menos isso...


Talvez não seja uma coisa muito inteligente de se escrever, no primeiro dia de Junho. 

Talvez...

Mas foi por hoje ser um dia especial, que pensei na forma, cada vez mais descontraída, como nós, adultos, "usamos e abusamos" do querer das crianças, como se estas fossem o reflexo do espelho onde nos miramos. Sim, damos muitas vezes o empurrão necessário para que elas façam as coisas que gostamos (ou pensamos gostar mas não não tivemos tempo e espaço para 0 fazermos nas nossas infâncias...) e não o que lhes apetece fazer.

Parece normal, mas sei que é tudo menos isso... 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, maio 31, 2025

As palavras difíceis de explicar e de lhes oferecer o seu verdadeiro sentido...


Ele podia perguntar a outra pessoa, mas veio logo perguntar-me a mim (isto de ter fama de "intelectual" tem que se lhe diga...), o que queria dizer "honra", palavra que ouvira duas ou três vezes durante o jantar.

Tive dificuldade em explicar às primeiras aquele miúdo curioso, de oito anos, o significado desta palavra tão em desuso. Percebi que não havia uma forma fácil de explicar algo que fora tão importante no seio das famílias, mesmo nas mais humildes. O quanto era importante para eles honrar os seu nome...

Foi quando me lembrei de lhe dizer que a honra era o orgulho que sentíamos pelos nossos pais, tios ou avós, por serem boas pessoas. Ao ponto de querermos seguir os seus exemplos pela vida fora.

Como acontece com as crianças, não se ficou com uma explicação tão simples e continuou a querer saber coisas: «Então os tios que não são boas pessoas, deixam de ser da família?»

Disse-lhe que não. Por mais disparates que os nossos familiares façam, são sempre da nossa família. Lembrei-me da expressão "laços de sangue", mas guardei-a para mim, achei que era melhor não complicar as coisas...

Não lhe quis estar a dar lições de moral, mas ainda lhe disse que não estarmos sempre a mentir, também era uma questão de honra. O que lhe fui dizer, falou-me logo, com um sorriso, do "maior mentiroso do mundo", esse mesmo o Trump, que quer tudo menos ser uma "pessoa honrada". 

Foi bom, porque nos deu uma oportunidade para mudarmos de assunto...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, maio 30, 2025

«Não é preciso. O que mais se encontra nas livrarias são livros de instruções»


Quando a Ana disse que as pessoas (parece que já não são só os homens...) deviam trazer com eles, livros com instruções, o Carlos não perdeu a oportunidade de nos brindar com o seu humor sarcástico: «Não é preciso. O que mais se encontra nas livrarias são livros de instruções.»

Ela rebateu a frase do nosso amigo comum, dizendo que livros de autoajuda não são a mesma coisa. 

«Pois não.» Disse ele. Para depois acrescentar, logo de seguida: «Mas também existem muitos com instruções. O que não falta nas montras de livros são teorias sobre tudo e mais alguma coisa.»

Pois é. Há mais livros destes à procura de leitores, que romances, por exemplo...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, maio 29, 2025

Porque é que estas pessoas não se demitem?


Soube-se nos últimos dias que a Federação Portuguesa de Judo foi suspensa pelas instâncias internacionais oficiais, devido a dívidas que ascendem a mais de 800 mil euros.

Embora não esteja em causa a participação dos nossos atletas nas competições internacionais mais importantes do mundo, não poderão concorrer com as cores de Portugal, se entretanto a questão não for resolvida.

O mais curioso (ou não), é que os dirigentes actuais da Federação, em vez de assumirem as suas responsabilidades, dedicam-se ao habitual "passa culpa", apontando o dedo ao antigo presidente (apesar de terem tomado parte no anterior executivo...).

Faz-me muita confusão que esta gente não se demita, pois é demasiado óbvio que são incompetentes para gerir uma federação desportiva. 

Não só estão a prejudicar os nossos atletas, como a imagem do nosso país.

(Fotografia de Luís Eme - Caramujo)


quarta-feira, maio 28, 2025

Talvez seja esta a "chave do sucesso" nos nossos dias...


O excesso de comentadores televisivos, alguns dos quais "especialistas de tudo", desde gastronomia, passando pelo futebol e pela política e acabando na guerra, faz com que tenha cada vez mais a ideia de que somos sobretudo um país de "teóricos", com cada vez menos "práticos" em áreas fundamentais, como é a governação.

Muitos destes comentadores tornam-se bons a "vender banha da cobra", e raramente desdenham de qualquer oportunidade que surja de se encostarem ao poder, seja como assessores ou mesmo como actores políticos (André Ventura é o melhor exemplo, era comentador de futebol no "CMTV", vestindo a camisola do Benfica...).

Mesmo sem os ouvirmos, diariamente, percebe-se que seguem - ainda que de forma mais discreta -, a "cartilha" de Trump. São capazes de dizer hoje uma coisa e amanhã o seu contrário, com o ar mais sério do mundo.

Talvez seja esta a "chave do sucesso" nos nossos dias...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, maio 27, 2025

Afinal continua tudo igual: só são diferentes na cor que defendem e no penteado que usam


Com a eleição do novo presidente do FC Porto, pensava-se que tudo mudaria no relacionamento entre os três presidentes dos grandes (Rui Costa, André Vilas Boas e Frederico Varandas). Por terem uma cultura futebolística acima da média, estava aberto o caminho para um tempo com menos jogos de bastidores, mais transparência e mais desportivismo.

Infelizmente quase nada mudou. Um ano e alguns meses depois, pode-se dizer que continuam com os velhos hábitos de antigamente, só falam quando se sentem prejudicados, fechando o bico quando são beneficiados. 

Ou seja, a "filosofia de jogo" é a mesma de um Pinto da Costa, um Sousa Cintra ou um Luís Filipe Vieira. "ganhar, ganhar, a qualquer preço".

Mesmo quando se tentam afirmar "melhores e mais sérios que os outros" (o presidente do Sporting é useiro e vezeiro nesta atitude...), a realidade acaba sempre por os fintar. Isso explica que não se tenha ouvido uma única palavra de Frederico Varandas sobre as agressões de que o avançado italiano do Benfica foi vítima, duplamente, por defesas do Sporting, na final da Taça de Portugal...

Nota: Não temos dúvidas de que o silêncio seria também ensurdecedor por parte dos outros dois presidentes na mesma situação.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, maio 26, 2025

«As pessoas gostam mais de um mundo faz de conta, onde a mentira tem a mesma validade que a verdade, que de um mundo com leis e valores claros»


Nunca pensei vir a concordar com o Rui, mas basta olhar para os acontecimentos do último ano no nosso país, para se perceber que a ética e a moral são cada vez mais, coisas da ficção (dos livros e do cinema).

Cada vez tenho  menos dúvidas de há cada vez mais gente que vive satisfeita dentro da realidade paralela, alimentada sobretudo pelas redes sociais. Quando ele disse, «As pessoas gostam mais de um mundo faz de conta, onde a mentira tem a mesma validade que a verdade, que de um mundo com leis e valores claros», ninguém foi capaz de discordar.

Sei que não é um fenómeno nacional, basta olhar para Trump, que não consegue dizer uma frase sem introduzir qualquer dado falso. E pior ainda, em poucos minutos é capaz de dizer uma coisa e também o seu contrário. Bolsonaro foi o que foi (e continua cheio de saudosistas...), Milei é o que é. E Ventura pode ser uma coisa mais perigosa do que se pensa (o seu crescimento começa a assustar aqueles que acham que ele não passa de um "palhaço", como eu)...

No dia a dia, é capaz de ser mais divertido, andarmos a mentir uns aos outros, colocando a realidade num segundo patamar. Só que isso tem um preço...

Mais tarde ou mais cedo, vamos todos pagar um preço demasiado alto, por alimentarmos este "mundo faz de conta". É assim que surgem as ditaduras, onde a mentira passa a ser a "linguagem oficial" do poder, ao mesmo tempo que quem defende a democracia, os factos e a liberdade, é empurrado para o lado errado da sociedade. Ou seja, é preso ou silenciado, por vezes da pior maneira. 

Exemplos não faltam por esse mundo fora...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


domingo, maio 25, 2025

O bonito olhar estrangeiro de Abril


Não sei dizer o que gostei mais da exposição "Venham Mais Cinco", que vi hoje, no Parque da Antiga Lisnave (ao lado da Escola Profissional da Lisnave, em Almada). 


Mas talvez tenha sido a diversidade, o que mais me espantou, das duzentas bonitas imagens que retratam muitas das aventuras que ilustram os anos luminosos de 1974 e 1975. Sim, são trinta olhares diferentes, atentos à nossa  memorável Revolução, que foi muito mais que um só dia.

Recomendo vivamente a visita à exposição a todos aqueles que gostam de fotografia e de Abril. 

Vale a pena!

(Fotografias de Luís Eme - Margueira)


sábado, maio 24, 2025

Quando a fotografia se torna bela e complexa em simultâneo...


O desaparecimento de Sebastião Salgado é um bom motivo para falar de fotografia, como arte, mas também como objecto de denúncia, de clarificação, porque o que ele mais gostava de retratar era um mundo desigual e devastador, graças à acção do homem, mas sempre a perseguir a diferença, a encontrar beleza mesmo no "inferno".

Penso que ele chegou onde mais ninguém foi (muitos nunca quiseram ir por aí, até por uma questão de filosofia de vida e do entendimento que tinham da imagem). Onde havia exploração, escravidão, devastação, miséria, ele foi lá, e tirou retratos a tudo e mais alguma coisa, sem estar preso a questões éticas e morais.

No meu caso pessoal, devo dizer que a partir de certa altura, comecei a desinteressar-me pela sua fotografia. Senti que aquilo era tudo muito igual, ou seja, ele já não me surpreendia com a beleza das suas imagens. 

Acho que isso aconteceu quando entrei mais dentro da fotografia. Fui educando o meu olhar, através da prática da fotografia e também de conversas com amigos fotógrafos (as conversas influenciam-nos muito, mesmo sem darmos por isso...), comecei a achar que as imagens de Sebastião eram demasiado encenadas. Até mesmo a miséria humana, não me parecia real, entre outras coisas, mesmo que o fotógrafo brasileiro tivesse sempre a arte como prioridade, no seu olhar...

É por isso que eu digo que a fotografia com Sebastião Salgado, ganha uma beleza única (os seus cinzentos são uma marca...), mas também se torna complexa, enquanto objecto social...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sexta-feira, maio 23, 2025

Não explica mas ajuda a compreender...


Não é que estivesse sem assunto, mas queria mudar de página, deixar este mundo de "sabujos" (onde o PSD e o PS continuam a ter a maioria...), que se julgam mais espertos que os outros, passando a vida a prometer o que sabem que nunca irão dar...

Mas como achei a crónica de Ana Cristina Leonardo no "Ípsilon" de hoje, muito feliz - tem alguns enigmas mas é sobretudo rica em retratos do mundo e do país -, achei que a transcrição de um dos parágrafos era boa para fazer de conta que vou "encerrar" o assunto:

«Se apelidar alguém de gordo pode ser interpretado como discurso de ódio, se questionar a participação de mulheres trans em competições desportivas femininas pode ser (e geralmente é, que o diga J. K. Rowling…) visto como transfobia, se recusar a chamada linguagem inclusiva que multiplica casos e casinhos pode ser entendido como discriminatório, se optar por usar a palavra deficientes em vez da designação pessoas com deficiência pode ser lido como prova de insensibilidade, se contar uma piada passou a ser razoável apenas e só se a piada não ofender ninguém, se… se… se… Já aparecer nas televisões e nos jornais a afirmar mentirosamente (desmentido pelos serviços hospitalares e pela PSP) que os ciganos o queriam matar, ou a expressar ideias boçais que nem na taberna de Eco, como fez o deputado Pedro Pinto (Deputado! Por Toutatis!) — “Não podem querer que André Ventura vá para uma cama onde ao lado esteja, por exemplo, alguém de etnia cigana” — passou a ser admissível e, além de admissível, aceitável.
Repare-se, porém, no detalhe (e o Diabo, é sabido, está nos detalhes): Pedro Pinto, recorrendo, até ele, e apesar da boçalidade, ao politicamente correcto — um entendimento linguístico que nos conduziu à ideia de que é possível mexer na merda sem sujar as mãos… —, não diz ciganos, diz alguém de etnia cigana. É o progresso!»

As palavras de Ana Cristina não explicam, mas ajudam a compreender este mundo, o lugar para onde estamos a caminhar. 

E a sua referência final da crónica ao hospital do Algarve (com cronologia e tudo) é bastante elucidativa do papel dos "sabujos" neste "país do faz de conta" ao longo das últimas décadas. E lá está, talvez a soma do banal dois mais dois, ajude a compreender - com mais nitidez - a vitória do Chega no "reino dos algarves"...

(Fotografia de Luís Eme - Olho de Boi)


quinta-feira, maio 22, 2025

A cumplicidade socialista na partilha da escola pública e privada


A semana passada fui convidado para ir falar sobre leitura e livros a uma escola secundária, privada.

Achei tudo normal. Os professores (o convite partiu de uma amiga, professora de inglês), os alunos, os funcionários.

Só a partir de sexta feira é que comecei a pensar com alguma insistência na diferença que existe, entre um "colégio" e uma "escola secundária". Como os meus filhos já tem mais de vinte anos e sempre estudaram na escola pública (nas melhores de Almada, a António da Costa e a Emídio Navarro...), sem problemas de maior, nunca pensei seriamente na degradação do ensino (ao contrário da saúde, talvez por esta ser mais visível) na última década. E a pandemia não explica tudo...

Depois de domingo, ainda foi mais fácil associar as ideias, ir ao encontro de um país, que é cada vez menos para todos.

Não fui capaz de dissociar a derrota socialista de António Costa e Mário Centeno (Medina apenas seguiu o guião), que preferiram "encher os cofres" do Estado a investir dinheiro onde era necessário (educação, saúde e serviços públicos) e onde falta um pouco de tudo. Sei que estavam longe de pensar "sair a meio" e que os "cofres" que foram enchendo iriam servir para o PSD andar um ano em campanha eleitoral a dar a uma série de classes profissionais o que o PS se recusou dar. Isso ainda os deveria envergonhar mais (se tivessem vergonha, claro).

Lá estou eu a "desviar-me do assunto". 

Segundo as estatísticas, 25% das escolas secundárias  de Lisboa hoje já são privadas. E o número promete crescer. Isso só acontece porque as escolas públicas deixaram de ser as com mais qualidade e com mais segurança (a falta de funcionários é mais que evidente em algumas escolas...). E quem pode escolher, escolhe as melhores para os filhos...

É por isso que embora os socialistas se batam (teoricamente) pela Escola Pública e pelo SNS, com a falta de investimento, foram os primeiros a abrir caminho ao crescimento dos colégios e das clínicas privadas no nosso país.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, maio 21, 2025

O risco do insucesso aumenta sempre que um treinador começa a época a meio...


Ruben Amorim e Sérgio Conceição continuam a ser dois dos nossos melhores treinadores (para mim estão no pódio, juntamente com Jorge Jesus...), apesar de terem tido uma época para esquecer (pela primeira vez...), com demasiadas derrotas e classificações muito abaixo do nível dos clubes e deles próprios.

Ambos cometeram o mesmo erro: entraram a "meio da época" nos seus  actuais clubes para comandar atletas que foram escolhidos por outros técnicos...

Mas tanto Ruben como Sérgio, não podiam dizer não ao Manchester United ou ao Milão, dois dos melhores clubes do mundo.

Deve ter sido um ano de grande aprendizagem para ambos. Apesar do insucesso (a provável vitória do Manchester na Liga Europa não muda quase nada...), viveram situações novas, que os tornaram mais fortes e mais preparados para enfrentar o futuro, em qualquer campeonato, em qualquer país.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


terça-feira, maio 20, 2025

A anormalidade destes tempos, que tentam ser a nova normalidade (com a cumplicidade das redes sociais e da própria televisão)


O ser humano é desconcertante. Sempre foi.

E não é um problema apenas deste canto da Europa, por muito que insistam nas patranhas do "filho que bateu na mãe" ou na tese romana "do povo que não se governa nem se deixa governar".

Como de costume as "modas" chegam sempre depois a Portugal. Neste caso ainda bem. A extrema-direita já influenciava a governação de países como a Holanda, Itália, França, Alemanha e até Espanha, e ainda se olhava para Ventura como uma espécie de "palhaço de serviço", mas que não perdia uma oportunidade de aparecer nas televisões e redes sociais...

E se as pessoas com dois dedos de testa já perceberam há algum tempo, que o mundo está de pernas para o ar (antes de as pessoas votarem "contra elas próprias" por cá, já Trump tinha sido eleito nos EUA - esta foi a segunda vez... - e Bolsonaro no Brasil), as outras, que só consomem as notícias que lhes são oferecidas pelas redes sociais, bem "mastigadas" e com objectivos claros, dançam ao sabor dos "populismos".

Tenho poucas dúvidas que vamos sempre pelo mais fácil, é por isso que cada vez pensamos menos pela nossa cabeça, sem nos apercebermos, somos "meras "marionetes". 

Isso também explica, por exemplo, que exista uma dualidade tão grande na forma como se olha para o que se passa em Gaza e na Ucrânia. É bem pior o que se passa em Gaza que na Ucrânia, mesmo assim Bibi é tratado com mais benevolência que Putin, pelo menos no Ocidente.

Voltando ao nosso país, num tempo normal, Montenegro nem sequer tinha sido candidato a primeiro-ministro. Tinha sido o seu próprio partido que o tinha substituído. Num tempo normal o Chega teria meia-dúzia de deputados, no máximo...

Mas que não existam quaisquer dúvidas, de que somos nós, os grandes culpados, pela anormalidade destes tempos que se vivem...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, maio 19, 2025

Manias de grandeza no meio da pobreza...


Pode parecer estranho a pessoas normais, haver emigrantes que se acham "de primeira", ao ponto de serem tão - ou mais racistas - que os brancos de cabelo curto, que fingem ser "arianos", em relação a outros povos, que chegam ao nosso país vindos do Oriente.

Como cada vez vejo menos televisão. Não vi a senhora brasileira que falou ontem à noite para as câmaras, durante os festejos da "vitória" do Chega. Mas hoje li o que escreveu Vicente Nunes no "Público" que, entre outras coisas, explica o quanto a ignorância é atrevida:

«Mulher, negra e imigrante. A brasileira que fez questão de ir às comemorações do Chega, partido de extrema-direita que elegeu 58 deputados para a Assembleia da República, é o retrato claro de parcela dos imigrantes que estão em Portugal e defendem, equivocadamente, políticas restritivas para quem vêm de fora com o intuito de construir uma nova vida no país.
Em um tom acima do normal, olhando para as câmaras das tevês, ela ressalta que é trabalhadora, que paga seus impostos, como se os demais imigrantes fossem vagabundos e só estivessem em território luso para se aproveitarem de benesses governamentais, como prega o líder do partido radical, André Ventura.»

Pois é, parece que cada vez há mais gente que adora "dar tiros nos pés" e "lamber as botas" a quem os insulta e explora...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


domingo, maio 18, 2025

Um país cada vez mais faz de conta


Não me reconheço neste país... e ainda menos no distrito onde vivo há praticamente quatro décadas.

Faz-me muita confusão a transferência (cada vez mais evidente) de votos do PCP para o Chega, em praticamente todos os distritos do Alentejo e também em Setúbal.

Pois é, os extremos tocam-se mesmo...

Não vou emigrar, mas sinto-me pouco confortável neste país que privilegia, cada vez mais, a "chico-espertice", as "meias-verdades" e as "meias-mentiras", como tem acontecido com o primeiro-ministro eleito. Basta-me recordar as mentiras que foi capaz de dizer no debate televisivo com o líder do PS, sobre o SNS, de que havia mais médicos de família, mais consultas e mais urgências abertas no último ano que na legislatura anterior. Basta consultar os dados estatísticos oficiais, para lhe chamar mentiroso, com todas as letras.

Do partido que irá ter um número próximo dos 6o deputados, nem vale a pena falar. De certeza que além do aumento do ruído e do insulto no Parlamento, também irão multiplicar-se as suas habituais "ficções", desmentidas diariamente pelo jornalismo credível, que também é colocado em causa, por não seguir o seu "guião".

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


sábado, maio 17, 2025

«A vida dá-nos coisas com uma mão e tira-nos outras com a outra»


Quem me lê já deve saber que escrevo directamente no computador todos os dias, ou seja nunca há "textos requentados".

É também por isso, que muitas vezes estou a pensar escrever sobre uma coisa e depois acabo por escrever sobre outra...

Ontem aconteceu isso mais uma vez... 


Era para falar sobre o desabafo de uma amiga sobre as aventuras de uma viagem, sonhada há muito tempo, marcada por demasiados percalços...

Embora tenha gostado, tudo teria sido bem melhor se encontrasse menos obstáculos pelo caminho. 

Sorrimos quando ela levantou o véu dos "mistérios da vida", com a frase, «A vida dá-nos coisas com uma mão e tira-nos com a outra.»

Com o seu sentido de humor muito peculiar acrescentou ainda: «Só não percebi ainda, o que é que todas estas peripécias têm que ver com Deus"...

Pois... eu também não.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, maio 16, 2025

A frase "felizes os que acreditam" e as habituais "faltas de comparência" de Deus...


A única pessoa com quem falo do tal Deus, que só quem tem fé, consegue abraçar e seguir, é o Chico (e claro, a minha Mãe...). Ele além de ser um excelente ser humano, é um homem de fé. Ainda bem para ele. Não duvido que é mais feliz que todos nós...

Normalmente não se fala destes temas nas mesas de café. Acho mesmo que ele é a única excepção no meu grupo de amigos, que aborda qualquer tema religioso, inclusive o espiritismo. Na nossa "Tertúlia do Bacalhau com Grão", quando ainda cá estavam os nossos queridos amigos Carlos Guilherme e Orlando, era um fartote de riso no nosso canto, e nem mesmo assim ele desistia, embora com humor nos chamasse "hereges" e dissesse, que quando fossemos "lá para cima", logo descobriríamos a verdade...

A tal verdade continua a ser um mistério. Mas o Chico por vezes diz que tanto o Orlando como o Carlos agora "já acreditam", já sabem como é o "mundo de lá". Raramente uso  do meu cepticismo para o contrariar, embora lhe recorde muitas vezes a realidade (cada vez mais cinzenta) e as "faltas de comparência" de Deus aqui e ali, para lhe fazer perceber que não é a "fé" que muda o mundo.  

Mesmo que não duvide da quase palavra de ordem religiosa: "felizes dos que acreditam"...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


quinta-feira, maio 15, 2025

As pessoas que gostam que tenhamos medo delas...



O texto que escrevi aqui foi ainda "mais falado", no dia seguinte.

Porque houve alguém que disse que não são só os ciganos que gostam que tenhamos medo delas. Referiu-se depois às forças de autoridade, que segundo a sua opinião, 51 anos depois de Abril, ainda não perderem alguns dos tiques fascistas que as caracterizam.

Quando quisemos saber desses tiques, o Pedro voltou à adolescência, à única vez que levou uns empurrões e uns pontapés da polícia, sem que tivesse feito alguma coisa de errado, além de estar no Bairro Alto com amigos sentado à beira do passeio a beber umas cervejas. Nunca esqueceu esta mania do "bater antes e perguntar depois", que pelo que se lê e ouve, ainda se mantém activa, especialmente se tivermos a pele mais escura.

A questão que veio a seguir, foi se é necessário esta cultura do medo, se é preciso termos medo dos agentes de autoridade. Todos dissemos que não. Até porque medo, apesar de alguma confusão que anda na cabeça das pessoas, nunca foi sinónimo de respeito...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa) 


quarta-feira, maio 14, 2025

O medo, entre a "percepção" e a "realidade"...


As ruas da "percepção" e da "realidade", ficam quase sempre ao lado uma da outra.

Quase todos contribuímos para se faça alguma confusão entre as duas, especialmente os políticos do lado direito, que sentem saudades de um estado mais repressivo. E claro, as polícias, que têm sempre alguma dificuldade em fazer cumprir a lei nos regimes democráticos, onde não se pode, nem deve, "bater" apenas porque sim.

Falámos disso ontem. A conversa foi alimentada por alguns de nós sentirmos que o "medo", continua a crescer, quase todos os dias, à nossa volta. 

As guerras que matam gentes de todas as idades, diariamente, devem ter alguma influência, mesmo que nós não nos apercebamos bem destas "percepções" (todos achámos que sim).

O curioso foi na viagem de regresso a casa, de metro, ter reparado em três indivíduos orientais, que entraram na Alameda, com mochilas grandes (deviam ter chegado há pouco tempo...), além de falarem as suas línguas estranhas, olharem para quem os rodeava, com desconfiança. Eu sei que é difícil olhar de outra forma, para um mundo que nos trata como cidadãos de segunda ou terceira, que nos gosta de apontar o dedo, mas...

Aquela reacção fez com que recordasse uma boa parte dos ciganos que fui conhecendo ao longo da minha vida. Eles tinham como sua principal defesa, fazerem-nos sentir medo, pensarmos que eles eram capazes de fazer as coisas horríveis que nos ameaçavam, aqui e ali.

Pois é, temos quase sempre "medo" do que é diferente de nós. E quanto mais "fechados" e "nacionalistas" formos, pior...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, maio 13, 2025

E esta? Os políticos a fingirem querer ser apenas "gente normal"...


Nunca pensei que chegaríamos a um tempo em que os políticos, iriam passar a campanha eleitoral a "fingir" que eram pessoas "normais", preferindo passear-se pelos programas da manhã e da tarde, de entretenimento, que têm como espectadores privilegiados, os pensionistas (que também têm sido "disputados" nos discursos, quer pela AD quer pelo PS...), aos debates ou entrevistas políticas mais sérias, com jornalistas chatos e incómodos.

O giro da coisa, foi tudo ter começado com o actor Luís "Monteverde", que tem andado o tempo todo a fugir da sua empresa que tem um nome quase espacial. Só não estava à espera que ele fosse "copiado" por todos os outros cabeças de lista, da esquerda à direita, que nem aos programas de humor, dizem não.

Não sei o que diriam líderes como Francisco Sá Carneiro, Mário Soares ou Álvaro Cunhal, destes novos tempos e destes políticos, mais de entreter, que de falar de coisas sérias...

Talvez não dissessem, mas pensassem o óbvio: "são muito fraquinhos."

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, maio 12, 2025

Talvez todos sejamos assim. Talvez...


Há pessoas que demoram anos a fazerem-nos perguntas. 

Claro que isso acontece porque normalmente não são questões importantes. Algumas vezes são coisas, que se não forem logo esclarecidas, acaba por se ficar com a sensação de que se perdeu a oportunidade "de ir até ao fim da estrada".

Mas neste caso em particular, nem era isso. Era uma daquelas perguntas que podia ser feita em qualquer hora, em qualquer momento.

O normal nos humanos, é olharmos para o mundo à nossa maneira, sem sequer nos darmos ao trabalho de nos colocarmos no "lugar do outro". Pensamos que o nosso "normal" é o "normal" dos outros.

Por outro lado, não nos encontramos como noutros tempos, uns com os outros nos cafés (há demasiadas "faltas de comparência"...).

E também se fala cada vez menos de livros e de escritaria, sem que eu saiba muito bem porquê (sei sim, mesmo os que gostamos de ler, estamos a ler menos...).

A pergunta afinal eram duas, e a culpa era dos escritores que passavam o tempo a dizer que "escrevemos para nós" e de outros que ainda iam mais longe e diziam que "escreviam sempre o mesmo livro" (havia aqui um rasto das entrevistas de Lobo Antunes...).

Disse sim à primeira questão. Sim, escrevemos sobretudo para nós. Acrescentei, que até as coisas banais que escrevo nos blogues, são escritas "para mim" (mesmo que não se deva levar demasiado à letra esta "pessoalização", porque não vivemos numa ilha...). Este "escrever para nós", deve ser entendido desta forma por se tratar de uma necessidade pessoal, do preenchimento de um espaço vazio que existe no nosso interior e não com essa coisa estranha que chamamos de "egocentrismo".

Não concordei com a história de se escrever sempre o mesmo livro, embora perceba que se trata mais uma vez de uma "imagem" que se tenta dar, para não aprofundarem algumas temáticas. Mas é uma "imagem" que não deve ser seguida à letra... 

Cada livro é um caso. Ponto final.

Claro que falámos de mais coisas. Até da poesia, que ainda abre mais as portas a todo o tipo de justificações, conjecturas e invenções...

O mais curioso, foi sentir que tinha algumas saudades de falar das coisas, que raramente se dizem e se contam. 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)