sexta-feira, fevereiro 14, 2025

Um mundo com mais diferenças que segredos...


Houve um tempo em que montava (ou ajudava a montar...) muitas exposições.

Isso fazia com que tivesse alguma proximidade com a gente que pintava e fotografava (com mais e menos talento). Foram tempos de aprendizagem e sobretudo de partilha.

Por saber que o artista é por natureza opinativo, e tem um ego com algum tamanho, nunca fui um impositor, nunca dizia "isto assim é fica bem", preferia perguntar, "acham que isto fica bem assim?". Ficava quase sempre...

Tentava também que percebessem que as exposições não são "mundos fechados". Embora não existam mil maneiras de as tornar quase num só "corpo", há com certeza, pelo menos uma dúzia de possibilidades diferentes de lhes oferecer harmonia. É por isso que eles ainda acham que os quadros devem ser nivelados por cima ou por baixo. Eu continuo a gostar mais da centralidade...

Hoje voltei a esses tempos, ajudei a montar a exposição de três amigos.

Falei com um deles sobre o seu percurso. Fui mais longe, disse-lhe que ele era um artista, porque foi à procura do seu caminho, nunca procurou copiar ninguém...

Ele não respondeu com palavras, abanou a cabeça afirmativamente.

Muitos nunca o chegam a descobrir, mas o mundo das artes, alimenta-se mais das diferenças, da procura do próprio caminho, que dos segredos, que faziam parte da "mitologia" de alguns mestres...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, fevereiro 13, 2025

«Como é que conseguimos que nos olhem como artistas de verdade?»


Sei que me repito, mais vezes do que devia, aqui no "Largo".

Isso acontece por várias razões. A mais evidente, talvez seja por continuarmos a debatermo-nos com os meus problemas de há quarenta e trinta anos, na cultura.

As "repetições" também fazem com que perceba que sou mais lido do que penso, por pessoas que conheço. 

Hoje  recebi dois telefonemas de gente do teatro. Gente que não faz telenovelas (não são das que que não participam porque não querem, são das que nem sequer são convidadas, porque não andam em "grupos", não engraxam botas, muito menos vão para a cama com este ou esta, apenas porque faz parte do contexto televisivo novelesco...).

Gente cansada de promessas e de ouvir mentiras.

Embora se fale que há novos públicos entre os jovens, estes continuam a ser poucos, as salas continuam a estar vazias, depois da estreia...

Embora exista muita gente que seja contra a subsidiodependência, é a única forma de se fazer teatro em Portugal (até mesmo o Lá Féria precisa de apoios...), tal como noutras artes menos mediáticas, como a dança ou a música sinfónica, por exemplo.

As pessoas sabem que a única forma de evoluirem, é trabalhar todos os dias, ser esta a sua única ocupação profissional. Não terem de fazer uns "ganchos" num bar de um amigo, no café do pai ou por gostarem de viver de noite, irem ao raiar do dia ao MARL, buscar fruta e os legumes para a banca que a tia tem na Ribeira... Ou se forem músicos de orquestra, para conseguirem fazer férias no Algarve, arranjarem um "part-time" como músicos nas touradas, que realizam em Albufeira para turistas.

Fazem-me sempre a pergunta do "milhão": «Como é que conseguimos que nos olhem como artistas de verdade?»

Tenho várias teorias, mas ao certo não sei. 

Não sei mesmo. Neste tempo de percepções, penso demasiadas vezes sobre estas coisas das culturas e fico com a sensação, de que cada vez sei menos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, fevereiro 12, 2025

A arte de contornar o "não"...


Se há uma área onde o normal é recebermos o "não", como primeira resposta a qualquer projecto que seja apresentado, é a Cultura.

Estava a ver o programa biográfico "O Portugal de...", com a actriz Joana Barrios, e, quando ela falou que passa o tempo a "contornar o não", levou-me de viagem pelo tempo, fez com que recordasse as muitas coisas que fiz por teimosia, apenas por receberem com primeira reacção, o tal "não". Mesmo que raramente nos seja dita essa palavra, nua e crua.  Sim, rapidamente percebemos que a palavra "não" tem milhentos significados...

Almada teve durante muitos anos um vereador da Cultura que ficou conhecido como o "nim", porque embora não usasse a palavra "não", raramente se comprometia com o que quer que fosse. Parece que ainda o estou a ouvir dizer, "vamos ver", ou "isso é muito interessante", que qualquer bom conhecedor da personagem, percebia que o "não" estava praticamente garantido...

É também por estas coisas que gostei muito de ser activista cultural, de ter contribuído para a realização de centenas de iniciativas, por ser um "artista" na arte de "contornar o não" (pois é, a teimosia nem sempre é defeito...).

Hoje essa "pessoa" já não existe. Às vezes tenho saudades dela, outras nem por isso. Sei que se "ela" tivesse recebido ontem, como resposta a um e-mail, menos de um décimo do apoio necessário para um actividade importante que pretendo realizar em 2025, não diria o que eu disse, não responderia: "grato pelo apoio".

É nestas pequenas coisas que descobrimos que a idade nos torna mais flexíveis, menos radicais...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, fevereiro 11, 2025

Pessoas que se acham "gigantes", mesmo que vivam em mundos demasiado pequenos...


Estive ao telefone com a minha mãe. Como de costume, com apenas uma ou duas palavras, juntaram-se uma imensidão de frases, quase todas com sentido.

Mesmo sem ter nada a ver com o assunto, quando passámos o olhar por este mundo que nos cerca, com tantos bandidos com o poder de matar, por esses continentes fora, fiquei a pensar nos "anões" que nos rodeiam, que quando se olham ao espelho fingem olhar para "gigantes".

E depois também passámos os olhos pelas pessoas demasiado vulgares que se acham os maiores de qualquer "cantadeira", mesmo que não consigam sair da mediocridade.

Ela sempre foi o pendulo de equilíbrio da nossa casa. Muitas vezes penso que é a melhor pessoa que conheço, por ser capaz de relativizar o "mal", e continuar a achar, com a proximidade dos 90 anos, que só se pode combater o mal com o bem.

Não adianta eu dizer-lhe que é impossível combater um Trump, um Putin ou um Netanyahu, com bondade... 

Claro que ela tem razão, mesmo que isso conte pouco nos dias que correm, porque todos percebemos que não se combate a guerra com a guerra, todos ficamos a perder, sempre. 

Quem mais deve sentir isso, são os ucranianos, os palestinianos, e os russos e israelitas que têm o coração no sítio...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)

 

segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Esta coisa de "não conseguir respeitar quem não me respeita"...


Embora possam não ser muito "católicos", há vários princípios paternos que sigo, quase sem me aperceber. Percebo, pela minha experiência de vida, que não consigo ser de outra maneira...

Talvez seja mais uma dessas coisas que nascem e ficam para sempre connosco, e das quais até me me orgulho. 

Uma das coisas que tentei passar aos meus filhos, foi um traço definidor do pai, muito simples e não menos importante, que nos foi transmitido através de palavras e actos ao longo da sua vida, de que: "ninguém é mais nem menos que nós".

Pensei nisso hoje, depois de ser atendido de uma forma estúpida, e perceber, que o facto de não me calar, iria fazer com que "pagasse com juros este meu atrevimento". E de facto assim, aconteceu, o que poderia ser resolvido em 10 minutos demorou 60... E apenas para me mostrarem "quem é que mandava ali".

Fui salvo por uma Beatriz, que embora fosse uma pessoa normal, tinha quase ar de "anjo", no meio de todos aqueles "belzebus", apostados em dificultar a vida dos outros...

Já escrevi mais que uma vez sobre todos estes "dificultadores", que adoram tornar o fácil difícil, e que parecem estar sempre em maioria nos lugares de atendimento público (não comprei nenhum pneu, a fotografia é apenas irónica, como outras que publico aqui). São quase uma "praga"...

Claro que, também sei que já não vou mudar, depois dos sessenta. Até por ser mais forte do que eu, esta coisa de "não conseguir respeitar quem não me respeita"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, fevereiro 09, 2025

A nossa cidade mais surpreendente...


Não deixa de ser curioso, que a nossa escolha sobre as cidades, que mais nos conseguem surpreender, acabe por ter no começo da lista, algumas daquelas que conhecemos melhor. 

Claro que este efeito surpresa não ganha vida na pequena cidade onde crescemos e tudo nos parece igual. Normalmente, isso acontece sobretudo nas urbes de dimensões razoáveis.

Achei curioso a Rita falar-me do Porto, quase como se a Invicta fosse uma aldeia. Eu sei que o normal é todas as cidades portuguesas parecerem pequenas, quando são colocadas ao lado da Capital. 

Isso não acontece apenas pela dimensão de Lisboa, há também o seu peso histórico e social, mas sobretudo um certo bairrismo, que consegue oferecer arquitecturas, cores, cheiros e olhares diferentes, quando subimos e descemos as mais de sete colinas lisboetas.

Quase todas as vezes que passeio por Lisboa, descubro uma coisa nova. Acho que é por isso que gosto tanto de entrar nos bairros e ruelas menos centrais. Sei sempre que vou ficar surpreendido...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa) 


sábado, fevereiro 08, 2025

«Não sei se alguém hoje, quer ter uma gravata quando for grande. Eu queria...»


Na mesa onde se discute o "sexo dos anjos" mais vezes do que o costume, desta vez falou-se da facilidade com que hoje se pode escolher o que queremos ser amanhã.

Foi a Clara que começou aquele diálogo, quase com um "no meu tempo não era assim", feliz por se ter evoluído muito na educação, por hoje haver mais escolhas, mais vagas, para tudo. Houve quem a entendesse mal, eu nem por isso.

Claro que o Jorge também tinha razão, cada vez há menos jovens para as vagas que existem nas universidades e politécnicos. Isso dá-nos uma outra ilusão...

O Rui foi ainda mais claro, que todos nós. Falou do seu caso. Acabou o 12.º ano e teve de ir trabalhar, porque não lhe apeteceu ir para uma privada, pagar um balúrdio de dinheiro. E abrir um precedente lá em casa, onde todos estudavam no ensino público. Para entrar nos cursos que queria (História e Comunicação Social) tinha de ter uma média superior a 17 valores. Vi-me quase ao espelho, os meus quinze valores de média final (com a PGA) só davam para entrar em cursos "manhosos"...

Neste aspecto a Clara estava certa. Não valia a pena falarmos se se sabia mais ou menos, até porque, provavelmente, todos tivemos tios que diziam que a quarta classe  antiga valia mais que o quinto ano (nono), com se fosse possível fazer essas comparações...

Foi quando o Alberto, que fingia muitas vezes que não ouvia as nossas conversas, mesmo que todos gostássemos de "parlar à italiana", de trás do balcão teve uma daquelas saídas que nos deixou todos a pensar e sem sabermos muito bem o que dizer: «Não sei se alguém hoje, quer ter uma gravata quando for grande. Eu queria...»

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, fevereiro 07, 2025

«Somos uma cidade de velhos e estrangeiros»


Basta olhar para quem passa por nós para concluir que há mais que alguma verdade na frase do Carlos, de que: «Somos uma cidade de velhos e estrangeiros.»

Ainda lhe perguntei: «E nós, somos o quê?», para ouvir logo de seguida: «Se não somos chineses, somos velhos.»

Não é apenas Almada, que oferece este retrato. Todos sabemos que a nossa população  continua a envelhecer, de Norte a Sul.

Acabámos por falar do inquérito/ sondagem, divulgado esta semana, que nos disse que 73% dos nossos estudantes universitários, pensam emigrar, mal acabem os cursos.

Não se ouviu qualquer  "ruído", pela parte dos políticos, do governo ou das oposições. Mas é triste, andamos a formar jovens para servirem outros países, com tudo o que isso tem de negativo para nós.

Mesmo que sejam apenas 40% por cento, é um número que devia assustar os governantes e obrigá-los a agir, a criar mais incentivos para que os jovens não se vejam "obrigados" a emigrar...

Claro que os problemas de Portugal não se resumem apenas aos dos jovens. Há vários anos que não somos um país para jovens, para velhos ou para estrangeiros (os com dinheiro não contam...).

O mais triste é perceber, diariamente, que os políticos continuam a fingir que resolvem os problemas, sem que resolvam coisa alguma. E depois ainda têm a lata de se fingirem indignados por um militar ser o preferido dos portugueses nas sondagens para a presidência da República...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, fevereiro 06, 2025

Uma boa conversa sobre a falta de "planícies" nas cidades...


Estava quase a entrar no quintal, quando vi um homem sentado no degrau do portão, a fumar um cigarro.

Normalmente encontrava uma ou outra mulher ali sentada, a descansar, a meio da subida, demasiado íngreme e longa, com o saco das compras ao lado. Desviava-me para entrar, dizendo-lhes para continuarem sentadas a descansar, quando se preparavam para seguir viagem.

O fumador fez-me lembrar um tio emprestado, que também esteve ali sentado a fumar um cigarro "às escondidas" (a mulher e o médico diziam que lhe fazia mal, só que como lhe sabia bem, nunca deixou o vício...), a quem fiz companhia. 

Estivemos por ali a conversar, há uns bons vinte anos. O tempo é aquela coisa que todos sabemos...

Ele era uma pessoa divertida e entre outras coisas, depois da passagem de algumas pessoas de idade, por nós, disse-me que todos aqueles que tivessem mais de sessenta anos deviam ser proibidos de passar por aquela rua, a pé, tanto a descer como a subir. E acrescentou, que com o passar dos anos, descer tornava-se mais penoso que subir, por causa dos joelhos. E quem tenha jogado à bola, como ele, ainda pior...

Mas o melhor estava ainda para vir, quando ele quis quase sustentar a tese sobre "proibição" de uma forma alegre: «Esta descida é tão vertiginosa, que ainda aparece aqui alguém com dores nos joelhos que cai na tentação de, em vez de descer a rua, normalmente, começa a rebolar até lá baixo.»

Soltámos ambos uma gargalhada, que fez com as mulheres da casa viessem à janela e ele tivesse de apagar o cigarro à pressa, sem escapar de ouvir boas da esposa, enquanto me piscava o olho, quase a querer dizer-me: "deixa-as falar, ninguém me tira o prazer de uma boa cigarrada"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, fevereiro 05, 2025

Desconfiar da própria sombra, deve ser tão triste...


Sinto que cada vez mais se desconfia da generosidade e da bondade do outro, do desconhecido que é capaz de ajudar alguém, sem esperar nada em troca. Algo que os ditos não querem, nem "conseguem" fazer.

Para eles não há mundo "sem retorno directo", ou seja tudo o que se faz tem um qualquer objectivo.

Ainda não percebi se é um problema do coração ou da alma.

Já senti essa desconfiança, mais que uma vez, mesmo assim não consigo ser indiferente. Pois é, há automatismos que não consigo controlar, mesmo sem andar por aí armado em "escuteiro", a fazer a boa acção diária...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, fevereiro 04, 2025

Dois livros infanto-juvenis com uma leitura diferente...


Estava a arrumar livros quando me apareceu "A Floresta", de Sophia de Melo Breyner Andresen (junto da "Menina do Mar"). Ambos faziam parte dos livros "escolares" dos meus filhos. Fiquei na dúvida, se alguma vez o tinha lido. Mais tarde vi que não constava na "lista". E assim como quem não quer a coisa, comecei a lê-lo...

Não fiquei muito espantado com a história, achei que o anão que apareceu à menina era tudo menos um estranho, mesmo que a sua tarefa de guardião centenário de um tesouro, procurasse ser original.

Achei também curiosa a forma como a Sophia descreve a perigosidade do dinheiro, e de como os "ricos" não conseguem viver num mundo sem "pobres"...

Quase ao mesmo tempo comecei a folhear as "Aventuras de João sem medo", do José Gomes Ferreira. Também não li este livro, enquanto jovem. Recordo-me de ter gostado muito de ler "O Mundo dos Outros" no começo da adolescência, mas as aventuras do João ficaram adiadas, até hoje...

É curioso, como a leitura de um adulto, é completamente diferente da de um jovem, num livro que finge que esconde as histórias de um país desigual, cheio bandidos, capazes das maiores atrocidades, e claro, uma ou outra fada, aqui e ali, para amenizar as "desgraças"... Ou seja, senti este livro tão político, tão anti-salazarista...

São claras as mensagens literárias da Sophia e do Zé Gomes, do ponto de vista social. Mensagens que se encaixam muito bem neste nosso tempo, com o regresso de velhas práticas, que trazem para o poder os adoradores de "moedas de ouro" e os "ditadores", que tanto gostam de condicionar a vida dos outros...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, fevereiro 03, 2025

Quando até querem que o Mundo deixe de ser uma bola...


Estava sentado no metro que ia "furando" a cidade, quando se sentou à minha frente uma mãe e uma filha. Esta devia ter sete, oito anos, e falava com entusiasmo da escola.

Pouco tempo depois, o tema da conversa tornou-se mais gestual e perceptível. Falavam do formato do Planeta. O que me chamou mais a atenção foi a mãe falar de percentagens, que 80% das pessoas achavam que a Terra era redonda e 20% que era plana. 

Não sei onde foi que ela foi buscar estes números...

O que achei mais estranho foi a miúda não estar muito convencida com esta evidência. Era algo que nunca foi sequer discussão na minha casa, há mais de cinquenta anos. Nem tão pouco os meus avós, analfabetos, alguma puseram em causa a forma esférica do Planeta.

A ciência dizia e percebia-se a espaços, até pelas linhas do horizonte, que sim, o Mundo era mesmo uma bola...

Não estava à espera que os "negacionistas", com mais ar de ilusionistas que de burros, em pleno século XXI, conseguissem, através das redes sociais - cada vez mais mentirosas -, levantar questões que pensava terem ficado ultrapassadas no final da Idade Média...

(Fotografia de Luís Eme - Lua)


domingo, fevereiro 02, 2025

As coisas que não se explicam...


Evito passar pela nossa rua.

Até porque quando olho para a janela da sala, que abríamos de par em par e onde dizíamos bom dia, boa tarde e boa noite à cidade, fico a pensar que ando a imaginar coisas.

Apeteceu-me telefonar-te e perguntar se ainda tocas viola e cantas as canções dos "comunas", mesmo que todos soubéssemos que o Zeca fosse o seu próprio "comité central" e o Adriano continuasse a ser o gigante, que era amigo do tio Zé, ambos de outras esquerdas. 

Foi quando me lembrei que não tenho o teu número actualizado. 

Pois foi, passou tanto tempo. 

O engraçado da coisa, é que as coisas pioram quando viro costas. O prédio que agora é cor de rosa volta à nossa cor. Sim, os nossos amigos de então sabiam que vivíamos no terceiro andar direito, da "casa amarela"...

Claro que não olho para trás. Não preciso de confirmar, que o nosso prédio é amarelo.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, fevereiro 01, 2025

«Quem és tu, tempo?»


Foi quase de repente... e agora é Fevereiro.

Tanta coisa que era para ser feita em Janeiro, que nem sequer chegou ao papel...

Posso encher-me de desculpas, dizer que o tempo não ajudou, que a chuva até chegou ao Algarve.

Mesmo que seja verdade, é uma desculpa. Mais uma desculpa, entre muitas. As desculpas Fazem parte da nossa vida, e coisa curiosa, até nos ajudam a viver...

A única verdade que conheço é que nunca consegui andar à frente do tempo. E agora ainda fico mais para trás...

É por isso que te pergunto: «Quem és tu, tempo?»

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sexta-feira, janeiro 31, 2025

Andar por Lisboa a ver o Mundo Passar...


Mesmo quem anda por todo o lado em Lisboa, como eu, sabe que também pode ficar ligeiramente "infectado", pelas notícias e pelas vozes dos "moedinhas" deste país.

Pensei nisso, hoje, ao descer a Almirante Reis. Continuo a ter o vício de andar a pé e a ver o mundo passar por mim, mesmo que as pernas já não sejam o que eram. 

Sentado no interior do cacilheiro, enquanto olhava o Tejo, pensei que olhei para as pessoas com quem me cruzei, com mais atenção. As vozes, as cores, as roupas faziam a diferença, mas isso acontece há pelo menos meia-dúzia de anos. E sim, vê-se cada vez menos portugueses nas ruas.

Mas não faltam explicações para o facto. A principal é a existência de cada vez menos portugueses a morar nesta zona de Lisboa. E isso acontece graças ao aumento obsceno das rendas. 

Sim, a ganância dos senhorios é a principal razão deste "abandono", e não o "medo" pela gente que veio das Índias que, pelo menos aparentemente, é quase sempre excessivamente simpática (especialmente os comerciantes). 

Sei que se não se levantasse tanta poeira do lado mais afastado da direita, ou se o alcaide de Lisboa não quisesse ser também "xerife", tudo seria mais normal. Sobretudo os comentários que se fazem sobre as ruas da cidade grande, normalmente feitos por quem nunca passa por estas ruas e avenidas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, janeiro 30, 2025

A "arte" de apontar o dedo para todos os lados (com a invenção de culpados se necessário...)


Não sei se existe um "manual de regras" dentro dos partidos políticos, com práticas que se aproximam daquilo que se vê em filmes de mafiosos, onde as pessoas se protegem para além do razoável, ao mesmo tempo que estão sempre prontas para culpar os adversários de todos os males do mundo.

Claro que o hábito de "apontar o dedo aos outros", sempre que acontece qualquer problema, não se limita ao mundo dos partidos. Vive-se no trabalho, vive-se em casa, vive-se entre amigos. Sim, estás sempre presente no nosso dia a dia.

Ou seja, onde existe um cobarde, sem coragem para assumir os seus erros, existe um "apontador de dedos"...

Não deve ser por um mero acaso, que eles agora estão ainda mais visíveis, em parte por não resistirem a microfones ou câmaras televisivas, para "culpar" os adversários de todos os males do mundo. 

Sei que podia ignorar a sua existência, pelo menos aqui no "Largo". 

Mas é difícil assistir diariamente ao "passa culpa" do Alcaide de Lisboa e do "Rei da América". Tudo o que acontece à sua volta, é sempre culpa dos outros...

É demasiado triste e baixo, aproveitar um acidente entre um avião e um helicóptero, para culpar os antecessores, ainda por cima, quando estivemos no meio deles, a tomar decisões erráticas...

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


quarta-feira, janeiro 29, 2025

Os oitenta anos da "Bíblia do futebol"


Podia falar do "calimero" que começa a andar em negação, quando se fala de violência em Lisboa, ao ponto de até colocar em causa os números apresentados pela polícia, mas isso era dar atenção a quem não a merece.

É por isso que prefiro festejar os oitenta anos de vida que a "Bíblia" do futebol comemora hoje.

"A Bola" foi o jornal que mais li no começo da adolescência até à idade adulta, porque tinha jornalistas extraordinários, como foram o Alfredo Farinha, o Carlos Miranda, o Aurélio Márcio, o Vitor Santos, e sobretudo, o Carlos Pinhão. Adorava ler as suas crónicas, especialmente quando "largavam a bola", e davam largas à imaginação e ao espírito de cronistas, com os populares "Hoje Jogo eu"...

Não tenho grandes dúvidas, que foi graças a eles, que quis ser jornalista desde muito cedo. Ainda tive o prazer de conhecer Alfredo Farinha, Carlos Miranda e o Carlos Pinhão. Acabei por ter uma maior proximidade com  este último, por gostarmos ambos das coisas da cultura. Conversámos bastantes vezes, sobre livros, mas também sobre cinema ou teatro, apesar da concorrência quase doentia desse tempo entre o "Record", - onde eu já trabalhava - e "A Bola". Era uma daquelas coisas em que fingíamos passar-nos ao lado...

E não posso esquecer Cândido de Oliveira, jogador, treinador, seleccionador nacional e democrata (esteve preso no Tarrafal...), o principal responsável por este projecto jornalístico de grande sucesso, que dura há oitenta anos...

A propósito da capa, eu é que agradeço!


terça-feira, janeiro 28, 2025

Há uma parte rural que não sai dentro de mim...


Estava a ler uma entrevista, que fez com que pensasse, logo naquele momento, nas minhas memórias. Embora fossem muito diferentes das do entrevistado, era sobretudo disso que tratava aquela conversa...

Fiquei a pensar, que, mesmo vivendo sempre na cidade, tinha muito presente dentro de mim, todo o espaço rural. A aldeia, as fazendas e toda aquela outra forma de vida, diferente, artesanal em quase tudo, continuavam vivas, sem que eu conseguisse encontrar uma explicação para isso, até por na época, não gostar nada daquilo (desde o trabalho duro à própria gastronomia, que o meu irmão adorava. Ainda hoje diz que gostava mais da comida da avó que da mãe, ao contrário de mim...). 

Claro que sei que tudo isso se deve à minha vivência, desde a infância, na casa dos avós maternos. Uma boa parte das férias grandes eram passadas lá... Mas também percebo que há coisas que fazem parte de nós (desde sempre, mesmo que não se dê por isso...), que tanto podem já ter nascido connosco, como terem sido adquiridas, sem nos apercebermos. Até porque existem vários estudos no campo da psicologia e da psiquiatria, que explicam que o que se viveu na infância, é essencial para o resto das nossas vidas...

O que sei, é que mesmo sendo, naturalmente, urbano, há uma parte rural muito importante dentro de mim. É ela que determina que goste tanto do contacto com a natureza, que pudesse viver com facilidade sem o conforto das cidades. E claro, tenha tantas memórias dos campos...

Parece contraditório, mas não é. Nós somos sempre mais que uma coisa.

Mesmo que saiba que não é verdade, fico por vezes com a sensação de que aprendi mais coisas, durante estes curtos períodos de férias, que na escola...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


segunda-feira, janeiro 27, 2025

Quando o que é normal parece ser entendido como "aberrante"...


Não é de agora, que o para nós parece normal e razoável, para os outros é uma coisa estranha e diferente.

O curioso, é ainda estranharmos estes comportamentos.

Estou a falar das palavras de Pedro Nuno Santos ao "Expresso", que fez com alguns dos seus opositores internos saíssem da "toca" para criticarem a sua opinião sobre a imigração.

O que ele disse é o que quase todos pensamos (se excluirmos os extremistas dos dos lados da política...). De uma forma simplista, ele disse que quem chega a um país, tem de respeitar as suas leis e a forma como se vive em sociedade. Ou seja, devem integrar-se e não viver em "guetos". E devemos ser rigorosos nestes aspectos. Quem não gostar ou não quiser cumprir as nossas normas, só tem de fazer as malinhas e ir para outras bandas.

O exemplo dos portugueses é exemplar, pois foi isto que sempre fizemos, em séculos de emigração pelos vários cantos do mundo. Sempre nos tentámos integrar nos países para onde fomos viver. E esse é que deve ser o comportamento normal de quem chega, vindo da China ou da Dinamarca.

Sei que o PS parece muitas vezes um "saco de gatos". E embora muito boa gente entenda isso como democracia, haver sempre várias vias de "socialismo", e claro, oposições internas, acho que não é lá muito democrático, alguém estar à espera de um qualquer "deslize", para sair da sombra e mostrar as "garras". Faz lembrar um pouco aqueles cães que estão escondidos e aparecem do nada a ladrarem atrás de nós, a fingirem que têm vontade de nos morder os calcanhares.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, janeiro 26, 2025

«Eles escolhem quem faz fogueiras com mais fumo»


Os alentejanos têm uma maneira de comentar as coisas, quase sempre mais irónica e divertida, pelo menos quando comparados com os restantes nativos das várias regiões portuguesas.

E têm ainda outra virtude, conseguem dizer piadas sem se rirem. Algumas vezes nem se trata de piadas mas sim da forma descontraída como olham para este mundo com cada vez mais cores à nossa volta.

E depois há frases que ficam, como as do Chico, em relação aos "especialistas" que enchem as televisões: «Eles escolhem quem faz fogueiras com mais fumo.» E continuou: «Eles querem lá saber do lume. Querem é fumaça!»

Quando alguém é capaz de explicar, com apenas duas frases, qual é o critério de selecção na escolha dos comentadores televisivos, e logo de seguida conseguir que todos concordem com ele, transporta no mínimo, muita sabedoria dentro dele...

Mas o Chico estava imparável na manhã de sábado, que pedia chuva. 

Apostado em nos fazer sorrir, sem nos mostrar os dentes, continuou a oferecer-nos excelentes bonecos de alguns dos nossos comentadores. Fez um belo esboço do general careca que sonha com a Laica e tem um poster do Putin, em tronco nu, a caçar ursos no escritório. Inventou uma colagem com um almirante rodeado de barcos de papel e um anão com uns sapatos de tacão alto agulha, ambos com orelhas grandes a olharem espantados para o Palácio de Belém. Mas a quem ele ofereceu mais adjectivos foi ao Octávio dos "futebóis", que mesmo pequenino, consegue ser um gigante na inveja, na insinuação e na maledicência Foi para ele o melhor elogio: «O magano consegue bater o Zé Povinho aos pontos, em "filha da putice".»

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


sábado, janeiro 25, 2025

Caricaturar com sucesso a realidade...


Tudo o que leio e ouço, vindo dos EUA, por parte do "homem cor de laranja" (que sabe desde há muito tempo, que o cargo que ocupa lhe oferece o estatuto do ser humano "mais poderoso do mundo"), não é tão estranho como se diz por aí.

Pela forma desbocada e excessiva que ele anuncia a maior parte das medidas que diz ir impor no seu País e no Mundo, tudo se torna mais espectacular, mais assustador, e até mais burlesco.

Mas se pensarmos bem, ele faz o mesmo que os outros políticos, só que não tem medo de chamar "os bois pelos nomes", nem de dizer, de forma aberta e incisiva, que escolhe os seus amigos para ocuparem vários cargos de poder.

No nosso país é tudo feito, meio às escondidas, quase como quem não querer a coisa. Mas se analisarmos bem a realidade, é quase tudo igual. Os amigos do partido, a pouco e pouco, vão ocupando os cargos que antes era ocupados pelos amigos dos governantes do outro partido, que tinha estado no poder.

Se olharmos para os números, para as substituições que têm sido realizadas ao longo de 2024 - como sempre muitas delas com pouco nexo, substituindo pessoas competentes por gente ligada à AD, sem qualquer experiência ou conhecimento técnico dos cargos - ficamos espantados.

A grande diferença é o "homem cor de laranja" gostar de "caricaturar a realidade", gostar de tornar todas as coisas, ainda mais absurdas, mais trágicas, mais cómicas e até mais grotescas.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, janeiro 23, 2025

A estatura física e a outra, muito mais importante...


Às vezes penso que a minha antipatia por Marques Mendes, tem em parte a ver com a sua estatura física, de ele ser pequenino, ao ponto de dar a sensação de ter apenas metro e meio. E claro de ele ter sido o "Ganda Noia", desse inesquecível, "Contra Informação". 

Até pode parecer preconceituoso, mas não é. Acho quase cómico, que o agora comentador político, fale na televisão como se fosse um "gigante". Embora, depois de analisar as suas palavras, volte a ver apenas um "pigmeu".

Por muito que se esconda, eu vejo sempre ali o ministro cavaquista, que gostava de enviar recados à comunicação social ligada ao Estado.

Basta lembrar o que disse o insuspeito, José Rodrigues dos Santos, que está muito longe de ser um perigoso esquerdista, sobre as pressões exercidas pelo então ministro adjunto, que o acusou de ser "demasiado independente. Mas vamos lá às palavras do jornalista e escritor:

«Todas as verdades inconvenientes irritam algumas pessoas, mas não é por isso que nos devemos calar. A nossa função não é ser simpáticos, é dizer a verdade tal como a captamos. Não é por acaso que como diretor de Informação da RTP tive graves problemas com um Governo PS e com um Governo PSD/CDS e que em ambos os casos tive de me demitir, acusado por um ministro do PSD que tutelava a RTP do hediondo crime de ser “demasiado independente”.»

Pois é, embora se tenha esforçado bastante nos últimos anos, para ser a "voz da razão", no espaço litúrgico que a SIC lhe ofereceu aos domingos, a sua estatura moral, continua igual, não passa do tal metro e meio...

E sim, o problema é mais dele (do que "tenta vender aos domingos") do que meu. 

Nem mesmo um sapatinho de tacão alto o salva...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quarta-feira, janeiro 22, 2025

Sentimento de impunidade e muita "auto-estima" (só pode ser)


Sempre me fez confusão que gente que tem vocação para andar fora da lei, aceite cargos públicos relevantes, daqueles que nunca devem escapar ao "radar" dos jornalistas (já que a justiça limita-se a andar a seu "reboque"...). 

Falo de ministros, secretários de estado, gestores públicos, deputados e directores gerais disto e daquilo, que acham que podem passar pelos intervalos da chuva e não ser alvo de  qualquer "denúncia anónima", quando prevaricam.

Só se podem ter mesmo em grande conta, ao ponto de pensarem que não irão ser apanhados na curva. E claro, que "estão acima da lei", que a justiça é só para os "desgraçados"...

Deve ter sido isto que pensaram, tanto o deputado dos Açores, que tinha um "fetiche" pelas malas dos outros, como o director geral do SNS, que gosta mais de dinheiro que da própria profissão que exerce...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, janeiro 21, 2025

Tudo pode mudar em segundos...


O Benfica acabou de perder um jogo em que esteve a ganhar a maior parte do tempo.

Seria menos trágico, se isso não tivesse acontecido no último lance do encontro...

Não se pode culpar ninguém, a não ser o futebol, uma das coisas mais imprevisíveis que nos rodeiam, onde é frequente, mais que em qualquer outra actividade, o David conseguir ganhar a Golias.

Naturalmente, as sensações são completamente antagónicas, de se ganhar e de se perder no último segundo.

Mas como um dos bons filósofos do futebol disse, este desporto é apenas a coisa mais importante das coisas menos importantes da vida...

Até porque tudo na vida pode mudar em segundos, sem que tenhamos qualquer interferência. 

Sim, nem as passadeiras nos protegem de um qualquer louco das velocidades e das inconsciências e tudo acaba ali...

Há quem fale de sorte e de azar. Os mais espirituais falam mesmo de destino. 

Evita-se - mais vezes do que se devia - falar da estupidez humana...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, janeiro 20, 2025

Provavelmente, eu é que sou o estranho nesta história...


Não consigo perceber o porquê de tantas horas de emissão televisiva, em directo e em deferido, da tomada de posse de Trump, nos canais noticiosos portugueses.

Sei que não temos tantas notícias como isso no nosso país, muitas vezes por ausência de trabalho de campo e de reportagens próprias. É a explicação que encontro para a tentativa de nos oferecerem informação seguindo as técnicas das telenovela (com "repetições" e "cenas dos próximos episódios...), que começou por ser ensaiada com êxito pelo CMTV, e depois foi copiada por todos aqueles que se fingem "sérios" a transmitir notícias no nosso país.

Também poderá existir alguma subserviência, e até admiração excessiva, ao tal "sonho americano", que só é para alguns. Curiosamente, ou não, o novo governo norte-americano é dominado por multimilionários, que olham o mundo, a partir dos seus investimentos e das suas contas bancárias, e claro, alimentam o "sonho"...

Provavelmente, devo ser eu o estranho nesta história americana, cheia de adjectivos, como o "melhor", o "maior",  o "excepcional", o "único", etc.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, janeiro 19, 2025

As palmas, os assobios, o silêncio, o vazio...


Uma boa parte das pessoas nunca saberá qual é peso que têm os aplausos e os apupos nas suas vidas, porque têm uma vida demasiado vulgar, para terem direito a palmas ou assobios...

Isso é mais para os artistas da bola, da música, do cinema ou do teatro.

Também nunca experimentarão o silêncio e o vazio, que se segue, pouco tempo depois de serem tratados como os "melhores do mundo". Muito menos quando são "pateados" e tratados como os piores do mundo.

E também nunca ganharão nem gastarão as fortunas que alguns destes artistas ganham...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, janeiro 17, 2025

A desagregação de freguesias que não chegou a Almada (nem às Caldas da Rainha)...


Consultei a lista das freguesias que são ser desagregadas de outras (são cento e trinta e cinco) e não encontrei qualquer sinal do Concelho de Almada, mesmo que algumas uniões sejam autênticos erros de casting, pelo menos para quem conhece a história local e o dia a dia destes pequenos centros urbanos.

O mesmo se passou em relação às Caldas da Rainha, onde até existe uma união entre uma freguesia urbana unida a duas rurais (Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório)... e irá continuar a existir. Aqui é que se deve sentir o "abandono autárquico"...

Mesmo assim, estou satisfeito, pelas mais de cem freguesias que voltam a caminhar, apenas com os seus pés. Sei que se trata de uma reposição justa e uma forma de servir melhor as suas populações.

Sei do que falo. Assisti às mudanças de um concelho com o de Almada, que passou de onze para cinco freguesias. O que foi mais notório foi a "desresponsabilização" dos autarcas, com a velha desculpa, de que lhe era impossível estar em todo o lado ao mesmo tempo. Isso fez, entre outras coisas, que cada vez apoiassem menos as colectividades recreativas, culturais e desportivas, tal como outras instituições que serviam os almadenses. Neste caso particular, diziam sempre que não havia dinheiro para tudo...

Por se tratar de um Concelho onde há um grande envelhecimento da população (especialmente nos centros urbanos mais antigos, como são os casos de Almada, Cacilhas, Cova da Piedade ou Trafaria), a anterior divisão de freguesias permitia uma maior proximidade junto das populações. Infelizmente, esta ligação foi desaparecendo com o tempo, assim como a própria identidade dos lugares, quase sempre com uma história muito própria, e bastante rica, como são os casos de Cova da Piedade, Trafaria ou Cacilhas.

Se acho natural que as freguesias do Feijó e Laranjeiro, assim como a Charneca e Sobreda de Caparica, devem permanecer unidas, acho que pelo menos a Cova da Piedade, o Pragal e a Trafaria, deviam ser freguesias autónomas.

Todos tínhamos a ganhar, especialmente os habitantes destes pequenos centros urbanos.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, janeiro 16, 2025

A tentativa de simplificação do dicionário "politiquês"...


Não sei se o populismo se consegue combater com outras formas de populismo.

Penso que não, mas ainda é cedo para se perceber, se o PSD consegue tirar alguns dividendos políticos, ao usar as mesmas "bandeiras" que o Chega usa, em relação à segurança e à imigração.

Curiosamente, a par desta radicalização da sua prática política, o governo escolheu a  palavra "moderação", para o combate político contra o PS, que está a ser usada pelo primeiro-ministro, pelo alcaide de Lisboa e por vários comentadores ao seu serviço, na tentativa de transformar os socialistas nuns perigosos "radicais". 

Claro que isto só pode ter o dedo e a imaginação da agência de comunicação do governo.

É apenas mais uma manobra de simplificação dos discursos políticos, que tem como objectivo espalhar a falsa "novidade", de que nós somos os "bons" e os outros os "maus".

Só que não bate "a bota com a perdigota". Não se pode ser moderado e radical ao mesmo tempo. 

Talvez seja mais uma percepção deste governo, que acredita que pode criar realidades paralelas, ao mesmo tempo que simplifica, ainda mais, o dicionário "politiquês"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, janeiro 15, 2025

Tantas coisas que não pensamos (e outras tantas que não contamos)...


Acho que as maiores diferenças entre nós, todos, homens e mulheres, está na forma de pensarmos.

Pensamos quase sempre coisas diferentes, e muitas delas (diria mesmo, quase todas), ficam-se apenas pelas nossas cabeças. Pois é, não somos assim tão iguais, como nos querem fazer crer.

São aquelas coisas que se sentem e não se dizem, por isto ou por aquilo.

Pensei nisso, poucos minutos depois de assistir ao começo de uma discussão sobre o "fazerem-se ou não se fazerem filhos", entre um casal, que se aproximava vertiginosamente dos quarenta anos.

Naquela "mesa de ideias", éramos sete e só dois tínhamos filhos. Eu com apenas dois, parecia quase um "fenómeno do entroncamento". A Inês tinha uma miúda, já adolescente. Os outros deviam ter imensas desculpas para não quererem aumentar a população mundial, mas acabámos por ficar todos em silêncio, com algum receio de que aquela conversa chegasse aos lugares, onde existem placas com sentidos únicos.

Mas não se foi tão longe, o Rui limitou-se a dizer que se fosse mulher, há muito que tinha filhos. A Clara começou a rir-se e depois disse: «Pois é. É uma pena, nunca conseguirmos ser iguais. Adorava que os homens também pudessem ter filhos, períodos, enxaquecas e consultas de ginecologia.»

Começámos todos a rir, inclusive o Rui. E a conversa ficou por ali. 

Voltámos ao trabalho.

Quando vinha para casa acabei a pensar no assunto. Era uma coisa tão óbvia, que nunca me fez confusão na cabeça, mesmo que fosse estranha. 

Eram as mulheres que determinavam o aumento da população no nosso país e no mundo e ponto final. 

Embora raramente fosse uma opção solitária, à verdade é que eram elas as únicas que podiam ter filhos e tinham sempre a última palavra sobre o assunto, mesmo que fingissem que não...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, janeiro 14, 2025

Um primeiro-ministro que passa o tempo armado em "chico-esperto" e a insultar a nossa inteligência


Não sei o que se passa, ao certo, em relação a uma boa parte dos nossos governantes - com especial relevo para o primeiro-ministro -, que passam o tempo a insultar a nossa inteligência, com jogos de palavras, que acabam por dizer muito de quem são e do que lhes vai pela cabeça...

Posso começar pelo dinheiro, que cada vez condiciona mais as nossas vidas. Quando um primeiro-ministro contrata um secretário-geral para o seu governo, que vai ganhar seis mil euros mensais, e tem o desplante de dizer que este "vai pagar para trabalhar", insulta quase dez milhões de portugueses, que nem um terço deste valor recebem das suas ocupações profissionais.

Mais graves são as "comparações" que tenta fazer entre as manifestações contra o racismo e a favor deste, tentando armar-se em "balança". Além da desproporção entre as manifestações e os manifestantes (a manifestação contra a discriminação racial trouxe para a rua dezenas de milhares de pessoas, de todos os quadrantes políticos - até sociais democratas - enquanto a promovida pelo Chega contou com pouco mais de uma centena de pessoas, todos racistas...).

Mas os números nem são o mais importante. A questão de fundo é comparar quem luta pelos direitos humanos e pela igualdade de tratamento entre todos as pessoas, independentemente da sua cor de pele, naturalidade ou credo religioso, com gente racista, que aproveita todas as oportunidades para colocar em causa que é diferente deles...

Embora seja um lugar cada vez mais comum, é triste percebermos que estes políticos não aprenderam nada, continuam agarrados aos mesmos vícios do final do século dezanove, tão bem caracterizados na escrita pelo grande Eça de Queirós e na arte do desenho humorístico pelo enorme Rafael Bordalo Pinheiro.

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


segunda-feira, janeiro 13, 2025

A liberdade nunca foi fazermos e dizermos o que nos dá na "real gana" (dois)


Os abusos da liberdade, esse bem de todos e para todos, são práticas comuns tanto das classes mais altas como das mais baixas. Como de costume é a chamada "classe média", que faz o equilíbrio das coisas.

As camadas mais baixas da sociedade, normalmente iletradas, acabaram por ser as grandes vítimas desta situação, embora também tenham alguma responsabilidade pela forma como sobrevivem, por começarem a usar e a abusar de uma "manha" (que contínua a vingar nos seus "territórios"...): aos direitos dizem sempre sim e aos deveres dizem sempre que podem, não.

Por serem "pobrezinhos" acham que tem de ser o Estado a dar-lhes tudo, desde casa à alimentação, e claro, ainda algumas moedas (rendimento mínimo...), para o tabaco e a bica.

Claro que se limitam a fazer o mesmo que muitos empresários (esses mesmo que se fingem competentes e bem sucedidos, que normalmente vivem em mansões ou palacetes e não em bairros sociais...) - fazem: alimentarem-se e viverem às custas das "tetas do poder", como muito desenhou há mais de um século, o grande Rafael Bordalo Pinheiro.

Quando estes se queixam dos trabalhadores (dizem que "não querem trabalhar"), para não lhes aumentarem os salários baixos, fazem o seu número, e depois tentam ver se cai mais algum dinheiro do poder...

Parece que isto não tem nada a ver com a liberdade, mas tem, porque o mau uso que se lhe dá, começa logo nestes pequenos grande pormenores, em que tanto o "pobre" como o "rico", usam e abusam de um Estado, que é sempre encarado como a melhor solução para resolver os seus problemas.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, janeiro 12, 2025

A liberdade nunca foi fazermos e dizermos o que nos dá na "real gana" (um)


Acho que os grandes problemas da sociedade actual são a forma como se entende a liberdade, seja em casa, na escola ou na rua.

E devo dizer, desde já, que nesse aspecto as redes sociais não têm grande coisa a ver com o assunto.

Houve mudanças enormes nos últimos cinquenta anos no nosso país, mas nem todas foram bem definidas, reguladas e aceites pelo comum dos mortais. 

A necessidade de mudança foi tal, que levantou logo outras questões (ainda durante o PREC...), que foram agravadas pela falta de cultura democrática, normal, para quem tinha vivido quase meio século em ditadura. Além do poder repressivo, abusava-se do "respeitinho", imposto pela generalidade das autoridades e das instituições.

Infelizmente, tanto no seio da família, como na escola ou na vida em comunidade, nunca se conseguiu encontrar o caminho certo para a tal liberdade, que se alimenta tanto de direitos como de deveres. Foi bom abolirmos o "respeitinho", mas foi muito mau deixarmos de respeitar o outro, como alguém igual a nós, nos tais direitos e deveres, que quando cumpridos, são a grande marca das sociedades mais bem sucedidas, social e economicamente.

Facilitou-se demasiado o caminho e chegámos a um tempo em que tudo parece "estar em crise". Mas é uma crise que parece interminável e dura há praticamente duas décadas e se tem agudizado (aí sim, com o apoio das redes sociais, onde tudo parece ser permitido...)...

Mas eu continuo a pensar que tudo começa e acaba no uso que damos à boa da Liberdade.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)