Mesmo percebendo que é normal, quando enfrentamos situações de aperto, recorrer a familiares e amigos, é perigoso (e pouco digno e honesto) fazer disso um modo de vida.
Infelizmente a política tem sido muito isso, em todos os partidos, e há mais de três décadas...
Estou a vontade para escrever sobre isso, porque sempre fiz parte do clube dos "outros".
Quando a CDU estava no poder em Almada, era olhado com alguma desconfiança, porque eles sabiam que eu "não era um deles". Curiosamente, agora com o PS no mesmo poder, acontece a mesma coisa, continuo a ser mais um dos muitos "outros". E sei que se vier o PSD ou outro partido qualquer, continuarei a não fazer parte da equipa dos "nós"...
Provavelmente o problema é meu, sou eu que gosto de ser um "desalinhado", ou então sou um "pássaro" demasiado livre para me deixar "engaiolar". Talvez seja um pouco das duas coisas.
Mas nós somos o que somos. Não vou culpar os alfaiates de fazerem casacos com dois direitos, óptimos para aquelas pessoas que já foram da CDU, agora são do PS e amanhã, se o PSD for poder, até são capazes de comprar um casaco cor de laranja (conheço mais de duas ou três).
Falando mais a sério, acho que um dos problemas maiores do nosso país é esta "clubite" aguda, que foi transportada dos clubes desportivos para os partidos, há décadas. É quase do género: és "nosso", tens tudo, és "contra nós", tens nada.
O resultado desta triste realidade é gente com qualidade para ser ministro ou secretário de Estado, por estar a quilómetros dos "golpes palacianos" e desta incompetência generalizada, que sai das juventudes partidárias (para nos oferecer a sua mediocridade e a falta de sentido de Estado), nunca faz parte da lista dos "ministeriáveis".
Mas ouvir falar um Cavaco, um Marques Mendes, um Montenegro ou um Melo, sobre este mundo de "propaganda" e "mentiras", que está a cair em cima do Costa - que é igualzinho a eles - sem conseguir ficar indignado, é não ter memória...
Foi com o cavaquismo que tudo, e toda a gente, passou a ter um preço. Foi com o cavaquismo que o dinheiro passou a ser a religião deste país.
(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)