quinta-feira, novembro 30, 2023

Prémios enfiados dentro de "nuvens cinzentas"...


De longe a longe apanho uma ou outra notícia (antigas e raras...) de gente que recusou prémios, normalmente literários, por não os considerar justos... ou apenas por aparecerem tarde demais... 

Antes de Abril não se dava qualquer destaque a estes acontecimentos (bendita "censura", que até protegia os júris dos "prémios literários"), assim como a outros que fossem passíveis de provocar polémica na nossa "santa terrinha".

Lembrei-me disto e doutras coisas, quando cheguei a casa, depois de ter passado pela pista de atletismo municipal e perceber que agora tinha um patrono, que estava longe de ser a grande figura da modalidade no concelho de Almada (vou escrever sobre isso no "Casario").

O mais curioso é que durante a tarde tinha-me deparado com uma entrevista (já com uns anitos) de Rodrigo Guedes de Carvalho, em que ele diz: «O meio literário é uma nuvem cinzenta, sem rosto, cheia de sussurros, uma casta que manobra, que atribui prémios ou que se insinua junto de agentes para traduções e que vai de alguma forma impondo uma ideia do que é bom e do que é mau, sem que ninguém lhe tenha perguntado nada.»

Apeteceu-me sorrir quando recordei um escritor amigo, que já não está entre nós, que me contou da sua felicidade quando recusou um prémio literário, com alguma importância, por sentir que este já chegava tarde demais. Disse-lhes que não precisava nem queria aquele prémio para nada. Mas eles fingiram que não se tinha passado nada e deram o prémio a outro autor, que deve ter ficado feliz da vida...

Sei que isto diz muito de nós, pois nem na atribuição de prémios, ou de outras honrarias, conseguimos ser dignos e justos. Privilegiamos mais a amizade e o compadrio, que a qualidade...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, novembro 29, 2023

Os comentários que vão directamente para o "spam"...


Só hoje é que dei uma olhadela aos vários comentários que têm ido parar ao "spam", vá lá saber-se porquê...

Por engano (e lentidão do computador, está a pedir reforma há já uns tempos...), apaguei um comentário da Rosa sobre o último texto que publiquei. Tentei recuperá-lo mas tal não foi possível (desculpa Rosa...). Foi durante essa tentativa que descobri que tinha mais de 150 comentários no "spam"... Alguns com dez anos.

Republiquei os mais recentes e reparei que a maior vítima do "spam" era a Graça Pires, que tinha dezenas de comentários "perdidos"...

Peço desde já desculpa pela minha desatenção e deixo a promessa de visitar pelo menos uma vez por semana  o "spam" dos comentários.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, novembro 28, 2023

O gosto doentio de acusar antes de julgar...


É quase como uma "peste", esta mania de se estar sempre a apontar o dedo ao outro. As redes sociais ainda agravaram mais esta nossa deficiência moral, de quem apenas se olha ao espelho, para se pôr "bonito" e ir espreitar ao mundo, mesmo que este número não passe de uma farsa.

Não sei se me assusta ou se me enoja, esta nossa nova forma de vida, que valoriza cada vez mais o espectáculo e a mentira, como se tudo o que nos rodeia não passasse apenas de ficção.

O mais grave, é que nem a própria justiça conseguiu escapar imune a esta "peste".

Quando é que tudo começou? Não sei bem. Talvez com o juiz que foi até aos Passos Perdidos prender um político suspeito de pedofilia (que depois até recebeu uma indeminização de ter estado preso sem culpa formada...). Outro bom espectáculo televisivo, foi a prisão em directo, no aeroporto, de um ex-primeiro-ministro (que depois desse "número" e de ter estado em prisão preventiva, foi devolvido à  liberdade, ainda sem ter sido acusado de qualquer crime...). Há inclusive um canal televisivo (CMTV) que trata todos estes casos de polícia como se fossem "telenovelas", com episódios diários, onde nunca falta o "suspense" final, para que se sigam os próximos capítulos.

Infelizmente, o poder judicial nunca mais deixou de estar colado ao jornalismo mais rasteiro e abjeto que existe entre nós, que além de não respeitar o "segredo de justiça", adora acusar antes de julgar.

E se chegámos a um tempo em que são os próprios agentes judiciais, que dão mostras de preferir os "julgamentos públicos" na comunicação social à aplicação da lei nas salas de audiência, parece fazer cada vez menos sentido a existência de tribunais...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, novembro 27, 2023

A vez do teatro (e do associativismo)...


Já falei mais que uma vez da "tertúlia" (a "Tertúlia do bacalhau com grão") que tínhamos às segundas-feiras no restaurante "Olivença", no centro de Almada. Tertúlia essa que passou a um almoço quase sempre a dois - de longe a longe passa a quatro, quando o Mário e o Marinho aparecem. Mas nem por isso é menos rica em episódios marcantes. Para que isso aconteça, basta que eu dê "corda" ao Chico...

Desta vez o Teatro voltou a ser Rei... 

O Chico não me falou apenas das peças marcantes, do olhar diferente dos encenadores em relação ao palco, desde o "certinho" Malaquias de Lemos ao "desconcertante" Rogério de Carvalho. Falou-me sobretudo da alegria que sentia em representar e do ambiente de grande cumplicidade e camaradagem que sentia, aqui e ali. Embora a Incrível fosse a sua principal casa, adorou representar na Trafaria, onde se vivia e amava o teatro de uma forma especial...

Também voltou a "idolatrar" Fernando Gil, que foi uma das figuras mais marcantes da história da Incrível Almadense, onde foi um "faz tudo". Além de ter sido Presidente da Direcção durante vários mandatos também adorava o teatro e foi um bom actor amador. Reviveu vários episódios hilariantes, vividos em peças dramáticas, como "Duas Causas" ou "Amanhã há Récita" mas também em peças carnavalescas, onde Gil se transvestia, ano após ano, com uma graça única.

E para terminarmos o almoço da melhor maneira, o Chico recordou, mais uma vez, o sentido de comunidade e de pertença que existia  na relação de muitos almadenses com a Incrível. Deu o exemplo das muitas famílias que cresceram por ali (deu um destaque especial aos Tavares, pelo desaparecimento do José Luís...) sem esquecer os muitos casamentos que tiveram a bênção da "Rainha do Associativismo Almadense"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada, com o Chico em grande plano na exposição "50 anos 50 retratos")


domingo, novembro 26, 2023

A véspera e o dia seguinte...


Li a entrevista de Mário Tomé no "Expresso" e embora seja de esquerda, não comungo de uma boa parte dos seus pontos de vista sobre o 25 de Novembro. 

Hoje digo, felizmente, que tinha apenas 13 anos no final de 1975. Isso permite-me ter o distanciamento necessário para fazer uma leitura e análise, mais profunda,  e também mais livre, sobre este dia, difícil de classificar.

Um dos meus melhores amigos nos últimos vinte anos era um "Capitão de Abril" (Carlos Guilherme), que embora pertencesse ao Movimento dos Capitães, no dia 25 de Abril de 1974 estava a terminar mais uma comissão, em Angola (que se prolongou no tempo, graças aos gritos revolucionários que se seguiram depois do 26 de Abril, de "nem mais um soldado para Angola"...). Mas no 25 de Novembro já estava entre nós e fez parte do comando de operações. Conversámos muito sobre os momentos mais importantes da Revolução (do 16 de Março ao 25 de Novembro).

Mas o que quero destacar é o testemunho que recebi dos principais intervenientes nestas duas datas histórias, durante os almoços promovidos pela Associação 25 de Abril, que tinham um convidado especial (Carlos Guilherme fazia questão de me convidar e estive presente em mais de meia-dúzia deles...), que depois nos brindava com uma palestra - normalmente era um "Capitão de Abril". Como devem calcular, os temas apresentados eram sempre pertinentes,  e tinham a vantagem de no final, serem debatidos e contrariados (se fosse caso disso...) pelos presentes, que também tinham sido "actores" nos mesmos "teatros de guerra".

Sobre o 25 de Novembro, escutei mais que uma intervenção. Não esqueço o testemunho do responsável pelo Forte de Almada, que na época era uma unidade militar. Ele pertencia à facção mais esquerdista dos militares, mas mesmo assim, obedeceu às ordens que recebeu de Otelo, para não distribuir armas a ninguém, nem que para fosse necessário colocá-las em celas fechadas e fazer desaparecer a respectiva chave. Nesses dias quentes houve várias manifestações populares no exterior do quartel (com tentativas de invasão do Forte...), organizadas pela extrema-esquerda.

Percebi através do testemunho de Otelo que, o que estava verdadeiramente em causa era a eclosão de uma guerra civil. O que os militares queriam evitar a todo o custo (tal como acontecera com a Revolução de Abril...), era o derramamento de sangue de gente inocente.  Foi por isso que ele acatou as ordens do Presidente da República, o general Costa Gomes, ordenando às  unidades que ainda lhe eram fiéis, para que não saíssem para a rua (com relevo para os fuzileiros e para os pára-quedistas, os únicos com capacidade para derrotar os comandos...) nem reagissem a provocações.

Há muito quem chame cobarde ao Otelo (especialmente as pessoas da extrema-esquerda). Eu tenho cada vez mais dúvidas de que o seu posicionamento no 25 de Novembro, seja o de um homem cobarde.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, novembro 25, 2023

25 de Novembro: o corte com os excessos da esquerda e da direita (que acabou por ditar também o regresso a "velhos hábitos"...)


Só as pessoas que não têm conhecimento da nossa história recente (ou que têm outros interesses, mais obscuros, como parece ser o caso do "alcaide" de Lisboa), é que podem querer comparar o 25 de Abril de 1974 com o 25 de Novembro de 1975.

O 25 de Abril é único. É o dia da revolução que devolveu a liberdade ao povo português, após quase 48 anos de ditadura. O 25 de Novembro é um movimento militar que procurou redireccionar o rumo da revolução, acabando com os excessos da extrema-esquerda (começaram a confundir liberdade com libertinagem) e da extrema direita (tentava dividir o país em dois, com acções violentas, especialmente na Região Norte).

O 25 de Novembro nunca foi festejado porque as pessoas que comandaram este movimento tinham consciência que a única vitória que conseguiram foi travar os excessos que se faziam sentir de Norte a Sul, ao mesmo tempo que colocaram o país de novo no rumo da democracia. Foi por que Vasco Lourenço,  Ramalho Eanes ou Melo Antunes, quiseram a ser apenas "Capitães de Abril" e nunca "Capitães de Novembro".

Infelizmente este novo caminho acabou também por ser aproveitado pelos meios mais conservadores (com a complacência do PS e do PSD...), com as grandes empresas e a banca a voltar, a pouco e pouco, para o controle das mesmas famílias que dominavam o país no Estado Novo, sem que Portugal obtivesse qualquer benefício com esta mudança. Sim, estas "famílias monopolistas", nunca se preocuparam com o crescimento e a modernização do país. A sua grande preocupação foi sempre o aumento do seu património e das suas contas bancárias...

São eles os principais responsáveis - a par dos muitos políticos medíocres do bloco central -, da nossa continuidade na cauda da Europa.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, novembro 24, 2023

A Marinha entre a realidade e a ficção...


Quando finalmente foram feitas reportagens sérias sobre os efectivos existentes nas nossas forças armadas e se diz o que se calculava há bastante tempo, que a pirâmide estava invertida, que existiam mais oficiais e sargentos que praças, eis que surge hoje o CEMA, radiante, com o futuro nas suas mãos.

Quando ele disse ao "D. Notícias" «Estamos a construir uma nova Marinha. Uma Marinha que assegura a defesa do país, o exercício da soberania e da jurisdição nacional, a preservação dos nossos recursos e a proteção do ambiental.» E não satisfeito, comunica que: «Também modernizaremos os laboratórios da Escola Naval, que vão permitir uma formação de excelência dos nossos oficiais, preparando-os para a era digital e um novo paradigma de atuação.»

Talvez esteja aqui a "chave do futuro", a nova marinha seja só com oficiais, os tais da formação de excelência... Que ao mesmo tempo, também são incapazes de fazer o que alguns sargentos e praças fizeram nas ilhas, por um navio não estar em condições de navegar... (abanando ligeiramente o sonho do CEMA de um dia "ser presidente da república", com mais ou menos bananas).

Pois é, talvez os navios do futuro só tenham oficiais nas suas guarnições. Talvez... 

Nessa altura já devem existir "robots" para fazer o trabalho mais duro e chato dos navios, normalmente destinado às praças...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, novembro 23, 2023

"Ninguém como nós conhece o sol"...


"Ninguém como nós conhece o Sol"...

É este o título da biografia televisiva do poeta Sebastião Alba, que nunca conseguiu (apesar de milhentas de tentativas...) ser aquilo que se chama uma "pessoa normal", que também terá muitas definições.

Não conheci o poeta de Braga, o nome não me era estranho, mas só depois de ver este "rascunho televisivo" - de um poeta que nos seus últimos tempos se afogava em álcool e preferia a vida de andarilho e maltrapilho, ao ponto de ser capaz de se deitar e adormecer em qualquer banco de jardim -, é que tive contacto com mais um criador, incapaz de cumprir as regras que lhe impuseram (a história que o irmão contou da sua passagem pelo serviço militar obrigatório no começo dos anos 1960, em Moçambique, com dezenas de fugas e dezenas de prisões, explica muito bem que era demasiado livre para viver "engaiolado"), num mundo que não era o dele. Talvez esta fosse mesmo a sua única certeza...

Devia ser um desses "loucos" que por vezes passam por nós e nos oferecem uma frase poética, a que nós, se estivermos bem dispostos, retribuímos com um sorriso, mesmo tímido, sem sabermos muito bem como reagir.

E não tenho grandes dúvidas que são as pessoas como o Sebastião Alba, que vivem na rua, que melhor conhecem o Sol (e a Lua, claro). É por isso que este título não deixa de ser feliz, servindo de feição o objecto biográfico deste singular documentário biográfico.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, novembro 22, 2023

Uma memória de Fernando Maurício e da Mouraria


Quando passo na Mouraria, recordo sempre um momento especial, vivido muitos anos antes daquele bairro castiço se ter transformado quase numa "nova Índia"...

Mesmo sem nunca ter sido uma "ave nocturna", era normal que no começo dos anos 1980, com vinte anos, sentisse curiosidade em visitar e entrar na noite lisboeta. Era o que acontecia quase sempre à quinta-feira (gostávamos de fugir das confusões de fim de semana).

Felizmente tinha dois ou três amigos que tinham "livre-trânsito" nas principais casas nocturnas da Capital. Quando saía com eles sabia que não precisava de estar filas, muito menos correr o risco de ser barrado à entrada do "Frágil", do "Trumps", do "Kremlin", da "Lontra" ou do "Alcântara-Mar". Mas também descobríamos lugares completamente diferentes, entre as quatro e as seis da manhã (enquanto não chegava a hora da primeira barca que nos levava para o outro lado do rio...).

O mais curioso, é não me recordar muito desses lugares mais dançantes (o "Trumps" é a excepção que confirma a regra, por ser completamente diferente dos outros espaços...). No entanto houve outros espaços que me ficaram gravados, por serem menos barulhentos e mais castiços. Como a "Mascote da Atalaia", no Bairro Alto, onde se cantava o "fado vadio" de uma forma completamente improvisada.  Ou o "Bar das Velhas" (não era este o nome, ficava numa das ruelas de Santa Catarina e era gerido por duas irmãs, mulheres bem maduras...) Passo algumas vezes pela sua rua e sei que agora é outra coisa, ao contrário da "Mascote", que continua agarrada ao fado, embora se tenha modernizado e tenha pouco da tasca desse tempo.

O que nunca mais consegui encontrar (e passo inúmeras vezes pela Mouraria...) foi a taberna, onde numa noite, desses já longínquos anos 80, tive a felicidade de ouvir cantar um dos grandes fadistas lisboetas, Fernando Maurício.

Mal ele começou a cantar a sua "Igreja de Santo Estevão", naquela tasca repleta de gente, apenas a dois ou três metros de mim, arrepiei-me de imediato. Acho que nunca mais voltei a sentir nada assim, foi como se a sua voz entrasse dentro de mim. E quando acabou de cantar, agradeceu os aplausos e disse estar muito feliz por ver por ali tantos jovens, presos ao fado, olhando para onde eu estava com o meu grupo de amigos.

Apesar de se "vender" a Mouraria de hoje como um lugar perigoso, não sinto qualquer animosidade, quando passo naquelas ruas, mesmo nas que cheiram mais a caril e a chamuças...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, novembro 21, 2023

Memória das palavras da Augusta "Maluca" (cheias de sabedoria...)


Chamavam-lhe Augusta "Maluca" e foi das poucas pessoas da aldeia a ultrapassar os cem anos, ainda que por pouco tempo.

Já muito curvadinha, aquilo que menos gostava era de depender dos outros, foi por isso que nunca deixou de viver na sua casa, que ficava ao lado da de um dos seus filhos. O mais curioso, é que apesar de se dizer raios e coriscos dela, sempre se deu lindamente com a nora, que a recorda com um misto de saudade e emoção, por ser uma daquelas mulheres que nunca deixou de dizer o que pensava, mesmo quando tal era quase proibido.

Por ter jeito para a costura, era muito procurada na aldeia para fazer vestidos e até fatos de homem, mesmo para gente que vivia fora. O seu humor, que se confundia com a "má língua", era conhecido por todos, mesmo que nunca falasse da vida de ninguém. Falava sim, da vida de todos, em geral. Mesmo sem ter qualquer noção política, sabia, e dizia, para quem a queria ouvir, que o mundo estava muito errado, nunca iria perceber porque é que uns tinham tudo e outros tinham nada. 

Mas a sua coragem também era física. Não podia ouvir falar de padres e de religiões, porque na adolescência o padre da aldeia tentou colocar a mão onde não devia. Reagiu de imediato, dando-lhe um empurrão, deixando o padre caído no chão da igreja. No dia seguinte ele andava com o braço ao peito e cabeça baixa. Foi apenas mais uma das histórias da Augusta que correu mundo, e que foi exemplar para todas as jovens mulheres das redondezas.

Onde eu já vou e só queria falar de uma frase que lhe é atribuída, quando nas férias grandes, um dos netos estava triste, porque os pais de um miúdo da cidade tinham-no proibido de brincar com ele. Augusta não foi de modas e disse-lhe: «Não te preocupes filho, eles são ricos mas têm todos cara de parvos e pele cor de rosa como os porcos.»

Não sei se a frase correu mundo, sei apenas que chegou à minha cidade e nos deixou a todos com um sorriso no rosto.

Sempre existiram pessoas assim. Agora é costume dizer que "são fora da caixa", mas noutros tempos, eram apelidados de "malucos", por dizerem sempre o que pensavam, por muito que chocasse quem os rodeava.

Não é por acaso que, ainda hoje, quando se referem a esta Senhora, a tratam como a Augusta "Maluca"...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


segunda-feira, novembro 20, 2023

Os tempos em que quem vota parece ser ainda mais "louco" do que quem é eleito...


Eu sei que sempre houve loucos a chegarem ao poder e a dar a sua contribuição para a "destruição" de direitos e deveres que demoraram décadas a sair do papel, como se a aspiração de se viver numa sociedade mais justa fosse algo do outro mundo. Mas agora passou a ser uma coisa normal. De repente aparece um tipo com um ar de quem veio de um circo qualquer, depois de passar umas temporadas em qualquer hospício, a disparatar e a apontar dedos e medir toda a gente pela mesma bitola (são todos ladrões e corruptos...). Como se isso fosse a "chave" para a eleição...

Depois dos EUA, do Brasil e do Reino Unido, agora é a vez da Argentina ter o seu "ultraliberal" (o regime que pode ser tudo e nada ao mesmo tempo...), onde continua a sobressair uma cabeleira tonta, misturada com um discurso populista, digno de qualquer vendedor de pulseiras ou chás milagrosos.

Provavelmente muitos argentinos votaram no senhor Mitei, porque pensaram que pior do que o que vivem, deve ser impossível (com uma inflação a 150%...). Mas estão enganados. É sempre possível escavar o "buraco" ainda mais para baixo...  O maior exemplo que se lhes pode dar é o Brasil, que apesar de estar longe de ser um país pobre, a maior parte das pessoas vivem com grandes dificuldades, graças ao "desgoverno" de Bolsonaro. 

Essa será uma das explicações (a par da violência urbana...), para termos tantos imigrantes brasileiros entre nós.

Nós perguntamos, como é que alguém pode ser eleito, a defender (entre outros disparates) a livre comercialização de órgãos humanos ou a chamar o Papa Francisco de "comunista" e de "diabo".

Pode, porque quem vota parece ser ainda mais "louco" que quem é eleito...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, novembro 19, 2023

Adeus Sara...


A Sara Tavares deixou-nos hoje.

Era uma Mulher, simples, livre, bonita e cheia de talento.

Felizmente conseguiu seguir o seu caminho musical e cantar os géneros musicais com que mais se identificava, sem ficar presa à "mesma canção", como acontece com tanta gente que canta por aqui, neste nosso cantinho.

A Sara cresceu em Almada, mas nunca foi apenas uma voz da Margem Sul. Quis ir mais longe e conseguiu saltar fronteiras e ser uma voz do Mundo.

Apetece dizer que partiu cedo demais... mesmo que tenha partido no seu tempo (como acontecerá com todos nós).

(Fotografia de autor desconhecido)


sábado, novembro 18, 2023

Um "Sábado quase sem Sol" (com o Romeu)...


O Inverno aproxima-se a passos largos, com nevoeiros pouco usuais (desde há uma semana, pelo menos, pois no domingo à noite viajei até Setúbal e nunca tinha olhado a Cidade do Sado com tanta nebulosidade. Sem falar da viagem, felizmente havia pouco trânsito (o Sporting-Benfica tinha acabado há pouco e devia haver muita gente ainda "digerir" o resultado...).

Mas toda a semana esteve assim. Ontem também fui às Caldas almoçar com a minha mãe e o meu irmão, e o nevoeiro esteve presente pelo menos até meio da viagem (sem nunca ser cerrado e ainda bem, só depois de Torres Vedras é que o Sol apareceu com alguma genica...).

Mas o que queria mesmo falar era deste sábado, quase sem sol, com aquela humidade matinal que tenta entrar-nos pelos ossos dentro, por ser o título do livro de contos de estreia do Romeu Correia ("Sábado sem Sol"). Isso acontece porque fiquei a pensar nas coisas importantes que não se disseram ontem, no lançamento da segunda edição de "Um Passo em Frente", porque o convite que nos foi feito para falarmos da forma como conhecemos o escritor almadense, levou-nos para uma viagem mais pessoal que colectiva.

Hoje acordei a pensar que o Romeu era quase único, porque conseguia juntar com a mesma mestria a oralidade e a escrita. Ele era um excelente contador de histórias, de sala ou café, além claro, das muitas histórias que conseguia meter dentro dos livros e nos palcos. 

Pensei e escrevi mais coisas (até lhe chamei "influenciador"...). Aliás, devemos registar sempre um ou outro apontamento, mais importante, das histórias que nos contam, para que elas posteriormente não se tornem confusas, depois de se misturarem com outras que temos dentro da nossa cabeçinha.

Quando não o faço, por vezes já não sei ao certo qual é o seu verdadeiro "espaço" e "tempo"...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sexta-feira, novembro 17, 2023

Um Excelente Momento Cultural


Hoje foi apresentada a nova edição do livro de contos de Romeu Correia, "Um Passo em Frente", na sala de leitura da Biblioteca Central de Almada.

O historiador Alexandre M. Flores não se limitou a fazer apenas a apresentação da obra e a recordar o autor. Após a sua intervenção convidou uma boa parte dos presentes, que conheceram e conviveram com o escritor almadense, a partilhar um episódio ou uma história que tivessem vivido com Romeu, com todos os presentes.

Foi um excelente momento cultural, e provavelmente, a melhor homenagem que se poderia fazer a um contador de histórias único, no panorama do Concelho de Almada.

Enquanto ia ouvindo os testemunhos, comecei a pensar que Romeu Correia foi muito mais importante do que pode parecer. Há centenas de pessoas (para não dizer milhares...) que gostam de livros graças ao escritor e dramaturgo de Almada. Eu, por exemplo, não tenho qualquer dúvida que foi ele me abriu as portas da cultura almadense e me despertou o interesse pela história local. Foi mais ou menos isso que disse no meu testemunho, além de ter contado a forma como nos conhecemos e tornámos amigos. 

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, novembro 16, 2023

Nem sempre o "mundo" anda à nossa procura...


Às vezes conhecemos pessoas com quem nos identificamos, quase de imediato, por coisas simples, como um sorriso ou uma troca de palavras. Por isso acontecer de uma forma circunstancial, podemos estar meses, e até anos, sem nos voltarmos a cruzar.

Não estou a falar de "estórias de amor", estou a falar de empatia. Foi o que aconteceu com a Inês, que conheci jovem arquitecta, no princípio de século, porque estava a fazer um trabalho sobre os realojamentos camarários, sobre as pessoas que viviam em barracas e passaram a ter uma casa.

Nós conversámos sobre esse projecto, porque ela teve bastante dificuldade em encontrar interlocutores da nossa geração e da geração anterior à nossa para falarem das mudanças nas suas vidas. Ambos sabíamos por que razão é que isso acontecia. Ninguém gosta de falar de um passado feio, e até degradante, nesta nossa condição humana... Na época ela estava feliz por saber que toda a gente vivia melhor e que se adaptara com facilidade a uma vida mais próxima dos padrões de Abril, da velha canção do Sérgio Godinho, da paz, do pão, saúde, e claro, da habitação... Não conheceu nenhuma história de gente que fez uma "hortinha" na banheira, como se costumava falar em jeito de anedota, sobre os ciganos quando eram realojados.

Foi bom encontrarmo-nos vinte anos depois. Descobrir que aquele trabalho inicial lhe valeu um emprego no Município da Capital, onde ainda está. Foi bom descobrir que continua a sonhar e a tentar inventar soluções para os bairros e zonas mais antigas de Lisboa. Continua a acreditar que é possível viver-se melhor na "Cidade Grande". A espaços consegue-o, apesar de saber os políticos gostam de mudar tudo, quando chegam ao poder, ao ponto de até serem capazes de "deitar fora" projectos, bons para todos (até para eles...).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, novembro 15, 2023

Este não é o tempo...


Este não é o tempo das pessoas com princípios, é o tempo das pessoas que se servem dos meios que têm ao dispor para atingirem os fins que mais lhes convêm...

Esta frase tanto cabe na postura de António Costa (basta pensarmos no que fez a António José Seguro e à forma com chegou a primeiro-ministro) como de Marcelo Rebelo de Sousa (adora "joguinhos"...). E provavelmente na de 99 por cento dos políticos do mundo inteiro.

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)


terça-feira, novembro 14, 2023

Dentro e fora do Congresso "Almada 50 anos de Cidade, 50 anos de Liberdade"


Passei a manhã no congresso "Almada, 50 anos de Cidade, 50 anos de Liberdade", que teve comunicações superiores às da manhã de ontem (gostei particularmente das dos meus companheiros, Francisco Silva e do Rui Mendes, mas também fiquei surpreendido, pela positiva, com a intervenção de Eunice Marques sobre reabilitação urbana).

O mais curioso, foi que como cheguei cedo (parece que foram os trabalhos que começaram mais tarde...), pensei em duas comunicações que também poderia ter feito (fui convidado para o Congresso, mas não dei qualquer resposta...), até registei várias ideias... 

Uma delas até tinha sido pensada quando me enviaram o convite por e-mail. Além de não ter muita vontade de participar ("amor com amor se paga"...), também não sabia bem como devia tratar o tema (até por as comunicações não puderem ser longas...). Era sobre o grande desenvolvimento que se deu na literatura local, sobretudo nos últimos 30 anos (muitos Autores e muitos livros sobre a História de Almada).

Desta vez até lhe arranjei um título apelativo: "Livros da Cidade e da Liberdade" (próximos do título do Congresso) e recordei várias ideias e singularidades, que deveriam surpreender a plateia... 

A outra ideia que me surgiu foi fazer uma associação entre os "50 anos da Cidade, os 50 anos de Abril e os 175 anos da Incrível Almadense" (mas não seria muito original, pois fiz recentemente um trabalho para o próximo número da revista "Nova Sintese" (editada pelos "Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo") sobre os 175 anos da Incrível e a sua longa resistência democrática (sobretudo durante a ditadura...).

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, novembro 12, 2023

Somos sobretudo os "nomes próprios"...


Sempre gostei de tratar os meus amigos pelos nomes próprios, independentemente das suas idades. Embora o faça normalmente com quase toda a gente que conheço, mesmo quase só de vista.

Há por vezes quem ache que eu abuse da "familiaridade". Nada que me incomode, porque sinto que o tratamento por nome próprio cria logo mais aproximação, quebra uma ou outra barreira que possam existir no relacionamento.

Nunca gostei que me chamassem "senhor", menos ainda "doutor" (os doutores Relvas e Sócrates simplificaram as coisas a este nível e ainda bem...). Até porque ninguém é registado desta forma. Este tratamento cria a distância que alguns tanto desejam e que os faz sentir, por breves (ou longos) momentos, alguém importante. 

Exactamente o que não quero, nem nunca quis... Quando quero distância de alguém, sou parco em palavras ou tento mudar de esquina.

Cada vez estou mais convencido que somos, sobretudo, os "nomes próprios"...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sábado, novembro 11, 2023

Até a invejarmos somos pequeninos...


Aos fins de semana costumamos beber café a meio caminho da avenida e depois vamos até ao Largo de Cacilhas e uma ou outra vez descemos mesmo pelo Ginjal, se o tempo estiver convidativo.

É nestes lugares que descobrimos o melhor e o pior de nós, nas palavras e nos olhares dos outros. Ficamos cada vez mais em silêncio, porque parece ser mais fácil "desconversar" que "conversar" com desconhecidos. Limitámo-nos a olhar um para o outro, com cara de caso, embora soubéssemos que era este o nosso Portugal, da cidade mais populosa à aldeia mais curta de gente.

Um casal jovem emigrante com dois filhos (um ainda de carrinho de bebé) levantara-se e foi-se embora. Provavelmente oriundos das índias, com aspecto modesto (tanto um como o outro calçavam chinelos, apesar de já ser Outono). Foi quando uma mulher que já ultrapassara a meia-idade começou a barafustar com a companheira de mesa - depois de termos percebido pela conversa anterior que lhe iam aumentar a renda e andava à procura de casa -  dizendo que a esta gente dão tudo e a nós não dão nada. Maldizendo o país e os políticos corruptos, claro.

Depois de nos levantarmos, falámos da inveja, essa instituição nacional. Da forma como até a invejarmos somos pequeninos. Somos capaz de invejar alguém que vive como nós (ou pior...), apenas porque tem uma camisa ou um vestido bonito, ao mesmo tempo que fazemos vénias a quem enriquece diariamente a "roubar-nos" o pão...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, novembro 10, 2023

A transformação de homens fora do comum em "homens-museu"...


Esta sociedade que produz os políticos medíocres que nos governam (e se governam) é a mesma que foge a sete pés de homens fora do comum, que têm ideias sólidas sobre a construção do tal País, que parece ter tudo para ser diferente, para melhor.

Há três homens que apesar de terem lutado uma boa parte das suas vidas contra mil e um obstáculos, foram de tal forma superiores nas suas actividades, que a mediocridade não conseguiu levar a melhor contra eles. Falo de Gonçalo Ribeiro Teles, Mário Moniz Pereira e Álvaro Siza Vieira (felizmente ainda está entre nós...), que ainda por cima tiveram longas vidas, para desassossego das alminhas que os enchiam de sorrisos e salamaleques, mas o que queriam mesmo era vê-los pelas costas, porque eram (e são) pessoas "chatas"...

Preferiam oferecer-lhes medalhas, comendas, nomes de salas, nomes de pavilhões ou nomes de ruas,  a executar as suas boas ideias, que tinham feito de Portugal um país muito melhor.

Moniz Pereira como era um grande teimoso e um grande trabalhador, conseguiu quase o "impossível" e ofereceu-nos o nosso primeiro Campeão Olímpico. Siza Vieira foi por esse mundo fora e fez por lá o que não o deixaram fazer por cá, deixando alguns "deuses menores" cá do burgo com a boca de lado.

Gonçalo Ribeiro Teles, embora até tenha chegado a ministro, foi quem se viu mais defraudado das suas ideias válidas ao nível do ambiente, da agricultura e do ordenamento do território. Se tivessem aproveitado um décimo dos seus ensinamentos, o que se tinha poupado em área ardida e cheias no nosso País... (claro que havia muitos construtores e políticos que não teriam enriquecido, ao transformarem leitos de cheia em bairros, assim como bastantes madeireiros e industriais das celuloses, que fizeram do eucalipto o "rei" das nossas matas e florestas, que ficavam com os bolsos mais vazios...).

Como não conseguem combater com estes talentos fora do comum, assim que podem, os governantes medíocres do costume, transformam-nos em "homens-museu". Gente para "adorar" mas não para "ouvir"...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


quinta-feira, novembro 09, 2023

Olhar para este país com olhos de ver e descobrir as diferenças...


Ninguém têm dúvidas de que o País está diferente.

E não é só Lisboa e Porto. Há muitas diferenças. Talvez a mais notória seja a descaracterização na população residente, que agora pode parecer estranha, mas que num futuro próximo será encarada com cada vez mais normalidade.

Para notar isso basta olhar para o mundo que nos rodeia, para as pessoas que circulam à nossa volta.

Almada não será nenhum "microcosmos" de nada, pelo menos a nível nacional. Por ser o concelho mais próximo da Capital, é o dormitório preferido  de quem vem de fora para trabalhar, especialmente brasileiros (também pelo aliciante da praia, da Costa de Caparica...), embora também já vivam por aqui muitos paquistaneses e nepaleses (mesmo que existiam outras variações, estes são os mais falados...).

Aqui e ali há algumas demonstrações de xenofobia e até de racismo (não é estranho ouvirmos aqui e ali, dizer-se que são dadas a estas pessoas mais condições que aos portugueses, o que não acredito...). O que se nota é que eles contribuem muito mais que nós para a taxa de natalidade e por isso terão direito a mais subsídios de maternidade e outros abonos de apoio à família que os jovens portugueses, que desistiram de deixar descendência...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, novembro 08, 2023

«É muito difícil trabalhar na cultura sem amigos»


O Rui gosta de dizer que muitos de nós andamos deprimidos, mesmo sem sabermos. 

A Alice vai mais longe e diz que já nascemos "meio-deprimidos".

Todo o ambiente à nossa volta pode levar a estas coisas, que nos deixam "quase maluquinhos", porque se não nos "levarem ao colo" para qualquer lugar, os obstáculos que temos de enfrentar pela vida fora são sempre a dobrar.

Quando o Vitor disse que «É muito difícil trabalhar na cultura sem amigos», a Alice acrescentou que era muito complicado trabalhar em qualquer lugar, sem amigos. E foi ainda mais longe quando explicou que o normal em qualquer concurso para um emprego, é não entrarem os melhores, mas sim os mais protegidos. Até se criaram novas alíneas, para que as entrevistas, por exemplo, tenham um peso maior que as outras provas, para que seja mais difícil contestar os resultados finais.

Estávamos todos de acordo. 

Não sei qual é a realidade dos outros países. Sei que esta é a nossa...

(Fotografia de Luís Eme - Tavira)


terça-feira, novembro 07, 2023

A tempestade "Costa" passou por Lisboa e quase que fez esquecer Gaza (pelo menos por um dia)...


Hoje tivemos um dia inteiro dedicado à "queda" do primeiro-ministro e do governo socialista, depois do ministério público ter feito mais uma daquelas actuações para "português ver", com buscas domiciliárias e a detenção de gente famosa,  dos mundos da política e das empresas (vão ficar no "hotel" da PSP, de Moscavide, pelo menos por uma noite. Não é como estar em casa, mas também não deve ser bem uma prisão).

Durante bastantes horas fomos poupados das imagens de guerra de Gaza, os comentadores especialistas em tácticas e armas, foram substituídos por jornalistas e analistas políticos, que põem as "fichas todas" em eleições antecipadas.

Os partidos de direita esfregam as mãos e quase que "cantam vitória", antes de tempo. É sempre assim. Os de esquerda estão muito mais contidos, provavelmente por saberem que têm mais a perder que a ganhar. 

Mas a toxidade e exaustão noticiosas mantém o mesmo ritmo, sem se preocuparem muito se transmitem as mesmas imagens e se os convidados dizem as mesmas coisas. O mundo da informação agora é assim...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, novembro 06, 2023

«Gosto demasiado de Liberdade, para entrar nessa discussão»


Houve alguém que resolveu trazer para a mesa uma frase, no mínimo oportunista, de Benito Mussoline: «As pessoas estão cansadas da liberdade» (foi publicada na última edição do "Expresso"...).

É uma daquelas frases que dão jeito a qualquer ditador.

Houve logo quem aproveitasse o "balanço" para falar de pessoas que detestam a liberdade, porque não sabem ser livres, precisam sempre de alguém, atrás ou à sua frente, que decida as suas vidas. 

Limitei-me a sorrir, talvez por ser um sortudo e não conhecer uma única pessoa que não gostasse de ser livre.

Mas foram ainda mais longe, agora com alguma pertinência... Uma voz feminina falou das pessoas que não sabem o que fazer com a sua liberdade, e ainda menos, com a liberdade dos outros. Lembrando-nos depois que o 25 de Abril já foi há quase cinquenta anos.

Disseram-se mais alguns disparates, que nem sequer transcrevo. Porque não passaram disso mesmo, disparates. A espaços fui pensando que a Liberdade era outra coisa, não era bem dela que falavam...

Consegui conter-me e não dizer nada (até pensei na Catarina...). Após algumas insistências lá disse: «Gosto demasiado de liberdade, para entrar nessa discussão.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, novembro 05, 2023

Uma semana pródiga em "conversas de café" fora do café...


Hoje bebi café com o Carlos Alberto, que me fez uma série de perguntas sobre algumas pessoas que ele deixou de ver por ai.

Trocou um ou outro nome, o que fez com que tivesse alguma dificuldade em dar-lhe "novas" às primeiras, porque Floriano não é o mesmo que Flores. Mas pior foi ter chamado Adérito ao Américo... Mas foi uma boa conversa, cheia de humor (até porque as "trocas" deram lugar à troca de sorrisos misturados com palavras alegres), como de costume.

Mas não era desta conversa - que foi mesmo de café - que eu queria falar, mas sim, de outras conversas, mais sérias, que deviam ser de "café", mas foram sobretudo de "televisão", escutadas no mínimo por largas centenas de milhares de pessoas.

Nem sei como classificar a forma como o Presidente da República falou com o Embaixador da Palestina, sobre o que se está a passar em Gaza. Aquele, "foi alguém do vosso lado que começou", parecia mais conversa de "recreio" que de café... mas vamos fingir que falamos assim no café...

Embora não visse (nem tencione ver...), a TVI também meteu uma "conversa de café" dentro do seu Jornal Nacional ( na "5.ª Coluna" ainda no fim de Outubro, mas os ecos fizeram-se sentir sobretudo nesta semana...), entre Miguel Sousa Tavares e José Alberto de Carvalho, sobre a nova Misse Portugal, que nasceu menino mas sempre se sentiu menina e felizmente pôde sê-lo. 

Pelos teor da conversa nenhum dos dois lhe "pedia namoro", apesar da sua beleza... Mas o mais curioso, foi José Alberto Carvalho ter-se "retratado" do que disse, no mesmo serviço noticioso (não sei se foi logo no dia seguinte). A minha dúvida é se foi ele que se sentiu na obrigação de se desculpar ou se foi "obrigado" pelos "donos da televisão", por causa daquela coisa que agora é moda, o "politicamente correcto".

Marcelo Rebelo de Sousa não se "retratou", embora tenha feito uma coisa parecida, na tarde de hoje, ao comparecer numa manifestação pró-Palestina em frente ao seu Palácio (até se deixou fotografar com uma bandeira e tudo...).

Pois é, se o Presidente e o Jornalista se lembrassem que não estavam no "café da esquina", mas sim em plenas funções, estas duas situações poderiam (e deveriam) ter sido evitadas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, novembro 03, 2023

Os interesses económicos e políticos e a falta de respeito pelas questões culturais e religiosas...


A única explicação que encontro para  a existência de posições tão contraditórias - dos políticos dos principais países da Europa e do  Mundo -, são os habituais interesses económicos e políticos, que costumam passar por cima de tudo, inclusive da história, da religião e da cultura das nações.

Só assim é que se compreende que países democráticos sejam capazes de fingir que algumas ditaduras são democracias e que os direitos humanos não são iguais para todos, nos cinco continentes.

Claro que a discriminação das minorias do Oriente está, e sempre esteve bem presente no Ocidente, independentemente das alianças que se foram fazendo ao longo dos tempos. 

Isso acontece porque, de parte a parte, nunca se respeitaram as tradições, os costumes, os credos e até a própria história das nações e dos seus povos. Nunca se criaram condições para que fosse possível viver em comum, respeitando as diferenças, tanto no Ocidente como no Oriente.

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quinta-feira, novembro 02, 2023

Políticos que são cada vez mais actores do "fingimento" e da "mentira"...


Eu sei que não devia, mas continua a fazer-me alguma confusão que ainda existam pessoas em fila - algumas em bicos de pés - à espera de um convite para qualquer cargo político.

Dando o salto para o governo central, o que espera esta gente é "cumprir ordens" e ser a "voz do dono" do primeiro-ministro. Se alguns não têm competência para mais nada (percebe-se à légua que não dizem o que sabem nem sabem o que dizem...), outros não são tão maus como os pintam.

Além de serem cargos bem remunerados (já não se ouve um ministro a dizer na televisão e nos jornais que "perde dinheiro" como o doutor "pintelho"...), se pensarmos no vencimento médio de um cidadão português, oferecem-lhe visibilidade e mordomias que valem "mais que tudo". Sim, não se podemos esquecer que algures, há uma terra, onde vive um "pai do ministro", um "tio do ministro", a "sobrinha do ministro", e claro, "a prima do ministro"...

O resto é o menos importante. Governar na visão de António Costa é "entreter", jogar com as palavras (mesmo que possa existir algures um Pedro Nuno Santos que o deixa "possesso", por não lhe dar muito espaço para a fabulação...).

É a única explicação que encontro, por exemplo, para que este governo não chegue a qualquer entendimento com os professores e os médicos. Até porque estamos a falar de ministros que conhecem bem os dossiers, os corredores dos ministérios e até os sindicalistas, porque antes de serem os responsáveis máximos destas pastas, já foram secretários de Estado da Educação e da Saúde...

O que é grave, é perceber-se que a alternativa política que existe, não oferece nada de novo às pessoas. Olha-se para Montenegro e percebe-se que é mais um artista da arte do "fingimento" e da "mentira"...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


quarta-feira, novembro 01, 2023

"Bom dia, Rita (Sá Machado)"


Fiquei satisfeito por saber que o cargo que foi exercido por duas das pessoas que mais nos entravam pela casa dentro, através da televisão, é uma mulher jovem, mas já com experiência profissional suficiente para exercer o cargo de Directora-Geral de Saúde.

Apesar de gostar do sorriso simpático de Rita Sá Machado, espero que não tenha a "adoração" pelos microfones que tiveram tanto Francisco George como Graça Freitas (como eles se deviam gostar de "mirar" na televisão...). E que também demonstre ser mais livre e independente em relação ao poder político.

A Rita (apesar deste tratamento familiar, não a conheço de sítio nenhum) beneficiará bastante se for mais discreta, moderna e competente, que os seus dois antecessores (de quem quase que se ficou com a imagem que os seus cargos eram "dinásticos" e "vitalícios"). 

Acredito que será, para bem de todos nós!

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)