Antes de Abril não se dava qualquer destaque a estes acontecimentos (bendita "censura", que até protegia os júris dos "prémios literários"), assim como a outros que fossem passíveis de provocar polémica na nossa "santa terrinha".
Lembrei-me disto e doutras coisas, quando cheguei a casa, depois de ter passado pela pista de atletismo municipal e perceber que agora tinha um patrono, que estava longe de ser a grande figura da modalidade no concelho de Almada (vou escrever sobre isso no "Casario").
O mais curioso é que durante a tarde tinha-me deparado com uma entrevista (já com uns anitos) de Rodrigo Guedes de Carvalho, em que ele diz: «O meio literário é uma nuvem cinzenta, sem rosto, cheia de sussurros, uma casta que manobra, que atribui prémios ou que se insinua junto de agentes para traduções e que vai de alguma forma impondo uma ideia do que é bom e do que é mau, sem que ninguém lhe tenha perguntado nada.»
Apeteceu-me sorrir quando recordei um escritor amigo, que já não está entre nós, que me contou da sua felicidade quando recusou um prémio literário, com alguma importância, por sentir que este já chegava tarde demais. Disse-lhes que não precisava nem queria aquele prémio para nada. Mas eles fingiram que não se tinha passado nada e deram o prémio a outro autor, que deve ter ficado feliz da vida...
Sei que isto diz muito de nós, pois nem na atribuição de prémios, ou de outras honrarias, conseguimos ser dignos e justos. Privilegiamos mais a amizade e o compadrio, que a qualidade...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)