Mesmo que os blogues sejam cada vez menos lidos, no meu caso pessoal, que sinto necessidade de escrever, diariamente, funcionam mesmo como "tábua de salvação".
Sei que não é uma coisa assim tão difícil como pode parecer, deixar de escrever. Tenho o exemplo de um amigo poeta, que raramente escreve o que quer que seja, porque não queria encher as "gavetas" de casa de papéis.
Acompanhei o processo com alguma ironia e durante algum tempo pensava que ele me mentia, quando dizia que quando lhe aparecia qualquer ideia, normalmente saía do lugar onde estava e tentava distrair-se com outra coisa, à espera que a fonte de inspiração fosse embora.
No início foi doloroso, mas com o passar do tempo "curou-se", deixou de sentir necessidade de registar as ideias, os pensamentos em qualquer papel.
Quando lhe pergunto se sente falta da "companhia do poeta", diz que nem por isso. Provavelmente está a mentir, mas a vida é o que é.
"É pá, onde eu já vou!" Pois, começo a escrever e como os "travões estão pouco afinados", torna-se difícil parar (pois é, parece que não consigo fazer como o poeta) ...
A meio da manhã encontrei um amigo na mesa do café onde antes tínhamos uma "tertúlia" aos sábados de manhã. Ele estava a escrever e foi por isso que lhe perguntei se não incomodava, beber um café com ele. Ele disse logo que não. E depois fomos falando.
Contou-me o que se passava com um dos seus projectos de livro (de história local), que continua a ser adiado, porque as autarquias almadenses vão fechando cada vez mais os cordões à bolsa, a quase tudo o que é cultura local.
Também falei do meu caso pessoal, dos dois presidentes de junta, que nem sequer se dignaram a receberem-me em audiência, para lhes apresentar um projecto. É como diz o Ricardo Araújo Pereira, "gente que não sabe estar". E ponto final.
Claro que não vou deixar de escrever como o meu amigo Poeta, nem fico tão constrangido como este outro amigo, tertuliano, por ter um bom livro (quase um roteiro local...) "engatado", por causa desta gente que prefere gastar uns milhares de euros com qualquer cantor da "rádio e da cassete pirata" em vez de apoiar a cultura local...
(Fotografia de Luís Eme - Almada)