quinta-feira, agosto 31, 2023

Escreve-se sobre o tempo, porque vivemos dentro dele...


O Agosto vai-se embora e não me deixa muitas saudades.

Foi sempre um mês demasiado quente, tal como já tinha sido Julho. 

Quem como eu, é adepto dos climas temperados, com as temperaturas de Verão abaixo de 30 graus, bem pode mudar-se para as nossas Ilhas (emigrar para a Islândia é capaz de ser um exagero...). Já nem mesmo o microclima do Oeste - que aborrece tantos, devido aos nevoeiros matinais, que roubam dias de férias - é o mesmo dos outros anos...

Diz-se que fala e escreve do tempo, quem não tem mais nada para dizer, mas é mentira. Escreve-se sobre o tempo, porque vivemos dentro dele...

Nota: ao contrário do que se costuma dizer, o Sol quando nasce não é para todos. Nunca foi. É só para quem tem tempo e vontade de olhar para ele... Foi a legenda que me ocorreu para este nascer do Sol, fotografado da minha varanda desta Margem do Sul...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quarta-feira, agosto 30, 2023

«A vizinhança é como os melões, não se vê por fora o que está lá dentro.»


Felizmente nunca tive nenhum vizinho excessivamente problemático no meu prédio, ao contrário de outros amigos, como o Chico, que até já traficantes teve de aturar, mesmo na fracção à sua frente. Tocavam vezes sem conta à sua campainha, por engano. E normalmente ainda eram ordinários, por ele não lhes abrir a porta da rua.

Foi por isso que me limitei a ouvir as lamentações de quem estava com vontade de mudar de casa, por ter cada vez menos paciência para aturar gente "porca e mal educada", quase porta sim, porta sim. O Rui há muito que percebeu que é ele que está a mais no seu prédio, mas se o orçamento não dava para mudanças há meia dúzia de anos, as coisas pioraram muito nos últimos tempos...

Senti-me um felizardo no meu prédio, onde ninguém deita lenços sujos para o chão e por lá ficam, até à limpeza das escadas. E só um ou outro é que não tem cuidado com a porta da rua e da própria casa, talvez por gostar do "eco" que sobe as escadas mais depressa que qualquer um de nós. Também não há cenas de violência doméstica, com ameaças e gritos, daqueles que quase que abanam a estrutura de cimento do edifício...

Limitei-me a sorrir quando o Chico disse que «a vizinhança é como os melões, não se vê por fora o que está lá dentro.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, agosto 29, 2023

A influência dos livros no nosso dia a dia


Achei no mínimo curioso  sentir que um dos livros que estava a ler estava a ter alguma influência na minha linha de pensamento, sobre uma questão que me colocaram.

Claro que isso não se ficou a dever apenas ao livro, mas à situação em si. Existia por ali alguma coisa em comum, entre a história de Roth e aquela realidade.

Isso já devia ter acontecido mais vezes, mas nunca tinha pensado a sério no assunto.

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


domingo, agosto 27, 2023

Somos todos culpados


Somos todos culpados.

Uns mais que outros.

Mas sempre foi assim, não é preciso ser religioso para perceber que o justo sempre pagou pelo pecador.

Estou falar deste Verão estupidamente quente aqui nas Europas e trágico em outras regiões do mundo (nem as nossas ilhas escaparam...), onde não faltam as também normalizadas cheias...

Somos todos culpados (sim, é sempre assim), porque na falta de melhor para fazer, assobiamos para o ar...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, agosto 25, 2023

"Males que parecem não ter cura" (parecem...)


Nos últimos tempos evitamos falar dos incêndios na mesa do café, por estarmos todos de acordo. É um daqueles "males que parecem não ter cura", ano após ano.

Além de existirem mais interesses económicos no "negócio" de se apagarem fogos, que na sua prevenção (é por isso que quando viajamos por esse país fora, continuamos a ver bermas das estradas por limpar e eucaliptos e pinheiros plantados a poucos metros das vias, sem cumprir os tais mínimos exigidos...), há demasiados bandidos a provocar estas fogueiras gigantescas. Sim, mais de 70 por cento dos fogos no nosso país são de origem criminosa. Alguns podem ser acesos por "maluquinhos" que deliram com as chamas, mas outros, em lugares onde existem vários interesses à sua volta, são "encomendados".

E é isso que não compreendemos. Ouvimos falar da prisão de um ou outro incendiário, mas nunca se sabe se existe alguma investigação sobre as verdadeiras causas destes atentados feitos à nossa flora e fauna...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)



quinta-feira, agosto 24, 2023

Não levantar ondas, manter o mar chão...


Estou a fazer um trabalho sobre o papel da Incrível Almadense durante a ditadura salazarista e marcelista e noto que foram feitas muitas actividades entre 1926 e 1974, que colocavam, de alguma forma, em causa o regime, nomeadamente vários colóquios cuja temática enaltecia os valores democráticos.

Um dos truques usados era fazer o anúncio do colóquio sem o nome do orador. Outro era amenizar o título da temática, não colocando algumas das "palavras proibidas" pelo regime. Mesmo assim não sei como é que algumas palestras não foram "canceladas", como por exemplo: "As Virtudes e os Defeitos da Republica" (por Raul Esteves do Santos em 1946); "O Recreio na Vida dos Trabalhadores"  (por Raul Esteves do Santos em 1948); "As Instituições populares e a Emancipação do Povo" (por Gomercindo de Carvalho, em 1964); ou "O Sentido da Vida Social" (por José Correia Pires em 1966). 

As pessoas das Colectividades faziam estas coisas com a maior naturalidade possível, pois sabiam que o mais importante era não levantar ondas, manter o "mar chão"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, agosto 23, 2023

Há qualquer coisa de errado nisto tudo


Quando olhamos para a televisão e ouvimos uma jovem médica a dizer que ganha pouco mais de sete euros por cada hora extraordinária que faz (menos que algumas empregadas de limpeza...) e que tem um ordenado mensal de pouco mais de mil e duzentos euros, percebemos, entre outras coisas, que este Governo finge uma coisa que não é, a favor do SNS.

Estes salários ajudam a perceber a razão pela qual os jovens médicos escolhem ir trabalhar para os hospitais privados ou para o estrangeiro.

Há qualquer coisa de errado nisto tudo.  Ao contrário do que disse um banqueiro, o povo não aguenta, nem tem de aguentar, todas estas incoerências e incompetências governativas.

Acho que é o medo dos portugueses que vai mantendo estes "xocialistas" à tona de água (sim, não estão nada confortáveis com a perspectiva de um governo da direita, apoiado pela extrema-direita...).

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, agosto 22, 2023

Quando a Beleza Feminina se juntava à Liberdade...


Quando se fala das mulheres belas dos anos cinquenta e sessenta, quem frequentava os cafés de então não fala de nenhuma modelo, bailarina ou misse famosa.

Fala sim de uma Natália Correia, uma Vera Lagoa ou uma Isabel da Nóbrega. É muito provável que elas também parassem o trânsito, mas a sua beleza normalmente aparece ligada à liberdade, à transgressão e até à independência, pelo menos em relação ao mundo masculino.

E por isso mesmo, foram elas que ficaram para a história, graças aos registos de alguma intelectualidade, que mesmo que fosse uma ou outra vez ao teatro do Parque Mayer, era incapaz de realçar a beleza de qualquer corista, que se orgulhava do seu corpo, que exibia para lá das curvas, sem falar dos seus olhares de serpente, que encantavam qualquer um às primeiras e às segundas.

A Natália, a Maria Armanda ou a Isabel, além de se apresentarem vestidas segundo os padrões da moda, eram meninas para se sentarem em qualquer café, puxarem do seu cigarro e ficarem por ali, a falar de tudo e de mais alguma coisa, sem qualquer tipo de prurido, rodeadas de uma corte de homens que as bajulavam. 

E isso provocava e deslumbrava quem assistisse a este espectáculo...

Estamos a falar de um Portugal muito diferente do dos nossos dias, em que os castanhos, os cinzentos e os pretos predominam nas vestes masculinas e femininas. Oitenta por cento das mulheres não se maquilhavam (a percentagem ainda deve ser mais alta...), não tinham dinheiro para ir ao cabeleireiro todas as semanas, muito menos para vestirem as cores da moda, de qualquer estação...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, agosto 21, 2023

A pequena provocação de ontem...


Ontem,  quando escrevi sobre o livro "Viver com os outros", de Isabel da Nóbrega, lancei uma pequena provocação. Mas como os comentadores do "Largo" estão de férias, já ninguém "me liga"...

Disse que a autora, que fora esposa de Saramago, tinha fama de quase o ter ensinado a escrever. Foi uma "invenção" de alguns amigos da Isabel que nunca acharam muita piada ao queixo empinado do nosso José (isto de se ter carácter, tem que se lhe diga, faz mais inimigos que amigos...). E muito menos gostaram que ele trocasse a amiga por uma mulher bastante mais jovem.

Quanto muito, a Isabel foi uma boa influência literária para Saramago e ajudou-o a limar algumas arestas (que existem sempre). De resto, têm uma escrita completamente diferente. E ainda bem.

Voltando ao livro, ainda pensei que existisse alguma possibilidade de Saramago ser uma das personagens que aparecem neste romance (ou meia personagem, às vezes nós que escrevemos fazemos "colagens", e misturamos duas ou três pessoas num só sujeito ou sujeita inventado, deixando-os com a "pulguita atrás da orelha"...). Mas segundo os biógrafos, eles só se conheceram em 1968. Como o livro foi publicado em 1964, é possível encontrar apenas uma costela do crítico João Gaspar Simões, que viveu com ela nesta década...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, agosto 20, 2023

"viver com os outros" é um bom título e um bom livro


Comecei a ler "Viver com os Outros", de Isabel da Nóbrega (a senhora  que viveu com o nosso Nobel e que quase disseram que foi ela que ensinou Saramago a escrever...), por um acaso, cheguei a estante e ele veio ter com as minhas mãos.

E ainda bem que isso aconteceu. No início achei estranha toda aquela misturada de personagens, quase a quererem falar ao mesmo tempo, sem tempo para percebermos que dizia o quê, Lembrou-me "A Torre de Barbela" de Ruben A., e claro, os romances de Lobo Antunes (cada vez me convenço mais que é ele que se baralha com as personagens e com os lugares, colocando-os na acção errada...).

Mas à medida que fui entrando no romance da Isabel, fui ganhando alguma intimidade com as personagens e com as suas ambiguidades, que as tornam mais humanas. Mesmo que se perceba que pertencem à classe média alta (não, não andam a lavar escadas, são médicos, professores, donas de casa que estudaram francês e aprenderam a tocar piano...), isso só ajuda. São capazes de pensar mais alto...

O mais curioso é tratar-se de um livro cuja acção se limita a uma sala (até agora só a vida das pessoas é que saiu de casa...), e mesmo assim, deixa-nos presos às palavras e às personagens criadas pelas autora.

Este romance tem uma introdução de Mário Dionísio, que é o seu discurso, escrito e lido em 1964, na entrega do "Prémio Camilo Castelo Branco" a Isabel da Nóbrega. Claro que não a li (nunca o faço, perdia a graça estar a ler e saber já a opinião dos "outros", neste caso, outro...). Trata-se da sua quinta edição, de 1984.

Tudo isto para dizer, que se trata de mais um daqueles livros que poderia ter lido há vinte anos ou trinta anos e só o li agora. E ainda bem. Acho que estou mais preparado para absorver este "Viver com os Outros", porque mesmo sem dar por isso, duas décadas, ofereceram-me mais vida, e claro, os dramas de "vários outros" (como todos nós).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, agosto 19, 2023

Os vários países que existem dentro de Portugal...


Uma das primeiras notícias do telejornal deste sábado, informa que as famílias que pediram ajuda alimentar à Cruz Vermelha, duplicaram.

E nem vale a pena falar de quem passou a "viver na rua" ou foi forçado a trocar o apartamento por um quarto (tal como acontecia entre os anos quarenta e sessenta do século passado...).

Isto acontece ao mesmo tempo que o PSD faz eco da diminuição do IRS, em todas as suas intervenções, como se estivesse a fazer uma grande "revolução nos impostos". O mais curioso disto tudo é que só pretende diminuir este imposto entre o terceiro e o quinto escalão. Acontece que no nosso país, 71% dos agregados familiares fazem parte do primeiro e segundo escalão. É demasiado evidente quem é que os sociais democratas querem beneficiar, aqueles que eles pensam pertencer à sua "família política" (quase que lhe poderia chamar a "classe média alta")...

Percebe-se cada vez melhor, que existem vários países dentro deste pequeno Portugal. Posso falar ainda de outro, o país do "ex-ministro do pintelho", que esta semana numa entrevista dada ao "Público", teve o desplante de dizer só aceitou ser ministro porque tinha umas economias que lhe permitiram e à sua família, não baixar o nível de vida nesse período. Sei que não é caso único, a contar as suas "desventuras financeiras" nos tempos de governante, como se um ministro em vez de receber um valor próximo dos 5000 euros ganhasse pouco mais de mil euros como ordenado (o ordenado médio dos portugueses...).

Estas pequenas coisas também explicam porque razão o PSD não consegue descolar de um PS, desastrado e nem sempre competente...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, agosto 18, 2023

Comprar o jornal e recordar as perguntas que não fiz ao meu Pai...


Há muito tempo que não comprava um jornal de papel, mas a capa da "Ípsilon" do "Público" de hoje, chamou-me a atenção, porque tinha a fotografia de uma avó e o título "A missão deles é contar histórias" (podia ser delas, a fazer fé na imagem...).

No interior vinha uma entrevista de Alexandre Pomar, em que este falava do seu pai, Júlio Pomar. Não só a achei curiosa, como me revi em algumas partes, como quando ele diz: «Sei que não fiz muitas perguntas ao meu pai que agora me surgem quando escrevo.» Não tenho assim tantas coisas para esclarecer como o Alexandre, mas gostava de ter conhecimento de mais coisas da vida do meu Pai, das várias fases da sua vida, especialmente de quando veio para Lisboa no começo dos anos 1950.

Não tive o tempo nem a relação aberta que tenho com a minha mãe (tenho a sensação de que não ficará nada por dizer, quando um de nós partir...), por o meu pai ter ido embora cedo demais (com 67 anos...) e por ser uma pessoa reservada.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, agosto 17, 2023

A gentinha que se cola aos lugares...


Uma das coisas mais estranhas e mais irritantes neste País (para mim claro...), é ver uma série de pessoas  nos mesmos lugares, há 20 e 30 anos, com os problemas que existem nesses sectores, a continuarem a ser os mesmos, ano após ano (e por vezes até pioram).

Onde isso é mais visível é na Educação. Nas Associações de Escolas, de Pais, nas Federações e nos Sindicatos (a excepção que confirma a regra é o rosto do STOP). São sempre as mesmas pessoas a aparecerem na televisão, a dizerem quase sempre as mesmas coisas, para que tudo continue na mesma ou pior.

Já se percebeu que esta gentinha não entende que está por ali a mais. E não há ninguém que tenha coragem de lhes dizer, que está mais que na hora, de irem para casa?

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)


quarta-feira, agosto 16, 2023

Conversas com partidos e populismos (e até com um "bom samaritano")...


Nenhum de nós morre de amores pelo PSD, e ainda menos pelo que está para lá do seu lado direito. A maior parte vota PS. Desconfio que sou o único do grupo que vota à sua esquerda, mas não falamos disso.

O mais curioso foi na hora de criticar o Governo e o Costa, estarmos quase todos de acordo. Do grupo de cinco, só a Carla teve coragem de o defender, dizendo que poucos teriam feito melhor. Foi mais longe e acrescentou que só uma pessoa inteligente e fria como ele teria conseguido lidar com Marcelo, sem qualquer conflito de maior, passando ao lado dos "casos" e das pequenas provocações presidenciais, evitando a ameaça das eleições antecipadas.

Estava certa. Mas nós também estávamos certos. Tanta coisa que o Governo podia ter feito e não fez...

Mas onde ela acertou foi no facto de o Costa não "cavalgar" em cima dos populismos, tão em voga. Ele nunca fez promessas que não podia cumprir. Foi quando o Rui disse que havia vários tipos de populismo, para além da linguagem primária utilizada pela direita e extrema-direita.

O Jorge foi ainda mais incisivo: «Sei que as eleições ganham-se a dizer o que as pessoas querem ouvir. Isso explica o crescimento do Chega em alguns lugares. Mas o Costa é mais inteligente que eles todos juntos e como o Rui diz, usa outro tipo de populismo.» 

E depois dizemos várias coisas. Provavelmente a frase mais inteligente e objectiva foi a do Rui quando disse que o Costa adora fazer o papel do "bom samaritano", por saber que uma boa parte das pessoas gostam disso... 

E todos acabámos por concordar.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, agosto 15, 2023

Regresso ao meu 15 de Agosto da infância...


A minha primeira memória do 15 de Agosto é a Feira das Caldas, que na minha infância se realizava na Mata da Rainha.

Eu sei que era pequeno, mas tudo aquilo continua enorme dentro da minha memória ...

As ruas várias cheias de barracas onde se vendia um pouco de tudo. Lembro-me do vendedor de roupa, a novidade da época eram os "cobertores eléctricos". Eles faziam leilões, parece que ainda os estou a ouvir, "aí vai uma, vão duas, duas e meio e três (mas numa versão mais lenta). E o cobertor vai para o senhor de chapéu e gravata azul. Parabéns amigo, fez uma óptima compra". E assim que mudava de artigo começava novo leilão... Lembro-me também das farturas. A mãe comprava sempre uma dúzia, que comíamos quando chegávamos a casa com chá ou café.

Mas a parte que gostava mais era o local onde se concentravam as diversões que se instalavam no campo de futebol do Caldas (a equipa tinha de treinar noutro lugar...), o circo, os carros de choque, o carrocel, o poço da morte. Foi ali, com toda a certeza, que vi os primeiros palhaços, os primeiros trapezistas e afins...

Podia ter-me dado para pior, mesmo que a Mata da Rainha continue a ser um lugar cheio de memórias.

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


segunda-feira, agosto 14, 2023

A Ponte é uma Passagem para as Férias


Percebe-se nas ruas da cidade que há menos movimento.

Não é apenas este Sol, pois ele anda abrasador há pelo menos um mês, mais dia menos dia.

Conversa que se vai ouvindo daqui e dali e percebe-se que é coisa do calendário, de um 15 de Agosto que calha a uma terça e da malta que antecipa as férias em um dia e começa a fazer contas a partir de sexta à tarde, ganhando mais uns dias de descanso (se contarmos com o tal fim de semana...). 

Claro que são uns contas que podem não bater certo, mas isso é o menos importante. Sabe tão bem pensar que se vai trabalhar mais tarde e que se "deu meia-volta ao patrão"...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


domingo, agosto 13, 2023

A facilidade com que se fala dos filhos dos outros...


Não sei o que os jovens pensam hoje, dentro das relações, dos namoros, como reagem a possíveis traições. Acredito que as coisas não sejam assim tão diferentes como as pintam alguns filmes e telenovelas, e que permaneçam vivos os mesmos sentimentos e hábitos de sempre, com uma relação a dois, a ser apenas a dois, com uma qualquer terceira pessoa a estar sempre a mais.

Com uma filha e um filho, de 18 e de 25 anos, limito-me a observar de longe os seus namoros. Mesmo que o meu filho tenha uma relação já com alguns anos, há perguntas que não lhes faço. Claro que por isto ou por aquilo, poderia acontecer uma conversa e ficar a saber o que pensam de quem salta de relação em relação, quase semanalmente, ou quem tem namorados em duplicado. Mas nunca aconteceu. E não serei eu a iniciar qualquer diálogo sobre o assunto.

Lá estou a "esticar a caneta"... Embora não tenha mudado de rua, já ia quase na esquina...

A conversa aconteceu quase à entrada do meu prédio, à passagem de uma miúda gira, por sinal, "coleccionadora de namorados", filha de um conhecido nosso. O vizinho de baixo disse que aquela rapariga tinha tudo para acabar mal, nas mãos de qualquer tipo ordinário. E acrescentou, que era isso que normalmente acontecia aos homens e mulheres que, escolhem, escolhem, para depois, acabarem "mal servidos".

Limitei-me a sorrir, sem acrescentar nada à conversa. Enquanto subia as escadas pensava na facilidade que existe em se falar dos filhos dos outros...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sábado, agosto 12, 2023

O velho lema: "unidos contra tudo e contra todos"


Não vou falar do treinador do FC Porto, que se recusou a abandonar o banco de suplentes depois de ter sido expulso, após gesticular, gritar e insultar o árbitro (segundo o relatório do juíz da partida, não ficou satisfeito com o seu comportamento rente ao relvado e no túnel de acesso aos balneários voltou a insultar o árbitro...).

Vou falar sim da permissividade da justiça deste futebol português em relação ao FC Porto (algo que dura há décadas...), pródigo em atitudes que tentam contrariar as leis de jogo e influenciar as decisões dos árbitros em seu benefício. Sempre que este apita contra a equipa, toda a gente do banco de suplentes se levanta, grita, insulta e barafusta, ameaçando em alguns casos invadir o terreno de jogo.

No relvado os jogadores têm o mesmo tipo de comportamento. Adoram rodear o árbitro (e até empurrar), quando apita a favor do adversário, tentando influenciar as suas atitudes (o que conseguem, mais vezes do que deviam, daí insistirem neste tipo de pressão, jornada após jornada...).

Uma boa parte dos adeptos do clube do Norte, defendem estas atitudes, assim como os seus dirigentes, que nunca tiveram uma palavra de desagrado para com o técnico, que já foi expulso 24 vezes (14 com as cores do Clube), prejudicando e oferecendo uma má imagem do clube para o País e para o Mundo.

O mais curioso é que, normalmente, tanto o Clube como o Treinador ainda se fazem de vítimas em todas estas situações. Enchem a boca com a ausência de "verdade desportiva". Em sua defesa falam de perseguição (desde os árbitros aos jornalistas de Lisboa...) e erguem a frase gasta que lhes dá força para ganharem títulos (dizem eles...): «Unidos contra tudo e contra todos.»

Provavelmente, só quando existir coragem para punir o Clube e o Treinador, exemplarmente, é que eles começarão a perceber que afinal não são mais iguais que os outros...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


sexta-feira, agosto 11, 2023

Ainda existem alguns "milagres humanos", aqui e ali (cheios de teimosia...)


Hoje no meu "Casario" tento fazer alguma justiça a três associativistas, que foram do melhor que conheci nesta Almada, tão fecunda em verdadeiros "operários da cultura".

Foi quando me lembrei das parecenças que existem entre o Associativismo e o Circo, na batalha pela sua sobrevivência. Dos homens que são uns "faz-tudo", porque a necessidade assim os obriga, já que o dinheiro por mais bem gerido que seja, nunca chega...

Sim, por exemplo, o Fernando Gil ou o Francisco Gonçalves, além de serem os protagonistas de qualquer peça de teatro da Incrível Almadense, também montavam e carregavam os cenários, vendiam entradas na bilheteira, entre outras coisas que fossem emergentes para que o espectáculo acontecesse.

No circo passa-se a mesma coisa. Durante a montagem das tendas gigantes é fácil descobrirmos o trapezista ao lado do palhaço ou do equilibrista, a levantar do chão, aquela "casa de sonhos". Tal como durante o espectáculo poderemos ver alguém muito parecido com eles, vestido com uma bata (para disfarçar), a ajudar a tirar as coisas da arena circular, para que não se perca muito tempo entre números, ou ainda a levar as pessoas para os respectivos lugares das bancadas antes do começo do "maior espectáculo do mundo".

Infelizmente o futuro não se compadece com estes "amadorismos" e estas duas actividades vivem grandes dificuldades. Muitas vezes só subsistem quase por "milagre".

Milagres humanos, claro (cheios de teimosia...).

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, agosto 10, 2023

Livros, escritores e livrarias (com e sem futuro...)


Passei por uma "Bertrand" lisboeta e descobri esta pergunta-mensagem na montra.

Minutos antes tinha estado a beber um café e a conversar com um velho professor, que entre outras coisas, me disse que os livros dos grandes autores tinham os dias contados.

Para explicar melhor o seu ponto de vista usou o "escritor-apresentador de telejornais", provavelmente o único autor português próximo dessa coisa que se chama "best-seller". «Não posso "receitar" a leitores do Rodrigues dos Santos livros chatos e complicados, capazes de provocar insónias e fazer pensar em coisas estranhas.»

E depois disse-me, em jeito de conclusão: «Uma escrita quase lisa, evita muitas quedas e tropeções nos "buracos da vida".»

O mais curioso foi não ter ficado nada convencido com este ponto de vista. E minutos depois, aí estou eu a esbarrar com esta "Bertrand", a caminho da nossa Roma...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quarta-feira, agosto 09, 2023

Escrever para a "gaveta" ou deixar simplesmente de escrever...


Mesmo que os blogues sejam cada vez menos lidos, no meu caso pessoal, que sinto necessidade de escrever, diariamente, funcionam mesmo como "tábua de salvação".

Sei que não é uma coisa assim tão difícil como pode parecer, deixar de escrever. Tenho o exemplo de um amigo poeta, que raramente escreve o que quer que seja, porque não queria encher as "gavetas" de casa de papéis.

Acompanhei o processo com alguma ironia e durante algum tempo pensava que ele me mentia, quando dizia que quando lhe aparecia qualquer ideia, normalmente saía do lugar onde estava e tentava distrair-se com  outra coisa, à espera que a fonte de inspiração fosse embora.

No início foi doloroso, mas com o passar do tempo "curou-se", deixou de sentir necessidade de registar as ideias, os pensamentos em qualquer papel.

Quando lhe pergunto se sente falta da "companhia do poeta", diz que nem por isso. Provavelmente está a mentir, mas a vida é o que é.

"É pá, onde eu já vou!" Pois, começo a escrever e como os "travões estão pouco afinados", torna-se difícil parar (pois é, parece que não consigo fazer como o poeta) ...

A meio da manhã encontrei um amigo na mesa do café onde antes tínhamos uma "tertúlia" aos sábados de manhã. Ele estava a escrever e foi por isso que lhe perguntei se não incomodava, beber um café com ele. Ele disse logo que não. E depois fomos falando.

Contou-me o que se passava com um dos seus projectos de livro (de história local), que continua a ser adiado, porque as autarquias almadenses vão fechando cada vez mais os cordões à bolsa, a quase tudo o que é cultura local.

Também falei do meu caso pessoal, dos dois presidentes de junta, que nem sequer se dignaram a receberem-me em audiência, para lhes apresentar um projecto. É como diz o Ricardo Araújo Pereira, "gente que não sabe estar". E ponto final.

Claro que não vou deixar de escrever como o meu amigo Poeta, nem fico tão constrangido como este outro amigo, tertuliano, por ter um bom livro (quase um roteiro local...) "engatado", por causa desta gente que prefere gastar uns milhares de euros com qualquer cantor  da "rádio e da cassete pirata" em vez de apoiar a cultura local...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


Gente com Demasiadas Cores (digo eu, claro)...


Poderia ficar em silêncio, deixar passar o centenário do nascimento de Mário Cesariny, sem manifestar a opinião negativa que tenho sobre quase todas pessoas que se esforçaram para que se falasse mais das suas vidinhas que dos seus percursos literários ou artísticos.

Acho que foi por esta razão que nunca quis conhecer o Luiz Pacheco (que viveu na minha Cidade-Natal), por ser mais conhecido pelas suas polémicas e vida de pedinchice que pelos livros que escreveu e editou. E também não acho grande piada que se faça mais mais eco da homossexualidade de Cesariny que da sua poesia ou arte pictórica. O mesmo poderia dizer de João César Monteiro, que ficou mais famoso pela sua "loucura", com a sua "Branca de Neve" à mistura, que pelas "Recordações da Casa Amarela", por exemplo.

As pessoas a preto e branco podem ser chatas e apagadas, mas as com demasiadas cores, também se tornam confusas e acabam por fugir ao essencial.

(Fotografia de Luís Eme - Arealva)


terça-feira, agosto 08, 2023

«Não são as profissões que nos tornam pessoas estranhas, embora existam profissões mais estranhas que outras»


Quando eu disse que «não são as profissões que tornam as pessoas estranhas», estava longe de pensar para onde seguiria a conversa. O que podia ser entendido apenas como um lugar-comum ou como uma verdade lapalissiana, levou-nos para outros lugares. E ainda bem.

Gostamos de simplificar as coisas. É por isso que passamos a vida a dizer outro lugar-comum (falso como judas diga-se de passagem): "a vida  não é complicada, nós é que gostamos de complicar as coisas... "

Claro que há vidas muito mais complicadas que outras, e por mais que nos esforcemos, nem sempre se consegue tornar tudo mais fácil. Porque normalmente há sempre "terceiros" envolvidos, que tanto nos podem facilitar ou dificultar as coisas...

Quando o Pedro disse que não são as profissões que nos escolhem a nós, somos nós que as escolhemos, percebi que era dia dos "lugares-comuns"...

E quando demos por isso já se falava de divórcios, de profissões quase sem horários de trabalho e com deslocações para longe (jornalistas, vendedores ou polícias de investigação) e de outras, com mais serões que o normal, embora fossem mais bem pagas (políticos, advogados, juízes, médicos ou enfermeiros), que tornavam mais difícil o equilíbrio familiar. 

E para fim de conversa uma das moçoilas que estava na mesa disse: «Não são as profissões que nos tornam pessoas estranhas, embora existam profissões mais estranhas que outras.» Os lugares-comuns tinham vindo para ficar.

 (Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, agosto 07, 2023

«O segredo é a capa. Quase que abre a porta à ficção.»


Estávamos ali os dois, quase perdidos, a ver este calor de Agosto chegar, mesmo que ainda fossem nove da manhã.

Pouca gente à nossa volta na esplanada do café, muito cerimoniosa ou ainda sonolenta. Éramos os únicos que falavam, os outros viam e liam as novidades através do pequeno rectângulo que lhes enchia as mãos e os olhos. Só um homem lia o jornal (esse mesmo, o do costume...) e parecia deliciado.

O meu companheiro falou da estranheza de já não se verem pessoas a lerem jornais desportivos. Eu, meio a brincar meio a sério, disse-lhe que talvez prefiram ser informadas pelos programas onde se comenta aos gritos, quase num teatro televisivo. Mas depois lembrei-me do meu vizinho do rés de chão que compra todos os dias a "bíblia", que se tornou um jornal comunitário. Expliquei o seu percurso, tal como ele me contou. Compra o jornal às oito, juntamente com o pão para o pequeno almoço, às dez volta a sair de casa e deixa-o no restaurante do Carlos, onde passa por várias mãos, até ser levado por outras mãos amigas, depois do almoço, para voltar a ser lido por vários olhos.

Voltámos ao "jornal-rei", que além da capa sugestiva, tem sempre um manancial de informação. Fala-se dos bombardeamentos da guerra, dos incêndios que voltaram (quem terá acordado os malditos incendiários?), dos homens que batem em mulheres, das corajosas que fartas envenenam trastes que também eram maridos, do jogador que foi vendido pro milhões... e sim, também dão relevo a uma qualquer odalisca, meio vestida, que trocou de marido, como se troca de automóvel. E poderia continuar. É de facto um jornal com notícias.

E sim, quando o Carlos disse: «O segredo é a capa. Quase que abre a porta à ficção.» Estava quase certo. Só é pena que os seus leitores não fiquem famintos de ficção e se voltem para os livros das boas e grandes histórias...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, agosto 06, 2023

O porquê da Ponte sobre o Tejo ser "vermelha"...


Normalmente evito repetir efemérides por aqui, mesmo que este seja um "Largo" com "Memória".

Mas não resisto e aproveito mais um aniversário da Ponte sobre o Tejo, que foi "Ponte Salazar" de 1966 a 1974, até que o 25 de Abril veio em boa hora e substituiu o ditador (que até era contra a construção da ponte, por causa dos muitos milhões que estavam em equação...), para divulgar uma anedota, que o José Gomes Ferreira me contou no seu livro, "Passos Efémeros (dias comuns 1)".

Segundo o "Poeta Militante" havia um Padre que dava a disciplina de Religião e Moral no Liceu Camões, em 1966, no ano da inauguração da Ponte, que não devia gostar nada do doutor António de Santa Comba e saiu-se com esta (o filho de Gomes Ferreira era um dos alunos...), na aula: «Os meninos sabem porque é que a Ponte Salazar ficou vermelha? - claro que ninguém sabia, e ele contou - Por vergonha de lhe porem aquele nome.»

Espero que este Padre progressista não tenha sido muito incomodado nesses longínquos anos sessenta do século passado, por a sua "moral" estar no lado certo da vida...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, agosto 05, 2023

A natureza tudo vence, até o nosso egoísmo...


Fala-se muitas vezes dos jovens, quase sempre de forma injusta.

Devíamos pensar sim, no mundo que lhes estamos a deixar, até onde fomos capazes de levar o nosso egoísmo, onde se torna demasiado óbvio que as nossas preocupações sobre o bem estar  e o futuro de todos, continuam a não se distanciar mais de um passo do presente e do nosso olhar. 

Claro que generalizo. Mas é a única forma de falar sobre o amanhã. A maior parte das pessoas se puderem estar em casa com o ar condicionado ligado, para esquecerem os 40 graus que estão lá fora, não têm qualquer problema existencial em carregar no botão. E ainda menos em tomar dois duches diários, mesmo que nas áfricas crianças, adultos e idosos, não tenham água potável para beber...

O resultado desde "viver atrás do espelho", apenas para nos pentearmos e tornar o nosso rosto mas agradável, é visível diariamente. Se numa ponta do Planeta chove a rodos, provocando cheias, no outro há incêndios que destroem parques naturais agradáveis e grandes zonas florestais que contribuíam para o equilíbrio ambiental...

Apesar dos cientistas colocarem muitas vezes em cima da mesa o ano 2050 como limite (não sei porquê...), à velocidade com que tudo se transforma e a temperatura sobe, é melhor alterarem as contas, porque serão cada vez menos, os que lá irão chegar. E em situações de vida bastante complicadas, a todos os níveis.

Muitos de nós, com mais de cinquenta anos, em vez de alterarmos os nossos hábitos, dizemos que já cá não estaremos, quando tudo começar a ruir. 

E está tudo dito...

(Fotografia de Luís Eme - Fratel)


sexta-feira, agosto 04, 2023

Os "seres cantantes" e os "velhos de cacilhas"...


Passam por nós seres cantantes, um ou outro embrulhado em bandeiras que identificam as suas origens, que alegra estes dias quentes, repletos de santidade.

Não me embalo nem me incomodo com estas cantorias e alegria alheia.

A "velha do restelo" que me acompanha diz, «que pena na segunda-feira voltar a ser tudo como era...» 

Há mais ironia que vontade de parar este tempo que, entre outras coisas, deu férias aos ministros e secretários de estado que adoram enfiar os pés nos buracos das estradas...

Eu sei que ela tem razão mas mantenho-me em silêncio, a olhar esta multidão quase jovem, que junta a calma e a alegria ao ruído, sem fazer tremer as calçadas.

Antes de subirmos à cidade, assistimos ao embarque  lento de uma multidão de gente de todas as cores e raças no cacilheiro.

Penso que agora sim, imitamos os "velhos do restelo", mesmo que sejamos apenas "velhos de Cacilhas", cativos no cais, à espera dos dias normais de Agosto nas cidades. 

Ao contrário das calçadas, o cacilheiro, sim, deve abanar com tanta gente e tanta canção por metro quadrado...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, agosto 03, 2023

Dias quase comuns (se esquecer a hora do café)


Ontem bebi café com um dos meus amigos pintores. É sempre um prazer falar com ele, mesmo vivendo num momento de grande indefinição em todas as artes, em parte porque quase "toda a gente quer ser artista" e isso acaba por banalizar (cada vez mais) o acto criativo.

Hoje foi tempo de tomar café com letras (o saudoso nome de um café que fez furor em Cacilhas no começo de século...), na companhia de dois escritores "ressabiados", que gostam de se servir da ironia para o seu habitual bota-abaixo ou para explanarem uma ou outra teoria da conspiração.

Quando era assinante do "Jornal de Letras" e da revista "Ler", chamavam-me tudo e mais alguma coisa. Não foi por causa deles que me esqueci de renovar as duas assinaturas, mas tinham alguma razão no que diziam, estas duas publicações são mesmo "duas quintas", nem sempre bem frequentadas.

Lá me estou eu a desviar da conversa.... 

Estou a reler  os "Passos Efémeros (Dias comuns 1)" de José Gomes Ferreira e depois de deixar estes dois amigos vim pelo caminho a pensar numa das suas frases do livr0: «Pobre razão neutra! (de quem sonha com páginas neutras), revistas neutras, poetas neutros, homens neutros!) posta com indignação fingida na balança, para justificar a tirania e concordar com ela.»

Foi mais ao menos isso que disse a estes dois companheiros, mas fui derrotado facilmente. Encheram-me de exemplos de "livros de trampa" (eles usaram outra palavra...) que são criticados como se fossem obras da prima, ou de escritores e poetas que não valem um chavelho (foi mesmo esta a palavra dita...) e são vendidos quase como candidatos ao Nobel.

Mudando de assunto, sei que leio e releio esta e outras obras diarísticas do nosso grande "Poeta Militante", por me identificar bastante com a forma como José Gomes Ferreira "pinta a cor dos seus dias". Talvez isso aconteça por normalmente ter mais que fazer que me preocupar demasiado com o "Mundo dos Outros"...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quarta-feira, agosto 02, 2023

Ai liberdade, liberdade, para onde te estão a querer levar...


Mesmo pessoas como eu, que se estão borrifando para o "politicamente correcto", por vezes também ficam a pensar se devem, ou não, fazer isto ou aquilo. 

A onda crescente de "censura" e de "censores" é tal, que tenta varrer tudo o que lhes faz comichão - mesmo que seja só na ponta do nariz -, para qualquer caixote do lixo. Gostam tanto de se fazer notar, que nem sempre lhe conseguimos ser indiferentes.

Escrevo isto porque tenho alguns livros infantis e juvenis que os meus filhos não querem e que são para dar a outras crianças, que gostem de livros. 

Mas com todas estas manias sexistas, que quase querem proibir as meninas de andarem de cor de rosa e os meninos de azul, não sei se será boa ideia dar alguns livros da minha filha (mesmo que tenham sido escolhidos por ela, há apenas uma dúzia de anos...), como os que estão na fotografia...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, agosto 01, 2023

Cristão, sim, Católico, não...


Hoje cruzei-me com dezenas de peregrinos pelas ruas de Almada. Não foi muito difícil de perceber que não pertenço aquele mundo.

Enquanto regressava a casa fui visualizando a minha caminhada lenta de afastamento da religião católica, desde a adolescência. Senti desde cedo que não fazia qualquer sentido pertencer a uma religião que por muito que falasse dos "pobrezinhos", preferia a companhia dos ricos e poderosos.

Mas não deixa de ser curioso, que o episódio que ditou o meu "divórcio", tenha tido a intervenção directa de um padre... 

Mais por tradição (e alguma pressão dos avós...) que por outra coisa, os meus dois filhos foram baptizados. Na preparação do baptismo do meu filho mais velho, o padre fez uma coisa ligeiramente rasteira, disse que só baptizava o meu filho se eu e a minha esposa casássemos pela Igreja. Eu não me fiquei e respondi-lhe à letra, dizendo que era eu e a minha esposa que decidíamos se devíamos ou não casar pela igreja, não era ele. E acrescentei que se não quisesse baptizar o meu filho, havia mais igrejas e mais padres no Concelho.  

Esta conversa foi "remédio santo". O padre não voltou a falar em "casamento" e o baptizado realizou-se sem qualquer incidente na Igreja de Cacilhas. Mas eu percebi, de uma forma que considero definitiva, que não tinha nada a ver com aquele credo.

Poderá parecer estranho, mas continuo a sentir-me Cristão. Continuo a olhar para Jesus Cristo como o maior exemplo de humanismo no nosso Planeta. Ao contrário da Religião Católica, Ele, na sua curta passagem terrestre, esteve sempre ao lado dos mais pobres, dos mais fracos e desprotegidos...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)