«Uma das boas novidades que descobri, foi
que a Vila continuava a ter, não uma, mas duas bandas filarmónicas, ainda por
cima centenárias.
Quando falei no assunto ao Nicolau, não
se mostrou assim tão entusiasmado, contando que uma delas, a “Democrática” estava
a viver uma crise quase agonizante, só mantinha a banda graças a um maestro
antigo e falho de ideias, que com meia dúzia de músicos teimosos, ainda se
encontravam uma vez por semana, para desenferrujar a língua, os dedos e os
instrumentos.
A “Musical”, essa continuava vivinha da
silva, regida por um maestro daqueles que se sentem nas nuvens quando estão com
a batuta nas mãos e com muitos jovens a aprenderem o solfejo.
Era o mesmo maestro que eu encontrara na
rua e depois no salão, com roupas brilhantes e gestos clássicos, que se devia
sentir mesmo um verdadeiro artista nos palcos e nos coretos das terras por onde
aquele grupo espalha a sua musicalidade.
Foram encontros casuais. O primeiro na
rua e o segundo na sua “casa”. Este último aconteceu quando passei na rua da
Colectividade e ouvi a banda, quase como na canção e acabei por entrar, curioso,
depois de espreitar.
Foi uma agradável surpresa. Sentei-me na
plateia do Salão de Festas e por ali fiquei, quase perdido no tempo, encantado
com os sons agradáveis que aqueles instrumentos afinados libertavam, nas mãos e
nas bocas dos rapazes e das raparigas, cheios de sonhos, com toda a certeza e
propriedade.
Ao olhar para os seus uniformes, percebi
que esta era a segunda vez que nos cruzávamos. Ouvi-os tocar na primeira vez quase
por acidente, quando saíram à rua numa data festiva. Gostei de sentir a alegria
que deixaram nas ruas e também de descobrir que a maior parte dos músicos eram
jovens.»
A fotografia é de Luís Eme.