segunda-feira, janeiro 31, 2022

Cafés (apenas) com História...


Ao ler uma reportagem sobre os cafés com história de Paris,  recuei no tempo e recordei alguns cafés e vários companheiros de "tertúlias"...

Saint-Germain-des-Près era o lugar mais apetecido do pós-guerra, com um histórico único no mundo, tantas foram as personalidades artísticas que por ali passaram.

Embora hoje tente alimentar o charme de outros tempos (mais para turista ver...), não acredito que os seus donos sintam saudades do tempo em que tinham as mesas cheias de artistas, que procuravam consumir o mínimo e passar ali o máximo de tempo possível.

Talvez o nosso sitio mais parecido com Saint-Germain-des-Près, seja o Chiado, que hoje também atrai sobretudo turistas. Muitos vão à procura do Fernando Pessoa de bronze, sempre fotogénico...

Os tempos de hoje não são propícios à existência de tertúlias. Ainda existem muitos artistas, mas parece que falam cada vez menos uns com os outros...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, janeiro 30, 2022

Mudanças com Mais Derrotados que Vencedores


Normalmente temos dificuldades em encontrar "perdedores" após se saberem os resultados das eleições. Quase todos os partidos, mesmo os que ficam muito aquém das espectativas, arranjam uma desculpa qualquer. Os mais habilidosos até são capazes de inventar qualquer "estratégia de vitória", por muito pífia que seja. 

Mas esta noite não foi mesmo possível "esticar o cordel", não houve qualquer espaço para "habilidades", tanto para o PSD como para BE, a CDU, o PAN ou o CDS. Tiveram de guardar os números habituais de circo, que estavam preparados para serem apresentados na hora dos discursos.

Já o PS, o Chega e o IL, parecem ter todas as razões para irem "festejar para o marquês".

Iremos assistir a algumas mudanças, mas não sei se serão muito significativas, para além dos discursos mais incisivos da direita e da extrema direita, que finge que vai "revolucionar" o parlamento.

Quem continua a não fazer lá muito bem o "trabalho de casa" são as empresas de sondagens. Parecem caminhar cada vez mais pelas "ruas da amargura", provocando desgostos, mesmo a quem não confia muito nelas...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, janeiro 29, 2022

Lugares, Livros e Sonhos...


Estou a acabar de ler um livro de poesia que me tem feito pensar, viajar, e até sonhar... O que não é nada do outro mundo, porque sei que a leitura nos deve transmitir todas essas coisas (e outras mais ainda).

Falo de "O Sul dos Meus Sonhos", de Teresa Rita Lopes. É um livro em que a poesia quase que se pode confundir com a prosa, pela sua linguagem simples e por tudo o que nos transmite, poema a poema.

Conheço este Sul da Teresa Rita, porque há muito que escolhi o Sotavento para passar as férias de Verão. Mas isso nem é o mais importante. Importante é rever-me nas memórias poéticas da escritora, à medida que vou lendo vou recordando as pessoas e os lugares da minha meninice. Volto atrás no tempo e penso no que fui e no que sou. 

Consigo compreender melhor os outros, que tinham dificuldade em lidar com uma criança curiosa, livre e difícil, porque fugia da norma. 

Consigo gostar de coisas que fingia não gostar... à distância de mais cinquenta anos.

Continuo a pensar, que é para nos fazer pensar e sonhar, que se escrevem livros.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


sexta-feira, janeiro 28, 2022

A Transformação de Rio em quase "Marionete"...


Não estava a pensar escrever tanto sobre as eleições e os candidatos, mas esta campanha é aquela em que notei mais "transfigurações" pessoais, ao ponto de quase fingirem, serem "outro candidato", da noite para o dia.

A maior de todas estas mudanças é a de Rui Rio. O social democrata, a espaços radical, que sempre se manteve fiel às suas convicções e teimosias, é um "candidato novo" (o que as agências de comunicação conseguem fazer...), até passa o tempo a sorrir e dizer piadas, ao mesmo tempo que evita falar de tudo aquilo que gosta, sempre de dedo em riste (gosta muito de apontar o dedinho aos outros...). Nem sequer se queixa dos jornalistas - eram um dos seus alvos predilectos mas agora até fingem gostar mais dele que do Costa -, muito menos das sondagens (das últimas, claro).

Por saber que esta é a sua derradeira oportunidade de ser primeiro-ministro (talvez  seja mesmo um sonho de menino, o sonho de uma vida...), tem feito um esforço inimaginável para "ser outra pessoa", escondendo o homem "que tem sempre razão e está sempre certo", e onde o bom senso sempre foi uma coisa escassa (basta recordar a "perseguição" que fez aos agentes culturais da sua Cidade, assim como ao seu maior emblema, o FC Porto).

Esta quase transformação de Rio em "marionete", sem dizer uma palavra sobre as reformas que o país antes precisa que ele soltava a "sete ventos", disparando em todas as direcções, especialmente na justiça (e com razão... mas a razão não ganha eleições), é obra. Ele deve "torcer-se" todo por dentro mas consegue sorrir e dizer umas graçolas, tendo quase sempre como alvo o Costa, em vez de dizer ao que vem.

É apenas mais um exemplo, do já tão gasto "vale tudo", para se chegar ao poder. Ponto final.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, janeiro 27, 2022

A Tentativa de "Aproximar" os Extremos...


Um dia destes, ao andar a cirandar de canal para canal, parei por alguns segundos na CNN, onde descobri um painel de comentadores curioso (Helena Matos, José Manuel Fernandes e Carlos Magno), que bem podiam fazer parte de um coro, tal era a "afinação" no discurso da criação de uma extrema-esquerda (BE e PCP) ao nível do Chega.

Sei que não devia, mas incomoda-me toda esta desonestidade intelectual, ainda por cima vinda de ex-militantes da tal extrema esquerda (dos muitos que, a exemplo de Durão Barroso, viraram em sentido contrário e se tornaram defensores do "capitalismo" que antes abominavam e desejavam a "morte"...) que só foi abafada pelo 25 de Novembro de 1975.

Durante alguns anos, através do MRPP e da UDP, ainda se notaram alguns discursos extremistas, mas nada que se assemelhasse com o que defende o Chega. 

Sempre olhei para o PCP e para o BE como a verdadeira esquerda (mas sem extremismos), até porque o PS sempre foi mais social democrata que socialista.

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


quarta-feira, janeiro 26, 2022

Quando "Quem tudo Quer... tudo pode Perder"...


Não me lembro de uma campanha eleitoral tão anedótica como esta, para as legislativas.

O primeiro-ministro andou semanas a pedir a maioria absoluta, aproveitando todas as oportunidades para criticar a esquerda (fiado no voto útil...). Até que esta semana surgiu a primeira sondagem, com o PSD à frente do PS... E António Costa lá teve de fazer o "pino", voltando a piscar o olho à esquerda, ao mesmo tempo que tentava esquecer a palavra "maioria"...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


terça-feira, janeiro 25, 2022

Ironia das Ironias, o Humor dá Vantagem ao "Rei dos Sizudos"...


Ao observarmos esta parte final da campanha eleitoral, até parece que somos um país sem problemas. Corre tudo sobre rodas na saúde, na justiça, na segurança, no ambiente ou na coesão territorial.  

De repente passaram-se a usar os animais domésticos como "bonecos de humor" e também como "armas de arremesso" político. Curiosamente, sem que o PAN, seu defensor mor, obtenha quaisquer dividendos.

Mas é importante recordar que a relevância que se tem dado aos animais domésticos, deve-se muito aquele que muitos consideram o melhor humorista português, que conseguiu colocar o "Zé Albino", quase como candidato a primeiro-ministro (e não o seu dono...).

Ricardo Araújo Pereira é assim, gosta de dar "tiros em todas as direcções", mesmo que finja não perceber que dá importância a quem não a tem. A sua "perseguição" ao Chega, acabou por dar a este partido o destaque - mesmo que fosse pela negativa - que ele não tinha (e que agora já tem...). 

O humorista é também um dos grandes responsáveis por toda esta "cavalgada" de Rui Rio em cima do lombo do seu gato de estimação, que até conseguiu que ele passasse o seu programa a rir (em falsete, mas o teatro é isso...) e a tentar deitar fora a imagem de "rei dos sizudos". 

E com todos estes floreados à sua volta, Rui Rio até já é capaz de "acreditar" em sondagens (mas pode sair-lhe o tiro pela culatra e ser o "Medina" do país...).

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, janeiro 24, 2022

Marcas que Ficam Destes Tempos...


Hoje ao almoço, falámos de muitas coisas, como de costume. 

Além das eleições de domingo, é difícil passar ao lado da "guerra fria" entre a Rússia e a Ucrânia ou do número crescente de infectados. 

Mas o mais marcante para mim, foi o desabafo do Chico, por o neto há mais de um ano que não ter ninguém da sua idade, com quem brincar fora da escola.

Ninguém sabe quais serão as marcas que ficarão para o futuro destes tempos de pandemia, para as crianças e adolescentes.

A única coisa que sabemos é que com a redução das actividades ao ar livre, aumentaram, de uma forma assustadora as horas diárias passadas à frente do ecrã do telemóvel, dos nossos netos e dos nossos filhos (mas também de quase todos os adultos...).

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, janeiro 22, 2022

Justiça sem Segredos para o Correio da Manhã


Eu sei que as violações ao segredo de justiça e a troca de informações privilegiadas, não começaram com a detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates - transmitida em directo na  CMTV -, nem com a transformação de processos como a "Operação Marquês", numa "mina de ouro", para os donos da televisão e do jornal.

As "condenações públicas" através da comunicação social começaram alguns anos antes, com o nosso primeiro grande caso mediático: a investigação sobre pedofilia na Casa Pia. Nessa altura o CM ainda não tinha o seu canal de televisão, mas a prisão de um deputado socialista na Assembleia da República, não deixou de ser transmitida em directo no nosso país...

Era o começo da era dos "juízes-justiceiros", que teria alguns anos depois em Carlos Alexandre o seu expoente máximo. 

A partir daí passou a ser normal a divulgação de documentos em segredo de justiça, por parte do CM (quase em exclusividade vá-se lá saber porquê...). Graças a este "jornalismo justiceiro", vários arguidos foram "condenados" pela opinião pública antes dos seus casos transitarem em julgado e de serem absolvidos... 

Mas nunca tinha acontecido uma coisa como a que está a acontecer através da operação "cartão vermelho", com a divulgação diária de conversas privadas (quase sempre sem qualquer relevância criminal) entre pessoas ligadas ao futebol e ao Benfica, com a respectiva chamada de primeira página do CM (e anúncio dado nos programas desportivos da CMTV).

O mais estranho disto tudo, é a aparente "normalidade" de toda a situação, com nenhuma tomada de posição, de quem de direito. 

No mundo do futebol, o normal é assobiar para o ar, mas para bem da justiça portuguesa, era importante que alguém se manifestasse e tomasse uma posição firme, sobre mais esta violação diária, da vida privada de dezenas de pessoas.

A não ser que já tenhamos chegado a um ponto, em que "vale tudo, mesmo tudo, para vender jornais e ter audiências televisivas".

 (Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, janeiro 21, 2022

Como Anda o Mundo...


O mundo é demasiado estranho e violento, graças aos seres que, apesar de serem dotados de inteligência, parece que não gostam de a usar muito. Ou pelo menos tanto como deviam.

Se fosse ucraniano como a Nadia, também era capaz de não gostar de nenhum "filho da putin".

Fiquei a pensar da divisão que ela fez das pessoas. De um lado estão as pessoas que têm de estar contentes com tudo (a maioria...). Do outro as pessoas que nunca estão contentes com nada (uma minoria que normalmente tem poder).

Apesar de ser uma divisão bastante simplista, explica bastante como anda o mundo...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, janeiro 20, 2022

«Não. Não estamos mais burros. Estamos sim, mais confusos.»


O Pedro hoje estava num dia não e "disparou" em todas as direcções. Os muitos anos de jornalismo fazem com que não entenda a televisão que se faz actualmente. E até tem receio de ler as notícias que estão sempre a aparecer dentro do seu telemóvel...

Foi por isso que disse que estamos a ficar com as orelhas maiores e com o cérebro mais pequenino. 

Não, não era uma questão de tamanho. Nunca foi.

Foi quando a Alice disse: «Não. Não estamos mais burros. Estamos sim, mais confusos.»

Ela estava certa. E só faltava mesmo aparecer também uma pandemia, para ainda confundir mais as coisas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, janeiro 19, 2022

«Vou chamar a polícia e tu vais preso» (há brincadeiras e brincadeiras...)


Um pequenote, de cinco, seis anos, estava entretido a brincar no parque infantil próximo da minha casa, correndo de estação para estação, ora escorregava ora andava nos cavalos de molas, enquanto a mãe conversava com uma mulher mais velha, que estava à janela do primeiro andar.

Embora a criança não estivesse a fazer nada de mal (os parques já não têm fitas a proibir a sua utilização...), a companheira de conversa da mãe - com idade para ser sua avó -, talvez cansada, só de ver toda aquela energia infantil, saiu-se com uma frase que eu pensava que já não se usava nestes tempos: «Vou chamar a polícia e tu vais preso.»

Felizmente o pequeno continuou a brincar, sem medo de qualquer polícia, fingindo não ouvir a senhora do primeiro andar. Até por ter o parque infantil só para ele.

E eu continuei a marcha até a casa, a pensar nos "papões" que existiam quando eu tinha a idade daquela criança, que estava demasiado entretida a brincar, para se assustar com "polícias" ou com os tais "papões" do meu tempo de menino...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, janeiro 18, 2022

«Há pessoas que não são capazes de nos dar nada, a não ser trabalho e chatices»


Quando ela me disse que «há pessoas que não são capazes de nos dar nada, a não ser trabalho e chatices», notei que havia mais compreensão que mágoa, nas suas palavras.

Mas o pior ainda estava para vir: «Deves saber tão bem como eu, que quando ultrapassamos os cinquenta, tornamo-nos mais compreensivos com os outros. Percebemos que eles não conseguem ser diferentes, mesmo que sejam quase sempre cínicos e hipócritas.»

Limitei-me a sorrir, por saber que não tinha a sua compreensão nem o dom de "perdoar" a quem passa o tempo a brincar com a nossa dignidade.

A única coisa que concordei com ela, foi quando disse que estas pessoas eram mais infelizes que nós, porque a "consciência" não lhes devia dar muito descanso.

Vinha para casa e fiquei a pensar que cada vez sorrio mais e falo menos, quando as conversas têm um travo a bisbilhotice.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, janeiro 17, 2022

Passar o Tempo a "Desconfiar" da Memória...


Trocamos informações, partilhamos documentos, mas raramente falamos dos métodos que usamos em qualquer investigação. Além do mistério que gostamos de alimentar e manter vivo, também fingimos que existem vários caminhos para se apanhar o "fio" de qualquer história.

Quando "sabíamos tudo" ainda era mais complicado. Gostávamos de complicar o que era simples, apenas porque sim. Como não somos muito burros, acabamos por aprender com os erros.

Mas a vida é toda ela, um pouco isso: navegar no erro.

No começo da conversa não estávamos a levar o Rui a sério, quando ele disse que o mais importante é lutarmos contra a "memória". Mesmo que todos o fizéssemos. Mas como nem sempre "ouvimos" bem o que nos dizem...

Quando comparamos documentos, discursos ou entrevistas, "desconfiamos" das memórias, das partidas que elas nos pregam, porque somos demasiado falíveis. Sim, nem sempre nos lembramos do que almoçámos ontem...

(Fotografia de Luís Eme - Penha Garcia)


domingo, janeiro 16, 2022

O "Espírito do Tempo"...

Durante este fim de semana li um artigo de opinião de José Gil (já com alguns anitos), que me deixou a pensar, e a concordar, com o seu ponto de vista.

Numa linguagem mais simplista e menos filosófica, Gil entendia que o presente estava a ocupar demasiado espaço na vida das pessoas, afastando-as do passado (que se tornava cada vez era menos importante na vida das pessoas...), ao mesmo tempo que desvalorizava o futuro, por ele, simplesmente, não "existir".

Penso que com o passar dos anos, esta sua ideia ainda se agravou mais. Até mesmo o presente, apesar da sua "largura", ficou cada vez mais "balofo", sem substância. 

E se o passado é uma fotografia ou um filme a preto e branco, o futuro é algo que pode ser tão "tenebroso", que o melhor mesmo, é esquecê-lo...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, janeiro 14, 2022

Vamos lá "Falar" de Regionalizar, Descentralizar e outras Coisas acabadas em Ar...


Sempre  que se realizam eleições, uma das coisas que é normalmente "empurrada" para as campanhas, é a regionalização

O tema volta às conversas dos jornalistas, dos comentadores, e claro, dos políticos (em especial dos autarcas, a "parte interessada", quase sempre pelos piores motivos, pois sempre olharam para esta provável descentralização, como mais umas "escadas" que os levam ao topo de qualquer coisa...).

Não tenho qualquer dúvida que a regionalização poderia ser positiva para o país, se os políticos pensassem mais nas suas terras e nos seus conterrâneos que nos seus próprios umbigos. Ou seja, se governassem com o pensamento no "serviço público" e não no "serviço pessoal" (a vitória em muitas autarquias locais foi a "sorte grande" para a família e amigos de alguns políticos...).

Penso que, no panorama actual da política portuguesa, a regionalização só iria aumentar a despesa pública e o caciquismo local.

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


quinta-feira, janeiro 13, 2022

Egoísmo e Individualismo não São Sinónimos


Hoje esteve na mesa uma daquelas discussões que, parecem simples, mas que "conversadas", gerem sempre alguma controvérsia.

Éramos três à mesa e eu acabei por ser "derrotado" por 2-1, por achar que o egoísmo não é sinónimo de individualismo.

Argumentei que uma pessoa pode ser solitária e individualista, mas ter gestos solidários para com a sociedade. Ou seja, não vê apenas o seu umbigo à sua frente.

Os meus dois amigos não ficaram nada convencidos, mas também não tentaram que eu mudasse de ideias. 

Para eles era muito difícil esperarem um gesto solidário, de alguém que não morre de amor pelo "colectivismo"...

(Fotografia de Luís Eme - Niza)


quarta-feira, janeiro 12, 2022

O que Está Dentro do Olhar...


É... a beleza muitas vezes está mais dentro que fora no nosso olhar.

É por isso que mesmo quando as paisagens ficam pintadas de cinzento, não deixam de ser deslumbrantes... 

(Fotografia de Luís Eme - Serra da Estrela)


terça-feira, janeiro 11, 2022

«Só me falta mesmo ir preso.»


Os novos sinais na praça são uma confusão, é por isso que pouca gente lhes liga. Mesmo sendo perigoso, uma boa parte das pessoas prefere mesmo é atravessar a rua afastada das passadeiras...

Raramente se vêm polícias nas ruas, mas quando o Rui passou o sinal vermelho, um apito ecoou no quarteirão. Ele continuou a atravessar a passadeira como se não fosse nada com ele. O polícia não gostou e quase correu atrás dele, para lhe pedir explicações. Aliás, para o ameaçar.

O agente falou em multas e outros disparates. Surpreso, o Rui teve o desabafo, «só me falta mesmo ir preso.» 

O que ele foi dizer! O polícia por breves momentos quis mesmo levá-lo para dentro da viatura. Foi salvo do ridículo pelo colega, que ao ver as pessoas a aproximarem-se do "local do crime", achou que o melhor mesmo era continuarem a ronda automóvel.

Quando o Rui nos contou o que lhe acontecera, acabámos por concordar que se há coisa que as nossas polícias não entendem, são os jogos de palavras onde reina a ironia e a metáfora. É muito mais fácil jogar o jogo do cassetete ou da pistola...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, janeiro 10, 2022

Conversas e Silêncios sobre os Negócios do Corpo...


Sabia que ele gostava de pensar as coisas ao contrário, especialmente quando uma ou outra mulher se misturava na conversa.

Mas o que achei mais estranho foi estarem a conversar sobre a profissão que costumam dizer ser a "mais velha do mundo" (nunca percebi muito bem porquê...). 

Uma das mulheres fingia não perceber o porquê de as pessoas venderem o corpo. Não valia de nada falar em "mercado" ou "comércio", na existência de oferta ou de procura. Preferiu sim, dizer que as mulheres eram mais uma vez vítimas do mundo dos homens, onde o normal eram serem exploradas e humilhadas.

Foi quando ele disse que lhe fazia muita confusão, aquela história das mulheres vítimas dos homens, nos dias de hoje, em que a figura do "proxeneta" quase que desapareceu. Se deixar que o interrompessem acrescentou que se os homens pagavam para ter sexo e as mulheres recebiam o preço acordado, não conseguia ver aqui nenhuma exploração, muito menos vítimas. Era apenas negócio.

As mulheres continuavam a não aceitar a situação, muito menos o negócio. E eu sai como entrei, sem oferecer uma palavra que fosse à discussão...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


domingo, janeiro 09, 2022

Saudades de Ir ao Encontro das Coisas...


Provavelmente, já não há muita coisa a fazer nada contra a "velocidade" a que somos obrigados a viver, diariamente. 

Não acredito que a solução seja ir viver para qualquer aldeia remota, onde ainda é possível trocar as voltas ao progresso e viver no "mundo antigo".

Mas gostava de ser eu a ir  ao encontro das coisas... e não serem elas a baterem-me à porta.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, janeiro 08, 2022

«Deixa-te de mitologias. Não há, nem nunca houve, uma idade certa para escreveres o que te apetecer.»


Já tinha saudades de estar alguns minutos numa esplanada a saborear um café e a ouvir, as quase "filosofices", de dois amigos das culturas.

O tempo não tem ajudado muito, muito menos este vírus, que se vai "transvestindo" e continua a atacar pela calada do dia (a noite agora não é de ninguém...). Eu pelo menos não me sinto confortável a fazer sala no interior dos cafés, prefiro as esplanadas, que dificilmente sobrevivem à chuva e ao frio invernosos...

Mas quando o Sol aparece, os rostos mudam logo de semblante...

O Jorge estava mais nostálgico que o costume e fazia "contas à vida". Meio a sério meio a brincar, disse que só não começava a escrever as "memórias", porque ainda não tinha chegado aos 65 anos. Acrescentou que de há uns tempos para cá, era visitado com alguma frequência por algumas pessoas que conhecera e episódios que vivera... ao ponto de ter começado a registar, num pequeno caderno, coisas que achava que valiam a pena ficar escritas.

O Manuel disse que ele fazia muito bem em escrever sobre as pessoas e a sua vidinha, mas sem estar preso a "convenções parvas", acabando mesmo por dizer: «Deixa-te de mitologias. Não há, nem nunca houve, uma idade certa para escreveres o que te apetecer.»

Claro que o Manuel estava a aligeirar a questão. Só depois dos cinquenta é que a memória se começa a tornar mais nítida, começamos a olhar para o que vivemos de outra forma. O que falta muitas vezes é vontade (sem esquecer a arte e engenho...) de as colocar no papel...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, janeiro 06, 2022

A Exploração das "Arcas sem Fundo"...


Estou a ler um livro de contos de Fernando Pessoa.

Não estou a achar muita piada. O ficcionista não consegue esconder-se do poeta e a coisa não resulta muito...

Curiosamente, um dia antes, tinha escrito para mim, que basta termos um nome no mercado, para todo o "lixo" ser publicável.

Mesmo que isso não nos interesse muito como autor, interessa (e de que maneira...) ao editor e à editora.

E na verdade, são raros os escritores que conseguem resistir ao "negócio"... 

Claro que neste caso particular, o poeta Fernando não é ouvido nem achado em relação ao que fazem e "inventam" sobre a sua obra.

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quarta-feira, janeiro 05, 2022

A Memória das Palavras (03)


Há textos que entram para dentro do futuro, quase próximo, como este publicado na revista "Notícias Magazine", escrito por Luísa Costa Gomes a 18 de Maio de 2003. O título (e não só...) é tão actual: "Não saia de casa!"

«Na primeira página, o arquétipo da nossa era: uma jovem asiática de máscara branca na cara. A pneumonia atípica toca a imaginação de todos nós. Suspeita-se de um caso em Guimarães, desmarcam-se todas as viagens à zona Norte. Anda lá qualquer coisa à solta. Está em todo o lado, pega-se pelo ar. Trata-se da primeira epidemia do terceiro milénio e representa na imagem o inferno que os outros são. Não saia de casa. Não se encontre com os outros. Deixe-se estar a ver televisão. O mundo lá fora é perigosíssimo. Se não são os sacanas dos bombistas, é a morte por contágio.»


(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, janeiro 04, 2022

O "Futebolês Político"...


Não deixa de ser curioso, que tenham arranjado algo que ainda mais hilariante e mentiroso que os debates de campanha eleitoral: as "notas" dadas pelos comentadores da SIC e Expresso, depois das "jogatanas" políticas, à esquerda e à direita.

De gente que tem a mania que é credível (mas como não consegue "despir a camisola"...), esperava pelo menos que disfarçassem, que guardassem lá para casa os "ódios de estimação".

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


segunda-feira, janeiro 03, 2022

Quando os Títulos Enganam e os Livros pedem para ser Lidos de Seguida...


Há muito tempo tempo que não lia um romance em apenas 24 horas. E o giro da coisa, foi ter acontecido quase por acaso. 

Como tenho andado em arrumações, houve muitos livros que "submergiram" e ficaram depositados numa estante provisória. "Conflito em Palmyra" de Erskine Caldwell, foi um deles.

Peguei nele na manhã de ontem e acabei de o ler na cama (já era tarde, mas não tinha sono e fui lendo até chegar à última página...), já de madrugada.

Numa conversa sobre livros, o Carlos Alberto disse-me que "Conflito em Palmyra" fora um dos melhores romances que lera. Acabámos por não falar de pormenores, mas uma vez encontrei um exemplar na Feira da Ladra e acabei por o comprar.

O mais curioso, é que o título sugeria-me uma história sobre um dos muitos conflitos do Oriente. Estava longe de pensar que se tratava de uma romance sobre a América sulista e racista, passada numa pequena terreola norte-americana...

(Fotografia de Luís Eme -  Fonte da Pipa)


domingo, janeiro 02, 2022

Os Restos de um "Império"...


Tenho descoberto muita publicidade curiosa, em relação ao "desaparecido" BES, utilizando vários rostos públicos, para lá de Cristiano Ronaldo, durante anos a principal imagem da "marca".

Mas também descobri notícias sobre excelentes fotógrafos, que foram galardoados com o "Prémio BES Photo".

Fiquei a pensar no que seria que todas estas pessoas pensariam acerca do "colapso" deste "império financeiro", que eles ajudaram a popularizar a troco de uns cobres.

Talvez não pensem nada de especial, até por serem completamente alheios às "trapaças" que foram feitas pelos banqueiros. Tratou-se apenas de um negócio para alguns e da valorização artística para outros (além do valor monetário, o Prémio tinha algum prestígio internacional...).

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, janeiro 01, 2022

"A Criança e a Vida"


Por saber que a maior parte dos livros que temos, acabarão por ter a má sorte de não serem lidos, às vezes apenas por terem o selo de "esquecidos". Podem passar anos e anos numa estante (se tiverem pior sorte, podem ficar mais escondidos, dentro numa caixa de papelão guardada no sótão ou na garagem...), foi por isso que fiquei extremamente feliz por uma colectânea que deu muito que falar, ainda antes de Abril (a primeira edição até acabou por ser apreendida...), me ter feito um sinal.

Falo de "A Criança e a Vida", uma colectânea organizada por Maria Rosa Colaço e escrita pelos seus alunos da escola primária onde começou a dar aulas, em Cacilhas.

No seu texto de apresentação ela explica muito bem como foi o seu primeiro dia de aulas: 

«O silêncio que me envolveu era um silêncio pesado, expectante. E no meio do silêncio, eles ali estavam, na manhã que nascia: esculpidos em vento e mar.
Vinham dos barcos ancorados no cais, do bairro de lata, de sabe Deus donde. Traziam nas mãos, em vez de mala e livros - não sei porquê mas traziam - folhas de plátano douradas. O Outono perfumava-lhes os cabelos.
Eram sementes vivas da mais autêntica liberdade e não sabiam nada de preconceitos, nem de palavras, nem de coisa nenhuma.
Olhei-os também em silêncio. Um por um. Longamente. Depois, peguei na régua-apoio que o director me oferecera e dei-a ao que me pareceu mais velho: "Toma! Vai atirar fora." E depois... não o que lhe disse. Mas a fome de ternura era neles como o sol, a chuva e o desconforto. E como éramos primários, pobres e sozinhos, estabelecemos desde aquela hora um entendimento lúcido e discreto. E foi assim que ficamos solidários e Amigos-para-sempre.
Aprendi então que a verdade é uma palavra essencial.
E a lealdade também.»

Sei que o conteúdo do livro pode ter sido "amenizado" pela professora, mas não deixa de ser um documento histórico, que foi traduzido e editado em dezenas de países. E inédito, uma professora dar voz aos alunos em plena ditadura, tem muito que se lhe diga... 

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)