António, o velho pescador nunca andou na escola, porque os caminhos para a lagoa e para o mar ficavam na direcção oposta da aula da dona Aurora...
No início os pais precisavam dele para tomar conta dos dois irmãos mais pequenos e não o deixaram entrar na escola no seu tempo. Depois de crescer um palmo continuava com vontade de aprender, mas a vergonha de não saber ler e de ficar junto dos miúdos pequenos, onde estava o seu irmão Alfredo, também ajudou a que nunca aprendesse a ler.
Logo ele que gostava de histórias e das palavras bonitas que ouvia aqui e ali (e não esquecia...).
Anos mais tarde a sua filha mais nova, a Carmo, além de lhe querer ensinar a ler e a escrever, começou a ler-lhe histórias do livro de leitura. Não conseguiu ensiná-lo mas ganhou um ouvinte atento de todos os textos que estavam dentro dos livros da escola.
Alguns anos mais tarde ela começou a ler-lhe "Os Esteiros", um dos romances do Soeiro Pereira Gomes. Foi a sua estreia com livros a sério. Seguiram-se outros livros que falavam do povo e das coisas que ele conhecia, de Alves Redol, de Romeu Correia, de Manuel da Fonseca, entre outros.
Ainda hoje a sua filha escolhe textos, que muitas vezes são apenas crónicas de jornal, que guarda para depois lhe ler, com todo o amor do mundo.
Há outro facto curioso, o lugar onde os dois mais gostam de se encontrar com as palavras escritas, é rente ao Atlântico, com a cumplicidade das ondas e das gaivotas.
O óleo é de Michael de Bono.