domingo, outubro 31, 2021

A Tentativa de Empurrar a Democracia Ainda mais para o Fundo...


Não tenho qualquer interesse em escrever aqui sobre as "tricas" nos partidos de direita, mas o que está em causa já não são apenas partidos, é a própria democracia. 

A transferência do "vale tudo", recordando personagens como Bolsonaro ou Trump, quando se trata da sua manutenção no poder, só pode prejudicar ainda mais o nosso dia a dia, em que a liberdade já não é o que era.

Já nem se pode falar do princípio do fim do CDS... a coisa já vai muito mais longe. Mas não deixam de ser curiosas as palavras do seu presidente, depois de sair da audiência com o Presidente da República: «Em primeiro lugar o país, depois o partido e só depois as circunstância políticas de cada um. A vida interna dos partidos não deve condicionar o interesse nacional e a necessidade de termos um governo estável capaz de iniciar a recuperação social e económica do pais.»

Palavras essas, que ele próprio deveria seguir, colocando-se em "terceiro lugar", e que também podem servir para o actual líder do PSD...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)



sábado, outubro 30, 2021

A Sinceridade às Vezes faz Doer...


Eu sei que a sinceridade às vezes faz doer. E esse é um dos motivos porque mentimos mais vezes do que queríamos, porque não temos grande prazer em magoar as pessoas de quem gostamos.

Um dia destes fui ver uma exposição e quando saí fiquei com uma sensação estranha, entre a desilusão e a indiferença. Não era o que esperava, vá-se lá saber porquê.

Já no jardim do museu cruzei-me com uma das coordenadoras da exposição, sempre simpática, com quem troquei algumas palavras. Perguntou-me se me tinha encontrado com outra amiga, disse-lhe que não, que tinha decidido ver a exposição por passar ali ao lado (e foi mesmo isso que aconteceu... como faltavam nove minutos para o próximo metro para Cacilhas, achei boa ideia caminhar a pé até casa. E quando reparei no museu, resolvi passar por lá...).

Não quis falar com ninguém porque preferi ver a exposição de uma forma quase anónima. Claro que aquele encontro fez com que a Ana me perguntasse o que achara da exposição e eu não consegui mentir... Disse-lhe que estava à espera de outra coisa. Percebi que ela também estava à espera de outra resposta. Ainda me desculpei com o título, que por ser demasiado abrangente (e ambicioso...), fez com que eu esperasse uma exposição diferente "com mais mar e com mais rio", mas já era tarde para voltar atrás...

Assim que lhe virei costas, senti logo que não devia ter sido tão sincero. Fiquei a pensar que o seu trabalho e criatividade mereciam mais respeito...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, outubro 29, 2021

O Desespero dos "Donos do Lado Direito do Prédio" (quase a ruir)


É provável que o Costa, "quase sem castelo", esteja satisfeito com o panorama que o rodeia, do lado direito da política. E queira que se realizem eleições o mais rápido possível.

Esperto como é, talvez até já soubesse que os actuais líderes do PSD e do CDS iriam fazer tudo para se manterem no poder, assim que lhes cheirasse a eleições antecipadas. Como se lhes fosse possível adiar as contestações internas que provocaram a marcação de congressos para clarificar as respectivas lideranças...

Mas Rio e Chicão tentam a todo o custo adiar os congressos dos seus partidos, por saberem o que os espera. E logo agora que estavam tão perto da meta... 

Quem também deve estar satisfeito é o líder da extrema-direita, que já percebeu que para ganhar votos aos dois partidos conservadores, quase que lhe basta fazer-se de morto.

Para variar, quem continua fora de onda são os comentadores e os jornalistas, que preferem apontar o dedo ao PCP e ao BE, culpando-os de todas as crises, ao mesmo tempo que fingem achar normal as lutas de poder no lado direito do "prédio", quase a ruir (como o da fotografia)...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quinta-feira, outubro 28, 2021

"Uma das Minhas Ruas"...


Gosto muito desta Rua, que fica no coração de Alfama.

A razão não se prende apenas pelas vistas, com as ruelas que sobem e descem ou com o "muito Tejo", que se agiganta lá em baixo, no Mar da Palha.

Numa das várias profissões que tive, por nos vestirmos de preto, éramos conhecidos  pelo "bando dos corvos"...

Recordo com saudade a bela camaradagem que havia, que me ajudou, mesmo sem dar por isso, a tornar-me melhor cidadão.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, outubro 27, 2021

Os Orçamentos Domésticos e o Outro...


Nas ruas os orçamentos são diferentes, muito diferentes do de Estado. Tanto lhes dá como lhes deu que o do Estado chumbe (e chumbou mesmo...). As suas preocupações prendem-se sobretudo com o dinheiro que lhes foge das carteiras todos os dias, porque as reformas congeladas há mais de uma década, nada podem fazer contra a inflação... 

Para alguns, a sobrevivência é quase um milagre. Não compram uns sapatos ou umas calças há vários anos. O dinheiro que ganham é canalizado para a alimentação, para os medicamentos, e claro, para os netos... Não é uma coisa do outro mundo serem eles a pagarem a "mesada" aos seus meninos, porque os seus filhos travam a mesma luta diária, pela sobrevivência...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, outubro 26, 2021

Um "Bailinho da Madeira" (mas sem uma única fatia de queijo...)


Desta vez a "carapuça" só serve mesmo ao Costa, por muito que ele a tente enfiar no Jerónimo ou na Catarina. O PCP e o BE não podem servir apenas quando dá jeito, ou seja, para aprovar orçamentos...

E serve de tal forma, que até se fica com a sensação de que este é apenas mais um "número" do Costa, que ele está mesmo é farto de governar Portugal e os portugueses. 

E até se pode dar o caso de já ter algum lugar à sua espera nas europas, onde o seu talento como "vendedor de feira" deve ser bem conhecido e reconhecido pelos seus pares...

Quem está com uma vontade imensa de anunciar eleições antecipadas é o Marcelo, por muito que tente disfarçar. Até porque um dos poucos poderes que ele tem é a dissolução da Assembleia da República...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, outubro 25, 2021

O "Cinema-Verdade" e o "Cinema-Mentira"


Gosto de ler o João Lopes no "Diário de Notícias", especialmente quando fala de cinema (tal como gostava do Manuel S Fonseca na revista "E", mesmo que este usasse um registo mais descontraído...).

Comungo das suas preocupações em relação ao cinema de qualidade, que vai perdendo público todos os dias porque os filmes de super-heróis, feitos no computador, quase sem história, com efeitos especiais cada vez mais próximos da banda desenhada infantil e juvenil, onde tudo é possível, são publicitados em todo o lado.

Não há como fugir da realidade, o "cinema-mentira" está a bater aos pontos (quase por KO) o "cinema-verdade". E não vale a pena dizer "maldito dinheiro", porque ele consegue comprar quase tudo e quase todos...

São cada vez menos os que vão ao cinema para ver uma boa história com bons actores, que os faça pensar na vida... Porque o cinema já quase não é para eles. A maior parte das fitas são para acompanhar com pipocas e viver noutros mundos, para lá de Marte, onde a diversão procura ir cada vez mais longe na violência  e nos desafios irreais protagonizados pelos actores quase de plástico.

E por hoje ser segunda-feira, lembrei-me que este foi durante  alguns anos, o dia dos "amantes de cinema"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, outubro 24, 2021

A "Navegação de Acaso" do Poeta...


Ao ler um poema ("Sol Invernal") de Nuno Júdice, de um livro com um título muito feliz, "Navegação de Acaso", em que ele fala da cidade de ontem (até tinha ardinas a venderem jornais...) e da cidade de hoje.

O que me chamou mais a atenção dentro do poema foi a quase ausência de cães vadios nas ruas lisboetas na actualidade (muito menos matilhas...). É algo que se percebe, embora os cães gostem de pessoas, gostam ainda mais de liberdade, mas longe das multidões...

Além do poeta perguntar, "em que campo se perderam as matilhas de cães vadios" constrói ainda duas belas imagens poéticas.  Primeiro recorda "o som dos antigos vapores ao entrarem na barra", para depois voltar ao presente e constatar que "os vapores afundaram-se no cais de uma ode marítima". Na  segunda imagem evoca "o pregão dos ardinas a venderem os primeiros jornais do dia"... para depois passar por cima da crise do jornalismo de papel, preferindo anunciar o seu fim através de um uso prático: "os jornais foram queimados por vagabundos que precisavam de se aquecer"...

Sei que a poesia, por si só, "não salva ninguém", mas que nos pode ajudar, não tenho grandes dúvidas. E de mais que uma maneira. Tanto nos ajuda a pôr um "pé na lua" (às vezes é preciso...), como a firmar o outro pé na realidade, oferecendo-nos um retrato do mundo com todas as suas cores.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sábado, outubro 23, 2021

Sim, Somos Pobres e Envergonhados...


A fotografia que publiquei na quinta-feira mereceu alguns palavras de dois amigos, que preferem as conversas nas mesas de café às das "caixas de comentários".

E eles têm razão. A mulher fotografada não é portuguesa e faz parte da "trupe de pedintes profissionais", que depois de um período de acalmia (e sem mercado, com as ruas sem gente...), voltaram a estender a mão nas suas esquinas preferidas e nas portas dos supermercados.

Voltam a ter razão quando dizem que a nossa pobreza mudou bastante, talvez a partir do "cavaquismo" (o Carlos diz que sim...), em que começámos a meter na cabeça que já não éramos pobres, com a ajuda dos bancos que fingiam que nos ofereciam dinheiro para comprarmos casa própria e carros em primeira mão.

E a partir dai, a nossa pobreza envergonhou-se. É por isso que algumas pessoas quase que se disfarçam quando vão buscar alimentos a algumas instituições de caridade...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, outubro 22, 2021

Uma Lisboa Quase Normal


Vou muito menos vezes a Lisboa, porque a minha vida não voltou a ser igual.

Mas cada que visito a Capital, descubro uma cidade que tenta todos os dias voltar ao que se entende por normal, especialmente as pessoas que vão buscar o pão e as azeitonas ao turismo e aos turistas.

Sempre que posso passo pela Graça e por Alfama, porque gosto muito do seu "sobe e desce", do que se vê e não vê. Continuo a passar longe do Castelo, que já deve ter voltado a ter filas intermináveis de gente à entrada.

Como sou uma "ave diurna", limito-me a imaginar que Alfama voltou a ser o bairro com mais fados e guitarradas. Do Bairro Alto nem é preciso puxar pela imaginação, as notícias da televisão mostram os jovens que bebem, cantam e dançam nas ruas, assim como os polícias que lhes tentam "cortar as voltas". 

Os eléctricos e os "tuk-tuks" voltaram a colorir as ruas. A única diferença visível da outra Lisboa, é agora transportarem "mascarados"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, outubro 21, 2021

O Mundo Real e o Outro...


Mesmo que a abstenção continue a não ser um motivo de preocupação para os eleitos, ela é a maior evidência do descontentamento dos portugueses (metade dos eleitores já desistiram de eleger os seus representantes no Parlamento...) pelos políticos e pelos partidos. 

Não vou tão longe como os taxistas, que quando passam pro São Bento, gostam de avisar os clientes para terem cuidado com as carteiras, porque estão a circular próximo da "casa dos ladrões".

Mas gostava que esta casa fosse frequentada por pessoas que conhecessem o mundo real, que a Assembleia da República não se limitasse a ser confundida, a espaços, com o Teatro Nacional D. Maria II ou com o Casino Lisboa, tantos são os números de teatro e os jogos que ali se disputam, diariamente.

Até porque o mundo real é cada vez menos simpático para nós e diz-nos que hoje somos um dos países mais pobres e desiguais da União Europeia...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, outubro 20, 2021

Abusos & Dependências


Há vários anos que os impostos sobre os combustíveis são dos mais apetecíveis para os governantes (os consumos de tabaco e de álcool deixam mais a desejar...), porque eles sabem que se há coisa que os portugueses gostam, é de passear na sua "carripana", sempre que podem (as estradas que ficam entupidas ao fim de semana com o famoso "passeio dos tristes"...).

É por isso que os doidos pelas estatísticas, dizem que no último ano já houve mais de trinta e muitos aumentos de gasolina e gasóleo.

É costume dizer-se que se "tivéssemos dois dedos de testa", fazíamos o famoso gesto do Zé Povinho às gasolineiras e só pegávamos no automóvel, quando não fosse possível utilizar outro meio de transporte.

Penso mesmo que a única maneira de travar estes "abusos" é conseguirmos reduzir as nossas "dependências" e deixarmos as bombas de gasolina às moscas...

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)


terça-feira, outubro 19, 2021

Desobedecer em Nome de um Bem Maior: a Vida...


Aristides de Sousa Mendes recebeu hoje honras de Panteão Nacional.

É uma homenagem mais que merecida, a um Homem, que em nome da Vida, o valor máximo da humanidade, desobedeceu às ordens do ditador que chefiava o governo do nosso país e conseguiu salvar milhares de judeus, do destino traçado pelo nazismo, com a assinatura de inúmeros de vistos de entrada no nosso país. 

Este meu Largo, que gosta de falar da Memória, não podia deixar de homenagear o cônsul Aristides Sousa Mendes, esquecido durante longos anos, neste nosso país, infelizmente tão pouco grato e falho em memória...


«O Partido era uma "desorganização" muito bem organizada»


Os almoços tertulianos de segunda-feira estão de regresso, tal como as histórias sobre pessoas e lugares de Almada. É um encanto ouvir o Chico e o Orlando a explorarem a "memória de elefante" do Jaiminho, quando surgem dúvidas sobre esta ou aquela pessoa, ou sobre a localização exacta de uma antiga casa de comércio ou da morada de um dos seus amigos de infância.

Uma boa parte destes amigos já eram militantes do PCP antes de Abril. É por isso que de vez enquanto lhes escapa uma história, de como derrotavam o medo e "inventavam" qualquer coisa, para "concertar o que parecia não ter concerto", nos momentos de maior angústia. 

Foi também por isso que o António disse que «O Partido era uma "desorganização" muito bem organizada.» Improvisava-se muito, mas bem, às vezes à última hora...

A história que ele me contou era muito parecida com uma protagonizada pelo meu pai, nos anos 1950, pouco tempo depois de ter vindo para Lisboa. História essa que só me foi contada depois dele partir... 

Quando o avô foi preso em Peniche, a irmã era quase a única que o visitava (a Beira Baixa ficava demasiado longe...). O contacto com os familiares de outros prisioneiros políticos aumentou ainda mais o sentimento de injustiça que sentia e que deverá ter sido sempre o maior factor de união à volta do Partido. A prisão injusta de alguém, trazia sempre pessoas novas para dentro da "organização", nem que fosse apenas através de um apoio circunstancial, como oferecer uma refeição ou dar abrigo a algum camarada que precisava de se esconder por umas horas ou uma noite, para evitar a prisão.

Ou seja, um dos quartos da casa da tia do pai, que estava reservado para a visita de familiares, passou a estar também disponível para "hóspedes especiais".

Um movimento estranho ou alguma perseguição, fizeram com que a PIDE assinalasse o prédio onde os tios moravam como "casa de abrigo de comunistas", ao ponto de contratarem os serviços de um vizinho, que morava no andar cima e que tinha as qualidades que eles entendiam serem óptimas para bufo. O mais curioso (ou talvez não...), foi que ele se começou de imediato a gabar das novas funções com uma ou outra insinuação e até ameaça, tanto na padaria do tio como na tasca de frente, como se a partir daquele momento passasse a ser alguém "importante".

O sinal de alerta ficou registado e passaram a ter ainda mais cuidado com a vizinhança.

Nesses tempos havia o costume das vizinhas baterem à porta umas das outras, para pedir sal, açúcar ou outra coisa qualquer. A esposa do vizinho informador era useira e vezeira nestas visitas inesperadas. Entrava sem pedir licença e começava a falar e era um problema para a conseguirem calar e pôr da porta para fora. Foi numa dessas visitas que ela descobriu um jovem, que assim que a viu, escondeu o rosto e foi para o quarto. A tia disse que era um sobrinho que tinha acabado de chegar da província e estava pouco à vontade com as pessoas, mas percebeu logo que ela ficou desconfiada e foi por isso que nem quis mais conversas e encurtou a visita. 

Era quase hora de jantar e o meu pai estava a ajudar o tio a preparar a massa para as primeiras fornadas de pão, vestido de bata branca e com um pano na cabeça. Mal a vizinha saiu a tia desceu até ao rés de chão, fez sinal para o tio subir e contou-lhe o que se tinha passado. O tio sabia que não tinha muito tempo para "salvar a situação". Quando voltou à padaria olhou para o pai de alto a baixo, vestido de branco e sujo de farinha, e deu-lhe indicações para subir e trocar de roupa com a "visita de casa". O jovem percebeu que estava em perigo e disfarçou-se logo de padeiro. Assim que desceu para a padaria o tio passou-lhe uma encomenda para as mãos e deu-lhe uma morada para fazer aquela "entrega", continuando as suas tarefas diárias.

O pai entretanto ficara por casa e um quarto de hora depois receberam a visita esperada de dois homens, que depois de se identificarem e pedirem a identificação do pai e da tia, vasculharam a casa toda. Depois de se certificarem que era verdade o que diziam, foram-se embora deixando alguns avisos e ameaças no ar. Ainda visitaram a padaria (até espreitaram os fornos...), mas o rapaz nessa altura já devia estar longe e em segurança, embora nunca soubessem o que se passou a seguir...

A história do António foi parecida. Alguns movimentos estranhos à volta de uma casa de apoio em Almada, fizeram com que usasse a sua carrinha e uma cómoda para fazer uma entrega de última hora, mas só trocaram de ajudante... a mesma cómoda voltou a descer as escadas de novo. Também deixou o seu "novo ajudante" numa nova morada e não soube mais nada dele...

Sei que me tenho "estendido" um pouco com estas histórias do tempo dos "outros senhores". Mas penso que não havia outra forma de contar estes episódios de outros quotidianos... que mesmo assim, estão muito resumidos.

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)


segunda-feira, outubro 18, 2021

Canções, Revoluções e uma Memória do Adriano...


Durante a infância conheci várias pessoas que eram amigas de um dos meus tios, que tinha a mania das canções e das revoluções. Nessa época eram apenas isso, amigos do tio Zé. Só mais tarde, depois de Abril é que consegui identificar alguns, que se tornaram conhecidos do público (nessa época anda não havia famosos...) devido à música de intervenção.

Nesse tempo estranhámos que o Tio tocasse menos do que devia (embora eu e o meu irmão o "obrigássemos" a tocar e a cantar para nós, quando os dias ficavam quase "parvos" na velha casa da avó...), sem imaginarmos que ele nessa altura tinha mais intervenção  política que musical nestes encontros.

Só muitos anos depois é que soubemos que fora do PCP e que quando partiu para Berlim, em 1975, estava completamente desiludido com o rumo da Revolução e com a crescente influência de vários "oportunistas" dentro do Partido...

Foi um tempo de descobertas... 

Entre outras coisas, descobrimos que as muitas viagens que fazia eram tudo menos inocentes. E que a sua "promoção" a chófer particular daquele memorável grupo de "perigosos cantores esquerdistas" no começo dos anos 1970, não se deveu apenas ao facto de ser um dos poucos jovens com carta e carro. Sabíamos que ele, como qualquer jovem, era menino para trocar de turno no seu emprego só para ter a felicidade de viajar para qualquer recanto, de Norte a Sul,  onde se realizassem espectáculos de canto popular. Só não sabíamos que também havia trabalho político pelo meio... 

Em 1972 e 1973 chegaram a organizar quase excursões a algumas festas populares. E não era nada estranho terem de regressar "a casa" antes do fim dos espectáculos, por estradas secundárias, porque a GNR e os senhores que tinham a mania que eram agentes secretos, gostavam muito pouco da palavra Liberdade, mesmo que esta estivesse apenas dentro de canções.

Foi também muitos anos mais tarde, que eu e o meu irmão soubemos que fomos usados algumas vezes como "figurantes", nestes encontros políticos, que para nós eram apenas boas aventuras, com música, brincadeiras e piqueniques deliciosos, onde nos fartávamos de correr e saltar. 

A partir de certa altura deixámos de ser convidados. Estranhámos e fartámo-nos de chatear o Tio para nos voltar a levar, sem sonharmos que havia por ali o dedo da Mãe, que desconfiou de qualquer coisa... 

Toda esta prosa para dizer que foi num desses encontros que conheci o grande Adriano (que para mim, dentro dos meus seis anos, parecia um gigante...), que na época não passava de mais um amigo do Tio. 

Quando oiço a "Trova do Vento que Passa", lembro-me sempre do fim de tarde desse passeio que demos pelos campos (foi sempre mais saudável conspirar no meio da natureza...). Cansado de tantas correrias regressei a casa às suas cavalitas e de mais uns quantos "tios" e "tias", que tornavam estes encontros tão agradáveis para crianças inocentes, que queriam era brincar e comer as coisas boas que faziam parte do piquenique...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, outubro 17, 2021

As "Quatro Estações" de Outubro


Hoje foi um daqueles dias com Primavera, Verão, Outono e Inverno.

Mas teve muito menos Inverno que Verão. Caíram alguns pingos, mas nada de significativo, nem sequer conseguiu perfumar a terra, como eu tanto gosto...

Quando fui beber café na esplanada, senti na pele que este tempo já começa a ficar desconfortável, se usarmos apenas a habitual indumentária de Verão, de apenas duas peças de roupa.

Curiosamente ninguém fala da água das barragens ou da agricultura. Está tudo mais preocupado com o orçamento, a fazer apostas de quem será o "limiano" de 2022...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sexta-feira, outubro 15, 2021

Cinquenta Anos é Pouco Tempo...


Olho para o nosso País e reparo como cinquenta anos é pouco tempo...

É verdade que Portugal cresceu muito. Uma das coisas mais visíveis é a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Quase que se erradicaram as barracas, de Norte a Sul. A educação e a saúde tentam chegar a todos.

Onde pouco mudou foi na pequenez mental, no cinismo e no egoísmo de algumas pessoas, que fazem tudo para se perpetuarem no poder. Pouco preocupados com os outros, fazem apenas o que é melhor para eles, é por isso que lutam com todas as suas forças para manter o velho sistema desigual de "castas". 

Durante algum tempo cheguei a pensar que eram as pessoas que continuavam a ter medo de se sentirem cidadãos iguais, tanto nos direitos e nos deveres. Ingenuidade minha.

Voltando à minha primeira frase, onde se nota mais que meio século é pouco tempo, é na justiça (tribunais), na segurança (polícias) e na religião (igreja católica), onde permanecem bem vivos os velhos hábitos de estar quase sempre ao lado dos "mais fortes", como se a sua principal função fosse  manter bem visível a linha que separa o "mundo dos ricos" e o "mundo dos pobres". E com tantos "guardiões" do tempo velho, dificilmente nos conseguiremos sentir como iguais, mesmo que tenhamos uma das constituições mais avançadas do mundo...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, outubro 14, 2021

Dar uma Volta com "Os Passos em Volta"...


Voltei a ler, mais de vinte anos depois, "Os Passos em Volta", de Herberto Helder, o poeta-escritor madeirense, que optou pela falta de comparência nas apresentações, feiras ou entrevistas, deixando que os livros falassem por eles próprios.

Ninguém me tira da cabeça, que nada disto foi inocente, ele devia saber que esta sua "não existência" só o poderia transformar, mais tarde ou mais cedo, numa figura mitológica da nossa literatura.

É por isso que lhe vou fazer a vontade e deixar que "Os (seus) Passos em Volta", falem...

É quase um livro de viagens. É quase um diário. É quase um poema. Quase... mas na verdade é apenas um livro de contos. Contos que comunicam (pelo menos comigo fartaram-se de conversar...), que questionam (também me perguntaram algumas coisas...). À medida que fui lendo as palavras do Herberto, fui-me sentindo "perdido", para estar ao mesmo nível dele, tentei evitar alguns absurdos e ficar apenas preso à sua linguagem, que parece, e é, simples...

A única coisa que continua a ser uma dor de cabeça é o "mundo" que vai saindo e entrando das páginas do livro. Embora se use cada vez menos esta palavra, vivemos numa "caixa" cada vez mais surreal...

Para terminar, só posso dizer que este é mais um daqueles livros que li cedo demais... A experiência de vida e também de leituras, fez com que agora lesse muito mais "páginas" e que encontrasse mais "personagens", quase a quererem cravar-me um cigarro. Ainda bem que não o fizeram, evitaram-me o embaraço de ter de dizer que não fumo...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, outubro 13, 2021

A "Legenda" sem Música (de ontem)


De vez em quanto escrevo coisas quase incompreensíveis, porque eu próprio não sei bem o que dizer sobre alguns acontecimentos, que ajudam a "perder a fé" na espécie humana. Espera, "perder a esperança", talvez faça mais sentido.

O filho de um amigo meu toca num banda e convidou-me (com bastante insistência) para estar presente no primeiro concerto a sério pós pandemia. A sua música até é do meu agrado, anda pelo jazz e pelo blues, sem fugir da zona do rock.

Só não estava à espera que fosse "impossível" entrar. Nem mesmo pela famosa "porta do cavalo" (havia uma fila enorme também para a porta mais pequena, para os amigos e familiares...).

O que me espantou mais foi a loucura daquela gente. Gritavam, barafustavam, saltavam para cima uns dos outros, apontavam o dedo, ameaçavam, etc. Afastei-me um bocado e fingi perceber o porquê daquela algazarra, com noventa e nove por cento daquela gente sem máscara. Até fui capaz de pensar que qualquer vírus, com dois dedos de testa, fugia dali a sete pés (pois é, só que a covid 19 é outra coisa, mais fina do que parece e nem sequer tem testa...).

E foi por isso que ontem até inventei uma saída airosa, de um filme, onde nem sequer entrei. Mas, sim, vim com o Pedro para baixo e dissemos aquelas coisas e outras muito piores.

Ficámos com a sensação de que as discotecas e bares com música ao vivo não vão estar abertos muito tempo, e não é por falta de álcool (há sempre reservas e mais reservas de bebidas que queimam quase todas as "células do bom senso"...). Aliás, basta ver e ouvir as notícias, com violência diária dentro das noites lisboetas e portistas, e até mortes...

Polícias? Vi dois. Mas estavam ainda mais afastados que eu. Não deviam gostar de ouvir gritos (quem é que gosta?).

São coisas que sempre existiram? Então fechamos os olhos e a vida continua. As morgues e as urgências dos hospitais também servem para estes "vírus"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, outubro 12, 2021

«Não ligues, são novos e só olham para fora. Gostam de fingir que não têm "dentro", que são ocos»


Estive por ali, dois ou três minutos. Depois virei costas a toda aquela gente, irritada com o vulcão que nunca mais aparece, para virar a cidade de pernas para o ar. 

Não me lembrava de ver tantos dedos apontadores, tanta gente chateada porque nunca mais chove. 

Vim-me embora, nem me dei ao cudado de fingir que vinha fumar um cigarro à porta do salão.

Já na rua acabei por sorrir, porque estava por ali um amigo, que fumava mesmo um cigarro. Ele estava à espera de companhia para descer até ao centro da cidade.

Enquanto caminhávamos de regresso ao nosso bairro, percebemos o quanto estávamos velhos, Era uma tarefa quase impossível entender aqueles jovens rebeldes, estávamos mesmo fora deste tempo. No nosso tempo, éramos diferentes, nunca quisemos agarrar a lua sem no mínimo saltar.

O que estranhámos mais foi não haver qualquer possibilidade de diálogo. Foi quando o Pedro me disse, sem conter o riso: «Não ligues são novos e só olham para fora. Gostam de fingir que não têm "dentro", que são ocos.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, outubro 10, 2021

A Lisnave Voltou a Ter Vida por Dois Dias


O homem olhava para a baixa, do alto do morro, onde ainda permanecem as marcas de uma dos maiores estaleiros navais da Europa, curioso.

Foi o barulho dos motores dos carros de corrida que lhe chamou a atenção, mesmo sem saber que se trata do "Almada Extreme Sprint". Olhou e descobriu "vida" naquela mistura barulhenta de carros e pessoas, que ia durar dois dias.

Não desceu. Preferiu ficar por ali, com o seu pequeno cão, que era fácil de perceber que estava interessado em tudo menos nas corridas...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, outubro 09, 2021

O Velho que de Longe a Longe sai das Catacumbas


De longe a longe, o velho sai das catacumbas, olha-se ao espelho e escolhe o seu ar de "sábio". Depois aperta o nó da gravata vem até à janela, espreita para todos os lados, volta para dentro e imagina que está a dar uma das suas aulas monótonas, de economia, misturada com finanças e de ciência política. 

Como continua a gostar de engolir cassetes, as suas palavras permanecem presas ao século passado. É capaz de dizer coisas como: «No meu tempo é que era bom» ou então: «Ainda está para nascer alguém tão bom como eu.» Consegue passar o dia inteiro neste registo, inchado como um pavão e com o ar mais sério do mundo.

Poucos conseguiram caracterizar tão bem  e com tanta simplicidade, o seu tempo, como o realizador Fernando Lopes. Consigo escutar a sua voz singular a dizer: 

«Quando não sabes o que fazer e tens carro, vais para a estrada. As pessoas hoje quase todas têm carro. Herdámos isso do cavaquismo. E também a ideia dele do progresso: ter carro, frigorifico e televisão e nada na cabeça. Não é por acaso que vivemos tão intensamente o 25 de Abril e estamos hoje tão despolitizados.» ("Jornal de Letras", 13 de Setembro de 2006)

O problema é que em 2021 estamos muito pior que em 2006. Além de estarmos despolitizados e descultarizados, tentam enfiar-nos coisas na "cabeça vazia".

(Fotografia de Luís Eme - Covilhã)



sexta-feira, outubro 08, 2021

O Futebol e as "Pinceladas" Surrealistas...


O futebol há muito tempo que é um mundo estranho e mal frequentado, por ser um negócio cada vez mais apetecível. Mas não são só os milhões que atraem gente do piorio, é também a facilidade com que se consegue colocar dinheiro nas várias "máquinas" que lavam mais branco, mesmo sem "skip"...

É também este "vale tudo" que lhe oferece uma carga pitoresca e humorística (para quem o olha à distância...). Aparece sempre um ou outro artista que lhe oferece umas "pinceladas" surrealistas, que o aproximam dos espectáculos mais fantásticos do mundo, onde quase tudo é possível.

Talvez isso ajude a explicar o porquê do presidente do Barcelona dizer que estava esperançado que Lionel Messi lhe dissesse que jogava de graça no clube, que o amor falasse mais alto que os milhões... Só pode ser uma brincadeira, mesmo dita com o ar mais sério do mundo por Laporta. 

Sei que a memória das pessoas é curta, mas a dos amantes do futebol ainda consegue ser mais "curtinha"... Até parece que não lhe fizeram a "vida negra", no seu último ano e meio de contrato,  para no final ele acabar por deixar o clube a custo zero...

E cá no nosso burgo, também não deixa de ser curioso, ouvirmos o presidente que se diz diferente dos outros, afirmar que na sua profissão como médico, ganhava mais dinheiro que como dirigente do Sporting (para justificar o pedido de aumento da administração do futebol profissional...). Até parece que alguém lhe apontou "uma pistola" para ele se candidatar à presidência do clube leonino, ou que uma das premissas da sua eleição era ganhar um ordenado idêntico, ou superior, ao que ganhava na sua profissão...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, outubro 07, 2021

Passos e Pensamentos em Volta


Estou a reler "Os Passos em Volta" de Herberto Helder (li-o cedo demais, compreendo muito melhor hoje o que o autor quer dizer que ontem...).

Sem me querer embrulhar com a sua qualidade (ou antes, singularidade), tenho gostado bastante da forma como ele tem comunicado comigo. Faz-me pensar em muitas coisas, quase sempre diferentes das suas histórias...

E como eu gosto que os livros e os filmes "falem comigo"... Que me dêem tempo e espaço para inventar outras histórias, outros episódios, mesmo que seja apenas na minha cabeça...

(Fotografia de Luís Eme - Tavira)


quarta-feira, outubro 06, 2021

O Sucesso Também se Explica...


Ontem ao fim da tarde estive a ver o "Futebol Total" (do canal 11, da FPF), que tinha sido transmitido no começo da madrugada.

Sei que uma boa parte das pessoas que visitam o "Largo" passam ao lado dos futebóis, mesmo dos de salão. Mas eu só me estou a referir a este programa futebolístico (não, não é desportivo...), porque o convidado da primeira parte foi o seleccionador nacional de futsal, Jorge Braz, que além de se ter sagrado Campeão do Mundo, há quatro anos que é considerado o melhor treinador do Mundo de futsal.

Quem assistisse a este programa, ficava a perceber que nada disto aconteceu por acaso. Jorge Braz além de revelar um conhecimento profundo sobre a modalidade, conhece como poucos a natureza humana. E é através deste conhecimento que consegue tirar o máximo rendimento dos seus jogadores, aproveitando sempre que lhe é possível o seu talento e a sua criatividade. Tem plena consciência que são eles dentro do campo que podem e devem fazer a diferença.

Estava a ouvi-lo a pensar o quanto Fernando Santos tinha a aprender com ele, sobretudo a nível táctico, já que apenas concede liberdade ao seu "mais que tudo", não aproveitando o talento e a criatividade de um João Félix (tal como Simeone...), de um Bernardo Silva ou de um Bruno Fernandes.

(Fotografia de Luís Eme - Corroios)


terça-feira, outubro 05, 2021

«Um homem é um homem e um bicho é um bicho»


A "notícia ao minuto" lida por um dos meus companheiros de café dentro do seu telemóvel não só interrompeu a conversa de circunstância que estávamos a ter, como serviu para falarmos à "italiana", como tanto gostamos. 

Ele disse-nos que quase 100 animais tinham sido retirados de um alojamento em Elvas, por viverem em condições que violavam as normas do bem estar dos animais, segundo divulgação do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas.

Houve logo alguém que falou do "excelente negócio" que eram os animais de companhia. Acrescentando que não devia existir um prédio em Portugal onde não morassem pelo menos um cão e um gato. A pandemia também foi "acusada", tal como a "esperteza humana", que aproveita todas as oportunidades de negócio.

O Carlos foi o mais crítico ao que estão a fazer aos animais, contrariando a sua humanização, assim como os partidos e as associações que defendem coisas que também violam o bem estar dos animais. Foi ainda mais cáustico, mesmo usando o humor: «Alguém perguntou aos cães se queriam usar alguma camisola para o frio ou gabardine para a chuva?», seguido de um palavrão.

Mas foi ainda mais longe, quando acrescentou que as pessoas estavam a esquecer-se de algo muito importante. Ficámos em silêncio à espera do que aí vinha, sem imaginar que era algo tão óbvio: «Um homem é um homem e um bicho é um bicho.»

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


segunda-feira, outubro 04, 2021

"Crónica de uma Morte Encenada"


«Resolvi perceber até que ponto o quase milhar de amigos virtuais, se preocupava comigo. Foi por isso que fiz uma daquelas brincadeiras "macabras", que alguns famosos também fazem, em busca da atenção perdida. Escrevi um último texto, de despedida, com estas palavras: 

"Foi muito bom estar na vossa companhia. Ajudaram-me a que estes últimos tempos fossem menos dolorosos. Infelizmente, amanhã já cá não devo estar. Grato pela campanhia peço-vos que aceitem o conselho do grande Raúl Solnado e façam o favor de ser felizes".

Durante três dias fiz-me de morto, embora continuasse com o telemóvel ligado e com o e-mail activo. Curiosamente, ou talvez não, ninguém me ligou ou enviou qualquer e-mail. Limitaram-se a encher o meu facebook de mensagens de adeus, que foram partilhadas pelo mundo fora (provavelmente chegaram à China). Ou seja, a minha "morte encenada" foi praticamente uma festa. Nem sentiram curiosidade em saber se este "adeus", era mesmo um adeus. Ou o porquê... se foi doença ou uma daquelas complexas vontade de partir.» 

Nota: este texto é uma ficção pura e dura, baseado apenas em conversas com alguns amigos "facebokianos", que não só acharam graça à "partida", como alimentaram esta minha ideia, com coisas ainda mais mirabolantes, que as que escrevi.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, outubro 03, 2021

Viagens sem Rede (Dentro e Fora de Mim...)


Não tenho grandes dúvidas de que faço parte ao grupo de pessoas que precisam mais de silêncio e de solidão, que da confusão do quotidiano.

Sinto-me melhor a caminhar sozinho, ou a dois (mais que dois podem ser uma multidão...), por lugares calmos, onde os sons do mar, dos pássaros ou das árvores, não são abafados pelas vozes humanas.

Sei também que o gosto da escrita encontra mais palavras dentro do silêncio dos espaços abertos e isolados que no burburinho citadino.

Claro que este meu pensamento é controverso, porque também gosto de andar pelas ruas movimentadas, ou de estar sentado numa esplanada ruidosa com amigos. Lugares tantas vezes inspiradores, pelas palavras que andam à solta de mesa em mesa...

Mas nós somos o que somos, mesmo os que gostam da palavra coerência, não conseguem fugir de uma ou outra contradição...

Toda esta conversa porque ainda há amigos que insistem que devia ter conta do facebook, para estarmos mais próximos. O meu último argumento, de não gostar de visitar centros comerciais, especialmente aos fins de semana, não surtiu grande efeito, eles disseram que também não se passeiam por lá...

Mas talvez eu não queira nem precise dessa proximidade...

E é aqui que descubro que sou mais solitário do que pareço. Tirando uma ou outra pessoa, de quem tenho bastantes saudades, de ver e de conversar, estou longe de querer voltar aos tempos de liceu ou de revisitar esta ou aquela namorada...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sábado, outubro 02, 2021

O Poder da Imagem...


Paro muitas vezes, aqui e ali, para olhar os rostos com publicidade, que estão espalhados pelas ruas e largos das cidades. 

Publicidade que está sempre a mudar, sempre a ver-nos de maneiras diferentes.

Reparo que cada vez ocupam mais espaço, que cada vez se valoriza mais um ou dois pormenores. O olhar continua a ser essencial, assim como a expressão facial. São eles os primeiros a captar a nossa atenção, só depois é que aparecem as palavras...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, outubro 01, 2021

O Regresso dos Almoços Cheios de Palavras...


O convívio com os amigos vai voltando, aos poucos, sem ser preciso correr contra o tempo.

Foi também por isso que hoje estive num daqueles almoços cheios de palavras, que se prolongam pela tarde dentro, em que as histórias que se cruzam com o ontem, o hoje e o amanhã.

Os amigos mais antigos tentaram abraçar o "ontem", que é cada vez mais esquecido, por este tempo que parece não ter passado, presente ou futuro. Às vezes parece que é apenas uma corrida atrás do "nada"...

Foi por isso que um rapaz ligeiramente mais novo que eu, a partir de certa altura, resolveu seguir o caminho mais simples, culpando os "jovens" por todos as mudanças a que vamos assistindo. Falou da sua "vida fácil" e do excessivo "proteccionismo dos pais".

Discordei dele e disse saber que os meus filhos vão ter uma vida muito mais complicada que a minha, porque o mundo do trabalho mudou muito, e para pior. Ao ponto da precariedade começar a ser encarada com normalidade pela própria sociedade. Precariedade essa que está a deixar marcas na sociedade, começando a "destruir" coisas como o conceito da família tradicional, com casamento, filhos, casa própria, etc, porque o individualismo ameaça derrotar a toda a linha o colectivismo...

Acrescento: Na minha apresentação mais recente de um livro, do meu amigo Orlando, quase no final, usei uma expressão que é entendida muitas vezes como comunista, de que "um homem sozinho não vale nada". Mas ela é sobretudo humanista. E embora contrarie estes tempos em que o capitalismo se embrulha com o liberalismo e promete virar tudo de pernas para o ar, continua a fazer todo um sentido, porque somos demasiado "frágeis" para vivermos sozinhos, fechados em qualquer "torre de castelo".

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)