Tenho acompanhado a polémica entre os historiadores Rui Ramos e Manuel Loft, devido à História de Portugal coordenada pelo primeiro e agora distribuída gratuitamente com o "Expresso" em fascículos.
Tenho uma posição pessoal, que embora não seja tão extremista como a de Manuel Loft, também é crítica em relação à posição, ainda que "soft", do branqueamento da ditadura salazarista levado a cabo por alguns historiadores de direita, como tem sido o caso de Rui Ramos.
Posso compreender que os herdeiros das famílias que dominavam o país no Estado Novo, tenham quadros de Salazar, pendurados nas suas casas, o apelidem de "salvador", ao mesmo tempo que sentem uma saudade imensa dos tempos em que eram donos de uma boa parcela de Portugal.
Já não compreendo que um historiador tente brincar com números, não resistindo à tentação de comparar os nossos mortos com os da Alemanha de Hitler, da Itália de Mussolini e da Espanha de Franco, para definir a existência ou não de um regime fascista.
Como sou de esquerda, acredito que só não houve mais vitimas durante a ditadura salazarista no nosso país, porque uma boa parte da nossa população era ignorante, politicamente falando, e também devido a esta maneira especial de ser, este "português suave" que aguenta quase tudo, até ser governado ano após ano, por políticos que enriquecem, ao mesmo tempo que hipotecam o país...
Sem querer desmontar nada, sei que esta polémica, a par de algumas dezenas de livros lidos, me explica que haverá sempre duas leituras da história do século XX, uma de direita e outra de esquerda. Uma mais generalista e benevolente com o Estado Novo, outra mais pormenorizada sobre todas as atrocidades cometidas durante os 48 anos de ditadura.
Embora não saiba qual será o lado certo e verdadeiro da história no futuro, estou convencido de que a mentira continuará sempre com a perna curta...