quinta-feira, janeiro 30, 2014

A Rua dos Homens Antigos


Na rua dos homens antigos, as mulheres não sentem vontade nem curiosidade de entrar no único café existente, que quase se confunde com uma taberna antiga, graças à gritaria, ao cheiro a vinho e aos clientes, incapazes de fazer o típico quatro com as pernas.

Talvez se recusem a entrar naquele lugar, por repararem que os homens salivam de uma maneira estranha quando elas passam e aproveitam para fazer um concurso de piropos, fraquitos e ordinários.

Na rua dos homens antigos o café espera que chegue o homem da guitarra, para se desligar a televisão e apagarem algumas lâmpadas, para que se transforme num retiro de fado vadio, onde quase todos podem cantar e imitar alguém, desde o Fernando Maurício ao ti Alfredo, mesmo que sejam péssimas imitações.

Na rua dos homens antigos ainda passam por lá alguns marinheiros fardados, de azul no Inverno e de branco no Verão.

Na rua dos homens antigos, quase todos fingem que não sentem a falta das mulheres...

O óleo é de Júlio Pomar.

quarta-feira, janeiro 29, 2014

A Alma de Pássaro


Quando ele me confessou que nunca tinha perdido a sua "alma de pássaro", limitei-me a sorrir.

Ele estava certo, era verdade... 

Só alguém que continuasse a "voar" por todo o lado, podia pintar assim, sem se preocupar com as "amarras" ou "rótulos" que passavam o tempo a impingir-lhe.

Ele não é o único, há mais gente assim, gente que passa ao lado dos anos quase sem envelhecer. É por isso que não se reconhecem no corpo que se colou à tal "alma com asas", muito mais gasto que as suas vontades e desejos...

O óleo é de Masha Kolmogorova.

segunda-feira, janeiro 27, 2014

A Espera...


As mulheres sempre foram mais de esperar que nós, mesmo que não o façam deitadas e quase sem roupa.

Talvez hoje exista um pouco mais de equilíbrio, mas penso que os homens gostam mais da liberdade e menos de compromissos.

Não sei se são apenas os homens antigos que gostam das ruas e das casas que os enchem de promessas. Sei que muita coisa mudou. 

É sempre assim, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muito para além da poesia e das canções...

O óleo é de Alexander Klingspor.

sábado, janeiro 25, 2014

Escrever? Nem Por Isso...


Se ler é ler... é algo que nos reconforta, escrever já está num outro patamar.

Aliás, hoje já nem sequer devem existir aqueles cursos de caligrafia, onde se aprendia a escrever letras bonitas.

Com o hábito de se escrever directamente em computadores, telemóveis e afins, é natural que os dedos vão perdendo a "ginástica" e deixem de saber "desenhar" palavras.

Talvez no futuro, escrever em papel, utilizando os dedos da mão e um lápis, uma caneta ou esferográfica, volte a ser uma actividade lucrativa, como era no século XIX...

O óleo é de Wolstenholme Jonathan.

sexta-feira, janeiro 24, 2014

Vamos Ler Sempre


Não costumo discutir coisas próximas do "sexo dos anjos", como sejam alguns anúncios amargos sobre o fim disto ou daquilo.

Quando até já decretaram o fim da história, percebe-se que estamos num tempo em que se pode dizer praticamente tudo, sem que abramos muito a boca, de espanto.

Foi por isso que quando me perguntaram se eu acreditava que um dia iríamos deixar de ler, de ter prazer na leitura, disse que não, mesmo sem pensar muito.

Acredito que vamos ler sempre, ainda que possa ser uma leitura diferente no futuro, mais avançada, quase por códigos. Mas vamos comunicar sempre uns com os outros, através das palavras.

Vão existir sempre pessoas a dizer e a escrever coisas diferentes, que nos irão despertar a atenção, pela sua beleza ou pelo seu conteúdo...

O óleo é de Eva Navarro.

quinta-feira, janeiro 23, 2014

Claro que é Possível Viver uma Nova Vida


Quando escrevemos quase todos os dias, acabamos invariavelmente por nos repetir, mesmo sem darmos por isso. 

Claro que muitas vezes dizemos as mesmas coisas porque nos apetece. E hoje apetece-me voltar a falar da mulher, mãe de dois filhos, que deu a volta por cima, depois de uma década de maus tratos, que quase lhe destruíram a vontade de viver. 

Mas foi preciso ir parar ao hospital, para que as pessoas mais próximas  percebessem, finalmente, que ela precisava de apoio, não podia voltar a viver com o cobarde com quem casara. Sujeito que provavelmente continua a enganar-se a si próprio, jurando na roda de amigos que nunca lhe tocou com um dedo. O azar dele e de tantas bestas do seu quilate, são as perícias policiais...

Nunca lhe perguntei - nem vou perguntar - o porquê de tantos anos de sofrimento.

Vergonha? Sim. Sentimento de culpa? Também.

Vergonha de contar e de ser mal entendida, Culpa, que mesmo não sendo sua, acabou por se colar ao seu corpo, depois de ser tantas vezes empurrada...

Dois anos depois é outra mulher, voltou a gostar de se ver ao espelho, voltou a gostar de viver. Trabalha e já interiorizou que não precisa de nenhum homem para ser feliz.

O óleo é de Penelope Long.

quarta-feira, janeiro 22, 2014

A "Diabolização" dos Pais


Felizmente as primeiras notícias da manhã foram boas para os familiares da criança de dezoito meses desaparecida na Madeira, e para todos nós, claro.

Ontem ouvi uma série de comentários pouco abonatórios para os pais e para os familiares, para o seu descuido, ao ponto de algumas pessoas com uma imaginação mais mórbida, falarem de um novo caso "Maddie". Acrescentando inclusive que desta vez a "rainha da Inglaterra" não estava cá para os salvar.

Não fui capaz de tecer qualquer comentário. 

E hoje senti-me feliz e aliviado por o menino ter aparecido, por de alguma maneira colocar um ponto final nas muitas "telenovelas" que ganhavam vida dentro das cabecinhas da gente que se alimenta diariamente do quotidiano dos outros.

Mas há um aspecto que me deixou preocupado em todo este episódio: a crescente "diabolização" dos pais, mesmo sem qualquer tipo de prova, pelo menos na "praça pública", onde passam logo para o topo da lista dos suspeitos em qualquer caso de desaparecimento de crianças.

Felizmente continuo a acreditar que os pais são os primeiros guardiões dos filhos que colocam no mundo e que fazem tudo para que estes sejam felizes, mesmo num país que não é para crianças, para jovens ou para velhos, como é o nosso...

O óleo é de Jesus de Percival.

terça-feira, janeiro 21, 2014

Procurar Ser Diferente


Ao ver esta escultura de António Pujia, senti que estava perante a pose mais habitual para a fotografia, de quase uma mão cheia de escritores e afins.

Nunca tirei nenhuma fotografia a segurar o queixo, nem quero tirar...

Embora seja uma questão de gosto pessoal, talvez procure fugir à vulgaridade da pose dita "intelectual", que nem faço ideia se tem algum significado especial. 

Provavelmente muitos artistas acham-na no mínimo inspiradora...

segunda-feira, janeiro 20, 2014

Talvez o Mundo Tenha Menos Diferenças


Não tenho dúvidas nenhumas que é o facto de sermos diferentes, que faz com que nos sintamos atraídos pelo chamado sexo oposto.

É por isso que me faz confusão que alguns homens se comportem como mulheres e algumas mulheres como homens (refiro-me a heterossexuais...).

Se há uma coisa que detesto quando estou num grupo de homens, é ver alguém a criticar, tudo e todos, com aqueles pormenores pequeninos, que normalmente não fazem parte do nosso "mundo".

Talvez a culpa seja minha, por continuar a ficar espantado e achar alguns homens, autênticas "mulheres". Provavelmente continuo a gostar de olhar os outros, segundo a imagem que tenho de "mundo masculino". Ou seja, de homens demasiado distraídos para ligarem a coisas mundanas, que normalmente saltitam nas mesas das mulheres.

O óleo é de Óscar de Mejo.

sábado, janeiro 18, 2014

É Preciso Sorrir!


Quase que me passava ao lado, que hoje se comemora o "Dia Internacional do Riso".

Num tempo em que quase só se lembramos do circo, no Natal, em que se chama "palhaços" a políticos, quando se tem medo de dizer que são mentirosos, incompetentes  e corruptos, terei de lembrar estes Artistas, que continuam a fazer os possíveis e os impossíveis, para nos roubar um sorriso, e que são únicos.

O óleo é de  Lima Junior.

sexta-feira, janeiro 17, 2014

Olhar para o Lado e Ver Outra Coisa


Quando a vida nos começa a correr mal, é normal baixarmos os braços e sentirmos vontade de desistir.

Uma das palavras de ânimo mais estafadas que recebemos, é aquela frase, que pensamos ser portuguesa - e que se calhar é universal -, para olharmos para o mundo que nos rodeia, onde não faltam exemplos de quem   ainda vive pior que nós, e mesmo assim resiste, sem vontade de desistir... 

Este olhar para o lado e para baixo, está de alguma forma ligado à religião católica. Durante a nossa história quase milenar, os seus educadores sempre se esforçaram em "vender a nova" (cada vez mais velha), que o "paraíso" é para aqueles que eram capazes de dar a outra face como Jesus, ou seja, os humildes e subservientes.

Mesmo sem concordarmos com esta "linha castradora", acabamos por intuir que se  as camadas sociais mais vulneráveis, vivem e resistem a estes tempos, nós também o conseguiremos fazer. Mesmo que acabemos a viver num simples quarto ou até debaixo da ponte ...

A natureza humana tem muito que se lhe diga...

O óleo é de Clara Gangutia.

quinta-feira, janeiro 16, 2014

O Meu Machismo e Preconceito Revelam-se em Pequenos Nadas


Embora não seja um praticante assíduo do "machismo" e do "preconceito" (até por uma questão de educação, os meus pais nunca foram preconceituosos...), de vez em quando lá reparo em algumas distracções estranhas...

Um exemplo? Quando vejo uma mulher a fumar, esforço-me quase sempre por ver a sua falta de estilo a "cigarrar"...

O óleo é de David Hosie.

quarta-feira, janeiro 15, 2014

O Ruca e os Pianos que Dançam


O Ruca nunca quis ser um músico clássico, foi por isso que fingiu que não tinha talento e conseguiu convencer os pais a abandonar as aulas da professora Beatriz.

Eles estavam longe de imaginar que nesses tempos já ensaiava umas notas jazzisticas na casa do Fernando, que tinha vontade de criar uma "jazz-band".

Nunca disse nada aos pais, nem mesmo quando se começou a esgueirar às quintas, onde animava um restaurante, que a partir das onze se transformava em "piano-bar".

Sem nunca se esquecer do curso de direito, continuou a tocar sempre que era desafiado. 

Sentia-se extremamente livre longe dos "clássicos", ao ponto de se achar mais músico de circo - o que quer que isso fosse - que de salão.

Ainda hoje é assim, no bar da Matilde, onde adora colocar o boné de lado e imitar o estilo dos pianistas extrovertidos dos "sallons" do Oeste, conseguindo colocar toda a gente aos pulos...

Uma vez disse-me que um bom piano para ele, tem de desafinar e dançar.

O óleo é de Lima Junior.

terça-feira, janeiro 14, 2014

Luto por Eusébio nas Ruas Lisboetas


O homem de cor, provavelmente moçambicano como Eusébio, cuja fotografia trazia numa pequena moldura a tiracolo, caminhava lentamente à nossa frente.

Trazia no braço uma tira preta, das que se usavam noutros tempos, para assinalar o tempo de nojo por algum familiar.

Não sei se as pessoas que se cruzavam com ele, pensavam que o sexagenário podia ser parente de Eusébio, ou se apenas mais um "louco" recebido de braços abertos pelas ruas lisboetas...

A Rita, sempre com mais coragem que eu, perguntou-lhe a razão daquele luto e ele com simpatia, respondeu: «Eusébio foi a única pessoa na vida que só me deu alegrias.»

Compreendemos e respeitámos o homem, sem lhe fazer mais qualquer pergunta. A Rita deu-lhe uma nota de cinco euros e recebeu de troco uma vénia, um sorriso e ainda algumas palavras simpáticas com a sua pronúncia africana: «muito agradecido minina. E seja feliz, sempre».

segunda-feira, janeiro 13, 2014

Dia de Cristiano Ronaldo


Cristiano Ronaldo ganhou pela segunda vez a "Bola de Ouro", prémio para o melhor futebolista do mundo.

Emocionou-se bastante quando recebeu o prémio, para provar que é um ser humano como qualquer um de nós, apesar de tratar por tu os "Deuses do Olímpo".

domingo, janeiro 12, 2014

A Existência de Deus


A existência de Deus é das coisas mais estranhas que nos cercam.

São poucos os que sentem sinais da sua presença entre nós. Não basta ir à igreja, ele nem sempre está lá. Aliás, das coisas que mais confusão me fazia na infância era a sua capacidade de estar em todo o lado...

Há pelo menos três categorias de pessoas no campo religioso: os crentes, os indiferentes e os não crentes.  Parece-me que os primeiros são cada vez menos. Infelizmente uma boa parte deles tem pouco a ver com Jesus. Normalmente sentem-se pessoas "iluminadas", que estão acima do comum dos mortais, que com as suas orações estão a um passo do céu.

João não acreditava em Deus, mas a partir dos setenta, passou a ser mais aberto, até achava que se Ele existisse, lhe daria um sinal.

Quando ficou viúvo decidiu ir viver para uma aldeia do interior, onde tinha as raízes paternas. Foi um recolhimento voluntário, onde esperava acabar os seus dias em paz, e se possível sem muito sofrimento.

Ele escreveu um quase diário, onde registou os seus últimos pensamentos. 

Foi no seu caderno, que me foi oferecido pela tia Laura, que fiquei a perceber que não conseguiu encontrar qualquer sinal de Deus.

Escreveu sobre todas as pessoas que foram morrendo na aldeia. Deixou bem claro que não encontrou Deus. Ficou ainda mais descrente ao perceber que Deus estava longe de proteger os mais desfavorecidos, que morriam agarrados à dor, sem terem dinheiro suficiente - e até vontade - para ir para um hospital da Cidade.

Concluiu que o dinheiro era mais importante que Deus na sociedade actual. Isso explicava em parte a melhor relação dos padres da paróquia com os senhores da aldeia, que com os mais desfavorecidos...

O óleo é de Karen Offutt.

sexta-feira, janeiro 10, 2014

O Poder e a Classe Média


Os poderes (todos) não gostam de ser contrariados, mesmo os que se fingem democratas. Gostam ainda menos de quem sabe o que quer, quem tem cultura e conhecimentos suficientes para defender os seus interesses.

É por isso que todos os políticos com tiques autoritários, têm tendência a destruir a Classe Média, pois é lhes mais fácil governar num país em que as pessoas são facilmente colocadas nos dois grupos sociais tradicionais:  ricos e pobres.

Neste começo de século, a grande batalha do poder económico e político (confundem-se cada vez mais...) foi destruir a tal Classe, que de uma forma natural destrói o fosso entre ricos e pobres. É culta, vive com alguma independência económica e gosta pensar pela sua cabeça (algo que é sempre perigoso, pois até podem pensar em revoluções...).

Eles esquecem-se é que não há nações fortes sem uma Classe Média forte. Portugal um bom exemplo, a destruição da Classe Média, destruiu a economia do país.

E por muitos recuos que se verifiquem nas sociedades, é impossível voltar ao estado feudal. Se este "empobrecimento" começou com o poderio economico da China, acredito que a revolta (apesar de terem um regime ditatorial bem estruturado...) social também começará no país do Sol Nascente, farto em desigualdades e explorações.

O óleo é de Vita di Milano.

quarta-feira, janeiro 08, 2014

A Voz, o Encanto e a Vida


Estive indeciso se devia colocar a imagem de um instrumentista ou de uma cantora.

Decidi-me pela cantora, porque o Ruca é demasiado discreto. 

Almoçámos um dia destes, com a música da chuva a fazer-nos companhia. Apesar do lugar ser pouco badalado, estava por lá uma artista da rádio e da tevê, que fez questão de nos cumprimentar antes da sair e acabou por ser tema de conversa.

Ela e o seu homem, com a sua habitual cara de poucos amigos e com o seu comportamento quase de "proxeneta", ao qual nem faltam umas estaladas de quando em vez no dia a dia do casal.

Embora eu estranhasse este comportamento, o Ruca disse que era comum no meio artístico, até mesmo entre casais do mesmo sexo. Há sempre alguém que vive à sombra de uma "estrela" e, provavelmente por complexos de inferioridade, tem uma atitude demasiado possessiva, quase sempre com a sua complacência e o seu amor, próximo da cegueira.

A vida, sempre ela, a querer afastar-se dos romances e dos filmes românticos e a mostrar-nos que muitas "vedetas" são mais inseguras que as personagens que encarnam nos palcos e nas telas...

O óleo é de Lima Junior. 

terça-feira, janeiro 07, 2014

A Poesia do Mar


O poeta diz que o Mar é sobretudo para contemplar e abraçar. Nunca para desafiar.

Claro que se há mais de quinhentos anos os portugueses pensassem desta forma, não tinham iniciado a epopeia dos descobrimentos...

E nem vou falar dos pescadores. Menos ainda dos surfistas das ondas gigantes.

Ou seja, o poeta normalmente é derrotado pelas circunstâncias da vida, que tanto pode ser a vontade imensa de descobrir, de correr atrás do novo, como a simples necessidade de sobreviver...

É por isso que o poeta sorri quando o Mar se revolta e mostra o quanto é indomável. Fica ainda mais satisfeito quando as ondas destroem o sonho de todos aqueles que querem ter uma casa na praia...

Sorri e fala com as ondas violentas e sonoras, enquanto contempla e abraça o Mar.

O óleo é de Tom Sierak.

segunda-feira, janeiro 06, 2014

Mesmo Sendo um Lugar Comum...


Mesmo sendo um lugar comum, vou voltar a falar de EUSÉBIO.

Tenho pena que as televisões tenham agora este hábito de querer mostrar tudo, transmitindo horas intermináveis sobre a vida de quem é grande e parte (o mesmo já tinha acontecido com Mandela, e acontecerá com a próxima grande figura a deixar-nos...). Torna-se quase "tóxico" e obriga-nos a mudar de canal, para respirarmos e percebermos que existe mais mundo.

Felizmente isso não belisca em nada EUSÉBIO, que ainda vivo, já tinha conquistado a "eternidade". Acho que isso aconteceu porque ele nunca quis ser mais do que o que realmente era, conseguindo inclusive passar ao lado de todas as questões paralelas ao futebol. 

Era recordado pelo que sempre foi: um FUTEBOLISTA FORA DE SÉRIE. Provavelmente é por isso que é a única pessoa de cor sobre quem nunca ouvi qualquer dito racista. 

Esta unanimidade só foi possível porque EUSÉBIO foi de facto um REI dentro dos relvados e pelados. E fora de campo manteve sempre uma postura de serenidade e simplicidade (que só alguns eleitos conseguem manter, passando ao lado de todas passadeiras vermelhas que lhe foram estendidas, tendo a noção exacta da sua mortalidade, mesmo quando os seus feitos o aproximaram das entidades divinas. Maradona e Pélé, por exemplo, nunca lhe chegaram, nem chegarão aos calcanhares, tal é a sua ânsia de quererem ser os "melhores do Mundo"...).

Penso que foi esta sua grandeza de carácter, que fez com que fosse, merecidamente, considerado por tantos milhões, por esse mundo inteiro fora, como o verdadeiro "KING".

Esta é a fotografia que mais gosto de EUSÉBIO, da autoria de Nuno Ferrari, no Mundial de Inglaterra de 1966.

domingo, janeiro 05, 2014

Eusébio, o "Pantera Negra", Deixou-nos...


Quando abri o "site" de "A Bola", fui surpreendido com a notícia do desaparecimento de Eusébio, durante anos e anos, o melhor futebolista do nosso país (só Cristiano Ronaldo é que o conseguiu suplantar, já na era da globalização...).

Apesar de ter sido um jogador de dimensão mundial, nunca perdeu a sua simplicidade.

Enquanto o futebol existir, Eusébio continuará a ser recordado por todos nós, pela sua qualidade e facilidade em chutar à baliza, marcando golos incríveis. Acho que foi o primeiro jogador do Mundo inteiro com esta característica. Não era um "artista" de rodriguinhos, de fintas para aqui e para ali, para ele o futebol só tinha um sentido, na direcção da baliza contrária, o seu alvo predilecto, atingido tantas vezes, deixando os guardiões quase de "olhos em bico".

Tive o grato prazer de o entrevistar para o "Record", em 1990, quando dava os primeiros passos no jornalismo.

Tenho a certeza que também lhe devo a ele o facto de ser benfiquista. 

Obrigado Eusébio!

sábado, janeiro 04, 2014

A Sorte dá um Trabalho do Caraças


Eu já sei há algum tempo que a sorte dá um trabalho do caraças.

Hoje tive mais uma vez a prova, através da organização de um espectáculo de homenagem a um amigo que fez há dois dias a bonita idade de noventa anos e que se chama Fernando Barão.

Correu tudo bem. Tenho a certeza de que as pessoas que encheram o Salão da Incrível Almadense, saíram satisfeitas com o espectáculo e com o ambiente fraterno que se viveu e que teve vários pontos altos, desde o número alegre de teatro "O Barão de Cacilhas" (que escrevi e até interpretei um papel pequenino...) ao excelente filme realizado pelo Pedro, neto do Fernando, com fotografias, pedaços de filmes e os testemunhos da filha, do genro, dos netos e dos bisnetos, cheios de amor, mas sem qualquer ponta de lamechismo.

Mas o melhor de tudo foi sentir a felicidade do homenageado e dos seus familiares e amigos próximos.

E que bom é ter amigos como o Carlos, o Orlando e o Chico! Fomos mais uma vez uns autênticos "mosqueteiros" a dobrar as várias adversidades (a última aconteceu dois dias antes do espectáculo, quase com a ameaça velada de uma não participação...) que nos surgiram pela frente.

O óleo é de Heidi Palmer.

quarta-feira, janeiro 01, 2014

Até Podia Ser uma Janela


Olho para o quadro de Pierre Roy e sei que ele pode ser várias coisas, depende apenas do nosso olhar e também da nossa vontade (ou não) de encontrar outras coisas...

O quadro que mora dentro do quadro, pisca-nos o olho, porque quer ser uma janela, com vista para os campos, num daqueles lugares raros onde ainda passa o comboio a vapor.

É importante olharmos para o mundo em todas as direcções, mesmo para aquelas que nos parecem inacessíveis. Ou vou olhar, sempre. E se puder, parto em busca de outros ângulos. 

E vou continuar a fazer questão de pensar com a minha cabeça. Mesmo que passe por teimoso (e até burro...).