quinta-feira, junho 29, 2023

Quando o Vento Sopra e Acorda os Sentidos...


Tudo começou de manhã, cedo. 

Acordei com o seu sopro forte, que poderia muito bem ser um rugido. O Vento era mais uma vez, o porta-voz da natureza, e dizia que podia quase muito.

E durante o dia fez-nos o favor de ir varrendo a tal nuvem gigante que chegou do Canadá, cujos vestígios dos incêndios pintaram o céu de um amarelo quase acinzentado. Durante a tarde olhei para o espaço e da janela do lado sul já se via o azul, ao contrário da janela norte (curiosamente, virada para o rio).

O melhor estava reservado para a noite. A Lua voltou, tal como as Estrelas, que são possíveis de avistar da minha janela com toda a nitidez, graças à largueza Tejo.

Até apetece dizer que o melhor "Rio do Mundo" faz com que quase tudo seja possível ao olhar...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quarta-feira, junho 28, 2023

Línguas, víboras, venenos e camaradagem...


Há muito tempo que não assistia a um "desaguisado" na via pública entre mulheres, embora perceba que este tempo é especial, pois vive-se de extremos, tanto ao nível da comunicação como das emoções. 

O mais normal no dia a dia é assistirmos a um silêncio de vozes, nas ruas e nos transportes públicos, a visualização do mundo que habita dentro dos "smartphones" é quem mais ordena em todo o lado. Quando se ouvem vozes, normalmente são excessivas, que tanto podem ser de alegria como de tristeza ou até de raiva...

Não fiquei parado a assistir a discussão, mas ainda escutei palavras como "víboras", "línguas cheias de veneno", "ordinárias", "putas"... e entretanto já estava distante.

Continuei a caminhar e a pensar que normalmente o ambiente de trabalho entre mulheres é pior que entre homens. Não só se protegem-se menos umas às outras como são capazes de aplicar mais "golpes baixos", quase que vale tudo. 

No "meu mundo" a camaradagem continua a estar mais associada aos homens. Há mais códigos de conduta entre eles, ligados à lealdade e à honra (ou pelo menos havia)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 27, 2023

O hábito de se abreviarem palavras...


Há já algum tempo que se poupa nas palavras. 

Sei que a velocidade com que se comunica hoje, graças às populares mensagens, ajuda a que se abreviem muitas palavras. Mas como acontece em quase tudo, também existe alguma preguiça, tão natural no ser humano.

Um dos efeitos mais visíveis desta "poupança" é o empobrecimento do nosso vocabulário. Apesar da sua formação superior, é normal que os meus filhos, quando escutam uma palavra menos usual, me perguntem o seu significado...

Mas nem era sobre isso que queria falar. Hoje quando me perguntaram a data de nascimento, em vez de só falar de números, como de costume, substitui o 9 pelo Setembro.  

E soube-me tão bem dizer Setembro! Soou-me tão bem sentir a palavra que indica o mês em que nasci!

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 25, 2023

O jornalismo, o "achismo" e a verdade (ou a falta dela)...


Noutros tempos, nem se pode dizer que passaram assim tantos anos, a verdade era só uma. 

Essa coisa de cada um de nós "ter a sua verdade", é apenas mais uma patranha, que é boa para proteger e alimentar mentirosos.

Infelizmente os políticos e os próprios jornalistas são quem mais multiplica as várias "verdades" que circulam por aí, em simultâneo, sobre o mesmo assunto.

Isso tem acontecido com a "novela" sobre a TAP, onde a única coisa que é certa, é que existem várias pessoas com responsabilidade, que são capazes de mentir com os dentes todos (se fosse verdade a história infantil que nos contam que por cada mentira que dizemos nos cai um dente, a maior parte dos políticos tinham  dentes postiços...).

Infelizmente o jornalismo também já não procura a verdade, prefere alinhar as notícias ao jeito das "telenovelas", deixando sempre um bocadinho da notícia para o dia seguinte.

É também por isso que é cada vez mais difícil perceber o que se passa na Rússia e na Ucrânia. Mesmo os militares que agora são comentadores, são capazes de dizer coisas completamente opostas uns dos outros, como se falassem de guerras diferentes. Defendem mais os seus pontos de vista e as suas preferências, que a verdade, que até parece ser moda estar ausente das televisões, que querem é "espectáculo"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, junho 24, 2023

Não, isto não é calor de Verão, é calor do Deserto...


As pessoas distraiam-se no sábado de manhã. Embora estivéssemos à sombra o dia prometia ser daqueles de nos enchermos de calor, com os termómetros a passarem dos quarenta de Norte a Sul.

Por ser feriado e por ser sábado, houve quem brincasse com o assunto e dissesse que devia ser proibido acumular feriados com fins de semana. Ninguém ligou. 

Pois é, parece que até o humor se está perder-se...

Para mudar de assunto, alguém falou de um desfile que iria percorrer as ruas da cidade, para festejar o cinquentenário de Almada, ao fim do dia. Olhámos uns para os outros sem saber grande coisa. A culpa era nossa, nenhum tinha "facebook"...

Numa conversa cruzada, os mais "beligerantes" diziam que era desta que Putin ia para qualquer coisa melhor, ao jeito dos ditadores, quando acontecem revoluções.

Talvez fosse já efeitos do calor, dizerem-se tantos disparates juntos. Talvez...

Eu que sempre gostei de climas temperados e que adoro o microciclo do Oeste (mesmo que a minha praia tenha nevoeiros matinais frios...), estava a pensar que isto não é calor de Verão, é calor do Deserto...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


sexta-feira, junho 23, 2023

«Gostava de saber quem foi o 'inteligente' que inventou a mentira de que só os burros é que não mudam»


Todos estávamos de acordo, que éramos muitas coisas, às vezes quase ao mesmo tempo, e que podemos sempre mudar, ao contrário do que se gosta de dizer por aí.

Foi quando o Carlos com o seu humor peculiar disse: «Gostava de saber quem foi o 'inteligente' que inventou a mentira de que só os burros é que não mudam.»

E ele estava coberto de razão. Estes animais podem ser teimosos, mas são tudo menos "burros" (apesar do baptismo 'racial'...) Sempre que podem, escolhem o melhor pasto que puderem, e se estiver Sol escolhem uma boa sombra. E mais importante ainda, dão coices a quem os incomoda e não quer que "mudem"...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


quinta-feira, junho 22, 2023

"Descobertas" quase ocasionais, no meio de tantas "distracções" (que podem ser fatais)...


Não sei como era antes da Revolução de Abril, mas penso que nem mesmo a PIDE e as outras autoridades, conseguiam combater as nossas "vulnerabilidades", quase naturais (uma linha fronteiriça com muitos quilómetros, tal como a costa de mar).

Quem queria fugir do país a salto, conseguia-o, fosse para fugir à guerra, fosse para procurar uma vida com mais sentido material. Claro que tinha sempre de pagar a alguém... Muitas vezes dentro do próprio poder (os guardas fronteiriços não "fechavam os olhos" de graça...).

Hoje continuamos com as mesmas características, mas com menos repressão e vigilância (o fim das fronteiras com a entrada na União Europeia agravou o problema...). Não é por isso de estranhar que sejamos um dos pontos mais apetecíveis do Velho Continente para todos os tipos de tráficos, com relevância para o da droga e dos seres humanos. 

Um dos indícios dos aumentos destes crimes são as apreensões de droga (que são os melhores indicadores de que entra cada vez mais no nosso país...) e a descoberta de emigrantes ilegais, aqui e ali, que além de explorados, quase que vivem em "escravidão" (os exemplos na agricultura intensiva do Alentejo, na apanha de bivalves nas margens do Tejo ou até em pretensas academias de futebol falam por si...).

Fico com a sensação de que só agora é as autoridades estão a acordar para este flagelo social, devido a "descobertas" quase ocasionais. Ou então através do velho método de sempre: a denúncia anónima...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 21, 2023

O espectáculo noticioso leva-nos à indiferença...


Sei que não é grande conversa, mas como houve alguém que depois de passar os olhos pelas notícias filtradas que são oferecidas por telemóvel, disse que apesar das "telenovelas" diárias do CMTV, se matava e se morria, cada vez mais no nosso País, perante a nossa indiferença.

Esta última parte foi uma "boca" para nós, "los outros", que preferimos falar de livros, teatro ou cinema, em vez desta realidade que é transformada numa coisa doentia, que parece um espectáculo, por mais degradante que possa parecer.

Ninguém duvidou do facto. De certeza que se morre muito mais em Lisboa ou no Porto, mas quase ninguém nota. Sempre foi assim. O normal é dar-se mais realce ao desaparecimento de alguém que vivia sozinho em qualquer aldeia e foi descoberto sem vida, ao fim de meia dúzia de dias. 

O Carlos com o seu humor quase escuro disse: «Felizmente já não há agricultores, já não se mata e morre por um palmo de terra, com uma sachola...»

Ninguém lhe respondeu, com palavras, sorrisos ou asco. Pois é, estamos mesmo indiferentes...

E depois falou-se de "mensageiros". Muitos nomes vieram à baila. Apesar do que dizem as audiências, todos os que estavam ali sentados, com chávenas de café vazias à sua frente, diziam que sempre que lhes aparecia um "milhazes" ou um "marques mendes" pela frente, mudavam de canal...

Chega? Claro que não.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 20, 2023

Coisas do Arco da Velha da Escola e da Vida (com e sem arte)...


O ensino tem coisas do arco da velha.

Embora as escolas estejam todas em ebulição, com os professores divididos e com uma boa parte dos alunos satisfeitos, por ter sido um ano com mais "folgas" do que as que esperariam no início do ano lectivo.

Por continuarem a ouvir a palavra "respeito" ou slogans revolucionários como os de que "a luta continua", com insistência, pressentem que o próximo ano vai ser também de alguma "folgas". E ficam tudo menos tristes. O estarem melhor ou pior preparados para os estudos superiores, é coisa que fica para depois.

Quase que ia escrever "malditas palavras", mas elas são tudo menos isso, porque estes dois parágrafos já estão aqui a mais, mas começo a escrever e as palavras quase que se "atropelam".

Tinha pensado falar de outra coisa, de "Arte Bruta" (entre nós finge-se que não existe...), mas vai ficar para depois. Depois de um telefonema bastante elucidativo com um dos meus amigos pintores, fiquei mais esclarecido sobre este género artístico.

Finalmente, vou falar do que queria. Das tais coisas do arco da velha do ensino...

Depois de descobrir uma reportagem na RTP2 sobre "Arte Bruta" (vou vê-lo completo, daqui a pouco), no intervalo do jogo pobrezinho da selecção, pensei na minha entrada para o ciclo preparatório, de como me "roubaram" a criatividade. Eu que sempre gostara de desenhar (muito graças à mãe que me comprava cadernos lisos para eu riscar, quando ainda não sabia ler...), de repente vi-me preso a uma disciplina de régua e esquadro e fui deixando os rabiscos para depois...

Tudo isto para dizer que a escola dá-nos muitas coisas, mas também nos tira outras. 

Pois é, essa coisa "do mundo perfeito". como todos sabemos, não passa de uma ilusão... 

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, junho 19, 2023

A Dificuldade em Contrariar a "Ordem Natural das Coisas"...


Embora hoje existam vários cursos de liderança, estes nem sempre vão ao encontro dos seus destinatários, de quem realmente exerce o poder. Normalmente são os quadros médios que frequentam estas acções de formação. Isso acaba por ter no mínimo uma vantagem, mesmo que estes não exerçam funções de chefia, ficam a saber o que se deve, ou não, fazer com os superiores e com os subordinados (numa boa liderança, claro).

Mesmo que não possam (ou não queiram...) contrariar a "ordem natural das coisas", olham com mais nitidez para este País, que está habituado a lideranças que gostam de usar mais a força que a razão, que são fortes com os fracos e fracas com os fortes.

As trapalhadas dos governos locais e nacionais (não acontece apenas com o governo do Costa, que provavelmente é o mais escrutinado de sempre...) são um bom exemplo de quem quase "lambe as botas" aos primeiros-ministros, presidentes de municípios ao mesmo tempo que dão "patadas" nos secretários de Estado, nos adjuntos e nos chefes de serviço. Passa-se o mesmo na generalidade das empresas e instituições públicas.

Penso que só quando conseguirmos quebrar esta regra, é que a mediocridade será colocada no devido lugar. Algo que por este andar, poderá acontecer no "dia de são nunca", lá para a tardinha...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 18, 2023

A Solidão na Obra de Edward Hopper


Há pouco estive a arrumar uns catálogos de arte e acabei por folhear um sobre a obra de Edward Hopper.

Voltei a reparar que há por ali, um traço comum e dominante: a solidão humana.

Há quase sempre pessoas sós. Ou estão sozinhas no mundo ou têm um mundo só delas.

Também há muitas janelas, para olharem o Mundo... Delas e dos outros.

Mesmo quando aparece alguém acompanhado, não deixa de dar mostras de estar só. Pelo menos foi o que senti com a mulher de chapéu e vestido verde, sentada no café, na mesma mesa de um homem, que está de costas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 17, 2023

A Lisboa dos "Turistas" e dos "Campistas"...


Eu sei que em Lisboa não há pontes para todos, muito menos espaço debaixo delas para se acampar (o preço por metro quadrado deve acompanhar o da habitação...), mas é no mínimo triste o que se está a passar por quase toda a Cidade.

Estão montadas centenas de tendas nas avenidas, nos jardins e nos largos da cidade, com a complacência das autoridades locais, que fingem não ver, para terem menos um problema para resolver...

O resultado de mais um atropelo a esta cidade sem espaço para tanta gente, é estar cada vez mais imunda. Cheira a mijo por tudo o que é canto. 

Acredito que o problema não é dos turistas (a maioria são finórios e vão as cafés e hotéis satisfazer as suas necessidades...), nem apenas dos nossos "sem-abrigo" crónicos. Há muitos emigrantes  (que são com toda a certeza três ou quatro vezes mais que os números oficiais, para não me alongar muito nas contas...) ilegais a viver na rua, quase todos abandonados e escravos das drogas, que em vez de viverem, vegetam pela Capital.

Tanto o Alcaide da Cidade como o Presidente do Conselho de Ministros e o líder da oposição não devem andar a pé pela cidade. Preferem passar "a correr", dentro dos seus carros velozes, a conversar ao telemóvel em vez de olharem para as ruas de Lisboa (e de vidros fechados, para não terem de "snifar xixi"...). 

São todos bons a "assobiar para o lado", e a esperar que este Sol derreta as "bolas de neve" que crescem por todo o lado...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 16, 2023

O "1984" e os cães caseiros que ladram cada vez menos...


Não sei se os cães domésticos de hoje mordem, sei sim que ladram pouco... muito pouco mesmo.

Digo isto porque a minha rua de trás, por ter zonas verdes (mesmo que sejam mais para o amarelo...) próximas, é um espaço privilegiado de passagem pelos donos e respectivos canídeos. Mesmo assim, é raro ouvir o ladrar de um cão.

Penso que isso se deve ao facto de os pobres animais serem "educados como gente" e serem quase obrigados a tornarem-se uns bichos silenciosos (imagino que devem ser "comprados" com biscoitos...).

Pese o exagero, lembrei-me do "1984", porque parece-me que estes cães de trazer por casa, ao passarem por estes "centros educativos de humanos", perdem quase tudo os que tornava animais de rua.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, junho 15, 2023

«As miúdas são mais crescidas que nós, em todas as idades»


Por uma coisa quase insignificante, o Rui ofereceu-nos uma frase, com a qual todos concordámos, com sorrisos e sem abrir qualquer "guerra de sexos", entre três homens e duas mulheres.

Ainda o estou a ouvir dizer: «As miúdas são mais crescidas que nós, em todas as idades.»

Mas foi ainda mais longe quando acrescentou: «Podemos ter vinte anos e continuamos a ser demasiado infantis, na forma como enfrentamos alguns problemas.»

O Carlos deu mais uma achega, a pensar na filhota: «Uma miúda com dez anos já quer ser uma mulher. Quer falar e vestir-se como uma mulher... Nós com essa idade ainda andamos a brincar com carrinhos.»

Claro que ele estava a falar dele, da sua infância, quando falou nos carrinhos, mas o exemplo que deu estava certo. 

Nós normalmente não temos a mesma pressa de crescer, que as miúdas. Nem fazemos tão cedo o papel de "adultos"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 14, 2023

Usos, Culturas e Gentes...


Ainda só me sinto um bocado "usado", mas vou percebendo, que com os anos - mesmo que a partir de certa idade o normal seja usarmos óculos, nem que seja para ler e ver as coisas com mais nitidez -, conseguimos ao olhar para tudo o que nos rodeia, ver mais longe e com mais largueza.

É por isso que compreendo cada vez menos a forma como a cultura ocidental trata as coisas "usadas", incluindo pessoas, empurrando-as para o "cesto" das inutilidades ou para o "lixo"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, junho 12, 2023

A Nova "Idade Média " e a "Era da Desigualdade"...


Há sempre meia-dúzia de pessoas que conseguem ver mais longe. Normalmente são ajudadas pela desconfiança e também por algum pessimismo, em relação a quem governa no País, na Europa e no Mundo.

Mesmo assim, fiquei surpreendido pela "pontaria" de Fernando Dacosta, que a 10 de Novembro de 2005, já escrevia assim, na "Visão":

«Uma nova Idade Média emerge trazendo consigo uma nova Era de Desigualdade que, desapiedadamente, provocará a eliminação dos que não poderão viver mesmo trabalhando.
A mentalidade de mendigo faz-se pandemia propagada (veja-se o que sucede connosco) por políticas fiscais que tiraram aos que “têm pouco” para salvaguardar os que “têm muito”. Isso apesar de a Europa produzir três vezes mais do que há 40 anos utilizando menos 30% da mão-de-obra.»

Esta revelação está longe de ser uma surpresa, na actualidade, onde as várias crises que se viveram, em vez de "acalmarem" o capitalismo, ainda o tornaram mais "selvagem". O curioso é contarem habitualmente com cumplicidade dos governos, que adoram fazer-lhes as vontades, fingindo não perceber que os  "ricos" estão cada vez mais gananciosos, encaixando perfeitamente nos "Vampiros" do nosso Zeca Afonso.

Até parece que estão a preparar o terreno para o regresso da "luta das classes" e da "revolta popular"...

(Fotografia de Luís Eme - Arealva)


domingo, junho 11, 2023

A ilusão de que é possível "viver sem existir" (parte dois)


«Deve ter curiosidade em saber como vim parar à rua.»

Não tinha. Mas preferi não responder à frase irónica. Limitei-me a dizer-lhe que a vida é quase sempre mais complicada do que parece.

«Tenho duas versões e nem sempre sei qual é a verdadeira. A número um era que estava farto da vida que levava, demasiado certinha. A número dois foi que não aguentei o rombo que levei com a troika, desemprego seguido de divórcio.»

Eu tentei ajudar: «Talvez seja um pouco das suas...»

«Talvez sim, talvez não...» O homem continuava a jogar com as palavras. Podia estar errado, mas fiquei com a sensação de que estava a dizer-me que não devia falar do que não sabia...

Foi quando o homem começou a querer dar-me quase um tratado de filosofia.

«Com os problemas a avolumarem-se cada vez mais, a grande vontade que eu tinha era de "desaparecer". Mas desaparecia para onde? Não tinha um lugar, uma pessoa que fosse à minha espera...»

E continuou. Eu estava ali para tudo menos para o interromper...

«Acabou por ser o que fiz. Um dia de manhã sai da casa que ainda partilhava com a minha ex-mulher, apenas com a roupa no corpo e com o dinheiro que pus nos bolsos. Era menos de duzentos euros. E nunca mais voltei. Não trouxe nenhum documento comigo. Estava decidido a "deixar de existir". Acreditava que era possível viver sem cartões de identificação ou sem outra marca qualquer da minha existência.»

«Possível deve ser. Mas deve dar algumas chatices...» Acrescentei eu, agora sim, curioso, mesmo que aquela história não fosse apenas uma invenção.

«Claro que é possível. Ando por aqui e ali, há oito anos. Nem tudo foi fácil, mas passado todo este tempo sinto-me mais livre, mais desligado de tudo. Pode não acreditar, mas é uma sensação de alívio não ter família, não ter um lugar, não ter nada, a não ser o que trago junto ao corpo. Agora sim, posso dizer que vivo sem existir.»

Apetecia-me fazer-lhe uma dúzia de perguntas, destruir-lhe aquela leveza, aquela ficção de "viver sem existir", mas não fui capaz. E também não tive tempo.

Porque, entretanto, foi ele que se levantou. Agradeceu o café com uma vénia e sem mais palavras virou-me as costas, escapando pela primeira esquina que lhe apareceu à frente.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 09, 2023

A Ilusão de que é possível "viver sem existir" (parte um)


A meia dúzia de casos que conheço de pessoas que acabaram a viver na rua, não faz com que tenha um desejo muito grande de me embrenhar em qualquer estudo sociológico.

Mesmo assim, continuo a pensar que a maior parte dos casos está ligada à toxicodependência e a doenças mentais, num país que decidiu escolher o mais fácil: oferecer "uma vida normal" aos maluquinhos.

Foi por isso que dei alguma atenção ao sujeito que devia ter menos uns anos que eu, que me perguntou se lhe pagava um café. Não estava muito faladar nessa manhã e limitei-me a acenar que sim e fiz sinal à menina do café para servir o rapaz.

Não sei se foi por eu estar sozinho, se por ter vontade de conversar, que ele se aproximou com a chávena na mão e perguntou se se podia sentar. Voltei a acenar a cabeça, oferecendo-lhe um novo sim, mas preparado para ir embora, se começasse a sentir-me incomodado.

O meu primeiro pensamento foi para o seu cheiro. Apesar da roupa ter algumas nódoas, não cheirava mal. Mesmo quando não nos achamos preconceituosos, há sempre uma ou outra coisa que nos trai...

Perguntou-me se fumava. Disse que não. finalmente disse alguma coisa.

Foi quando ele resolveu "desarmar-me": «É sempre de poucas falas, ou apenas não gosta de falar com gente mal vestida?»

Fui obrigado a sorrir. E disse-lhe que devia ser um pouco das duas coisas. Estava longe de imaginar que aquele meu sorriso ia abrir a "caixa de papelão", daquele rapaz que devia estar quase a chegar ao meio século de vida...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


«Senti que tinha deixado passar o meu tempo. Foi por isso que não voltei.»


Falava-se das pessoas "insubstituíveis", com uma delas à mesa, que foi a primeira desmistificar a questão.

«Ninguém é insubstituível. Há sim, pessoas que são melhores que outras, que cumprem com mais qualidade e competência as suas funções que outras. E como hoje impera a mediocridade, ainda é mais fácil a quem está acima da tal média, muito baixinha, dar nas vistas.»

Dissemos-lhe que o seu afastamento fora uma estupidez, que ainda fazia falta (e fazia...). Lembrei-o do nosso amigo comum, o Fernando, que depois dos oitenta ainda continuara a ser de grande utilidade. Aceitou o argumento, mas disse logo de seguida que nunca teve feitio para ser "senador", era um prático, um homem do terreno. Quase que nos silenciou quando disse:

«As pessoas que se julgam intemporais estão erradas. Tudo e todos têm o seu tempo. Posso ter saído antes do tempo, mas depois senti que tinha passado o meu tempo. Foi por isso que não voltei.»

Ninguém foi capaz de lhe responder o que quer que fosse.

Foi por isso que ele resolveu dar exemplos e somou ao nosso Fernando o Mário Soares, que fez uma série de disparates nos últimos anos da sua vida, por se continuar a achar único.

Continuámos sem argumentário e foi ele que continuou a dar-nos "lições de vida"...

«Claro que podemos ser sempre uteis. Não deverá haver melhores conselheiros que quem viveu mais tempo e que viveu mais coisas. Só que isso não é o que pensa a maior parte das pessoas. Outro problema é quando continuamos a fazer sombra a alguém, mesmo que ela seja imaginária. Em vez de nos pedirem conselhos tentam a todo o custo que continuemos sossegados no nosso sofá a ver televisão.»

Continuámos quase sem palavras perante tanta lucidez.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, junho 08, 2023

O País "Pobrete e Alegrete" de António Costa (quase que podia ter Salazar no meio...)...


Não consigo entender este país do Costa (já está há anos suficientes no poder para ter direito "a um país"...), que em alguns pontos se tem aproximado tanto da filosofia salazarenta, ao querer transformar a maior parte dos portugueses em "pobretes e alegretes".

Embora tenham ideários políticos diferentes, ambos os antónios defendiam e defendem "trabalho para todos", mas muito mal pago. Ou seja, não querem desempregados, querem que toda a gente tenha uma ocupação, mesmo que tenham como função fazer quase nada (continua a ser esse o espírito na função pública no século XXI - "pagam mal mas não ficam melhor servidos..." - em quase todos os sectores, por falta de reformas sérias, e claro, de exigência, de motivação e de objectivos para os trabalhadores).

E pelo meio vão sendo destruídos o Serviço Nacional de Saúde, a Justiça, a Educação, os Transportes (que poderiam ser o melhor aliado no combate às alterações climáticas...), as Forças Armadas e até as Forças de Segurança, metendo as reformas tão necessárias na gaveta e desbaratando o nosso dinheiro.

É este mesmo Costa que finge que se preocupa com o trabalho precário e com a exploração dos trabalhadores do sector privado (no ramo agrícola e hoteleiro os "patrões" até já se dão ao luxo de contratarem directamente estrangeiros das "indias", para os tratarem quase como escravos. Depois das contas feitas à comida e ao alojamento, estes limitam-se a receber umas poucas centenas de euros por mês).

Graças a estas políticas miserabilistas do governo do Costa (não encontro outro nome...), que não têm nada de sociais nem de democráticas, cada vez existem mais portugueses pobres. Recebem tão pouco, que nem sequer têm direito a fazer o IRS...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 07, 2023

O que contamos aos Outros e o que os Outros nos contam...


Normalmente só contamos aos outros o que queremos e não o que eles querem.

É por isso que os outros, quando querem saber mais do que o que nós sabemos, são capazes de nos rodearem com perguntas do "arco da velha". O mais curioso é o que acontece no nosso interior. Eles quando são bons "perguntadores" até são capazes de acender algumas luzes que estavam apagadas naquelas divisões mais obscuras, que habitam dentro de nós...

Já perceberam que eu pertenço ao "mundo dos outros". Pertenço ao grupo de pessoas curiosas que gostam de perguntar coisas (não se assustem normalmente não são coisas que alimentam os "facebooks", são coisas mais chatas que nos fazem puxar pela memória e viajar no tempo...), e que são uma dor de cabeça para algumas pessoas, que gostam de fechar quase todas as "portas  por onde passaram à chave".

Para outras passa-se exactamente o contrário (para essas mesmo, as que "falam pelos cotovelos"...), são livros abertos, prontos a debitar sobre tudo e mais alguma coisa. A conversa por vezes torna-se tão estranha que nos obriga a pensar nos sábios antigos que desbravaram tanto caminho e nos dizem de uma forma tão simples, que "quem muito fala pouco acerta"...

É por isso que o "meio-termo" é tão conveniente, ou como o sábio diz, "nem tanto ao mar nem tanto à terra"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa) 


terça-feira, junho 06, 2023

O jornalismo telenovelesco e o País adiado...


O gosto pelas notícias transmitidas como se fossem telenovelas começou pelos canais mais populares (CMTV e TVI) mas rapidamente chegou à SIC, e a espaços, à RTP.

Embora seja um problema do jornalismo, cada vez mais transformado em espectáculo, não deixa de ser curiosa a adaptação de quase todos os "actores" a este género novelesco. 

Ultimamente os políticos são quem mais explora esta forma de viver a vida "quase a fingir", esquecendo o que realmente importa e se passa no País. 

A oposição e o governo perdem semanas a discutir o tamanho das "mentiras" de ministros, secretários de estado, adjuntos ou chefes de gabinete em vez de tentar resolver os problemas, cada vez mais sérios que afectam uma boa parte dos portugueses, na saúde, na educação, na justiça, na habitação, nos transportes ou na banca, etc, e que continuam a ser constantemente adiados... 

(Fotografia de Luís Eme - Corroios)


segunda-feira, junho 05, 2023

A Mulher que sorri e "passa por dentro dos filmes"...


Ela sempre que me vê oferece-me um sorriso, de mão dada com um olá. Eu retribuo.

Às vezes fico a pensar que devia ir atrás dela e convidá-la para beber café, para saber se ela ainda continua a fazer a mesma coisa, a "passar por dentro dos filmes".

Só falámos uma vez, num daqueles acasos, que quase que nos empurram uns contra os outros. Aquela não era a nossa onda e foi por isso que começámos a fugir para o miradouro que num dos cantos olhava para uma nesga do Tejo.

Não foi por acaso que escolhemos aquele canto. O Tejo pertencia-nos, tanto do lado de cá como do lado de lá. E só podia ser ele a soltar-nos a língua... Quis saber o que fazia e eu disse-lhe que escrevia coisas. Ela ofereceu-me o seu sorriso luminoso e disse que não escrevia mas fazia várias coisas.

Quem diria, éramos os dois especialistas em "coisas"...

Depois disse-me que entrava em filmes, mas não era actriz. Foi quando exclamou: "Passo por dentro dos filmes."

Fiquei sem perceber se ela estava a brincar ou a falar a sério. Foi quando me ofereceu três títulos de filmes, acrescentando que estavam disponíveis no "YouTube".

E depois olhou o relógio disse que tinha de se ir embora e deixou-me por ali, quase abandonado.

Quando cheguei a casa fui directo ao computador, para ver um dos filmes e perceber alguma coisa, daquela conversa quase estranha. Quando a vi, na primeira das duas cenas em que entrava, percebi que não havia nenhum enigma. Ela estava certa, entrava no filme mas não participava. Caminhava mas não falava. Estava só lá, a passar.

Era mesmo verdade, aquela moça de que ainda não descobri o nome, "passava mesmo por dentro dos filmes".

Como devem calcular, trata-se de uma ficção. Se fosse verdade, já a tinha convencido a beber um café e a contar-me mais coisas da sua vida.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, junho 04, 2023

Vou continuar com "Este Tempo" da Maria Judite de Carvalho (quase por que sim)...


Não sei se a Maria Judite de Carvalho tinha uma bola de cristal, sei apenas que os seus olhares por Lisboa (alguns com mais de meio século...), mantêm uma actualidade, que quase faz doer.

A 16 de Março de 1984 ela escreveu no "O Jornal" a crónica, "A Cidade talvez deserta", que depois foi publicada no seu livro "Este Tempo".

Mesmo que a Maria Judite escrevesse sobre problemas diferentes dos que a Capital enfrenta hoje, a realidade não engana:

«É uma estranha cidade, Lisboa. E, por este andar, um dia, lá adiante, o castelo dos Mouros e os Jerónimos e a torre de Belém, serão coisas anacrónicas e talvez, quem sabe, consideradas ladras de espaço útil. Eis-nos pois numa cidade remendada que vai expulsando de si os habitantes antigos e que expulsará mais tarde outros habitantes que serão antigos, e outros e outros, até à perfeição. Talvez venha a ser um dia, se a bomba ou o míssil o consentirem, a primeira capital sem moradores deste mundo.»

Parece-me que ninguém tem dúvidas, de que esta Lisboa é cada vez mais uma cidade estranha. Eu pelo menos, não tenho.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 03, 2023

"O Planeta Ronaldo" continua a dominar a Selecção


Quando as pessoas ocupam um novo cargo, devemos-lhe alguma condescendência, quanto mais não seja por estas ainda estarem a "conhecer os cantos à casa".

Só que por vezes, logo nos seus primeiros discursos, descobre-se ao que vêem. Isso percebeu-se com alguma nitidez quando só faltou ao novo seleccionador de futebol dizer-nos: "não se preocupem, que eu não vou mudar os 'cantos à casa', a equipa que joga continua a ser Ronaldo e mais dez".

Se o faz por uma questão de sobrevivência, é no mínimo triste. Se o faz por ter problemas de carácter, a história ainda é pior.

Pensava que com a chegada de um novo seleccionador, entrava-se num tempo novo, colocando todos os jogadores no mesmo patamar, acabando com as histórias de existirem "donos da selecção", ou que esta não passava do "clube dos amigos do ronaldo".

Infelizmente o seu começo diz-nos o contrário. Mudou-se o nome do homem, mas continua tudo igual.

Não sei se o João Mário conseguiu colocar o "dedo na ferida". Mas o exemplo que deu, para justificar o seu abandono, é contundente. Quando se está na melhor forma de sempre e só se entra no último minuto de um jogo "quase a feijões" (estamos a falar de um jogador com mais de 50 internacionalizações e não de um estreante...), percebe-se que aquele não é o nosso lugar, que aquela não é a nossa selecção. E embora seja benfiquista, também continuo a não perceber como é um jogador como o Pedro Gonçalves, continua a não ser escolhido para os 25 ou 26...

Tudo isto para dizer que gosto pouco do discurso de pessoas como o senhor Martinez, que tentam agradar a gregos e a troianos.  E tem sempre uma "resposta para tudo" na manga, "politicamente correcta" (como convém...), para justificar as suas opções.

A sorte dele, é ter alguns dos melhores jogadores do mundo. E como já se percebeu, ele não é de "inventar muito", pelo que o difícil é não ter sucesso.

Mas é triste que a selecção continue a não ser "de todos nós"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 02, 2023

O Amor e a Perfeição nunca foram sinónimos (ou seja, somos "ligeiramente" difíceis de contentar)...


Agora que começo a ver os anos a fugir com menos lentidão, penso em coisas que não pensava antes.

Começa a ser normal descobrir aqui e ali, pessoas que passaram por mim e que não tratei da melhor forma, porque o amor é uma coisa muito estranha, que nos faz fugir muitas vezes da pessoa que os outras acham "certa" e que nós achamos demasiado "perfeita" para o nosso gosto.

Sentimos e sabemos que não é aquilo que queremos. Queremos alguém que nos "dê luta", que nos contrarie, que nos faça "penar", que não nos aceite com os braços e o corpo completamente abertos...

O curioso é que só descobrimos que algumas das nossas escolhas não são as certas, quando o futuro e o presente passam a ser passado...

E ainda existe outra coisa, quando fazemos as tais "contas à vida", descobrimos o óbvio: as pessoas não nos dão o que queremos e nós também não damos às pessoas o que elas querem...

Pois é, normalmente somos "ligeiramente" difíceis de contentar...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, junho 01, 2023

"As Palavras e as vozes" de hoje e de ontem...


Maria Judite de Carvalho foi uma boa ficcionista e uma excelente cronista do quotidiano.

Peguei no seu livro de crónicas, "Este Tempo", e descubro coisas que ficaram paradas no tal tempo, mesmo que já tenham sido escritas há mais de cinquenta anos. Ou seja, uma boa parte das suas crónicas parecem ser intemporais.

Há questões que permanecem, agora ainda mais vivas, como o começo da sua crónica, "As Palavras e as vozes", escrita no "Diário de Lisboa" a 29 de Março de 1972:

«Gostava de saber quanto tempo gastará por ano uma pessoa que se quer ou se julga informada sobre o que se passa no mundo (os mundos das pessoas têm tamanhos e rostos diferentes, podem ser a rua onde se mora, a cidade, o país, a Terra, podem até ser os mundos além-mundo). Refiro-me às pessoas que, está claro, lêem o jornal, mas sobretudo às que ouvem rádio e vêem televisão. Somos espectadores e ouvintes mais do que gente viva. Estaremos mesmo vivos, ainda não seremos bichos de ouvido nem de lente de contacto?»

A sua questão manteve toda a actualidade. E ela já não viveu este tempo desenfreado dos telemóveis, das redes sociais...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)