sexta-feira, novembro 30, 2018

Um Triângulo Humano que Começa a ser Perigoso...


Como simpatizante do Benfica incomoda-me o triângulo formado entre Luís Filipe Vieira, Rui Vitória e Jorge Jesus.

Muito menos aceito que depois de demitir o treinador, o presidente tenha voltado com a palavra atrás. Até porque Rui Vitória não é o Jorge Jesus...

Ou seja, neste momento não acredito que as coisas melhorem com Rui Vitória. Mas também não acredito que Jorge Jesus seja a solução para o futuro do Benfica (embora goste do futebol praticado pelas suas equipas...).

Começo a acreditar que a solução para os problemas do Benfica passe por uma "terceira via", fora deste triângulo. Um presidente que não seja o "único dono do clube" (nem esteja envolvido em suspeitas de corrupção...) e um treinador que goste de jovens, de ganhar, e não menos importante: que a sua equipa jogue um futebol empolgante, que gostamos de chamar "à Benfica"...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, novembro 29, 2018

Foi Bom Voltar a Sentir-me "Em Movimento"...


Só hoje é que li a crónica de Pedro Mexia da revista do Expresso, "Em Movimento", sobre comboios, viagens e um livro de Agustina ("As Estações da Vida").

E voltei a viajar no tempo, recordei algumas das centenas de viagens que fiz de comboio, nos anos 80 e 90 do século passado (até fiz o "Inter-Rail" em 1985...).

Deve ser por isso que continuo a dizer que o comboio é o melhor transporte do mundo (ou era... porque, entretanto, uma "vara" de políticos, amantes suspeitos dos carros e do petróleo, têm feito os possíveis e os impossíveis para o destruir...).

Mas os meus pensamentos fixaram-se em coisa mais alegres: pensei nos muitos livros que li (embalado pelo movimentos suaves e pela música das carruagens, que é mesmo parecida com o popular "pouca terra", "pouca terra" dos livros da primária...), nas frases, textos e poemas que escrevi... e nos olhares que cruzei com os rostos bonitos de algumas moçoilas, ainda por apenas minutos, ou quanto muito, as duas horas da viagem entre as Caldas e Lisboa...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, novembro 28, 2018

Somos o que Somos...


Somos mais de falar que de agir.

Por vezes este comportamento revela-se trágico, como sucedeu há poucos dias em Borba.

No calor da tragédia, fala-se do assunto com gravidade,  procuram-se culpados, enumeram-se mudanças, para  no fim voltar tudo a ficar na mesma.

Além do exemplo da fotografia (gostava de saber porque razão ninguém retira as manilhas dos rios, se já não tem qualquer utilidade...), encontram-se com facilidade coisas mais graves para todos nós. Por exemplo, a "estrada da morte" de Pedrogão já foi esquecida. Todos sabemos que o não falta, de norte a sul, são estradas rodeadas de árvores assim que acaba o alcatrão, mesmo das "perigosas", os famosos eucaliptos (com muita publicidade "positiva" paga...) e pinheiros...

Somos o que somos, infelizmente (devia dizer, tristemente ou miseravelmente...).

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, novembro 27, 2018

«Bom Dia Cinema Italiano»


Quem gosta de conversar sobre as culturas comentou com alguma naturalidade o desaparecimento de mais um Mestre do cinema Italiano, e Europeu, Bernardo Bertolucci. Mesmo os que só o conheciam de "O Último Tango em Paris", um dos filmes mais vistos e revistos  no calor da Revolução de Abril, quando as senhoras de negro, entre outras coisas, fingiram deixar de criticar as mulheres que usavam saias ligeiramente acima do joelho.

Houve alguém mais pessimista (o Carlos segundo) que falou na colocação de mais um prego no cinema europeu. Eu não concordei, e o Gui também não.

Ambos sabemos que quando desaparece um realizador (ou um escritor...) a sua obre emerge, mesmo que seja apenas por breves momentos. Pelo menos durante esta semana vai-se falar do Tango mais popular do cinema, mas também do "Último Imperador" e com sorte de outras obras, como "1900", "Os Sonhadores" ou "O Conformista".

Neste caso especial parte-se ainda para o "geral", recordam-se outros "monstros sagrados" da Sétima Arte, que deram luz e movimento aquela que continua a ser a "melhor escola de cinema europeia": Fellini, Rosellini, Antonioni, Visconti, Tornatore, Scola, Pasolini, de Sica ou Leone (quase que me apetecia meter Scorcese nesta lista...). Assim como os seus melhores filmes italianos.

Mesmo que seja apenas por um dia, quando um realizador ou escritor desaparecem, a sua obra ganha vida (e como acontece com os cidadãos anónimos, ele também se torna melhor pessoa...).

segunda-feira, novembro 26, 2018

A "Civilização" Ainda não Chegou ao Jornalismo...


Eu sei que o jornalismo começa a parecer uma grande "tourada", especialmente o mais matinal, mas daí a escutarmos o quase grito de felicidade da ministra da Cultura, em Gadalajara, no México - que curiosamente também tutela a pasta da comunicação social -,  por há quatro dias não ver jornais portugueses, dá no mínimo que pensar.

Claro que foi uma provocação, que fica muito mal a uma ministra, que, mesmo que não tenha estudado francês e piano, de certeza que conhece algumas alunas diplomadas na matéria. Ao contrário de Cavaco Silva, por exemplo, que cresceu no "reino dos algarves" e há uns anitos, também fez gosto em dizer que não dispensava mais de cinco minutos para olhar "as gordas" dos jornais...

Apesar da "evolução dos tempos", ser ministro ainda não é a mesma coisa que taxista ou barbeiro (até porque, para a função, não precisam de ter carta de condução ou saber usar o pente e a tesoura)...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, novembro 25, 2018

Preconceitos e Rótulos (Só para Alguns...)


Ao ler algumas algumas palavras de Joaquim Vieira, que apresentou a sua biografia  de José Saramago há dias, fiquei a pensar nos "preconceitos e rótulos" que ainda circulam por aí (depois de se saber que há quem "compre" cursos superiores para compor o "ramalhete" lá de casa...), mesmo que normalmente nas profissões que lidam diariamente com palavras (jornalismo e literatura) não exista muito essa coisa do "doutor".

Mas antes de Abril não era assim, e Vieira diz-nos que Saramago estava longe de ser olhado "como um deles", pelos seus pares, que nem sempre aceitavam as suas "intromissões", enquanto editor...

Felizmente tudo se esbateu com o tempo. E então depois do Nobel, é que nunca mais ouviu ou leu qualquer referência ao facto de Saramago não ter um curso superior. Talvez em algumas conversas de café, em que quase que se "mordem meias e sapatos", alguns escribas que sofrem daquelas dores que atingem cotovelos e testas, ainda lhe chamem "torneiro", e até coisas piores...

Eusébio teve mais sorte. O seu talento era tal que marcou logo a diferença, sagrando-se Campeão Europeu, mal chegou ao Benfica. Foi transportado de imediato para o pedestal dos melhores do mundo (onde permanece, com todo o mérito...) e nunca foi tratado como preto. Ou seja, o seu talento como futebolista e a sua simplicidade, fizeram com que sempre fosse tratado como "um de nós"...

Claro que eles são a excepção que confirma a regra. Pois o que não falta por aí são "pretos" a jogar futebol ou "torneiros" armados em escritores... tal como fulanos que gostam de morder "meias e sapatos"...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, novembro 24, 2018

A Vida é Mais para Viver e Menos para Compreender...


Todos nós sabemos que a vida é mais para viver e menos para compreender.

Por muito avançados que estejamos no conhecimento, vão nos faltar sempre palavras para explicar os pequenos e grandes enigmas da Vida...

O mais curioso, é que é essa mesmo inteligência que não me deixa ir atrás das histórias "mal construídas" e contadas por tipos bem vestidos, que normalmente usam palavras curtas e fortes, como as de uma personagem de bonecos animados (Buzz Lightyear), que também serviu de inspiração num dos discursos recentes de Louçã, que queria ir "até ao infinito e mais além".

Do meu grupo de amigos de Almada, o Xico é o melhor de nós. Ele acredita mesmo que tudo o que ele dá com uma mão, Deus retribui-lhe com outra (as palavras são dele...). Nós, mais humanizados pela "selva" que nos rodeia, e por sermos primos afastados de São Tomé,  passamos o tempo a brincar e a zombar da sua "fézada".

Mas não era nada disto que queria escrever. 

Queria falar da alegria que é ver o Carlos a recuperar, do precalço inesperado que teve, e da falta que nos fazem os verdadeiros amigos como ele...

Porque são estas imprevisibilidades que nos fazem perceber o quanto somos "pequeninos" e, que a vida é mais para viver e menos para compreender (a não ser que tenhamos um "coração do tamanho do mundo", como é o caso do Xico...).

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, novembro 23, 2018

A Barca Quase Perdida no Tejo...


Sem a reportagem de Ricardo J. Rodrigues no DN, não ficaria a saber que a "barca" quase grande (um petroleiro...) , da fotografia, está ancorada no Tejo desde 24 de Julho de 2017, juntamente com uma tripulação, mínima, de 16 homens. 

Está "presa" aqui no Rio há um ano e quatro meses, porque foi arrestada, por dívidas (coisas do petróleo e da Venezuela...).

O mais curioso é o Rio Arauca ser quase um "navio invisível". está lá todos os dias (no Mar da Palha...), mas nós que atravessamos o rio, diariamente,  pensamos que é outro, pois estão sempre a chegar e a partir, "barcas", ao melhor rio do mundo...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, novembro 22, 2018

A "Fabricação Gratuita de Personagens"...


Depois de falar alguns minutos com uma pessoa que apenas conhecia de vista, sobre um episódio da história de Almada, ela antes de se despedir, disse-me que eu não era a pessoa de quem lhe tinham falado, uns dias antes. E com alguma lata ainda me piscou o olho e ofereceu-me um sorriso, dentro de uma despedida com até um dia destes.

Hoje telefonou-me e disse que precisava de saber mais umas coisas para a sua tese, misturadas com um café.

Disse-lhe que sim. Amanhã.

E depois fiquei a pensar em alguns "inimigos de estimação" que vou tendo por aqui, a quem não passo qualquer cartão. E segundo o Orlando, é das coisas mais parecidas com "sarna", faz uma comichão do caraças.

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, novembro 21, 2018

A Cultura que não Enche Barriga...


Infelizmente as coisas não mudaram assim tanto, especialmente para os idealistas.

Não faltam por aí casos de gente ligada à cultura que passa mal, ou pelo menos que não se bate com regularidade com um bom bife carnudo, ou até com um pires de camarão, ainda que este se tem popularizado com o tempo...

Pensei nisto ao ver mais um episódio da excelente série portuguesa, "Três Mulheres", um bom retrato de época. Talvez não exista muita gente com a lata do Luiz Pacheco, sempre pronto a cravar "vinte paus" aos amigos e conhecidos, ou de Fernando Ribeiro de Mello (bem publicitado na série, que ia petiscar os célebres bifes do "Império", à conta da poeta Natália Correia...).

Talvez hoje existam mais exemplos, como o do pintor Manuel Ribeiro de Pavia, que escondia a pobreza em que vivia, até dos amigos, que apenas estranhavam a sua magreza, dia após dia... e nos abandonou com apenas 50 anos, vitima de pneumonia.

Isto acontece por que uma boa parte dos criadores têm dificuldade em vender o que fazem (e ainda mais em venderem-se...), pelo menos os idealistas.

(Fotografia de Luís Eme - mosaicos de um prédio da Graça)

terça-feira, novembro 20, 2018

«Gostamos menos das coisas, todas, incluindo as pessoas...»


Talvez...

Foi a palavra que me saiu, quando a Dulce me disse: «gostamos menos das coisas, todas, incluindo as pessoas...»

Entretanto fui andando até a casa e não foi difícil chegar à conclusão de que o meu talvez já era um sim.

Tudo parece custar pouco, tudo parece insignificante, especialmente para os nossos filhos, que em vez de os empurrarmos porta fora, de vez enquanto, continuamos a guardar um lugar para eles, no "colo". 

E pior, deixamos que eles vistam e calcem marcas, mais pelo preço e pelo nome que pela qualidade ou beleza. Sem falar do telemóvel, quase da última geração.

E não sei se é possível voltar a gostar das coisas, como se gostava ontem, incluindo as pessoas...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, novembro 19, 2018

«Não sei o que é que o Manuel Alegre quer»


Quando vinha para casa ao fim do dia escutei a voz de um casal jovem, meio irritados. alguns metros atrás de mim. Ela exclamou: «não sei o que é que o Manuel Alegre quer.»

Pelo teor da conversa percebi que deviam ser dois jovens politizados, que tanto podiam ser do PS como do BE ou do PAN.

Apeteceu-me dizer-lhes que sabia o que Manuel Alegre queria, mas não quis ser metediço, muito menos mal interpretado.

Não é a tourada, a caça, ou outra coisa qualquer, que estão em causa. Está em causa sobretudo a nossa liberdade. E também a capacidade de fazermos a leitura política do que está a passar, um pouco por todo o lado: a tentativa das minorias de imporem aquilo que acham certo,  mesmo que contrariem a vontade de setenta ou oitenta por cento da população.

Fingem-se grandes defensores do ambiente, dos animais e da saúde, mas o que querem mesmo é contrariar a liberdade dos outros.

E não deixam de ser contraditórios.  Se por um lado defendem a proibição do uso do sal e do açúcar, por outro querem liberalizar o uso das "drogas leves". Nem têm dificuldade em arranjar declarações médicas de que a liamba e o haxixe fazem muito melhor à saúde que os sabores adocicados e salgados da comida...

E como gostam muito de ervas, provavelmente querem que todos nos tornemos vegetarianos...

Ou seja, a liberdade é uma coisa muito boa, mas só para eles.

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, novembro 18, 2018

Almada, Lisboa, Saramago e Ricardo Reis...


A chuva não foi a melhor amiga do "3º. Encontro Ibérico de Leitores de Saramago", que decorreu de sexta a domingo, em Almada (e Lisboa, claro...).

Houve algumas coisas no sábado que eu queria escutar na Biblioteca José Saramago, no Feijó, mas que acabaram por não serem possíveis, por compromissos familiares.

Mas hoje não me assustei com a chuva matinal e fui mesmo até Lisboa, fazer uma "Viagem com Saramago", que se iniciava na sua Casa e se prolongava pelas ruas da Capital, num percurso a partir de "O Ano da Morte de Ricardo Reis".


Apesar da espera quase grande à porta (pelo menos para um dia de chuva...), valeu a pena aparecer, pela simpática e alegre recepção de Pilar - muito mais simpática e agradável ao vivo que na televisão - e dos funcionários da Fundação.


E quando voltámos à rua, a chuva (embora suave...), também quis fazer o percurso connosco. Um percurso agradável, diga-se de passagem, guiado pela Idália, que muito nos contou sobre o Ricardo Reis de José Saramago.

(Fotografias de Luís Eme)

sexta-feira, novembro 16, 2018

O Pescador sem Anzol...


Ao ler a crónica de hoje de Nuno Camarneiro no "Diário de Notícias" lembrei-me de um homem singular que cirandou pelas margens do Tejo, à procura de poemas, disfarçado de pescador.

Só os amigos chegados é que sabiam que ele não usava anzol na ponta da linha, apenas uma chumbada, para se exercitar de vez enquanto, a fazer lançamentos para o meio do rio...

E era uma alegria para ele voltar para casa aparentemente sem pesca, mas com um ou outro poema...

Quando era confrontado com a sua alma de "fingidor", acrescentava com alguma lata: «Eu até nem gosto de peixe...»

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, novembro 15, 2018

O Tempo das Frases (curtas de preferência)...


Acho que já quase toda a gente percebeu que não se lê menos que no século passado, lê-se sim de uma outra forma.

É o tempo do efémero, do curto, do pequeno, do banal, do suave e de outras tantas ligeirezas.

A forma de comunicar é diferente. A China ou a Austrália estão logo ali ao virar da esquina (deste que a "net" que usamos não seja da "idade da pedra"...). A velocidade com que giramos pelo mundo é tal que vamos encurtando palavras, frases e textos.


Isso explica em parte que as pequenas frases estejam a "ganhar" às crónicas, aos contos, aos romances e ensaios...

Mas não se lê menos. Lê-se de uma forma diferente. Lê-se mais dentro das "máquinas" e menos dentro dos jornais e livros...

(Fotografias de Luís Eme)

quarta-feira, novembro 14, 2018

Quando Começam a Sair da Toca...


Um octogenário andou anos e anos a desmentir, e a esconder, que fez parte da Legião Portuguesa. 

Mas eis que o "mundo mudou" e também ele aproveitou a "onda" e começou a perder a vergonha (deve estar agradecido ao Trump, ao Erdogan,  e agora ao Bolsonaro...) e já se passeia pela rua com o emblema da Legião na lapela.

Normalmente não o levam a sério e dizem que o senhor "ensandeceu".

Mas o problema é maior do que parece, como muito bem referiu o Mário, que normalmente fala mais com os ouvidos, ao recordar-nos que o perigo não é o velho. O verdadeiro problema poderão ser os netos dos Pides, dos Legionários, dos Latifundiários e de outra gente do 24 de Abril, quando começarem a exteriorizar o orgulho que sentem por descender desta gentalha que brincou com a dignidade, a honra e a liberdade de tantos homens e mulheres do nosso país... 

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, novembro 13, 2018

Uma (boa) Rota de Vida...


Hoje, ao fim da tarde será apresentada na Biblioteca do Palácio Galveias, a biografia de José Saramago, assinada por Joaquim Vieira.

Pelo que li na notícia publicada no DN, assinada por João Céu e Silva, é uma obra extremamente importante, e única (até agora...), pela abordagem diferente que faz do nosso Nobel da Literatura. 

Deixo-vos duas transcrições da peça jornalística:

«O biógrafo Joaquim Vieira faz um levantamento exaustivo do seu percurso de vida com recurso a inúmeras entrevistas de quem o conheceu ou trabalhou com ele, revê estudos e investigações de outros sobre o biografado, e escreve o mais longo trabalho que Saramago teve até agora sobre a sua vida e obra. Que esclarece bastantes pormenores de uma vida que foi dourada por amigos, contestada por inimigos, maltratada por estudiosos da literatura das últimas décadas, analisada com despeito ideológico por alguma crítica literária e até amaldiçoada por várias figuras governativas pouco esclarecidas.»

«A melhor notícia é que esta biografia escapa à hagiografia habitual dos que estavam próximos de Saramago e dos que lhe estão ainda. Não retira um ponto da sua vida ideológica como se vai tentando esbater, não ignora a sua roda-viva emocional que colegas seus fazem questão de debicar em sussurro, não passa ao lado das invejas na vida editorial que o "jovem" Saramago tem de enfrentar quando se tenta aproximar dos "grandes" durante o anterior regime, não esquece as duas primeiras mulheres nem o papel de Isabel da Nóbrega nos primeiros grandes sucessos de Saramago.»
                                                  

segunda-feira, novembro 12, 2018

Os Novos (quase velhos) Artistas de Rua...


Os chamados artistas de rua eram normalmente pessoas com algum talento circense ou musical, que animavam (e ainda animam, felizmente...) as ruas.

Mas ontem o Gui resolveu oferecer-me uma nova versão (que nem sequer é nova...), com gente cujo único talento visível é a aposta na diferença, na originalidade. São artistas sobretudo pela forma como se vestem, se pintam e se penteiam e depois se inventam e popularizam no "instagram".

Claro que não concordei com o Gui. E até lhe dei como exemplo esta Lisboa turística, que está a ser um bom "maná" para todos aqueles que escolhem as ruas para o seu palco diário, onde oferecem a sua arte a troco de algumas moedas.

Talvez as pessoas  originais também sejam "artistas", mas estão numa arte diferente...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, novembro 10, 2018

Um Hábito cada Vez mais Normal...


Esta mania dos políticos nos quererem passar "atestados de estupidez",  fiados na sua "chica-espertice", começa a ultrapassar todos os limites.

Já todos tínhamos percebido que uma boa parte deles gosta de "dourar" os currículos com cursos que nunca frequentaram, e cargos que nunca ocuparam, 

Depois há as dezenas de histórias com dinheiros de casas, viagens e fatiotas, do domínio da ficção... mas aceites, porque "os políticos têm ordenados baixos" (pobres coitados, devem receber pouco mais que o ordenado mínimo, tal como a maioria dos portugueses...). 

Só faltava mesmo a "denúncia" (feita pelos seus próprios pares...), de um registo duplo indevido na "folha de presenças" (algo que deve ser mais comum do que parece)...

Como se começou a falar de investigações, com a polícia judiciária e o ministério público ao "barulho", a senhora deputada que registou a presença do senhor Silvano, resolveu "dar a cara" e falar da "normalidade" da partilha de "senhas" dos computadores pessoais do grupo parlamentar... e pior ainda, de distracção. Sim, registou o nome do colega de bancada, sem perceber que o estava a fazer, e logo por duas vezes...

Não menos grave é o presidente do seu partido, achar que tudo isto não passam de "fair-divers"... Pelo menos o líder parlamentar teve a decência de dizer que nunca partilhou a sua "senha" com ninguém...

Tenho de acabar este texto com uma pergunta óbvia: como é que "gente deste calibre" chegou ao parlamento, onde nos está a representar?

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, novembro 09, 2018

«Lembrem-se sempre, que a cultura faz bem à alma»


As culturas e as artes quando se discutem, quase como o futebol, são mais problemáticas do que o que parece, por vezes só falta mesmo voarem as "cadeiras do costume".

Há quem pareça ter saudades do século XIX e da primeira metade do século XX, em que o mundo das artes estava ao alcance apenas de uma minoria instruída e cultivada, como o Rui.

Não valeu de nada dizer que o teatro amador já existia no século XIX, muitas vezes interpretado por homens e mulheres analfabetos, que decoravam os textos oralmente... Muito menos que as coisas da cultura sempre foram apelativas e que não foi agora que se "inventou" gente sem jeito, a querer ser o que não é...

O Ricardo falou do futebol do tempo do avô, que quase não tinha espectadores, porque o que toda a gente queria era jogar... e acrescentou, que daqui a uns tempos os "saramagos, os "pomares" e os "cintras" se iam cansar, de escrever, de pintar ou de teatrar.

Nenhum de nós acreditou muito nisso. 

Percebe-se que estamos a passar por um retrocesso civilizacional na sociedade, além da falta de sentido estético e crítico, há sobretudo falta de rigor e de pudor.  Foi por isso que o Gui disse, que nunca se viveu tanto na "mentira" como hoje (sem  falar em "trumpadas"...). E foi ainda mais longe que qualquer um de nós: «já repararam que nunca foi tão fácil copiar e roubar o trabalho dos outros? Vai-se à internet e rouba-se um texto alheio e finge-se que é nosso com a maior das descontracções. Sem sequer ter de se escrever nada, é só copiar e colar.»

Foi quando o João acalmou a mesa: «lembrem-se sempre, que a cultura faz bem à alma.»

O mais curioso, é que depois desta conversa, atravessei o rio e já no centro de Almada, descobri a exposição de que falei ontem. 

E todos aqueles trabalhos artísticos, feitos por pessoas com deficiência, têm de ser entendidos como uma coisa boa (sem pensar em ética e estética...). O João tem toda a razão: a Cultura faz bem à Alma...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, novembro 08, 2018

"Arte e Criatividade" em Almada


Uma das exposições que gosto sempre de ver na Oficina de Cultura de Almada é a do concurso "Arte e Criatividade", que nos mostra a arte e a sensibilidade das pessoas com deficiência do Concelho.

Gostei de tudo, mas achei "O Quintal da Alegria" (fotografia), um trabalho colectivo da Associação Alma Sã, especial...

(Fotografia de Luís Eme) 

quarta-feira, novembro 07, 2018

A "Tralha" que se Guarda...


Nós que vivemos em pequenos apartamentos, guardamos muitas vezes coisas que, além de "sobrarem", ocupam demasiado espaço e... inevitavelmente, passados tempos, acabamos por "esquecer" a sua existência. E não falo apenas de livros...

O que seria de nós se tivéssemos uma grande herdade, com dois ou três armazéns enormes, capazes de guardar coisa como um "carrossel mágico" ou até uma "montanha russa"...

Não pensem que exagero. Um homem recentemente falecido, tinha um armazém que era o seu espaço de sonhos e de alguma magia, onde ia acumulando coisas de que gostava e comprava em feiras de velharias, quase sempre para recuperar, mas o maldito tempo, o seu "principal inimigo", nunca lhe deu tréguas.

Dos seus quatro filhos apenas a Margarida sabia deste passatempo do pai, porque o acompanhara mais que uma vez a estas feiras, que misturam memórias com objectos. Mas estava longe de imaginar o que iria encontrar dentro de um dos armazém da quinta... 

Sabiam apenas que o outro armazém tinha umas duas dúzias de carros (o pai nunca se desfizera de nenhum carro da família, havia um mercedes dos anos cinquenta que fora do avô, mas também uma charrete de luxo que vinha do século dezanove, que ninguém sabia ao certo a origem...), porque os irmãos desde pequenos que gostavam de passar por lá e brincar às escondidas do pai. Agora o outro, só ganhou forma depois de 1974. O pai começou por guardar peças de trabalho da lavoura, entretanto substituídas por máquinas... mas quando deu por ela, tinha um verdadeiro "museu" de relíquias...

Toda esta conversa, porque de todos estes objectos, há um que acaba por ser especial e do qual já falei: o carrossel mágico, que quase lhe foi oferecido, por estar a ocupar demasiado espaço na família de um antigo feirante. Ele sempre pensou em recuperá-lo. É quase todo feito em madeira e ainda sobressaem algumas cores decorativas, especialmente as dos animais (zebras, girafas, cavalos, tigres, etc,) da selva.

E agora esta recuperação passou a ser o sonho do Miguel (filho da Margarida...). Está apostado em tornar real a vontade do avô...

(Fotografia de Luís Eme - foi o que encontrei mais parecido com um "carrossel mágico", embora este seja quase moderno)

segunda-feira, novembro 05, 2018

Ter e Não ter Dinheiro...


Ontem tive uma conversa pouco vulgar, por uma razão simples: o dinheiro normalmente está distante das minhas conversas com gente amiga (bastam as que somos obrigados a ter por causa do "orçamento familiar"...).

Falei com alguém que costuma misturar os sonhos com o dinheiro, coisas que nem sempre casam muito bem... porque a vida está longe de ser uma coisa linear.

Tudo o que ela sonhava e queria fazer, só era possível com uma quantidade quase grande de dinheiro, algo que só estava ao alcance de uma pequena minoria da nossa sociedade.

Foi buscar o filme da sua vida e depois andou  com ele para a frente e para trás, ao mesmo tempo que fazia comentários, quase sempre pouco felizes. 

No final o que sobrou foi uma enorme frustração, por não ter conseguido chegar a quase nenhum dos seus sonhos (gigantes)...

Quando nos despedimos fiquei a pensar na conversa e percebi que o dinheiro nunca esteve directamente ligado à maior parte dos meus sonhos, talvez por não sonhar demasiado alto... 

Mas claro que é melhor ter dinheiro, que não ter. 

É bom viver sem se ter a carteira vazia. É importante ter dinheiro para fazer coisas tão simples como comprar o livro que nos apetece, poder jantar num lugar agradável, ou, oferecer um presente a alguém de quem gostamos...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, novembro 04, 2018

Navegar é Preciso...


Quem gosta de navegar, só não sai para o mar se estiver mesmo um dia de temporal.

Tal como os surfistas, os velejadores também não prescindem do contacto com o rio e o mar, de Janeiro a Dezembro... 

Há mesmo quem prefira dias com mau tempo no canal. Sem vento e frio, não há aventura nem acção digna de um verdadeiro marinheiro.

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, novembro 03, 2018

Os Meus "Teatros" de Rua...


Desde pequeno que falo e penso alto.

Nunca entendi a coisa como algo de muito "anormal" ou de singular... Mas sei que tanto pode ser analisado como um mau hábito adquirido cedo (no meu caso particular...), ou uma anomalia qualquer, um problema de parafusos, com mais ou menos aperto.

Acho a coisa tão normal que raramente penso no assunto, muito menos escrevo. Mas ontem, ao fazer o que faço todos os dias assim que saio de casa, fiquei a pensar.

Atravessei o campo aberto que além de parque de estacionamento, é o meu "corta-caminho", que me ajuda a aproximar do centro da cidade, sem gastar toda a borracha dos ténis. E como de costume, vinha a conversar com os meus botões. Uns metros mais à frente  fui surpreendido pelo ruído de um casal jovem, que acabara de sair de dentro do carro. Quando olhei para trás vi-os a sorrir. Continuei, sem perceber muito bem qual era a piada. Só uns metros mais à frente é que percebi que fora o meu "monólogo", que os ligara à terra... 

Acabei por sorrir também, só para mim, ao pensar que a minha passagem sonora os fez pensar que estavam na presença de mais um dos muitos "maluquinhos de Almada".

Quase que me apetece dizer: são estas pequenas alegrias, que fazem com que valha a pena andar a falar sozinho pelas ruas da cidade.

(Fotografia de Luís Eme)