sábado, setembro 30, 2023

Uma "casa para viver" (num país cada vez mais imperfeito)...


Num mundo perfeito, todos tínhamos pão, paz, educação, saúde e habitação (a ordem é alietória...), como diz o Sérgio, um dos nossos bons trovadores, numa das suas canções.

Só que além de estarmos cada vez mais longe do tal "mundo perfeito", vivemos num País que se orgulhava de ter a Constituição mais avançada (acho que também era do "mundo", mas já deve ter perdido esse "orgulho"...), mas que por ser tão "avançada", o que não faltam por lá são coisas que não se cumprem.

Uma delas é o direito à habitação. Mas acho que nesse artigo não se diz que o Estado tem de dar a cada português uma casa, gratuita, como é a exigência da gente, que até é capaz de viver uma vida inteira numa barraca, para que lhe dêem um lugar para habitarem, praticamente sem custos.

Como eu tive de comprar casa (tal como a maioria dos portugueses...), faz-me confusão a forma de pensar destas pessoas, que pertencem ao clube dos que só têm direitos, e deveres nada.

Só que o problema da habitação de hoje está longe de ser tão simples, e de se restringir a este "mundo dos pedinchas". 

O que não falta por aí é gente que contribui para o país através dos seus impostos e que quer comprar ou arrendar casa. Mas quer fazê-lo a preços decentes, não neste mercado que faz cada vez mais concorrência com Paris, Londres ou Nova Iorque.

E só há uma forma de lutar contra esta especulação imobiliária, é a construção social (algo que deixou de ser preocupação governamental há pelo menos vinte anos), através dos governos central e local.

Mas é FAZER, não é ENTRETER, como parece ser a especialidade do Governo Socialista.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, setembro 29, 2023

Chove (muito) em Nova Iorque e faz Sol (muito) em Lisboa...



Não sei se toda a água que está a cair e a inundar Nova Iorque, contribuirá para que os Estados Unidos da América, percebam que o caminho não é o "continuar a poluir", como se as alterações climáticas fossem apenas uma coisa de "maluquinhos"...

Tal como não sei se todo este Sol, de tudo menos de Outono, que pinta Lisboa com cores suaves, faz com que se volte a retirar os carros da Baixa, por muito que o "mayor" da Capital goste de andar de "cu tremido"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, setembro 28, 2023

Será um ponto de viragem?


Não sei se foi propositado, mas senti que não se deu o relevo devido ao ataque feito por duas jovens activistas ao ministro do Ambiente, com o arremesso de dois balões com tinta verde.

Talvez isso tenha sido feito para evitar possíveis imitações (e o que não falta neste governo é gente mais incompetente que Duarte Cordeiro...) em outras aparições públicas de governantes.

Acabámos por falar disso, ao café. E não houve qualquer consenso.  E ainda bem.

Mas talvez se tenha chegado a um ponto, em que os habituais métodos pacíficos de manifestações de protesto e reivindicações, com resultados quase nulos, comecem a ser substituídos por outros, que já são usados por essa Europa fora.

Se isso acontecer, a responsabilidade maior é dos políticos, especialmente de quem governa, que finge que resolve os problemas que afectam toda a sociedade e normalmente acaba por não resolver coisa nenhuma.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quarta-feira, setembro 27, 2023

De banalidade em banalidade...


Este é o tempo em que uma qualquer banalidade é tratada como se fosse a coisa mais importante do mundo. O mais curioso, é ela ser rapidamente ultrapassada por uma outra qualquer banalidade, e depois outra, mais outra, e por aí adiante.

Eu sei que as pessoas sempre gostaram de falar das "coisinhas pequeninas", como por exemplo, as vidinhas dos vizinhos. Como moro quase num bairro, ainda consigo encontrar vizinhas a conversarem, quando saio de casa, e depois quando regresso, uma hora ou duas depois, descubro-as no mesmo sítio... 

Mas noutros tempos havia mais recato, e até pudor, faziam-se todos esses "joguinhos", mas quase às escondidas. 

Hoje graças às redes sociais, faz-se tudo às claras. Um boato de qualquer rua, pode chegar em minutos à outra ponta do planeta. O pior de tudo, é que uma mentira, mesmo das de perna curta, pode passar por uma "verdade verdadinha", durante uma semana...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


segunda-feira, setembro 25, 2023

Andar por aí a "roubar" rostos e fingir que não se passa nada...


Sei que nunca "roubei" tantos rostos e corpos como agora, através da fotografia. Mas isso só acontece porque também nunca tirei tantas fotografias como agora (talvez seja vício, em vez de usar os dedos para agarrar um cigarro seguro a máquina... Felizmente é mais barato e menos doentio que as "raspadinhas" e os "casinos").

De longe a longe lá recebo um olhar reprovativo, embora nunca me aproxime muito, de forma a tornar-me intrusivo. E também acontece muitas vezes querer fotografar sítios sem pessoas e não o conseguir... As pessoas estão em "toda a parte" na Capital...

Da mesma forma que não peço licença a ninguém para "disparar" nas ruas, também não peço a ninguém para se afastar daqui ou dali. Felizmente o digital permite falhar mais vezes, não é necessário focar tanto o nosso objecto momentâneo, até podemos fingir que não se passa nada.

Mas sei que sou cada vez mais cuidadoso, quando estou em lugares menos públicos. Quando visito uma exposição ou uma feira, costumo perguntar se posso tirar um ou outro retrato. Normalmente dizem-me que sim. Mas não é nada do outro mundo levar com um não, como aconteceu no domingo, antes de almoço, quando ao passar pela Rua da Rosa descobri a Feira do Livro Anarquista e já lá dentro (achei piada ao espaço e à disposição dos livros), perguntei se podia tirar uma fotografia e disseram-me que não...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, setembro 24, 2023

Quando a "Vida é um autocarro vazio"...


De vez em quando falo por aqui da escritora Maria Judite de Carvalho, porque somos do mesmo "território literário", que fala do mundo que é habitado por pessoas aparentemente vulgares.

Esta semana fui surpreendido pelo documentário, "A Vida é um autocarro vazio", que foi transmitido na RTP2, na noite de terça-feira. Ao ler o título, fiquei curioso, por quase mil e uma razões, e fui ver do que se tratava. Fiz muito bem, porque tentava ser um trabalho biográfico diferente (muito bem conseguido..) sobre Maria Judite de Carvalho.

Fiquei a saber mais algumas coisas da vida desta senhora, que se sentia bem com a sua "invisibilidade", mesmo que isso contribuísse para que não fosse reconhecida como a grande escritora que sempre foi, mesmo pelos seus pares.

Não escrevi nada sobre isto porque tinha pensado tirar uma fotografia no interior de um autocarro vazio. Acabei por não pedir a nenhum condutor dos autocarros, estacionados em Cacilhas, para tirar uma fotografia. 

Provavelmente diziam-me que não. Assim evitei dois trabalhos...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, setembro 22, 2023

A invenção de casos e casinhos que não lembram ao "careca"...


As pessoas deste país deixam-me ligeiramente confuso, por se preocuparem com coisas que - digo eu -, não lembram ao "careca" (estou a dar o "flanco" a todos os carecas, para se sentirem ofendidos e se manifestarem, até por ser moda...).

Não, não vou voltar a falar dos "ilustres" que queriam retirar uma estátua de uma praça do Porto, com o beneplácito do presidente da Câmara (que por momentos pensou que podia fazer tudo o que lhe apetecesse...). São tão "ilustres", que nem merecem uma linha de palavras...

Prefiro falar de um antigo jogador de futebol do Sporting, que na sua qualidade de comentador, fez o que fazem quase todos os comentadores (especialmente os dos programas desportivos do CMTV), conversam como se estivessem no café, sendo muitas vezes inconvenientes.

Carlos Xavier quis ser engraçado (não é para todos ter graça...) e em vez de chamar  o avançado do FC Porto, Taremi, pelo nome, chamou-lhe muçulmano (não sabia que era assim tão ofensivo chamar a um nativo de um país com esta religião, muçulmano...) e referiu-se também à sua qualidade de "mergulhador" nos relvados, com que consegue ludibriar de vez em quando, um ou outro árbitro.

E de repente, toda a gente ficou muito ofendida. Como se o futebol português de repente se tivesse tornado num "salão" bem frequentado.

Nem sequer deram relevo ao facto de Carlos Xavier ter reconhecido e seu erro e pedido desculpa ao jogador e a todas as pessoas que professam esta religião.

Podia falar do presidente do FC Porto (e acólitos...) que sempre gostou de apelidar os lisboetas de "mouros", entre outros nomes mais ofensivos. Ou ainda dos vários comentadores desportivos, que semana após semana, apelidam alguns dos nossos árbitros com mimos como os de "ladrões", "vigaristas", "ceguinhos", etc..

Mas não adianta. O mundo está assim, muito limpinho por fora e completamente nojento por dentro...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, setembro 20, 2023

As pessoas que nos aparecem nas paragens de autocarros...


Estava numa daquelas paragens em que passa um autocarro por hora, quando se aproximou um homem que vinha agarrado a um cigarro. Ficou a dois três metros de mim, mantendo a "distância humana" que nos ficou da pandemia.

Também estava ao lado da paragem, onde o respectivo banco estava ocupado por três mulheres maduras que conversavam, provavelmente sobre os nadas da nossas vidas. Também mantive a tal distância. 

Sei que quando cheguei disse bom dia e que ninguém respondeu ao cumprimento. E aquele subúrbio até tinha qualquer coisa de aldeia... Talvez não tivesse um bom ar (não me apeteceu fazer a barba nessa manhã...). 

Nada de preocupante. Sabia que as pessoas nunca economizaram tanto as palavras como hoje...

Entretanto o cheiro do cigarro foi-se aproximando e não foi a melhor coisa do mundo, provavelmente por falta de hábito. Foi quando me lembrei da primeira "tertúlia" a que pertenci em Almada, do Victor, que fumava muito, mas que não me incomodava nada como fumador. Era como se ele engolisse todo aquele fumo que se torna desagradável e só nos deixasse aquele cheiro, que a par do café, eram "perfumes" destas casas onde as pessoas se encontravam para conversar...

(Na semana passada também me lembrei do Victor, porque ele deixou-nos vitima da mesma doença da Natália Correia. Deixou de fumar de repente e o organismo não aguentou a falta daquele fumo que lhe pintara os pulmões de negro... Ou então foi um problema psicológico, a falta daquele "amigo" de todas as horas, que o ajudava a descontrair e a enfrentar o mundo... Tal como poderá ter acontecido com a Natália...).

E entretanto chegou o autocarro...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, setembro 19, 2023

O outro lado do futebol (com pessoas como nós)...


Felizmente o futebol às vezes consegue escapar ao negócio e a toda a clubite doentia, que o suja e empobrece.

Hoje deixou-nos um treinador brasileiro, que tive a felicidade de conhecer e de ouvir excelentes histórias de um futebol que já não existe, o grande (em tamanho e em qualidade humana) Marinho Peres. 

E depois acabei por me lembrar de outro excelente treinador (que também foi um grande jogador, internacional, como o Marinho...), o Jaime Graça, que também me contou vários episódios inesquecíveis, dos seus tempos de atleta e também de técnico. Estupidamente o Jaime nunca pode demonstrar o seu real valor como treinador. Foi como se o seu nome tivesse sido "vetado" na primeira divisão dos nossos campeonatos... 

Fingiu que não se sentiu incomodado ou injustiçado, por saber que havia coisas mais importantes que o sucesso (sucesso que conheceu muito bem como jogador, pois fez parte da selecção dos "Magriços", que obteve o excelente 3.º lugar no Mundial da Inglaterra e foi um dos grandes jogadores do Benfica dos anos sessenta...). E depois fez um trabalho notável no futebol juvenil do Benfica..

E por falar em "sucesso", fiquei muito feliz por o João Félix estar a brilhar no Barcelona (hoje marcou mais dois golos...) e demonstrar que os vários problemas que enfrentou no Atlético Madrid, tinham pouco a ver com o seu valor como futebolista...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, setembro 18, 2023

«Tinha pernas para andar... e não andou...»


Mais um pedaço de toalha de papel guardado para a minha já rica colecção, após o almoço de hoje com o Chico.

É giro, "basta dar corda" ao Chico e ele conta-me o que quero e não quero saber...

Hoje falámos muito do espectáculo memorável, "Almada Antes e Depois de Abril", idealizado, e transformado num momento teatral de grande qualidade, e valor histórico, pelo nosso querido amigo Orlando Laranjeiro, que fingimos muitas vezes ainda estar ali junto de nós, na mesa.

A frase que retive das muitas do Chico diz bastante da vida. Depois de me falar de dezenas de pessoas (umas que conheço ou conheci e outras que não tive esse grato prazer) que participaram neste espectáculo que visitou os palcos das principais colectividades almadenses (e que também foi uma grande homenagem ao Associativismo Popular), disse: «Tinha pernas para andar... e não andou...»

E isso aconteceu apenas por essa coisa humana, que se chama inveja, e é capaz de minar muito do trabalho válido, que se faz um pouco por todo o lado...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, setembro 17, 2023

Um amor com pouca perdição no Porto...


Todos nós sabemos que há estátuas mais bonitas que outras, e que os lugares escolhidos para as colocarem, nem sempre são os melhores (pelo menos para nós). 

Também devíamos saber que, normalmente elas não vão parar às praças e aos jardins, apenas pelo capricho de alguém. Há quase sempre uma razão para que tal aconteça e também uma aprovação maioritária pelos executivos camarários.

Eu por exemplo nunca achei muita piada à proliferação de estátuas de "ferro ferrugento" de José Aurélio no Concelho de Almada, de significado demasiado artístico, mas nunca me passou pela cabeça fazer qualquer tipo de petição contra a obra ou o autor.

É por isso que estranho a posição dos "polícias do gosto" da Capital do Norte, em relação à estátua "Amor de Perdição".

E espero que seja apenas a "nudez da musa" a fazer confusão a estas mentes, no mínimo estranhas, e não a tentação, quase diabólica, de fazerem o papel de censores a esta homenagem, prestada a um dos nossos grandes escritores...

(Fotografia de Luís Eme - Porto)


sábado, setembro 16, 2023

Somos todos menos tolerantes...


Os jovens servem para tantas coisas nas nossas sociedade, até para nossos "bodes expiatórios".

Foi o que pensei quando ouvi um senhor de fato e gravata a dizer na televisão (penso que foi um inspector da judiciária...), que os jovens de hoje são muito pouco tolerantes,  tentando explicar o inexplicável.

Só que não são só os jovens, é toda uma sociedade. Gente de todas as idades que comunica casa vez menos com os outros (se esquecermos as mensagens, claro), que se fecha na sua concha e tolera cada vez menos quem os rodeia. 

O mais grave, é que são incapazes de perceber metade do que se está a passar à sua volta...

Sei que sou um "marginal", e que devia ter vergonha de dizer (e escrever) que só uso o telemóvel para telefonar (e cada vez menos...). Mas não sou só um rapaz das margens (até vivo na Margem Sul e tudo...), sou também um "olhador", atento a tudo o que me rodeia. 

Sim, não perdi o hábito de andar na rua de cabeça levantada, sem medo de olhar as nuvens que prometem chuva e os rostos que se baixam e escondem atrás de um rectângulo quadrado, que finge ter o mundo lá dentro...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, setembro 15, 2023

Este Portugal macabro que é escondido nos anexos da nossa sociedade moderna e europeia...


Não me ocorre outro nome para classificar este nosso País, onde ainda acontecem demasiados episódios macabros, como os relatados na última semana em vários canais televisivos (retirando a quase exclusividade deste género noticioso ao CMTV).

Cada vez tenho menos dúvidas de que existem demasiadas pessoas a exercer as profissões erradas. Basta pensar na assistência social que não foi prestada à família de Peniche (um pai com notórios problemas de saúde e sem o mínimo de condições para educar as suas duas filhas, uma delas ainda menor...). Foi preciso um assassínio para acordar a Localidade e o próprio País, de que estamos longe de ser o tal Portugal moderno e europeu.

E não é menos triste o que se passa nos nossos bairros sociais, como o que foi também relatado em várias reportagens televisivas, sobre as barreiras de tijolo que substituem as portas e as janelas das casas ocupadas ilegalmente, quando os seus habitantes são despejados, e por ali ficam anos e anos, sem que as casas sejam recuperadas e entregues a quem precisa (são 700 de Norte a Sul segundo as reportagens...).

Somos contra a ocupação ilegal de qualquer casa ou terreno, mas somos ainda mais contra este Estado, que finge que está tudo bem e em vez de recuperar as suas casas (para as entregar a quem realmente precisa e está inscrito nas listas de espera), faz o mais fácil: aponta o dedo aos privados que têm casas devolutas.

Curiosamente, nestes casos raramente se ouve alguém do PS ou do PSD, a dizer o que quer que seja. Eles sabem muito bem que são  os principais responsáveis por todos estes problemas sociais, que se agravam, ano após ano, e são ignorados pelo Poder Local e pelo Poder Central, que prefere "assobiar para o ar"...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


quinta-feira, setembro 14, 2023

A "lei do mais forte" entre sonhos e "westerns"...


Não sei é é pela sua habitual falta de sofisticação, ou pela crueza com que é tratada a natureza humana, sei apenas que gosto de ver os bons westerns, de preferência realizados por mestres como foram o John Ford, o Raoul Walsh, o John Huston, o Howard Hawks ou o George Stevens.

Se esquecermos as partes de violência (sem os efeitos especiais de hoje, percebe-se que há por ali demasiada fantasia...), estes filmes são muito reais e muito objectivos, como retratam a vidinha, as relações entre as pessoas. 

Sei que são demasiado bélicos, sexistas, e até racistas, mas mesmo assim consigo olhá-los como se estivesse em pleno século XIX, em que o "ofício de viver" tem muito pouco que ver com os nossos dias.

O que me interessa mais, enquanto espectador, é sentir que em apenas hora e meia, é nos explicado com alguma mestria, quem somos e de onde viemos. 

Claro que também existe bastante ingenuidade artística e algum idealismo, quando se realizam fitas em que a justiça consegue combater e vencer a  "lei do mais forte". 

Mas os filmes são isso (tal como os livros) continuam a alimentar-se sobretudo dos nossos sonhos e pesadelos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, setembro 13, 2023

Natália...


A minha singela homenagem a uma grande Mulher, das mais livres e corajosas do século XX (poema escrito há vinte anos, mais mês menos mês...), no dia em que faz 100 anos.

Natália
 
Não gostas de ser descrita
como uma mulher bela e sedutora,
preferes a dama inteligente e insubmissa
que escreve de uma forma avassaladora
e é o pesadelo de qualquer homem apaixonado...
 
não gostas da vulgaridade,
espalhas o teu ser diferente
pelas ruelas e bares da cidade...
 
Na bruma de um cigarro
Matas a secura quase infinita
Com o liquido ardente que te aquece...

Luís (Alves) Milheiro
 
 

(Fotografia de Luís Eme - Caramujo)


terça-feira, setembro 12, 2023

A "doença" de se gostar de ler livros...


Apetece-me escrever duas ou três coisas sobre esta quase "doença" de se gostar de ler livros, mesmo sabendo que cada leitor é um caso porque, felizmente, não gostamos todos das mesmas coisas, ou melhor, gostamos de coisas diferentes (parece igual mas não é bem a mesma coisa...). 

Há autores mais difíceis que outros, por várias razão. Não é por acaso que a chamada "literatura leve" ganha no campeonato das vendas, às chamadas "grandes obras" de escritores densos (como o nosso Lobo Antunes...). Mas o que quero mesmo falar é do conteúdo, do que está dentro dos livros. E isso nem se prende muito com a forma como estão escritos.

Por exemplo, Philip Roth, não acho que seja um autor com uma escrita demasiado densa. Escreve sim, quase sempre sobre temáticas pesadas, é capaz de escrever sobre o pior da natureza humana, de uma forma perturbante e séria. É por isso que não gosto de ler livros da sua autoria seguidos. Leio só de longe a longe. Por exemplo, Arturo-Pérez Revert , talvez por gostar de temas ligados à história (e sempre com "aventuras"...), é muito mais escritor da minha cabeceira.

O curioso é sentir que já cheguei àquela fase, em que há livros que sei que nunca irei querer ler. Ao mesmo tempo que sei, que há muitos outros livros, que embora gostasse muito, já não vou ter tempo de os ler...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, setembro 11, 2023

«Só podemos controlar a nossa vida até certo ponto»


Era verdade. Mais uma das muitas que dizem ser daquele senhor, que é quase dono de todas as verdades com cheiro a lugar comum. 

O que me chamou a atenção foi a forma como a senhora disse a frase: «só podemos controlar a nossa vida até certo ponto.» Havia ali uma aceitação, que ficava quase entre o divino e o ficar à espera do que caísse alguma coisa do céu.

Talvez seja esse uma das imagens mais fáceis de colar a quem vai ficando com os cabelos cinzentos. 

Não sei se é por se ter vivido muito, ou se, por de alguma forma, já estarem no lado dos "descartáveis". Também pode ser cansaço. Sim, viver também cansa (não sei se a frase é do grande Zé Gomes Ferreira, mas fica-lhe bem)...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


domingo, setembro 10, 2023

A ignorância "atrevida" e "burra" televisiva (cada vez mais normal)...


Logo que ouvi pela primeira vez a notícia, pareceu-me estranha, até pela marca obtida ser demasiado vulgar. Refiro-me ao recorde dos 10.000 metros tão badalado hoje nas televisões, porque finalmente Samuel Barata tinha batido o recorde nacional desta distância (com 27.45,00")  de Fernando Mamede.

Como fiz atletismo e gostava de estatística, tinha algum conhecimento sobre as melhores marcas nacionais de praticamente todas as disciplinas. Com o passar dos anos, fui-me afastando da modalidade, mas não ao ponto de perceber que estava a ouvir uma "burrice" nos vários canais televisivos que anunciavam o dito recorde.

Consultei a lista dos recordes nacionais e das melhores marcas e verifiquei que estava certo. Ou seja, estava a dar-se relevo a algo que nunca teve grande importância, que são os tempos obtidos em provas de estrada (se excluirmos a maratona...). E isso acontece porque há diferenças substanciais entre os vários percursos, que podem ser mais - ou menos - favoráveis a que se obtenham grandes marcas. Isso acontece por exemplo nas maratonas. Há duas ou três maratonas espalhadas pelo Mundo que são as onde se conseguem melhores resultados, e por essa razão são as mais procuradas pelos atletas...

Ou seja, o verdadeiro recorde de Portugal dos 10.000 metros, nem sequer pertence a Fernando Mamede. É de António Pinto e foi obtido em 1999, com 27.12,47". A segunda e terceira melhor marcas pertencem a Fernando Mamede e a Carlos Lopes, obtidos na mesma prova realizada a 2 Julho de 1984, que toda a gente que gosta de atletismo se deve recordar. Carlos Lopes estava isolado, quando Fernando Mamede faz uma parte final de prova incrível e além de passar Lopes, bateu o recorde Nacional e o recorde do Mundo (que nessa prova também foi batido por Carlos Lopes...). Mamede conseguiu a excelente marca de 27.13,81" e Lopes, 27.17,48". E ainda existem duas outras marcas com tempos inferiores ao de Samuel Barata, em pista, as de Domingos Castro (27.34,53", obtida em 1993) e de Dionísio Castro (27.42,84" em 1988).

Sem pretender desvalorizar o valor de Samuel Barata, sei que está longe da qualidade atlética destes cinco fundistas portugueses citados (na sua época eram dos melhores do Mundo)...

Se queriam noticiar este feito, não deviam falar em recorde, mas sim em melhor marca. E sem se esquecerem de dizer que tinha sido obtido numa prova de estrada, que continua a estar longe de ter a credibilidade dos tempos realizados numa pista de atletismo.

Estranho não ouvir ninguém da FPA (Federação Portuguesa de Atletismo) a manifestar-se sobre esta notícia. 

(Fotografia de Luís Eme - Óbidos)


sexta-feira, setembro 08, 2023

Bater de frente com a realidade e ficar a "chover no molhado"...


Noto que as pessoas "normais" cada vez gostam menos de falar de política e de futebol. Isso acontece porque não lhes apetece nada pensar em coisas tristes, muitos menos conversar sobre coisas que só lhes dão aborrecimentos.

No fundo sabem, que por muito que falem e votem, os problemas vão manter-se, porque as pessoas que fazem parte dos principais partidos sempre se preocuparam mais com os seus interesses particulares que com o que é realmente importante para todos nós.

O curioso é ainda haver gente que fica surpreendida por cada vez votarem menos pessoas.

Quem não se parece preocupar minimamente com isso são os políticos. Desde que se mantenham no poder, fingem que está tudo bem.

Com o futebol acontece a mesma coisa. Os seus dirigentes não se preocupam se as suas atitudes pouco desportivas estão a destruir a "indústria" que os ajuda a nadarem em milhões, se cada vez vai menos gente aos estádios, ou se os canais desportivos pagos têm menos assinantes. Mas gostam muito de falar de "verdade desportiva". Apenas isso. Falar...

Lá estou eu a "chover no molhado", mas entristece-me viver num país assim, onde se finge diariamente que tudo está bem e vão-se empurrando os problemas para o buraco (que parece não ter fundo...) que se esconde debaixo do tapete...

Se Santa Marta nos valesse, apanhávamos todos este autocarro...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, setembro 07, 2023

«Há já algum tempo que desisti de andar atrás da perfeição. Só ainda não percebi se isso é bom ou mau.»


Há frases que nos fazem pensar mais que outras. Foi a primeira coisa que me veio à cabeça quando o Rui disse: «Há já algum tempo que desisti de andar atrás da perfeição. Só ainda não percebi se isso é bom ou mau.»

Depois fiquei a pensar que como nunca fui demasiado perfecionista, nunca precisei de desistir da tal perfeição. Estava enganado. Ou talvez estivesse apenas a querer enganar-me...  

Eu sabia que a perfeição é apenas mais uma das várias linhas invisíveis que existem à nossa volta, que quase funcionam como balizas nas nossas vidas. Também sabia que o Rui queria conversa à volta da "perfeição". Mas ninguém teve vontade de "desmontar" as suas palavras, como se a tal "perfeição" fosse uma coisa perigosa...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quarta-feira, setembro 06, 2023

Transparências e olhos vendados...


Normalmente as pessoas com poder, não gostam muito de coisas transparentes, nem de coisas que sejam fáceis de entender, por mais ou menos instrução que se possa ter.

Apesar da justiça ser apresentada de olhos vendados, provavelmente, é o sector da sociedade onde se notam mais estas incongruências humanas, onde muitas vezes uma vírgula colocada no lugar errado (propositadamente) faz toda a diferença.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, setembro 05, 2023

A gargalhada rara do "rei dos azares"...


Não lhe sei explicar o porquê, nem tenho vontade. Acho que ninguém sabe.

Mas ele insiste em ser o "rei dos azares". Tudo de mal que está a acontecer no mundo (em dimensões reduzidas, claro), espera-o à porta.

Quanto menos dinheiro tem, mais complicações lhe aparecem na vida. Entre outras coisas, diz que quando o carro "morrer" não volta a ter outro. Em relação à casa e aos problemas domésticos que todos enfrentamos, já o ouvi um dia falar da "sorte" dos sem abrigo, que não pagam renda, água, luz, muito menos arranjos aos "vigaristas" dos canalizadores ou electricistas.

Não lhe disse, por saber que não ia mudar nada. Mas sei que se ele tivesse uma perspectiva mais optimista em relação à vida,  alguns problemas eram capazes de se deixar de colar à sua pele.

O único conselho que lhe dei, foi que devia mudar-se para uma aldeia, daquelas que ainda têm um prior, capaz de curar todos os males do mundo. De certeza que ele benzia-o, assim como ao carro e à casa. O único senão era ter de rezar algumas centenas de vezes a "Avé-maria" e o "Padre-nosso". 

Estranhamente soltou uma gargalhada das grandes, coisa rara nele. E depois mandou-me ir "encher de pulgas".

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, setembro 04, 2023

Talvez o mundo não seja para pessoas inteligentes...


Já pensei mais que uma vez, que este mundo em que vivemos não é para pessoas demasiado inteligentes (e ainda menos para pessoas sensíveis...), mas sim para gente esperta que nem um alho, que vê em cada oportunidade que a vida lhes dá, uma possibilidade de se sair bem e por cima.

Isso tanto me acontece em situações complexas como em situações simples. 

Hoje ao pequeno almoço aconteceu uma coisa tão simples, mas que me disse que mesmo nas coisas mais banais, olhamos para as coisas de forma diferente. A minha filha estava a perguntar onde estavam as canecas depois de abrir a primeira porta do conjunto de armários da cozinha. Disse-lhe que estavam na "terceira". A cabeça dela pensou em prateleiras e colocou-se em bicos de pés a espreitar para cima. Foi quando a sorrir lhe disse que era a terceira porta.

Depois fiquei a pensar que as pessoas inteligentes pensam em demasiadas coisas ao mesmo tempo, não vão directas ao assunto, como os espertalhaços.

Claro que tudo acaba por ser normal. A casa é nova, a cozinha também, e estamos em habituação a tudo, até ao lugar das coisas... Mas mantenho a minha, talvez o mundo não seja para pessoas inteligentes...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


domingo, setembro 03, 2023

Quando os livros não passam de "contos de fadas" (mesmo que os escritores pintem o mundo de cores escuras)...


Acho que não vale a pena "traduzir" o sentido da palavra "demónios" que coloquei por aqui, ontem. Com toda a certeza não tem nada a ver com o "diabo" apregoado por Passos Coelho, há alguns anos, muito menos com algum "amigo do peito" de Cavaco.

Os livros despertam o melhor e o pior que temos dentro de nós, porque  nos obrigam muitas vezes a entrar em "divisões escuras", que fingimos desconhecer no nosso "edifício interno", ou que simplesmente, nos recusamos a abrir.

Mas eu vou traduzir (só para ti...). São sobretudo inquietações. Claro que também somos perseguidos por dúvidas, ao ponto de ficarmos quase sem palavras, perante a maldade humana.

Do que não tenho dúvida nenhuma, é que os livros não passam de "contos de fadas" (e de bruxas...), se pensarmos na Ucrânia, na Rússia, no Afeganistão, nas Arábias ou no Irão.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, setembro 02, 2023

Ainda bem que os livros transportam vários "demónios" dentro do seu mar de palavras


Hoje tive um dia calmo, leve. Ontem foi bem mais pesado. Hoje quase que não pensei. Ontem, pelo contrário, pensei bastante.

Pois foi, hoje não li uma linha do romance de Roth, que está quase no fim. Está aqui a resposta. Faz de conta que o tio Valentim tinha razão, quando dizia que os livros tinham demónios lá dentro., que não era das melhores coisas ler.

Comecei a sorrir sozinho, a dizer a mim próprio que gosto mais dos dias com livros. 

Ainda bem que os livros transportam vários "demónios" dentro do seu mar de palavras.

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


sexta-feira, setembro 01, 2023

«Este é o Setembro que eu conheço»


O vento, a temperatura ligeiramente mais baixa e bastantes nuvens no céu, avisaram-nos que já estávamos em Setembro.

Encontrei o João na rua e entre outras coisas falamos da diferença de ontem para hoje. Entre outras coisas, ele disse-me: «este é o Setembro que eu conheço.»

Não lhe dei muitas esperanças, porque tudo muda rapidamente, desde que o "tempo" anda por aí, com as rédeas cada vez mais soltas. 

Depois de o deixar lembrei-me do meu avô. Se ele conhecesse este tempo, capaz de nos mostrar todas as estações num só dia, devia ficar surpreendido, mesmo com o conhecimento que tinha da teimosia e da força da natureza. Não tivesse ele sido agricultor a vida toda.

Só faltou falarmos dos dias mais curtos...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)