sábado, outubro 31, 2015

A "Palha" e um Pé Dentro e Outro Fora


A blogosfera é um fenómeno curioso. Há quem diga que já teve melhores dias. É possível.
Eu ainda continuo a ter prazer em escrever e ler  neste modelo virtual, onde as palavras - e em alguns casos as imagens... - continuam a ser o mais importante.

Ontem encontrei um amigo que, como ele próprio diz, está com um pé dentro e outro fora dos blogues (às vezes está um mês sem escrever uma linha). 

Ele sabe porque é que isso acontece. Por um lado escreve de uma forma irregular, apenas mesmo quando lhe apetece. É impossível encomendares algum texto a este rapaz, diz-te logo que não. É um idealista, incapaz de participar em colectâneas do que quer que seja. Diz que não precisa de ter obra publicada, nem de ser poeta ou escritor. Precisa apenas de escrever quando lhe apetece.

E acabou por desabafar que também se fartou da malta dos blogues, por escreverem demasiada palha. Eu sorri e assumi que pertencia a esse grupo, mas apenas por não me levar demasiado a sério e me aproveitar da função "diaristica" que os blogues têm. Às vezes em vez de falar com as paredes falo com os blogues, por saber que é mais fácil ouvir o eco...

O óleo é de David Jewel.

sexta-feira, outubro 30, 2015

O Princípe Hamlet em Almada


Tal como não sou muito adepto de livros com mais de 300 páginas, também não gosto de filmes longos , pelo que à partida "torci o nariz" ao convite que me foi feito para assistir ao "Hamlet", no Teatro Azul, em Almada, a tradução de Sophia de Mello Breyner Andresen encenada por Luís Miguel Cintra com quatro horas de duração.

Faz-me um bocado de impressão a paixão que os encenadores portugueses têm pelos chamados clássicos (especialmente as obras de Shakespeare, como é o caso...), até por achar muitas destas peças "chatas". Era também por isso que estava com medo de ficar com sono, com uma maratona teatral destas à minha espera...

Mas lá fui, ontem à noite, muito para ver aquele que poderá ser o último espectáculo teatral em que Luís Miguel Cintra participa. Ele é merecedor de todos os aplausos pela sua extraordinária carreira como actor e encenador.

E felizmente a peça acabou por ser uma boa surpresa, graças a um jovem de 22 anos chamado Guilherme Gomes, que fez muito bem de Hamlet.


E depois Luís Miguel Cintra tem o poder de chamar a atenção dos espectadores, pelo simples facto de aparecer no palco, mesmo que apenas se desloque de um lado para o outro. Há actores assim. O meu amigo Francisco Gonçalves, um dos melhores amadores da história do teatro almadense, com os seus 85 anos, também me provoca o mesmo tipo de reacção.

Sai do Teatro Azul satisfeito, muito graças ao jovem príncipe da Dinamarca, escolhido pelo encenador, que conseguiu que assistisse com interesse, e sem sono, a esta intriga milenar da autoria do dramaturgo mais representado do mundo.

quinta-feira, outubro 29, 2015

Uma Intervenção (nada) Sonâmbula


Como já escrevi por aqui, a biblioteca da Incrível Almadense é um grande tesouro para quem gosta de ler e de livros.

A minha última descoberta foi a "Intervenção Sonâmbula" de José Gomes Ferreira, publicada em 1977 pela "Diabril" e que nos explicam no começo ser uma: «Crónica do segundo ano da Revolução de 25 de Abril de 1974, através de documentos publicados pelo autor nesse período.»

Está organizado quase em jeito de diário e o José Gomes Ferreira vai-nos  relatando, página a página, muito do que viveu nesse ano memorável de 1975, sempre com um olhar atento e crítico sobre as pessoas e os acontecimentos que tanto aqueceram esse ano, pelo menos até ao 25 de Novembro.

Só alguém como o poeta José Gomes Ferreira conseguiria dizer tanto em várias situações, aparentemente simples do seu quotidiano. E quando é preciso recorre à história, ao humor e à ironia, com a sua mestria.

E como eu gostei desta intervenção nada sonâmbula de um dos grandes nomes da literatura do século XX.

quarta-feira, outubro 28, 2015

Continuo a Pensar que o Jornalismo é Outra Coisa


Há vinte e três anos (como o tempo passa...), embora já fizesse jornalismo, sabia que a formação era importante e foi por isso que me inscrevi e fui admitido num dos cursos de jornalismo do CENJOR, onde continuei a minha aprendizagem (até aí sobretudo empírica), graças aos excelentes professores desta escola profissional.

Já nessa altura durante algumas aulas era comum questionarmos se o que o "Correio da Manhã" fazia era jornalismo. O problema é que o jornal, com o passar do tempo, ainda se conseguiu tornar em algo mais distante do que deve ser um órgão diário de informação, livre e pluralista.

Nunca se tornou tão evidente como nestes nossos tempos, que o "negócio", o "espectáculo" e a "sensação" se impuseram de vez, ao ponto de a verdade passar a ser uma coisa secundária nas suas páginas.

Nunca me esqueço de um assalto feito apenas por um jovem, que vivia com dificuldades financeiras, à recepção de um hotel lisboeta, e da volta que este jornal deu ao acto criminoso, colocando na sua primeira página a notícia de que "gangues organizados" andavam a semear o terror nos hotéis lisboetas. Este é apenas um, mas podia dar dezenas de exemplos do mesmo cariz.

Sei que este modelo de notícias oferecidas quase como episódios de novela vende. Também já percebi que as pessoas que lêem este jornal vivem sequiosas de sangue e de misérias alheias, mas também sei o jornalismo é outra coisa... 

O óleo é de Eva Navarro.

segunda-feira, outubro 26, 2015

Uma Outra Religião, com Outro Jesus


Dando continuidade ao que escrevi ontem, para mal de todos os pecados dos benfiquistas (onde me incluo...), o Jesus parece que é mesmo Salvador, os sportinguistas que o digam, não é todos os dias que se chega ao Estádio do Benfica e se ganha por três a zero. 

Agora falando mais a sério, é bom percebermos que se há alguém que acredita nele próprio, é o agora treinador do Sporting. Consegue suplantar as suas limitações técnicas e linguísticas com uma enorme força de vencer. E os resultados estão à vista.

Eu sei que tem tido sorte. Mas a sorte normalmente procura-se, não é coisa para vir ter connosco, apenas porque sim.

Ao contrário do que já se diz por aí, que ele agora até já aposta na formação, em Alvalade. É mentira. Ele continua a apostar nos melhores jogadores, que por mera curiosidade, no clube leonino, além de terem crescido na Academia, também são portugueses.

E também lamento que o Benfica não tenha aceitado com mais "fair-play" a sua saída (até por ser do conhecimento público que se iria mudar de paradigma no clube, investindo-se mais na formação e menos nos mercados). 

domingo, outubro 25, 2015

O Conforto e a Alegria que Vêm de Fora...


Há muito que não me apercebia, de uma forma tão nítida, o quanto era importante que o Benfica ganhasse, para o conforto, ainda que por apenas algumas horas, daquele "Vencido da Vida", que saiu de casa cedo, com o cachecol encarnado ao pescoço.

Conhecia-o de vista. Era pouco mais velho que eu e estava desempregado há tempo demais, ao ponto de não se lembrar de quando tinha tido um emprego certo. A sua vida era feita de biscates, fazia tudo para ganhar uns cobres, para o tabaco, para o tinto e para o Benfica, quando tinha mesmo de ser.

Este domingo era um desses dias. Nem sequer se assustou com a chuva matinal. Calçou as botas de borracha, certo que por ali não iria entrar água, assim como o seu impermeável. Não queria perder a oportunidade de se associar às assobiadelas monumentais que iriam oferecer ao Jesus no estádio, esse traidor. Pior que ele só o Cavaco. Mas como ele disse, hoje não era dia de se falar de política. Era dia de gritar pelo Glorioso.

Encostado ao balcão do café, disse ao empregado que nem se importava que o Benfica ganhasse só por um zero, mas iam ser pelo menos dois ou três, com o Jonas e o Mitroglou (nem se enganou ao dizer o nome do grego, sabia mais de português que o Jesus...) a trocarem os olhos aos defesas dos "lagartos".

Percebi o quanto ele precisava de se sentir feliz, de ter uma alegria, ainda que fosse só por umas horas. Só era preciso que os jogadores encarnados estivessem pelos ajustes...

sábado, outubro 24, 2015

A Dificuldade de se Dizer Não...


Embora continue a ter dificuldade em dizer não, quando me pedem apoio para qualquer iniciativa, sei que estou em mudança. Já vivi tempo suficiente para saber quem são as pessoas que só me telefonam para pedir alguma coisa e nunca para me brindarem com uma simples conversa de amizade, nem que seja só para dizer olá.

É por isso que já me vou habituando a inventar desculpas, para não ser completamente desagradável. É a tal história de que, para "cínico cínico e meio", A vida tem essa coisa boa, de nos dar "socos", mas também de nos permitir aprender alguns golpes, de "defesa e ataque".

Normalmente diz-se que os cinquenta anos nos dão a maturidade,  a "experiência de vida". É verdade. Mas também nos dão alguma matreirice, para lidarmos com os muitos "oportunistas" que nos cercam, na tal aprendizagem em que cada vez se vai tornando menos difícil dizer não.

O óleo é de Aka Mattas.

quinta-feira, outubro 22, 2015

Leituras Antigas Problemas Modernos


Este Outubro fez com que começasse a ler livros fora de moda e a dar algum uso aos  velhos livros da biblioteca da Incrível Almadense, da qual sou colaborador.

Estou a ler quase em simultâneo dois livros de contos de duas autores quase esquecidas, Maria Judite de Carvalho ("Flores ao Telefone") e Isabel da Nóbrega ("Solo para Gravador").
Este último livro foi editado em 1973 e num dos contos ("Colagem") senti algumas palavras muito próximas de 2015, embora as pessoas tenham crescido um palmo e não se agarrem à maternidade, como nesta ficção de Isabel da Nóbrega, que transcrevo com a devida vénia:

[...] «O quarto que habitam é tão pequeno que tiveram de serrar os pés à cama, encurtando-a, para lá caber junto do armário, das mesas de cabeceira e da mesa da cozinha e agora dormem encolhidos. Não haverá desmancho deixam ir o menino avante. Não é um acto de coragem, nem de fé, nem de boa moral, nem de amor, ainda. Desconfio que é simplesmente para sentirem qualquer coisa de seu. Despojados de tudo, numa sociedade errada, onde hipocritamente se prega a caridade e não a justiça social, sentem confusamente que também têm direito a uma coisa sua.» [...]

Nesta última parte, descobrimos uma sociedade próxima dos nossos dias, com milhões de pessoas reféns da "caridazinha" de todos os "bancos alimentares" e de "todas as "sopas dos pobres" que criaram de Norte a Sul.

Infelizmente este nosso país está a ficar com gente a mais que sofre, gente que tem medo, gente que deixou de ter vontade própria. E isso explica um pouco o porquê deste impasse político, o porquê da vitória da coligação de dois charlatões...

O óleo é de Theodore Roussel.

terça-feira, outubro 20, 2015

«Os espelhos nunca nos dizem tudo.»


Quando a Rita disse: «Somos mesmo fruta do tempo», olhámos-a e ficámos à espera de qualquer pista, sem sabermos muito bem o que viria a seguir.

Foi então que ela apontou para as nuvens cinzentas que andavam a cirandar por cima de nós e a ameaçar-nos com uns baldes de água. 

Continuou enigmática e acrescentou que «Os espelhos nunca nos dizem tudo.»

O Adriano sorriu e respondeu-lhe: «Depende dos espelhos e depende dos olhares. Se andarmos por aí, distraídos podemos esquecer quase tudo, até este céu que gosta de usar os nossos olhos como reflector.»

A Marta que não é mulher de falar, é mais de ouvir, sorriu enquanto  amaldiçoava o Inverno que estava quase a chegar e ela sem poder hibernar. deixando-nos também a sorrir com a sua frase quase sincera: «Se pudesse ia embora para uma toca qualquer e só voltava na Primavera...»

Mais uma vez reparei nas diferenças quase evidentes entre o masculino e o feminino, na nossa elementar distracção e facilidade de viramos as costas a estes pequenos contratempos, como é o caso de um céu carregado de nuvens...

O óleo é de Carolyn Pyfron.

segunda-feira, outubro 19, 2015

Quando um Grande Actor Deixa os Palcos...


Quando um grande actor abandona os palcos, deixa sempre um rasto de saudade atrás de si, esse sentimento que tanta gente afirma ser apenas português (talvez conheçam mal o mundo...). 

E se esse actor não for reconhecido apenas pelo seu talento artístico, mas também pelo seu exemplo de liberdade, de ética e de estética, o vazio que fica é maior que qualquer sentimento...

Por sabermos que se contam com os dedos de uma mão os actores que puderam dizer não à mediocridade televisiva, recusando-se a participar em produtos mais industriais que artísticos, conhecidos como telenovelas, provavelmente a despedida dos palcos de Luís Miguel Cintra até acaba por ser uma boa notícia para os vários "angariadores de lixo cultural". Esses mesmo, que se esforçam por andar em bicos de pés nas ruas e em sorrir para qualquer câmara que lhes surja à frente, que olharam sempre para este excelente actor como um péssimo exemplo para o seu "negócio".

Obrigado Luís Miguel Cintra!

domingo, outubro 18, 2015

O Medo que Toda Esta Gente Tem das Pessoas Livres...


Ainda não me assusta, mas já me começa a incomodar, sentir, cada vez mais, que ser livre começa a ser quase sinónimo de "fora da lei", como aconteceu entre 1926 e 1974, esses 48 anos de tão má memória, e que tantos já esqueceram...

Não vou deixar de ser livre, de dizer ou escrever o que penso, apenas porque alguém fica com "azia", ou ainda pior, a "espumar pela boca".

Infelizmente este medo não é apenas da direita, é essencialmente de quem exerce o poder (que também não se resume ao poder político, infelizmente os maus exemplos são seguidos por muito boa gente, com "alma de ditador").

Podia dar como exemplo a cidade onde vivo, Almada, governada desde 1976 pelo PCP (ainda que com siglas diferentes, de APU a CDU), onde tenho sofrido vários tipos de pressões, quase todas encapotadas, que se reflectem sobretudo na falta de apoio a iniciativas da qual faço parte.

Claro que a direita é mais carnívora, especialmente quem pensa pertencer a "castas", que por si próprias lhes dão acesso ao poder (as famílias que não têm feito outra coisa, que não seja viver à nossa custa, há já quase 900 anos...), é por isso que gostam tanto de monarquias, de dinastias, condados e afins.

Quando comecei a escrever nem sequer estava a pensar em Angola, onde as coisas terão forçosamente que mudar, ainda que para isso possam existir vitimas mortais, como podem ser os casos de Albano "Liberdade" ou de Luaty Beirão...

É por tudo isto que quando me perguntam qual é a palavra que gosto mais, digo sempre, LIBERDADE.

O óleo é de Winslow Homer.

sexta-feira, outubro 16, 2015

A Discrição Devia Continuar a ser a Alma dos Negócios...


Há profissões que guardam segredos, outras que se alimentam da discrição. Claro que todas estas condicionantes óbvias dependem muito de se ser bom ou mau profissional.

Foi por isso que me pareceu mal ver a empregada da loja prazenteira apontar o dedo a uma sexagenária, que naquele momento passou na rua, por ser sua cliente. Acrescentando entre sorrisos que a senhora devia ter uma das melhores colecções de vibradores da Cidade.

Fiquei em silêncio, mas pensei logo em escrever uma história sobre uma qualquer mulher livre e madura, capaz de lutar contra os preconceitos que se espalham por aí, com o objectivo já muito pouco peregrino, de tentar "comandar" a vida dos outros.

Se é normal viver-se até depois dos oitenta, porque razão não se pode também prolongar a vida sexual?

Mas o mais grave para mim foi esta frase vir de uma mulher com mais de trinta anos. Nem sequer se tratava de uma pós-adolescente. 

Ainda pensei falar com ela no assunto, dias depois, mas acabei por desistir. Poderia ser mal entendido. Ela nunca iria entender que o meu interesse era meramente literário.

E assim permaneço na dúvida, sem saber se a maior fatia dos seus clientes são homens ou mulheres. 

Normalmente as piadas "sexistas" são masculinas (eu sei que isso acontece por não ouvirmos as conversas entre mulheres, mas...), deve ter sido por isso que estranhei aquela inconfidência. Claro que também fiquei com a sensação que para algumas daquelas mulheres os "devaneios sexuais" continuam a ser coisa de homem...

O óleo é de Felice Casorati.

quinta-feira, outubro 15, 2015

Espera-nos um Futuro Demasiado Cinzento


Desde que os resultados das eleições proporcionaram esta "luta de frangos" - mais que prevista - não voltei a escrever sobre política.

Mas ela diz bem da qualidade dos nossos líderes políticos, gente sem capacidade para governar em busca de consensos, ou seja, sem maiorias. Fingem-se esquecidos do que é a democracia, porque bom bom é a autocracia, fazerem o que lhes dá na real gana, como fizeram os partidos de direita nos últimos quatro anos.

Esta será a grande diferença que existe entre António Costa e Passos Coelho, o primeiro além de ser menos mentiroso (foi também por isso que perdeu as eleições...), já provou na Câmara de Lisboa que é capaz de ir à procura de consensos, quando tem necessidade disso.

Não sei qual vai ser a posição de António Costa em relação ao "canto da sereia" do PCP e do BE. Espero que pense bem no que vai fazer e que não centralize o olhar apenas no poder, na ambição de ser primeiro-ministro.  Espera-se no mínimo que seja capaz de fazer um acordo que lhe garanta a governação com o programa do PS e não dos outros partidos.

Mas seja qual for a posição de António Costa, o seu partido continua de tal forma dividido (ele já deve ter percebido que conta com uma oposição interna mais forte que nunca...), que pode ir desaparecendo aos poucos, apesar do conservadorismo político dos portugueses, avessos a grandes mudanças.

Mais perigosa será a política de "vitimização" que vai ser levada a cabo por Passos e Portas (maior se for formado um governo de esquerda...), que irão sempre dizer que forem eles os escolhidos pelo povo, ao mesmo tempo que culparão o PS de todos os problemas, especialmente os herdados da coligação. Porque entre outras coisas, eles sabem mentir e explorar melhor do que ninguém a "memória curta" dos portugueses.

Esta política de vitimização só terá um objectivo: criar condições para novas eleições e levar a direita a uma nova maioria no parlamento.

A ilustração é de Ben Shahn.

terça-feira, outubro 13, 2015

Duas Leituras Distantes do Entusiasmo


Os últimos dois livros que li estiveram longe de me entusiasmar. E por acaso até são de bons autores, de José Saramago e Lídia Jorge.

Refiro-me a "Objecto Quase" e "A Noite das Mulheres Cantoras". 

O primeiro é um livro de contos, onde não me identifiquei com nenhuma das suas histórias. Achei-as estranhas. Além de absurdas, havia ainda uma componente, que eu chamaria, filosófica. Como se o autor quisesse dar um ar de "coltura", para o leitor, e não só. Estávamos em 1984, ainda distantes da atribuição do "Prémio Nobel" e do seu reconhecimento como escritor...

O segundo, andei sempre atrás da história, pouco entusiasmado com as aventuras das mulheres cantoras...

Sei que também há a possibilidade de ter lido estes livros na altura errada. Não estamos sempre com o mesmo estado de espírito...

O óleo é de Sergius Pauser.

segunda-feira, outubro 12, 2015

Pessoa em Costa Pinheiro


Hoje ao ler o "Diário de Notícias" soube que o artista plástico Costa Pinheiro nos tinha deixado na passada sexta-feira, na Alemanha (nos últimos anos repartia-se entre a Alemanha e Portugal, mais especialmente em Quelfes, no concelho de Olhão, onde fica a sua casa-ateliê.

Conhecia sobretudo a sua fase Pessoa (um dos quadros é este...), onde fez um belo trabalho sobre o nosso poeta maior.

Através do artigo assinado por Marina Almeida fiquei a saber mais coisas, como por exemplo que tinha fundado o grupo KWY (três letras que nesse tempo não faziam parte do nosso abecedário...) no início dos anos 1960, com René Bertholo, Lourdes Castro, João Vieira, José Escada, Gonçalo Duarte, Jan Voss e Christo. Estes artistas resolveram escolher este nome que significava, "Ká Wamos Yndo", o que estava longe de ser fácil em plena ditadura...

Também gostei da fotografia onde o artista aparece e tem como fundo o seu lema de vida: "A imaginação é a nossa liberdade".

E é uma grande verdade...

domingo, outubro 11, 2015

A Solidão de um Quarto de Hotel


Quando estamos habituados a entrar na noite numa casa cheia de sons, de cheiros, de movimentos, estranhamos a solidão de uma casa vazia, e ainda mais a de um quarto de hotel.

Quando vivemos sós, há várias artimanhas para combatermos o silêncio. A televisão aparece quase sempre em primeiro lugar, depois a rádio... com as vozes a saírem dos aparelhos e a espalharem-se pelas divisões, sem cerimónias.

Mas num quarto de hotel tudo é diferente, nada daquilo é nosso, nem a televisão consegue ser uma boa companheira.

Era para ficar por aqui, mas olho a janela e sinto um vazio ainda maior nas ruas desta pequena cidade. 

Quando caminhava, depois de jantar, não me cruzei com ninguém. Não consegui sentir sequer a presença de fantasmas, quanto mais de seres humanos. Nem passei por um único café aberto. 

Claro que devem existir lugares estratégicos para quem pensa que gosta da noite, um pequeno bar longe do centro ou até uma discoteca.

Sei que nada disso me interessa por aí além, pois não ando à procura de "aves nocturnas". Sinto sim alguma curiosidade pela vagabundagem nocturna, que parece ter os dias contados.

Embora me custe a acreditar que a única possibilidade de encontrarmos pessoas é dentro de um computador, não tenho dúvidas de como o mundo está diferente...

Felizmente, de manhã, um novo dia começa, com pessoas, que até poderiam vir de outro planeta.

sexta-feira, outubro 09, 2015

Uma Fotografia que Faz a Diferença



Apesar da "massificação" da fotografia, o sinónimo de uma boa fotografia não mudou.

Embora o gosto de cada um de nós esteja longe de ser igual, quando uma fotografia consegue surpreender, muitas vezes até pela sua simplicidade, faz toda a diferença. 

Muitas vezes até perguntamos: «Porque é que eu nunca tive esta ideia?»

Esta fotografia de Sérgio Larrain, é um pouco isso...

quinta-feira, outubro 08, 2015

Publicidade Especial


Descobrirmos coisas velhas com sabor a novas, foi o que mais nos aconteceu depois de Abril de 1974.

E não foi apenas a Coca Cola, até coisas mais simples e saudáveis com os cereais "Corn Flakes", só apareceram por cá com a feliz abrilada proporcionada pelos "Capitães da Malta", cansados de lutar contra um inimigo cada vez mais forte, até por a razão se aproximar cada vez mais da sua causa...

terça-feira, outubro 06, 2015

«A sétima arte sempre teve o condão de transformar heróis de papel em gente de carne e osso.»


Voltei à infância por causa dos livros e filmes de aventuras. Recordei que quando era pequenote pensava que só os heróis dos livros de banda desenhada que acabavam por dar o salto para o cinema, tinham existido de verdade. Os outros eram apenas uma invenção dos criadores de histórias.

Só quase no final da primária é que descobri que o Tarzan era apenas uma personagem de ficção criada por Edgar Rice Burroughs. No início pensava que me estavam a querer enganar, mas... Mesmo Robin dos Bosques é um herói mítico, que muitos gostavam que tivesse existido, pelo menos como é pintado, com a virtude de roubar aos ricos para dar aos pobres, uma autêntica raridade, mesmo nos nossos dias.

Até nos chegou de "avião" o célebre Major Alvega, que algumas alminhas pensam que se trata de uma criação portuguesa e não de uma adaptação do inglês para português, que um dedo da censura achou por bem que o piloto passasse a ter como nome próprio Jaime Eduardo (vá lá saber-se porquê...) e tivesse nascido no Ribatejo (há coisas do arco da velha...).

Também falámos de outros heróis com direito a biografia e existência real, quase todos ligados aos filmes com índios e cowboys.  Até sorrimos com o facto de Bufalo Bill ser um dos poucos heróis que morreram de velhice, como artista de circo.

Devemos tanto ao cinema no nosso imaginário infantil e juvenil. Foi por isso que disse:
«A sétima arte sempre teve o condão de transformar os heróis de papel em gente de carne e osso.»

segunda-feira, outubro 05, 2015

Um Dia Depois do Outro


Estava ali junto ao cais, quase a ver as pessoas passarem, a fazer tempo, porque isto de acordar cedo tem que se lhe diga.

Pensava que ia estar mais chateado nesta manhã quase sombria. Pela ausência de Sol e de futuro (acredito pouco na capacidade desta gente em fazer as reformas que o país precisa, há pelo menos dez anos. é mais fácil continuar a cortar nos ordenados, nas reformas e a aumentar impostos...).

Lembrei-me do Gui, que não deve ter votado lá nos "brasis", que sempre foi mais "neo-realista" que eu e me dizia, sempre que apanhávamos um vigarista pela frente (e apanhámos muitos...): «Não sejas anjinho, quem mente mais e de forma mais convincente é que ganha nos dias de hoje.»

Claro que podemos continuar a "remar contra a maré", a achar que esta "gente não é do nosso reino", mas a realidade e as sondagens (que influenciam sobretudo aqueles que gostam de estar do lado dos vencedores) dizem-nos que é delas que o "povão" gosta e vota.

Sei que hoje durante o almoço vamos dizer mal dos políticos do bloco central, ao mesmo tempo que respiramos de alívio e acrescentamos que os gajos perderam, e bem, no nosso distrito. Mas Setúbal não é uma ilha...

O óleo é de Charles Walter Simpson.

domingo, outubro 04, 2015

José Vilhena, um Símbolo da Liberdade


José Vilhena é um dos maiores símbolos da liberdade do mundo do jornalismo e da literatura popular, pois conseguiu ser perseguido (e preso...) durante a ditadura e durante a democracia, apenas porque não colocava qualquer "freio" na sua criatividade. 

Conheci-o bastante cedo, graças aos pequenos livros eróticos, que um dos meus tios comprava e às vezes deixava-os à vista, sempre com umas capas quase "picantes" para a época (ainda durante a ditadura) e para um puto de sete oito anos.

Após o 25 de Abril  criou a "Gaiola Aberta", uma revista satírica, que teve em Mário Soares um dos seus principais motivos de inspiração - o seu rosto presta-se bastante à caricatura -, assim como os restantes actores políticos dos anos setenta, pois nunca lhe faltou inspiração para retocar o quotidiano.


Depois da "Gaiola Aberta" editou "Fala Barato", "O Cavaco", "O Moralista", além de dezenas de livros com histórias eróticas alegres.

Em 2002 a "Editorial Notícias" (fonte das imagens) editou um álbum que lhe faz justiça e que nos mostra um artista que não fez apenas caricaturas, organizado por Rui Zink.

José Vilhena deixou-nos ontem, mas estou certo que a sua obra perdurará (pelo menos a pós-25 de Abril), pois oferece-nos um retrato muito peculiar de uma época especial.

sábado, outubro 03, 2015

A Maioria que Perde Quando Ganha...


Por hoje ser dia de reflexão, podemos olhar de uma forma mais abrangente para o universo eleitoral do nosso país, para a maioria que embora ganhe as eleições fica sempre a perder, por se colocar à margem do acto eleitoral.

Como já perceberam refiro-me aos abstencionistas, que passam a vida a dizer mal de tudo e depois quando chega a altura em que podem decidir alguma coisa (escolher a força política menos má para governar...), ficam em casa.

Por muito descontentes que estejamos com o sistema ficamos sempre a perder.

Falo por experiência própria. Nas últimas eleições autárquicas, abstive-me pela primeira vez. Não quis votar na CDU, por achar que já estavam  à tempo demais no poder (e estão, desde que há eleições livres...) e também não me apeteceu votar na oposição, por "não existir" até dois ou três meses antes das eleições.

O mais curioso é que a minha abstenção (e a dos mais de 60 % dos almadenses - algo que devia fazer pensar os políticos...) acabou por voltar a dar a maioria à CDU.

Porque apesar de toda a "conversa da treta" dos analistas políticos,  a abstenção favorece sempre quem está no poder...

E é isso que também pode acontecer amanhã, o dia de todas as liberdades e de todas as decisões.

Escolhi esta ilustração de Alex Colville, porque ao contrário de outros anos, a habitual ida à praia no domingo das eleições não foi aprovada pelo São Pedro...

sexta-feira, outubro 02, 2015

«Claro que o "Largo" também é um diário.»


Algumas vezes escrevo de uma forma mais enigmática (como foi o caso de ontem, embora se por acaso fizessem uma ligação ao "Casario", perceberiam pelo menos do que falava...), porque sinto necessidade de desabafar.

É por isso que não tenho qualquer dúvida que o blogue também funciona como um diário, que por ser público e não ter "cadeado", deve ser gerido de forma a não contarmos mais do que devemos, quanto mais não seja para protegermos as pessoas que nos são mais próximas.

Aliás um blogue é o que quisermos. E felizmente continua a ser um espaço de liberdade, não é Rita?

O óleo é de Pablo Picasso.

quinta-feira, outubro 01, 2015

Olá Outubro Quente


Hoje senti mais uma vez o que alguém pode fazer, por causa da chamada "dor de corno", também conhecida por "dor de cotovelo".

Eu já me andava a sentir "clandestino" nos últimos dias, só não esperava que neste dia D, entre a tentativa frustrada de fazer o pino e dar cambalhotas, a mentira de perna curta fosse a arma utilizada  para um jeitoso lutar contra o facto de afinal sempre haver gente interessada em aparecer na festa. 

Pois é, parece que algumas vezes a Arte vence o futebol. Quanto mais não seja pelo prazer de estar com os amigos.

Amanhã é outro dia. E eu fiquei ainda mais preparado para enfrentar os medíocres que suam as "estopinhas" para conseguirem andar a gravitar à nossa volta.

Ou seja, Outubro não podia começar melhor.

E cada vez gosto mais dos meus amigos.

O óleo é de Norman Charles Blarney.