quarta-feira, setembro 30, 2015

Não Consigo Ignorar Esta Vitória


Ao contrário de uma boa parte dos benfiquistas que conheço, sempre tive a sensação que Rui Vitória era melhor treinador para o Benfica e para o futebol português que Jorge Jesus.

Há pelo menos três diferenças que já registo com agrado.

A primeira diferença deu-se na formação da equipa, que normalmente jogava com um único jogador português no onze. Com o novo treinador jogam pelo menos três, e dois deles andam pelos vinte anos de idade.

A segunda diferença aconteceu hoje, este Benfica é uma equipa para todas as competições e não apenas para consumo interno ou para a "II divisão europeia".

A terceira diferença reside no comportamento ponderado de Rui Vitória, que sabe que não é o melhor treinador do mundo, ao contrário do colega de profissão. que foi para Alvalade.

Mas penso que a melhor resposta do Rui para o Jesus está guardada para o "derby", mas dentro de campo e não nas conferências de imprensa...

 (A  fotografia é do site de "A Bola")

segunda-feira, setembro 28, 2015

A Mentira e a Manipulação Terão a Resposta dos Portugueses no Domingo


Continuo convicto de que a mentira e a manipulação (cada vez mais descaradas) terão a resposta dos portugueses no próximo domingo, com uma derrota convincente da direita.

Percebo que os comentadores da direita (em maioria nas televisões) aproveitem o tempo de antena, para fazer o seu papel e distorcerem a realidade sempre que lhes é possível. Assim como também  percebo que as redes sociais sejam normalmente tendenciosas e polémicas, tanto à esquerda como à direita.

O que  continuo a não entender são os "fretes" do jornalismo da actualidade, cada vez menos livre e independente. E o mais grave é ter a sensação de que vai ser muito difícil libertar-se de todos os interesses que o rodeiam, que começam e acabam nos interesses dos seus proprietários. 

Também me faz muita confusão que o secretário geral do PS tenha mais inimigos dentro que fora do partido. E que tenha revelado tantas fragilidades durante os últimos meses.

Mas não acredito que estes dois factores negativos sejam suficientes para colocar a coligação de direita à frente do PS em todas as sondagens. Isso só acontece porque a direita também controla as empresas que realizam estes estudos.

O que eles não controlam é a nossa liberdade pessoal. A nossa vontade de nos vermos livres de gentalha que a única coisa que fez em quatro anos foi empobrecer o país e os portugueses, ao mesmo tempo que privatizavam quase todo o país, depois de ajudarem a destruir empresas, como aconteceu com a TAP ou com os Estaleiros de Viana do Castelo, por exemplo. E nem vou falar no que fizeram à saúde, à educação e à cultura do nosso país.

É por isso que só há um caminho no domingo, votarmos contra a mentira e a manipulação desta gente ordinária e desonesta.

O óleo é de Heitor Chichorro.

domingo, setembro 27, 2015

Viagem em Itália


O segundo canal da RTP está a exibir um ciclo de filmes de Roberto Rossellini nas noites de sábado.

Graças à tecnologia tenho-os visto depois. Ontem foi exibido a  "Viagem a Itália"  (que nunca tinha visto, ao contrário de "Roma, Cidade Aberta", "Paisá, Libertação" e "Stromboli"), Curioso, acabei por o ver hoje de manhã (até fiz um intervalo a meio para ir à rua...).

A ideia de que "somos quase italianos e muito pouco espanhóis", torna-se ainda mais evidente ao olhar estes filmes. 

A primeira vez que fiquei com essa sensação foi quando fiz o "inter-rail" em 1985 e percorri uma boa parte de Itália de comboio, mas com paragens e visitas a Roma, Milão, Florença, entre outros lugares de culto (não apreciei a beleza de Veneza por estar a chover a sério nesta bela cidade em pleno Agosto...).

Faço esta afirmação com o olhar preso na fisionomia de Itália e dos italianos. Se esquecermos a língua, sentimos-nos em casa.

Voltando à "Viagem em Itália", é um filme quase vulgar, que consegue retratar muito bem a vida de um casal (quando os desencontros quase se revelam fatais...), graças a dois extraordinários actores, George Sanders e Ingrid Bergman.

No cinema o divórcio foi salvo por um "milagre". Não o da Santa que ia a passar na procissão, mas o de um homem e de uma mulher, que num momento de maior tensão, conseguiram perceber tudo o que estava em causa, tudo o que tinham a perder.

Embora não tenha lido qualquer crítica ao filme (nem escutado com atenção a apresentação de Lauro António), esta foi a mensagem que recebi de Rossellini: muitas vezes podemos ser nós a fazer "milagres" na vida, basta perdermos o orgulho e dar voz ao coração. Ao dizer isto até pode parecer que o filme é "lamechas". Mas é tudo menos isso...

sábado, setembro 26, 2015

Salão de Festas da Incrível: um Lugar onde é Possível Ser Feliz


Ao passar por um painel destinado aos cartazes da campanha eleitoral, gostei de ver que o Bloco de Esquerda continua a escolher o Salão de Festas da Incrível Almadense para fazer o seu grande comício na Margem Sul.

Esta minha satisfação não teve nada  que ver com a política, teve sim a ver com o associativismo, ou seja com a minha Incrível. Sei bem o jeito que dá esta receita extra para o equilíbrio das contas da Colectividade mais antiga de Almada...

Depois também fiquei a pensar que o Salão de Festas da Incrível é um lugar de culto para muito boa gente.  Provavelmente também o é para o BE, que além de gostar do lugar, talvez encontre ali algo de especial, e é por isso que volta à nossa "Catedral", de quatro em quatro anos.


Não é nada estranho, Por exemplo os "Moonspelle", a nossa grande banda de rock metálico continua a ter uma relação especial com a Sala e gosta sempre de voltar...

quinta-feira, setembro 24, 2015

«Imaginava os poetas diferentes»


«Imaginava os poetas diferentes.»

Quando quis descobrir as diferenças ela falou-me de gente mal vestida e pestilenta, que tinha alguma coisa contra a água.

Eu sei que muitos poetas são uns "sem abrigo" no mundo cultural, ignorados pelos críticos e pelas várias "capelinhas" onde de trocam poemas como fossem orações. Mas apenas por isso. Aqueles que conheço tomam banho com regularidade.

Foi por isso que quis saber de onde vinha aquela "imaginação".

Respondeu-me de uma forma insegura: «Talvez tenha sido de algum filme ou então foi algum poeta que vi na rua, mal vestido, bêbado, a gritar poemas como se fossem maldições. E com um cheiro horrível.»

Disse-lhe que as suas palavras eram um insulto para quase todos os nossos poetas. E que dos consagrados talvez apenas o Bocage se enquadrasse nesse retrato.  E mesmo ele, foi quase empurrado para o lado de lá da sociedade, por todos aqueles que desprezavam a liberdade.

Mesmo Camões, amante de raparigas bonitas, devia ser bastante cuidadoso com a sua indumentária e com o seu jogo de sedução...

O óleo é Joan MIró.

quarta-feira, setembro 23, 2015

A Pianista do Terceiro Andar


Olho-te de calças de ganga vestidas e camisa de alças, mas consigo fechar os olhos e imaginar-te a tocar piano com um daqueles vestidos de artista que chegam ao chão, num palco enorme, onde nem sequer te faltam outros sons complementares. 

Sim, de longe a longe aparece um rapaz de violoncelo e duas raparigas com violinos, ambos com vontade de tapar o que não existe, o vazio.

Mesmo quem percebe menos que o essencial sobre música, percebe que tu enches qualquer palco e não apenas a tua sala...

O óleo é de Jeloen Moss.

terça-feira, setembro 22, 2015

O Cansaço de Caminhar em Sentido Contrário


Embora dê bastante prazer andar na direcção contrária de uma boa parte das pessoas que andam por aí, também acaba por cansar.

E com o tempo, além de cansar também se torna pouco natural, é quase um número de teatro.

Pelo menos era dessa forma que o André se sentia, até conseguir quebrar a primeira barreira do "clube dos homens livres e diferentes" e oferecer flores a uma mulher.

O curioso da coisa  foi ter gostado mais da sensação de oferecer flores que da mania de ser diferente, cultivada no seu bairro.

Talvez estivesse a ficar velho e fraco, ao ponto de se deixar corromper pela sociedade mercantilista. 

Talvez depois das flores viessem os chocolates e os perfumes...

O óleo é de Giovanni Casadei.

segunda-feira, setembro 21, 2015

Vitor Silva Tavares, o Adeus de um Editor Único


Vitor Silva Tavares, o pai e a mãe da editora "& etc", deixou-nos hoje.

Para quem não conhece a "& etc",  posso acrescentar que se trata de uma pequena editora fundada em 1974, que editava uns livrinhos quase quadrados (15,5 x 17,5 cm), em tiragens reduzidas, que continuam a fazer as delícias de muitos coleccionadores. Esta colecção conta com grandes autores de poesia e prosa, de cá e de lá.

O Vitor era uma personagem dos meios literários de tal forma diferente, que também só podia fazer livros diferentes.

Apesar de ser uma figura polémica (não tinha medo de chamar as coisas pelos nomes...), era bastante respeitado, especialmente nos recantos da poesia mais livres e com menos holofotes da fama, ao ponto de muito boa gente que escreve - eu também -  ter o desejo secreto de um dia ver publicado um livro seu na bonita colecção dos "livros quase quadrados".

domingo, setembro 20, 2015

O Domingo Pode Ser Quase Tudo


O domingo pode ser quase sempre o que quisermos. Não é por acaso que é o dia em que podemos fazer quase tudo o que nos apetece.

Talvez seja por isso que aqueles que têm mais "fé" continuam a ir à missa ou ao futebol, perdidos de amores, domingo sim domingo sim.

Às vezes penso que se fosse um individuo religioso ainda tinha uma roupita para vestir ao domingo. Penso apenas, pois não sinto qualquer saudade dessa parte da infância, em que a minha mãe costumava vestir-me praticamente igual ao meu irmão (nunca percebi porquê, um dias destes pergunto-lhe...) e além de irmos à missa de manhã, depois íamos visitar os avós, quase bonitos.

Mas voltando ao domingo dos outros, este também é o dia dos condutores de fim de semana saírem de carro e fazerem o seu passeio higiénico (com e sem almoço fora de casa) e provocarem filas intermináveis nas estradas graças à sua habitual velocidade cruzeiro...). 

E há também aqueles que escolhem o domingo para preguiçar, para andar de pijama pela casa fora, para se regalarem no sofá, a ver um filme ou uma série que não houve tempo para ver durante a semana (isto do cabo é só boas inovações...).

Eu normalmente não tenho programas definidos. Como não gosto de ficar tempo demais na cama, quando há alguma exposição num museu lisboeta (dos que ainda se podem visitar graciosamente de manhã...) , ai vou eu até à Capital.

A meio da tarde dou quase sempre uma volta a pé pela Cidade, pelos sítios do costume. Talvez eu não goste que o domingo seja um dia muito diferente dos outros...

Há ainda outra coisa, não evito apenas as estradas predilectas dos condutores de domingo, também detesto enfiar-me num "santuário de compras" (ao contrário do resto da malta cá de casa...). Só em casos de urgência é que me apanham nessas avenidas cheias de gente ávida pelas novidades que surgem do lado de dentro das montras.

Pois é, ainda bem que no domingo podemos fazer quase tudo o que nos apetece...

O óleo é de Helena Lam.

sábado, setembro 19, 2015

O Esquecimento da Educação e da Cultura


Não sei se vamos ter um ministro ou secretário de estado da Cultura. É mais um dos aspectos que está dependente da escolha dos portugueses a 4 de Outubro.

Possivelmente um dos menos importantes. Não é por acaso que a Cultura e a Educação (para além da "promoção" ou não a ministério da Cultura), parecem excluídas da campanha eleitoral. 

De qualquer maneira, isso até pode não ter qualquer relevância, pois pode-se ter ministro sem vontade e sem apoio. ou seja, fazer-se o que é comum no nosso país, muda-se o nome ás coisas para que fique tudo na mesma.

Importante mesmo era que a Educação e a Cultura voltassem a contar para o nosso país...

O óleo é de Pierre Bonnard.

sexta-feira, setembro 18, 2015

Há Dias que Não São Dias (São Mais Pesadelos...)


Há muito que não tinha um dia como o de ontem, que só melhorou quando o sol se começou a ir embora.

Começou a meio da manhã numa reunião em que alguém "roeu a corda" e deixou-me com um dilema que tenho de resolver até segunda. E que provavelmente vai ser resolvido com a desistência, algo que não costuma fazer parte do meu léxico, mas como se trata de um projecto colectivo, é essa a vontade da maior parte das pessoas (apesar de já existir algum investimento pessoal). O mais curioso foi a mudança se ter dado em menos de 24 horas. Antes de ontem aparentemente estava tudo bem e ontem, «não dá, não há tempo, não tenho gente disponível», entre mais desculpas cheias de farrapos.

A única certeza que tenho é que não voltarei a trabalhar com a dita pessoa, no que quer que seja.

Ao final da manhã passei por uma bilheteira para tirar o passe da minha filha do metro de Almada (que têm 25% de desconto no regresso às aulas...). Mostrei o passe e o cartão de cidadão mas disseram-me que era preciso uma fotocópia do cartão de cidadão e um comprovativo da morada. Quando lá voltei com os papeis pedidos a jovem do guichet disse-me que também era preciso uma declaração da escola onde ela andava. Perguntei-lhe porque não disse isso da primeira vez, ainda tentou dizer que me tinha dito, quase a engasgar-se, para depois dizer que se devia ter esquecido...

Mas ainda havia mais aventuras à minha espera. Fui à escola onde ela está matriculada e disseram-me que a declaração só podia ser passada na sede do agrupamento. Mais uma volta ao carrossel e, reparem só, a secretaria da dita escola estava fechada durante a tarde, só abria de manhã no dia seguinte.

Claro que depois de toda esta confusão borrifei-me para a "oferta" dos 25% e comprei o passe ao preço normal.

Há muito tempo que não me lembrava de ter tido um dia assim.  Talvez sejam as "dores" de se ser português. E como eu fujo como o "diabo da cruz" de lugares como finanças, segurança social, centros de saúde ou centros de emprego, sou um pouco "estrangeiro".

O óleo é de Ray Hare.

quinta-feira, setembro 17, 2015

Parece que Não é Obrigação (Parece...)


Embora às vezes finja que não é obrigação escrever por aqui no "Largo" (e companhia...), sei que me estou a tentar enganar. Até porque não agarro frases inspiradoras na rua ou guardo pedaços de conversas com amigos, que depois tento dar-lhes uma volta e torná-las publicáveis, todos os dias.

Se me deixasse levar apenas pela vontade havia muitos dias de "pousio" por aqui... mas há algo que me faz escrever, que até pode ser entendido como "primo direito"  da velha luta que todos travamos contra a inércia, que nos ataca especialmente depois de um dia mais agitado de trabalho...

Hoje por exemplo, não tenho nada para dizer. Tal como não tinha ontem (e anteontem fui salvo pelo Bocage...).

Mas a vida é isto. Lutar e ser capaz de nadar contra a corrente (nem sou muito mau nisso...), quando a maré parece não quer mudar...

A ilustração é de Davis Pinter.

terça-feira, setembro 15, 2015

Bocage 250 Anos Depois


Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu há 250 anos, em Setúbal.

Tal como sucedeu com tantos génios, só depois de abandonar o mundo dos vivos é que lhe foi reconhecido o seu valor como poeta. 

A irreverência, a lucidez, o sentido crítico e o gosto pela boémia, fizeram com que a sua vida fosse tudo menos fácil. Depois de andar "perdido" pelo Oriente, passou  pela "Nova Arcádia", onde fez tudo menos amigos. Mais tarde acusaram-no de revolucionário, foi feito prisioneiro e... deixou-nos com apenas 40 anos.

Essa é também uma das explicações para o interesse que tem despertado a sua vida que tanto se tenha escrito sobre o autor setubalense (há várias biografias, ensaios e até peças de teatro publicadas sobre a vida do poeta).

Num país com mais poetas que conhecedores de poesia, não é estranho que muita da popularidade de Bocage se continue a dever às muitas anedotas que lhe são atribuídas e que os estudiosos mais "puristas" da vida e obra do Elmano Sadino renegam (o que não podem "apagar" é a carga erótica que está presente numa boa parte da sua poesia...). 

O que não é nada polémico é o facto de Bocage ser hoje reconhecido um dos grandes poetas da língua portuguesa e uma das figuras cimeiras da Cultura da Capital do Sado.

segunda-feira, setembro 14, 2015

O Silêncio Político (involuntário) e a Nudez (voluntária)


Quem olhe para as notícias televisivas fica com a sensação que só concorrem às eleições duas coligações (PAF e CDU) e dois partidos (PS e BE).

Não se ouve falar do LIVRE/ Tempo de Avançar, do PDR  (ambos com aspirações na eleição de deputados...) ou ainda de outros pequenos partidos como o  PCTP/ MRPP, AGIR ( PTP/ MAS), PAN, PPM e MPT.

Por exemplo, a Joana Amaral Dias para "agir" teve de se despir - duas vezes -, só assim é que falaram dela (embora tenham continuado a ignorar a sua coligação...).

Este é apenas mais um dos sinais onde foi parar a nossa democracia e o nosso jornalismo.

Gostava  que estes partidos mais pequenos conseguissem eleger deputados (apesar de saber que é muito difícil...). Era uma bela "lapada de luva branca" a todos aqueles que dirigem as direcções de informação dos canais televisivos, das estações radiofónicas, sem esquecer os directores de jornais e os comentadores pouco independentes (e ainda menos livres).

O óleo é de Jan Sluijters.

sábado, setembro 12, 2015

«Nós mulheres sonhamos mais que os homens.»


Há quem adore descobrir diferenças entre nós e as mulheres.

Acho que elas são melhores que nós nestas descobertas. Imaginação mais fértil? Talvez...

Deve ter sido por isso que não estranhei quando a Teresa disse que: «Nós mulheres sonhamos mais que os homens.»

Eu depois de pensar um pouco, disse que não. 

E continuo a pensar que elas não sonham mais que nós, sonham sim com mais qualidade. Sonham mais alto e mais largo. E também com mais cores.

A ilustração é de James Vaughan.

sexta-feira, setembro 11, 2015

O Dia Que Mudou as Nossas Vidas...


O Tempo tem muitas velocidades. Só assim se percebe que já tenham passado 14 anos do 11 de Setembro de Nova Iorque, um "dia-pesadelo" que virou as nossas vidas, quase de pernas para o ar.

Nunca mais conseguimos olhar para o mundo da mesma forma. Deixámos de confiar no outro. E se tiver turbante então...

Em 2006 escrevi esta imitação de poema...


Cinco Anos Depois…


Cinco anos pode ser uma eternidade,
Ou ser apenas o dia seguinte...

Nova Iorque não voltou a ser igual,
As pessoas perderam tantas coisas...
Até a liberdade de serem quem eram.
O simples gesto, de um aceno ou sorriso,
Foi suprimido pela ditadura da segurança,
Assim como qualquer palavra circunstancial
Trocada na rua, com estranhos.

Cinco anos pode ser uma eternidade
Ou ser apenas o dia seguinte...

Podemos banalizar o que aconteceu
Fingir que as Torres Gémeas desapareceram,
Num truque qualquer de magia,
Podemos dizer que a vida continua,
Que o que já lá vai, lá vai...

Cinco anos pode ser uma eternidade
Ou ser apenas o dia seguinte...

Mas os rostos daqueles que partiram,
Sem marcar qualquer viagem,
Permanecem vivos no coração de Nova Iorque.
Sim, coração, de Nova Iorque!
O coração de qualquer cidade
São sempre os seus habitantes.

(11 de Setembro de 2006)

O óleo é de Kenneth MacQuenn.

quarta-feira, setembro 09, 2015

Estes Migrantes Selectivos


Uma das coisas que mais confusão me faz, é a vontade da grande parte dos migrantes que chegam do Norte da África Oriental de se deslocarem para a Alemanha, ou então para os países do Norte da Europa, com destaque para a Suécia.

Pensava que quando se foge da guerra, a primeira coisa que se procura é a paz. Provavelmente estou errado. Ou então estes refugiados não são uns migrantes quaisqueres. Além de saberem muito bem o que querem, e para onde querem ir, talvez não venham dos piores lugares do Mundo. E por isso não aceitam qualquer destino...

Sei que alguns portugueses sentem-se aliviados por não verem ninguém nas reportagens televisivas a dizer que querem vir para Portugal. Eu acho estranho.

O óleo é de Dina Brodsky.

terça-feira, setembro 08, 2015

"O Voto é a Arma do Povo"


Estive a reler algumas crónicas que escrevi durante mais de um ano no "Jornal de Almada" ("A Cidade dos Outros") e encontrei uma que se enquadra no tempo que vivemos. A crónica intitula-se, "O Voto é a Arma do Povo" e foi publicada a 7 de Outubro de 2005, há praticamente dez anos.

Nesses tempos as pessoas não estavam tão apáticas nem tão assustadas em relação ao presente e ao futuro como nos nossos dias.

Comecei a crónica desta forma:

«Uma das coisas mais estranhas que observo, nestes tempos difíceis que estamos a viver, é o desinteresse aparente das pessoas pela própria resolução dos muitos problemas que as afligem. A melhor prova do que acabo de dizer, é a elevada taxa de abstenção nas nossas eleições.
É por isso que, sempre que se realiza um acto eleitoral fico bastante satisfeito por encontrar exemplos de pessoas idosas, debilitadas fisicamente - de cadeiras de rodas ou amparadas em bengalas e muletas -, que não querem perder, por nada deste mundo, o direito democrático de participarem na escolha das pessoas e dos partidos políticos com os quais se identificam.
Olho-os com admiração e respeito, por perceber a razão pela qual valorizam tanto a importância das eleições livres, sejam elas para o parlamento, autarquias ou para a presidência da república. Eles, mais que ninguém, sentem que os actos eleitorais, sem qualquer condicionamento, são uma das conquistas populares mais importantes da Revolução de Abril. Justificam a sua presença com a frase: «já bastaram os longos anos em que vivemos em ditadura, sem pudermos votar e escolher livremente os nossos governantes.»

Tenho a certeza que se todas as pessoas pensassem nestes exemplos, iam votar no próximo dia 4 de Outubro e esta gentalha, que anda a fazer tudo o que é possível e impossível para se manter no poder, sofria uma derrota humilhante, para perceberem de uma vez por todas que os portugueses não são tão parvos como parecem.

segunda-feira, setembro 07, 2015

Sabe Bem Falar com Quem Sabe Coisas


Não somos o que se poderá chamar de amigos nem nos encontramos todos os dias ou todas as semanas.

Somos outra coisa qualquer, que por acaso também é boa. Gostamos de falar sobretudo das coisas que estão ausentes na maior parte das conversas. Provavelmente o meu amigo Francisco diria que se tratam de conversas "intelectuais". Talvez sejam um pouco, mas apenas por uma razão: eu aprendo sempre qualquer coisa nova quando estou à mesa com estes dois grupos de gente, da música e do cinema.

O mais curioso é não haver gente comum nos dois grupos. O primeiro encontra-se num café de Alcântara, perto da "garagem-estúdio" do Necas. Eles não só me apresentam novos músicos como falam de coisas técnicas quase estrambólicas que simplificam com a maior paciência do mundo. Eu acho que gosto deles pela sua capacidade de partilhar conhecimentos uns com os outros, contrariando tanta gente que adora esconder o que sabe, para poderem ser olhados como "sabichões das dúzias". 

O segundo não tem poiso certo. Esta malta dos "filmes" é gente das avenidas novas, que tanto pode encontrar-se rente ao Monumental, como para os lados de Alvalade (mas não no "Vává"...). Cresceram no saudoso Quarteto, onde sonharam com as suas primeiras fitas ou escreveram as primeiras críticas de cinema. Comecei a aparecer levado pelo Gui, que queria à força que eu escrevesse para a "sétima arte". Este grupo é muito menos técnico e mais má língua. Fala-se de tudo, até de futebol (para dizer mal da praga dos programas com gente que insulta a inteligência de quem tem dois dedos de testa...) e dos "chupistas" que viraram a sociedade de pernas para o ar e que tentam arrebanhar todos os subsídios e oportunidades de ganhar algum (incluindo cineastas...), roubando o "pão" a tanta gente...

Claro que as conversas que gosto mais são as sobre filmes. Talvez por terem presente a tal componente técnica, ao mesmo tempo que são aprofundados planos e criticados os lugares comuns explorados por tantos realizadores (devo confessar que não fui ver o "Pátio das Cantigas" por sua culpa. Disseram tanto mal da fita, que não consegui entrar numa sala. Provavelmente por saber que estavam certos. Fazer filmes deve ser muito mais que fazer rir o "pagode").

Quando venho Lisboa abaixo, na direcção do Cais de Sodré, onde tenho um cacilheiro à minha espera, penso nas coisas que falámos. Paro aqui e ali para escrever notas em qualquer papel, daquelas que poderiam muito bem entrar dentro dos livros.

O óleo é de Dimitri Vojnov.

domingo, setembro 06, 2015

Setembro é Isto...


Este quadro de Henri Lebasque  simboliza muito o mês de Setembro.

Dias mais curtos e ventosos, sombras bem mais frescas e noites a pedirem camisolas e calças nos passeios que ainda se fazem, pelo menos ao fim de semana.

Apesar da sua beleza, com dias azuis, surge com mais facilidade algum desanimo, como o evidenciado pelo rapaz, de mãos nos bolsos e camisola de mangas compridas. Porque não há como mudar o tempo (máquinas com viagens pelo passado ou futuro só nos filmes...).

sábado, setembro 05, 2015

Dois Lugares Especiais


No mini circuito que fizemos pelo Centro do país, houve dois lugares que gostei muito de revisitar.
Em qualquer deles não fiquei minimamente desiludido, apenas me questionei porque demorei tanto tempo a regressar...

Estou a falar de Conimbriga, que valeu mesmo a visita (mesmo sabendo que é um espaço sobretudo para quem gosta de história e património, claro...), pela beleza milenar que fez da civilização romana, uma das mais marcantes do nosso país. Que bom existir tanta gente apaixonada por arqueologia, capazes de fazerem daquele lugar, um lugar único.
Não visitava Conimbriga desde os meus tempos de escola (ainda no começo da secundária...), Há uns bons quarenta anos. Sei porque razão é que isso nunca aconteceu. É um daqueles lugares que temos de lá ir de propósito e das várias visitas que fiz a Coimbra, nunca calhou (o comodismo é terrível...). E não está muito bem sinalizado. A meio do caminho desaparecem as placas e andamos um pouco entregues a nós próprios...


O outro lugar cheio de história que foi bom revisitar foi o Mosteiro da Batalha, que não visitava há mais de vinte anos (terei passado algumas vezes ao lado...). 
Toda aquela beleza arquitectónica, entre o gótico e o manuelino, desde os claustros às capelas e aos túmulos, sem esquecer o engenho de Afonso Domingues e de todos aqueles que estiveram envolvidos nesta obra grandiosa,  que tanto nos deve orgulhar, pelo beleza e pelo simbolismo.

Não menos importante foi os meus filhos terem gostado muito destes dois lugares, que lhes eram desconhecidos (para lá dos manuais escolares)...

sexta-feira, setembro 04, 2015

Regressos...


Há já vinte anos que passo o último fim de semana de Agosto na Beira Baixa (devo ter falhado apenas uns dois ou três). A festa da aldeia sempre foi e é o menos importante. Há por ali demasiadas coisas que não são do meu mundo, como a quase separação dos "homens e das mulheres", que acaba por alimentar outros hábitos masculinos, que começam com o beber álcool para lá do fartar e acabam em conversas que me dizem muito pouco (carros, casas, marcas, mulheres - em ângulos que está longe de ser os meus favoritos...).

O que sobra são os passeios aqui e ali (a fotografia é da bonita vila de Alpedrinha), o descanso diferente e a sensação de que se está mais distante do mundo (a rede do telemóvel e da internet é quase inexistente e o sinal da TDT é uma porcaria que só permite ver um canal televisivo em condições...).

Desta vez visitámos lugares diferentes nas viagens para lá e para cá. 

Para lá fomos a Campo Maior, com paragens em Arraiolos, Estremoz e Elvas. A "mina das flores" (provavelmente mais uma boa invenção da família Nabeiro) não me seduziu por ali além, mas...

Mas o melhor foi mesmo a viagem de regresso, que marcou outros tantos regressos.


Começou pela passagem "tortuosa" pela Serra do Açor, à procura do Piodão e de mais umas quantas terras plantadas em lugares isolados, que me fizeram questionar, como foi que aquela gente para ali foi parar. Além de outra pergunta ainda mais pertinente, porque ficaram...

Depois de tanto subir e descer, na companhia das curvas e contracurvas do costume dormimos em Arganil.

O dia seguinte seria passado em Coimbra e Figueira da Foz, para reservarmos o derradeiro dia de viagem para Leiria, Nazaré e Batalha, com um relato mais pormenorizado para amanhã...