quarta-feira, julho 31, 2024

Temos é de fechar bem os olhos...


Estava a ouvi-lo e a ver-me ao espelho. 

Lá estava eu a enredar-me na "teia de contradições", que é a nossa vida... 

Ambos gostamos de escrever ficção. Adoramos ouvir histórias de e com pessoas, E depois, não consegumos acreditar em "estórias da carochinha"...

Quando ele disse, «sei que o meu forte nunca foi ter uma mente muito aberta», sorri. Continuou a baralhar-me ao acrescentar que, «nunca consegui acreditar em milagres, com ou sem santinhos.» E depois concluiu, «provavelmente o problema é meu...»

Claro que sim. O problema é nosso. 

Se fecharmos bem os olhos, até é possível termos direito a uma dessas visões milagreiras, temos é de fechar bem os olhos...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


terça-feira, julho 30, 2024

A Maior Festa do Desporto Mundial na Televisão


Quem gosta de desporto, tem neste Verão a possibilidade de acompanhar os Jogos Olímpicos de Paris, de uma forma bastante completa, algo não acontecia há já alguns anos.

Não sei o que é que a RTP fez, para contornar o "negócio", mas o que fez fez bem.

De manhã à noite a RTP2 transmite praticamente todas as modalidades do programa olímpico, possibilitando-nos a oportunidade de perceber o equilíbrio que existe entre a maior parte dos atletas, com as vitórias e as derrotas a serem decididas por detalhes e também por alguma sorte, a tal coisa que, pelo menos no desporto, "dá muito trabalho"...

O comportamento dos portugueses não me tem desiludido nem iludido. Mostra a nossa realidade desportiva. Tirando meia-dúzia de grandes talentos que poderão realmente disputar medalhas, os outros atletas limitam-se a tentar fazer o melhor possível...

O único reparo que faço é a mania de fazer entrevistas mal os atletas acabam as provas, quando eles ainda estão a "digerir" as vitórias ou as derrotas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, julho 29, 2024

«Felizmente a esperança é uma adolescente»


Estávamos a conversar sobre a quantidade de jovens que sabem cantar e andam por aí, fora de mão, ao contrário dos "artistas da cassete pirata" que animam os arraiais nos fins de semana televisivos. 

O custo zero merecia mais que que a pinderiquice das roupas, das danças, o mau gosto das letras e, claro, o "play baçk" musical.

O Ruca disse uma coisa bonita e certa: «Felizmente a esperança é uma adolescente.»

E é mesmo. Quando somos jovens não desistimos dos nossos sonhos às primeiras e às segundas, e ainda bem.

Só há um problema, que muitas vezes se descobre tarde demais: no nosso país a qualidade nunca foi o requisito mais importante, para o que quer que seja...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, julho 28, 2024

Os loucos que nos estão a levar à loucura...


Este mundo está a tornar-se um "paraíso" para todos aqueles que têm poder e se afastam, sempre que podem, do que entendemos por racionalidade. Começam pelo uso das palavras (são capazes de dizer  as coisa mais estúpidas e grotescas, com o ar mais sério do mundo), mas se alguém lhe der "a mão, rapidamente fica sem braço". 

Há cada vez mais exemplos de gente louca, que não só pensa, como faz aquilo que mais lhe convém, com a conivência de uma "corte de vassalos", sem vontade própria, que fingem ter serradura na cabeça.

Talvez Putin, seja a personagem principal deste "filme de terror". Talvez. Mas cuidado com as outras personagens, pouco secundárias como são Trump, Maduro, Netanyahu, Jimping ou Jong-il. 

É tudo gente capaz de aliar à paranóia, o gosto pelos "jogos de guerra". 

Se não os conseguirmos "destruir" vai ser difícil escapar ao que eles andam a "escrever nas estrelas"...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve) 


sábado, julho 27, 2024

A arte hoje é quase o que cada homem ou mulher quiser...


Ao ver a alegria de uma família, de três gerações, a reduzirem o seu tamanho, de forma a caberem todos na fotografia, a famosa "selfie", que quase ficou com os direitos de autor do Presidente da República, fiquei a pensar nesta espécie de "democratização" (talvez não seja a melhor palavra...) da imagem, que invadiu o planeta.

Tudo ficou mais próximo e mais fácil, com os avanços tecnológicos, com a facilidade com que se tiram fotografias e se fazem filmes. 

E de repente é só "artistas" à nossa volta, com mais ou menos jeito para enquadrar as pessoas nas paisagens. É tudo tão fácil, que o fotógrafo ou o realizador perdeu importância, tanto no campo artístico como no comercial.

Só alguns teimosos é que mantém aberto o seu estúdio de fotografia e vídeo, mas quase só virado para os os casamento e baptizados...

Este "deslumbramento artístico" acaba por ser normal. A evolução tecnológica facilitou a existência de um "artista genial" em cada esquina, difícil, difícil é tirar uma fotografia feia, nos nossos dias... 

E não tentem dizer a estas pessoas que a Arte é outra coisa. Até porque os tempos mudaram muito,  ao ponto de  a arte hoje ser quase o que cada homem ou mulher quiser...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, julho 26, 2024

"Universos" pouco paralelos...


Estava a começar a trabalhar, ainda antes das nove da manhã (não sei se é por os dias ser maiores, de Verão deito-me mais tarde e continuo a levantar-me cedo...) e ao ler uma frase, lembrei-me de outras coisas (acontece-me tantas vezes...).

Lembrei-me das pessoas que pertencem a um campo artístico, mesmo que andem às voltas por outros lugares. Algumas pessoas nem sequer o disfarçam, não dão tréguas e passam a vida a recusar convites para fazer isto e aquilo.

Ainda não perceberam, mas eu estou a falar de cinema. De actores e actrizes que são só da sétima arte. O Pedro Hestnes foi o extremo, mas há outros casos especiais como a Beatriz Batarda (embora ela goste e seja boa nos palcos, telenovelas é que não...). Laura Soveral e Isabel Ruth, são duas senhoras que pertencem ao cinema. Ponto final. As outras coisas que fizeram, nunca tiveram o brilho do ecrã que enchia a parede branca grande da esplanada de Verão do "Roscas"...

Até mesmo o Rogério Samora e a Alexandre Lencastre, sempre foram "cinema", a televisão era a forma mais fácil de terem dinheiro para comerem lagosta, se lhes apetecesse...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, julho 25, 2024

(acabei de ler um livro de poesia que não é de poesia)


Acabei de ler um livro de poesia que não é de poesia.

A poesia é outra coisa, pertence a um universo bem distante da prosa, entre outras coisas, por ser mais sentida e menos vivida.

Sei que há muito boa gente que não percebe - nem nunca irá perceber... -, esta diferença, por mais poemas que escreva.

Por escreverem com métrica e de forma rimada, não quer dizer que se tenham afastado dos "mundos" da prosa e estejam a caminhar nos "jardins" da poesia.

Não estou a dizer que o livro é mau. Estou apenas a dizer que o livro não é de poesia...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, julho 24, 2024

Os nossos olhos às vezes enganam-se. Mas é só às vezes...


Os nossos olhos às vezes enganam-se. Mas é só às vezes...

Não são eles que definem o que é uma boa e uma má pessoa, são sobretudo as acções dessas pessoas...

Podemos nunca ter falado com uma ou outra pessoa e sabermos que se trata de alguém bem formado, capaz de ajudar os outros, mesmo desconhecidos...

Claro que há quem pense de forma diferente de mim, e ache que precisamos de conhecer uma pessoa, antes de darmos palpites, de que se trata de alguém bom ou não...

(Fotografia de Luís Eme - Vila Franca de Xira)


terça-feira, julho 23, 2024

Três traços comuns...


Escrevo muitas vezes sobre os meus amigos, mas por serem coisas pessoais, ficam quase esquecidas mas minhas espécies de diários (são dezenas de cadernos...).

Publico aqui uma ou outra coisa, mas são quase sempre "suaves", nunca vou ao "osso". 

E hoje, para não variar, faço o mesmo.

Durante anos e anos, pensei que o meu Pai era o homem mais livre do mundo (muito graças ao amor e generosidade da minha Mãe, que o deixava fazer o que queria e ser quem era...).

Mas hoje quando penso em Liberdade, daquela que a sua defesa e luta, davam prisão, sinto que alguns dos bons amigos que conheci em Almada, podem não ter sido tão livres como o Pai, mas amavam-na muito mais que ele... e as coisas em que se meteram para a defender antes e depois de Abril...

Claro que nem todos foram - e são comunistas (mas a maioria é) -, poucos foram presos, mas nenhum escapou de ter ficha na PIDE, de ser incomodado no trabalho, nas associações e até nas ruas.

Quando temos amigos como o Henrique, o Fernando, o Orlando, o Carlos (é quase um colectivo, são quatro...), o Chico, o Jaime, o Zé ou o Mário, tornamo-nos, naturalmente, melhores pessoas.

Com tudo isto quase que me esquecia de referir os seus três traços comuns: a Dignidade, a Generosidade, e claro, a Liberdade...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, julho 22, 2024

O que se pensa com quarenta graus à sombra...


O normal é nós pensarmos coisas diferentes, quando enfrentamos os mesmos problemas.

Pensei nisso quando estava à sombra, a sentir a brisa quente e suave que passava, capaz de quebrar em segundos qualquer pedra de gelo.

Talvez muitas pessoas pensassem que boa ideia era entrar em qualquer loja, com o ar condicionado ligado e ficar ali, a fingir que queria comprar qualquer coisa...

E eu ali sentado, armado em ambientalista, a pensar em todas as coisas parvas que continuamos a fazer, enquanto fingimos que este planeta aguenta tudo e que estes quarenta graus à sombra é uma coisa passageira...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, julho 21, 2024

«Quando pensamos nos outros, fica mais fácil tomar decisões que sejam boas para todos»


Quando dizemos coisas simples e que têm sentido, é quase normal fazer-se referência a "La Palisse", como se ele fosse o "rei" dos lugares-comuns e das frase certeiras.

Mesmo que possa parecer quase um "hino religioso" (que deve ser dito nas milhares de capelas de culto, de todos os credos...), ninguém duvida da verdade que está dentro frase que escolhi para título destas palavras, da mesma forma que ninguém a leva a sério.

O que é certo é que ninguém chega ao poder, a defender coisas tão simples e essenciais, como a paz, o amor e a união entre os povos.

Os EUA são apenas mais um exemplo, em que a construção de muros e a expulsão de imigrantes, dão mais votos, que as políticas que facilitem a sua integração na sociedade.

Isso explica que embora a frase «quando pensamos nos outros, fica mais fácil tomar decisões que sejam boas para todos», esteja certa, ninguém a segue, muito menos ganha eleições com ela...

Mas este problema não é de agora, tem milhares de anos. É por isso que o planeta Terra sempre foi um lugar estranho para se viver...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, julho 20, 2024

Não há sistemas perfeitos e talvez o nosso ainda seja mais "imperfeito" que os outros...


Estava sentado a ver "o mundo passar" na esplanada de um restaurante no centro de Almada, no começo da noite. Saboreava o café, distraído com coisas mais lunares que terrestres, quando a minha companheira, reparou num facto, cada vez mais evidente nas nossas ruas: mais de metade das pessoas que passavam por ali eram oriundas de outros países. Pela forma como se expressavam percebia-se que a maioria tinha vindo do Brasil.

Claro que não concluímos que a população imigrante já ultrapassara os locais. Havia pelo menos duas razões para que fossem estas pessoas a passearem nas ruas e não os almadenses. A primeira dizia-nos que somos uma população envelhecida que sai cada vez menos à rua à noite (já o éramos antes da chegada destas gentes das américas e das índias, cuja maioria contribui de uma forma positiva para a nossa economia...). A segunda era que estas pessoas muitas vezes partilham casa e com estas temperaturas elevadas deve ser um suplício ficar dentro de quatro paredes em casas superpovoadas.

Depois passou por nós um vizinho carregado com dois sacos de mercearias. E lá voltei a ser "acordado"... Tratava-se de um chefe de família que sempre vivera de expedientes. De repente descobriu-se "velho e cansado", com mais duas bocas em casa para alimentar (a esposa que nunca trabalhou para fora e uma filha deficiente...), e teve de se "agarrar" com unhas e dentes ao Estado e a todas as Instituições que ajudam pessoas que dificuldades.  Corria o boato de que vendia muitos destes produtos, para arranjar umas moedas para o tabaco e para as cervejolas. 

Ao contrário da minha esposa, encarei o caso com normalidade, por ele ser quem era e por não existirem sistemas perfeitos. Até porque tudo indicava, que o nosso ainda fosse mais "imperfeito que os outros...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, julho 19, 2024

A expansão do "Algarve" dos "ingaleses" por este país fora...


Cada vez temos de ser mais criteriosos nas escolhas de restaurantes e noutros lugares de "estar", que apostam cada vez mais nos "turistas" (pelo menos é que os preços indiciam, tal como a qualidade dos serviços...). É também por isso que há muito tempo que não frequento restaurantes na rua Cândido dos Reis, em Cacilhas, onde os preços subiram e a qualidade baixou.

Mas isto já não acontece apenas em Lisboa (Cacilhas e Almada confundem-se com Lisboa...) ou no Porto. As grandes cidades parecem apostar cada vez mais no "dinheiro fácil", espalhando "passadeiras de cores berrantes" para quem vem de fora e esteja disposto a gastar dinheiro na restauração, na hotelaria, no património e na diversão nocturna.

É mesmo a expansão do "Algarve". Aquele Algarve do tempo em que quase só existiam listas nos restaurantes, escritas na língua inglesa. 

Estão todos esquecidos é de que esse Algarve, com as crises, teve de meter a "viola no saco" e voltar a ter listas escritas em bom português, porque se não fossem estes, a maior parte dos lugares virados para o turismo tinham fechado...

Os nossos governantes fingem esquecer-se do perigo que é para a nossa economia, esta cada vez maior dependência das receitas de turismo...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, julho 18, 2024

Ainda os livros, com e sem polémicas...


Como já perceberam pelos últimos textos, li meia-dúzia de livros nas férias (o segredo foi levar obras com menos páginas que o habitual...). 

Um deles já fazia parte da lista de aquisições (em alfarrabistas, porque está esgotado...), por ter sido uma obra polémica quando foi editada nos anos 1960. Só o encontrei este ano à venda, a um preço simpático. Falo de "Rumor Branco" de Almeida Faria, que a par da "Torre de Barbela" de Ruben A., foram alvo de críticas, por serem obras completamente inovadoras, escritas de uma forma diferente, sem a esquematização habitual do romance (com muita acção e quase sem princípio, meio e fim...).

Claro que fiquei ligeiramente desiludido, porque as expectativas eram grandes. Não acho que seja um grande livro. Nem sequer o considero um romance, coloco-o mais na esfera dos diários. Mas a curiosidade é o que é (aconteceu o mesmo com "O Toldo Vermelho" do poeta Joaquim Manuel Magalhães, outra desilusão...), e lemos muitas coisas pelo que os outros escrevem sobre elas...

Felizmente tenho também "A Paixão" e "O Conquistador", que penso ler brevemente, para poder ficar com uma opinião mais avalizada do romancista, Almeida Faria.  

Mas não deixa de ser curioso, que as polémicas resistam mais no tempo que a própria obra de alguns escritores...

(Fotografias de Luís Eme - Algarve)


quarta-feira, julho 17, 2024

Este blogue podia ser apenas sobre livros...


Às vezes ponho-me a pensar que este "Largo" podia ser mais elitista e fazer referência apenas a coisas que gosto e que me fazem bem, como são os livros, as exposições, os teatros "da vida" e dos outros, e claro os filmes, até por existirem tantos que querem ser o "filme da minha vida"...

Pois, poder podia, mas não era a mesma coisa. 

Sei que exerço mais vezes do que queria a minha autocensura, para não falar dos "FDP" que enchem diariamente as notícias televisivas e inspiram os "donos da verdade" das redes sociais. 

Penso que faço isso por saber que o pior que pode acontecer a um lugar, é começar a ser mal frequentado...

Mas também não quero que o mundo de repente se transforme num lugar maravilhoso, onde se lêem livros, onde se visitam exposições, onde se vai ver teatro, para sorrir e pensar, ou ao cinema, tocar na mão da companheira ou companheiro naquela escuridão que também fala com os nossos sentidos, quando surge um plano que nos recorda a vida, como ela é, ou como ela deveria ser...

E como já me estou a "esticar", a conversa sobre livros vai ficar para amanhã...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


terça-feira, julho 16, 2024

A nudez na arte e na vida...


O peso da fotografia nota-se sobretudo na nudez, na sexualidade e na sensualidade.

Não é por acaso que sempre existiram estátuas com mulheres e homens nus (pelo menos desde a Grécia e a Roma antigas), sem causar qualquer tipo de constrangimento, mesmo a nível institucional. Passa-se o mesmo com obras de pintura.

Quando aparece uma fotografia de um corpo nu, tem logo outro tipo de envolvimento e até de interpretação, muito diferente de uma obra artística, mesmo que o retrato também queira ser artístico.

É uma coisa que sempre me fez impressão, desde a infância (desde pequenote que visito museus...), por ver que um decote ou uma mini-saia era uma coisa mais escandalosa que uma estátua de uma mulher, completamente nua.

Voltei a pensar nisso, ao olhar um dos livros que li nas férias, "Filipa nesse Dia", de Urbano Tavares Rodrigues (uma estranha história de amor do Alentejo do latifúndio...), com capa de Francisco Simões.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


segunda-feira, julho 15, 2024

O extraordinário Fernão Mendes (cada vez menos "Minto"...) Pinto


Um dos livros que levei para ler nas férias foi "Na Senda de Fernão Mendes Pinto", de Joaquim Magalhães de Castro.

O autor não só desmonta muitas das falsidades que se foram escrevendo sobre este grande aventureiro, que felizmente se tornou escritor de viagens, quando estes ainda não existiam, como prova a passagem desta figura histórica pela China, Japão e muitos outros orientes. É importante recordar que Fernão viveu os últimos anos da sua vida no Pragal, em Almada, onde escreveu a "Peregrinação".

Neste caso particular, o tempo tem sido amigo do escritor português, pois, ano após ano, o seu registo histórico vai-se valorizando, pela quantidade de informação - cada vez mais respeitada e enaltecida - que nos ofereceu e também pela forma como conta as suas peculiares epopeias, positivas e negativas. Ou seja, afinal não é o "mentiroso" que muitos pensavam e difundiam.

Publico esta fotografia especial, de um amigo que já não está por cá, porque neste ano de 2024, se comemora o centenário do seu nascimento: o também almadense Fernando Barão. Fotografia tirada numa tertúlia histórica de Almada ("As Tertúlias do Dragão", organizadas pela SCALA no Café Dragão Vermelho...), com o Fernando a encarnar com graça e história, o extraordinário Fernão Mendes Pinto.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, julho 14, 2024

"Não tinha rua"...


O primeiro período de férias já foi.

Há algum tempo que não lia tanto (tem sido sempre assim...). Como de costume houve palavras que tiveram mais peso que outras.

E lá vou voltar a Maria Judite de Carvalho, que em 1963 (um ano depois de eu nascer...), quando escreveu o livro "As Palavras Poupadas", já fazia um retrato tão actual da sociedade, no conto "A Sombra da Árvore":

«As pessoas caminhavam em frente sem se voltarem para os lados onde havia outras pessoas que seguiam também em frente. Atropelavam-se, esmagavam-se umas às outras e não paravam para olhar. Era isto afinal a vida. A vida como as pessoas a entendiam. Todos tinham onde chegar e lá iam, rua fora, com uma pressa doida. Só ele se sentia perdido, não achava o caminho para a sua rua. não sabia qual ela era, não tinha rua.»

Talvez o mundo nunca fosse tão diferente como queremos fazer crer...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, julho 12, 2024

É mais diferente do que o que poderá parecer, falar e escrever sobre a vida dos outros...


Como de costume, li bastante nas férias (mais até na praia, nos intervalos entre o banho e o "torrar" na toalha...).

Quando leio também escrevo. Este período também é bom para ter conversas descontraídas, com a que tive com a minha filha sobre as minhas preferências literárias e também sobre o que mais gosto de escrever.

Não gosto de José Gomes Ferreira e Maria Judite de Carvalho, por um mero acaso, sei que me dá bastante prazer escrever sobre o quotidiano, ser um "observador" deste mundo que nos cerca (aliás, é esse o grande "alimentador" deste Largo...).

Ela acha estranho que eu não goste de falar sobre a vida dos outros, mas adore escrever sobre a vida outros. Foi por isso que tive de "desmontar" esta falsa proximidade. Podem parecer coisas iguais, mas são completamente diferente. Normalmente o que se escreve é pensado, depois de se ouvir e olhar. Infelizmente isso acontece pouco com o que se diz, basta olhar para se falar, sem se quer nos darmos ao trabalho de pensar...

Ficou mais ou menos esclarecida.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quarta-feira, julho 10, 2024

"Era como se as pessoas não tivessem crescido ou como se o tempo se tivesse esquecido delas"


Nestas férias voltei a Maria Judite de Carvalho e às suas "Palavras Poupadas" (prémio Camilo Castelo Branco).

Como de costume foi um prazer. É por isso que transcrevo um bocado de um parágrafo do conto "Uma História de Amor":

«Descia do eléctrico e tinha de fazer um pedaço de caminho a pé. Encurtava-o passando pela minha antiga rua. Divertia-me, mas a maior parte das vezes, perturbava-me ver à mesma porta, à mesma janela ou a sair da mesma loja as pessoas que há dez anos eu ali havia deixado. Dir-se-ia que só tinha corrido dentro do tempo, e que ele era para outras pessoas uma entidade estática. Um dia entrei por simples curiosidade, a fim de me documentar, na tabacaria da esquina e vi que o dono da loja conversava com o mesmo homem de um dia qualquer dos meus verdes anos, sobre um desafio de futebol que talvez não fosse o mesmo da outra vez, mas que não era com certeza muito diferente. Era como se as pessoas não tivessem crescido ou como se o tempo se tivesse esquecido delas.»

Acho que isto só não aconteceu (ou algo parecido), a quem nunca mudou de casa e de rua...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, julho 08, 2024

O mar, sem ser ruidoso, é a voz mais forte da praia...


Este mar do sotavento algarvio, mais Mediterrâneo que Atlântico, está longe de ser "falador" como o do meu Oeste, mesmo assim é quem mais fala e barafusta na praia.

Passamos minutos sem ouvir uma voz humana. De longe a longe aparece a senhora das bolinhas, a quebrar a monotonia humana. As pessoas preferem ler livros (esta praia é muito culta, há uma grande percentagem de leitores...) e o smartphone a falar umas com as outras.

Quase não há crianças. É tão estranho. Parece que as gerações a seguir à minha se esqueceram de que as crianças são a alegria das casas... Foi por isso que só ao terceiro dia de praia vi duas crianças já grandotas a fazerem um castelo de areia, coisa que fiz sempre com os meus filhos, pelo menos até eles terem dez, onze anos.

Claro que não me estou a queixar, estou a constatar. Se quisesse ficar cheio de vozes humanas na praia, fazia férias em Agosto.

Felizmente na casa ao nosso lado, onde estão avós, filhos e netos, há um menino com menos de dois anos (ainda usa fralda...) a partir das oito da manhã anda e fala - mesmo que ainda não se perceba bem o que diz - sem parar, põe tudo em alvoroço, especialmente o avô, que é uma espécie de "guarda-costas"

É o melhor exemplo do que escrevi anteriormente, o pequenote é mesmo a alegria da casa...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


sábado, julho 06, 2024

A dificuldade que as pessoas têm em sair no momento certo...


Eu sei que é muito difícil sair no tempo certo. E isso tanto acontece com quem exercesse cargos de poder, como nas carreiras profissionais. 

Joe Biden deverá ser o exemplo maior, de quem já não tem as condições que se exigem a um presidente de qualquer País, devido ao peso natural da idade (mas o senhor não desiste...). 

Os anos não perdoam. Basta olharmos à nossa volta para sentirmos que poucas pessoas percebem que o seu tempo já passou...

Posso dizer o mesmo sobre Cristiano Ronaldo. Provavelmente vai insistir em continuar na Selecção até ao próximo Mundial. Mas este era o tempo certo para ele abandonar a "Equipa de todos Nós", pelos quase quarenta anos, mas sobretudo pela sua prestação neste Europeu do nosso descontentamento (mesmo que não tenhamos sido em nada inferiores aos franceses...).

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quinta-feira, julho 04, 2024

Tempos para recordar, tempos para esquecer...


Embora seja muito cedo para se fazerem contas ou estudos, a pandemia parece-se cada vez mais com uma divisão histórica. Sabemos que não é, mas que parece, parece...

Tenho notado isso várias vezes, por pequenas e grandes coisas. Hoje voltou a acontecer, quando a minha filha reencontrou uma amiga de praia que não via há quatro anos. Eram duas adolescentes e hoje são duas mulheres.

O reencontro pareceu-me feliz, pela conversa animada. Ao longe, apenas posso dizer que cresceram um palmo, passaram da secundária para a universidade, e um dia destes acabam os cursos e passam a fazer parte da chamada "vida activa"...

Voltando à pandemia, foi um tempo terrível, em que se perdeu muita coisa, até vidas humanas. Pessoas que nunca mais vimos e que não voltaremos a ver, umas próximas outras que apenas se cruzavam connosco, nas ruas, nos cafés,  transportes públicos.

Talvez seja por isso que a sensação maior continue a ser de perda...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


terça-feira, julho 02, 2024

O sul do nosso contentamento...


Este é o "sul do nosso contentamento", há mais de uma dúzia de anos.

Talvez até seja difícil de acreditar, que é possível estar na praia, sem ninguém muito próximo, a sentir a calma do mar nos "algarves"... E não menos importante, são os cheiros do pinho e de outras plantas, quase aromáticas, no caminho para casa.

Temos menos "internet" que  noutros anos, algo que até acaba por ser saudável, dando-nos espaço para outras coisas, quase do antigamente...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)