terça-feira, dezembro 31, 2013

O Mar e a Vida


O Mar pode ser uma metáfora para tudo.

Tal como os barcos de papel...

Ou a inocência de uma criança, para quem os dias têm sempre a beleza e o encanto, que nós já não conseguimos encontrar...

E a esperança, que todos devíamos ter, de um ano melhor que este, apesar de todos os "sinais vermelhos" que nos rodeiam.

O óleo é de Odysseas Oikonomou.

segunda-feira, dezembro 30, 2013

Acordar e Descobrir o Manto Branco lá Fora


Estive uns dias fora, nas terras altas, onde as manhãs começam com um manto branco de gelo, que quase parece neve.

Não tinha muita coisa para colocar em dia, apenas alguns trabalhos para acabar e outros para começar...

Era o que fazia, de manhã, enquanto o resto do pessoal permanecia adormecido.

Acendia a lareira e ficava ali, a escrever, a olhar a janela. Quando me cansava do silêncio, colocava um cd, já que neste Dezembro farto, é mais difícil ouvir os passarinhos...

O óleo é de Alia El-Bermani.

terça-feira, dezembro 24, 2013

Chove, É Dia de Natal


Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés. 

Fernando Pessoa

O óleo é de Daniel del Orfano

domingo, dezembro 22, 2013

Olhar e Ouvir o Mar


O Mar quando resolve falar mais alto, deve ser escutado com respeito e até admiração.

Sinto que ele quando está mais violento, quer sobretudo espaço, sentir-se completamente livre...

Muitos de nós fingimos que ainda não o compreendemos, outras vezes não o levamos a sério e não lhe damos o tal espaço que ele quer. E ele fica furioso, quase indomável,  e não nos perdoa não respeitarmos a sua vontade. Grande parte das vezes só escapamos da sua brutalidade por "milagre".

Há mais de uma década fiz uma reportagem sobre pescadores e percebi que nem todos pensam e sentem o mesmo pelo Mar.

Uma das pessoas que nunca esqueci, foi um homem que me contou a sua derradeira viagem pelo Mar dentro, quando pensou que ia mesmo ficar por lá, pois nunca apanhara ondas tão grandes nem nunca se sentira tão pequenino. Mas o mais estranho foi não ter sentido medo, ficou tão fascinado com aquela grandeza que encarou o destino com naturalidade, a possibilidade de ser engolido por uma daquelas ondas e ficar por lá, quase que lhe pareceu o canto de uma sereia.

Felizmente foi uma coisa de minutos. Só quando chegou a terra é que conseguiu ver o  que acontecera. O facto de não ter tido medo assustou-o de tal forma, que nunca mais conseguiu voltar ao Mar, ao contrário dos restantes companheiros da barca, que nos momentos de aflição deveriam continuar a rezar à Nossa Senhora e agarrarem-se a tudo que lhes parecesse sólido.

Ficou com a sensação que foi o único que conseguiu olhar todo aquele alvoroço, olhos nos olhos. E foi por isso que não voltou...

O óleo é de Derek Harrison.

sábado, dezembro 21, 2013

Um Outro Inverno


Parece que no mês de Dezembro os carros, crescem, assim com as pessoas.

Há carros e pessoas improváveis, que abandonam as garagens e as casas, talvez porque pareça Natal...

Há gente que vai fazer questão de convidar um pobrezinho para a noite de consoada. Já devem ter preparado um saco de roupa que não usam, para ele fazer frente ao ano que nos bate à porta, em qualquer canto da rua...

Há outros que se vão encontrar com a família, apenas porque tem de ser, faz parte da tradição. talvez regressem para o ano...

Quase que me sussurram ao ouvido, que mais vale uma vez que nunca. Provavelmente sim, mas não deixa de me parecer uma coisa inventada por quem continua a fingir que acredita nas renas e nos duendes do Pai Natal.

O óleo é de Magritte.

quinta-feira, dezembro 19, 2013

«Nunca tinhas percebido que se podem coleccionar coisas sem termos de gastar dinheiro?»


Provavelmente foi por eu olhar de uma forma estranha, que a Cristina me interrogou:

«Nunca tinhas percebido que se podem coleccionar coisas sem termos de gastar dinheiro?»

Limitei-me a sorrir...

Não era apenas isso. Estava a olhar e interrogava-me o que levava alguém a coleccionar tantos frascos com tonalidades de areia diferentes. Provavelmente a mesma coisa que um coleccionador de pacotes de açúcar ou de latas de bebida, mas...

Também nunca tinha pensado em frascos de areia como elemento decorativo. E eram, desde que fossem colocados no sitio certo, por alguém com um olhar especial.

Não contei, mas havia ali umas cinquenta cores diferentes.

Aproximei-me para ler os rótulos e vi além da sua origem e também a data de recolha e uma frase alusiva ao local, com alguma poesia. 

Claro, voltei a sorrir, antes que viesse de lá uma nova interrogação.

O óleo é de Kátia Gridneva.

quarta-feira, dezembro 18, 2013

Gaivotas em Terra


Começa a ser comum ver gaivotas em terra por aqui.
Mesmo quando não há sinais de "tempestade"...

Isto não acontece apenas devido à proximidade do Tejo ou do Atlântico.
Aliás, eles estão aqui, desde sempre.

Até parece que as gaivotas estão a querer fazer parte da paisagem diária de Almada...

O óleo é de Ton  Haring.

terça-feira, dezembro 17, 2013

Teimosias & Insistências


Sei que não sou o último, nem tenho intenções de fechar a porta. Mas admito que houve (e deve continuar...) uma grande debandada da blogosfera para o "faicebuque".

É por isso que alguns amigos continuam a insistir e a querer "vender" o produto (e logo agora, que ando cada vez mais avesso a vendedores de tudo, até de banha da cobra...), como se fosse a nona maravilha do universo.

Teimoso como sou (e por vezes "burro", admito...), limito-me a sorrir e a abanar a cabeça, para depois falar do tempo, esse gajo intratável e maldito, que vai roubando minutos às horas, sempre que pode, e dizer que tenho outras coisas para fazer na vida, para além de usufruir do virtuosismo da virtualidade. Os blogues chegam (e não são apenas quatro, Ana, há também o da SCALA...).

Embora não tenha a posição radical do Miguel Sousa Tavares, não gosto da forma como se chega ao outro e das suas proporções (grandes demais para mim...) e dos seus exageros.

A prática do jornalismo e da investigação histórica, fizeram com que me tornasse ainda mais rigoroso. E como tal, não me apetece entrar em discussões, das quais uma boa parte das pessoas que opinam não sabem o que estão a dizer. E outras sabem mas mentem, ostensivamente.

Um bom exemplo foi o que aconteceu durante uma discussão no "faicebuque" (para a qual fui convocado por e-mail") sobre a equipa de iniciados do Caldas, da qual fiz parte, tendo como companheiro José Mourinho, entre outros amigos. Quando comecei a ler o que tinham escrito fiquei perplexo, pois já estavam a comparar o Mourinho dos nossos dias com o adolescente de quinze anos, chamando-lhe arrogante, vaidoso, ao mesmo tempo que diziam que até era suplente, entre outros mimos ainda mais desagradáveis...

Claro que não deixei nenhum comentário, porque se o fizesse teria de chamar mentirosos, a todos aqueles que tinham entrado na "festa" (inclusive alguns dos que tinham jogado connosco...), porque o Zé Mourinho desses tempos era um excelente companheiro, sem qualquer tique de vedetismo e foi sempre titular (penso que só não jogou um fim de semana, no qual ficou em Setúbal, onde vivia...). 

Reconheço que este até é um exemplo corriqueiro, que não mexe com a honra de ninguém. Há casos bem mais graves...

Ou seja, gosto pouco da forma desonesta e até ofensiva, como de comenta neste meio de comunicação, onde facilmente se confunde liberdade com libertinagem, tal como se faz nas caixas de comentários dos jornais.  

E é por isso que digo: "faicebuque", não obrigado.

O óleo é de Lídia Simeonova.

domingo, dezembro 15, 2013

«Escrevia muito pouco e não eram poemas.»


Perguntaram-me o que é que escrevia na infância e adolescência. Quase que tive vergonha de dizer que escrevia muito pouco. 

Ao olhar para trás penso que andava sempre de um lado para o outro, passava muito tempo na rua e não tinha muitos tempos mortos para pensar na "vidinha" (nem era tempo disso). O facto de ter um irmão mais velho que eu dois anos, fez com que crescesse mais depressa e fosse também amigo dos amigos dele.

Fazia muito desporto, das correrias às futeboladas.

Da escrita, lembro-me apenas dos professores elogiarem a minha criatividade e a facilidade de escrever histórias com princípio meio e fim (não imaginava que isso fosse uma coisa difícil, pensava que qualquer um conseguia e podia escrever histórias. Acho que só percebi que não era bem assim, quando no décimo ano fui o único aluno capaz de construir uma história, com o tal principio, meio e fim, a partir de um tema qualquer dado pela professora...). 

Poemas? Não. A poesia não fazia parte das minhas necessidades nem das amizades. 

Nem conhecia muitos poetas. Só conheci Pessoa no fim da adolescência. Sim, gostei logo do Alberto Caeiro...

O óleo é de Timothy Norman.

sexta-feira, dezembro 13, 2013

Há Dias de Sorte, Mesmo que Sejam 13


Hoje, dia 13, do último mês do ano, é com toda a certeza um dia de sorte.

Claro que não é preciso exagerar e investir a sério no "euromilhões" ou em qualquer lotaria, também de milhões.

Digo isto porque nunca me dei mal com o treze e os gatos que gosto mais, até são os pretos, quase panteras em miniatura.

Apesar do tempo ter andado cinzento, a ameaçar chuva, estive-me  nas "tintas" para ele. Não me roubou o sorriso nem a leveza de ser a última sexta-feira da "mitologia do azar". E até me fartei de subir e descer escadas.

O óleo é de Carol Arnold.

quinta-feira, dezembro 12, 2013

O País que Continua a não Oferecer Canas de Pesca...


O ditado chinês milenar, que diz que devemos "dar canas de pesca e nunca peixe" a quem tem fome, nunca foi respeitado e seguido no nosso país.

O Salazar sempre preferiu exercer uma política paternalista sobre as pessoas, não lhes dando grande espaço para serem "empreendedores", essa palavra que os políticos de agora tanto gostam de utilizar nos discursos. Inteligente como era, percebeu que a "caridadezinha", que hoje é gerida por gente como a senhora Jonet, lhe dava um jeitaço. 

Mas o mal não foi apenas interno. Quando entrámos na Comunidade Europeia, os países mais desenvolvidos em vez de nos incentivarem no tão propagado "empreendedorismo", preferiram oferecer-nos toneladas de "peixe", para satisfação do senhor Silva e dos seus "muchachos", que aproveitaram para encher as suas "banheiras" do dinheiro que chegava todos os dias aos magotes.

Na agricultura ficaram célebres as histórias das cabras e ovelhas que foram abatidas mais que uma vez, assim como os pés de vinhas, que foram arrancados, plantados e arrancados. Na pesca há também algumas engraçadas, de quem passou a receber mais dinheiro sem fazer nada, que quando arriscava a vida no mar...

Hoje pagamos o preço de tanta irracionalidade, de quem fingiu acreditar que era possível viver eternamente à "sombra da bananeira", ao mesmo tempo que enchia os bolsos...

O giro da coisa, é que os que agora falam de "empreendedorismo", são os mesmos que estiveram no poder entre 1988 e 1995, quando as "vacas pareciam gordas"...

O óleo é de Jennifer Bell.

terça-feira, dezembro 10, 2013

«A idade não faz parte dos medos masculinos»


Disse à Rita que a idade não fazia parte dos medos masculinos.

Sei que exagerei na "certeza", até porque eu não sou todos os homens.

Ela foi logo buscar as diferenças que existem entre homens e mulheres, focando com algum dramatismo a exigência maior da sociedade perante o aspecto mulher, que começa no cabelo e acaba nos pés.

A Rita tem toda a razão. Ainda se continua a gostar mais de homens despenteados que de mulheres que estão semanas e semanas sem visitarem o cabeleireiro.  E nem vou falar da cor de cabelo, do "cinza sexy masculino" e do "branco de velha feminino"...

Mas eu acrescentei que as mulheres também têm culpa nesta "exigência", já que gostam de andar bonitas pelas ruas, de serem olhadas com alguma goludice pelos homens. Ela sorriu, um daqueles sorrisos que dizem que sim.

O óleo é de Valeria Kotsareva.

segunda-feira, dezembro 09, 2013

Viver com Velocidades Diferentes


Somos quase todos diferentes e quase todos iguais.

E sabemos que é isso que tempera os nossos dias. 

Nem vale a pena tentar filosofar, a vida é assim e pronto.

Há quem prefira o movimento, seja incapaz de ter uma vida demasiado parada e ande sempre a deambular de um lado para o outro. Nunca deixa a juventude fugir, muito menos se assusta com as rugas e os cabelos brancos...

Há quem prefira a calmia, escolha um canto para ficar e tente a todo o custo, ficar por lá. É comum dizer-se destas pessoas que já nasceram velhas. Mas não sei se é uma questão de idade. Penso que é mais o facto de se nascer ou não com alma de vagabundo, de querer ou não andar por ai à procura do "nada"...

O óleo é de Eugen Chisnineon.

domingo, dezembro 08, 2013

O Teatro que não Chega às Pessoas


Sem qualquer tipo de pretensiosismo, sei que tenho uma cultura acima da média do português comum. Até por ser um "activista cultural" há pelo menos duas décadas.

É por isso que continuo a ter dificuldade em compreender uma boa parte da gente do Teatro, que raramente têm uma perspectiva formativa educativa para as muitas pessoas que vivem de costas voltadas para os palcos. 

Ao folhear recortes de jornais antigos descobri uma frase lapidar de Mário Viegas, que estava longe de ser um adepto do teatro "popularucho e fácil", recolhida numa entrevista que deu ao "Jornal de Letras,em Setembro de 1993:

«Na maior parte das companhias, faz-se um teatro "chato", pretencioso, que procura agradar aos amigos no dia da estreia, aos críticos, aos poderes estatais e não diz nada às pessoas, nem comunica as angústias deste fim de século.»

Nestes tempos de crise, em que muitos actores profissionais foram forçados a arranjar outra ocupação (para não passarem fome ou viver nas ruas...), era bom que uma boa parte dos encenadores e actores pensassem mais nos espectadores e menos nos seus umbigos.

Aliás, eles já perceberam que os subsídios são cada vez mais curtos, que é preciso "inventar" novas formas para conseguir passar a mensagem que, o Teatro também pode ser compreensível e agradável para o público.

O óleo é de David Adickes

sexta-feira, dezembro 06, 2013

Um Adeus Anunciado


Embora as televisões se estejam a esforçar para "esgotar" a vida de Nelson Mandela, não o irão conseguir, por mais horas que usem de emissão.

Também não vejo esta notícia da morte do "Madiba", como algo triste e trágico. Até por ser algo que já se esperava há algum tempo.  

O mais importante é aproveitarmos o seu exemplo e os seus ensinamentos, como cidadão do mundo de excepção.

A maior pena que tenho é que Nelson Mandela não tenha sido um elemento inspirador para a maior parte dos países do continente africano, que preferem o clima de"guerra" e de grandes contrastes sociais, à paz e à solidariedade.

O óleo é de Victor Bregeda.

quinta-feira, dezembro 05, 2013

O Tempo das Pessoas Secas de Sonhos


Nunca tinha pensado nisso, mas é verdade, a idade vai-nos "comendo" os sonhos.

A partir de uma certa idade é comum sermos habitados sobretudo pelos pesadelos.

E se vivermos num tempo em que o "mundo" nos pode cair em cima, a qualquer momento, porque os governantes preferem esconder-se atrás de jogos de palavras e sorrisos branqueados, entregando-nos a realidade crua e dura, quase sem explicações ou justificações, adeus sonhos.

Na nossa mesa de café de vez em quanto fugimos à banalidade e cultura e entramos na vida, tal como ela é.

Causa-nos mais raiva. É por isso que também falamos mais alto.

Quando o Carlos disse que quem ainda tem capacidade para sonhar, pode considerar-se um felizardo. Olhámos todos uns para os outros e ficámos em silêncio.

Claro que estava a exagerar. Como gosta de exagerar tantas vezes. Mas o exagero dele tem a virtude de nos fazer pensar.

Mas quem se vê de repente sem horizontes, sem presente e futuro, vai sonhar o quê?

E se há vitimas desta política de miséria, de mentira, de autoritarismo e de tantos jogos palacianos, são os reformados. Todos. Claro que quem recebe reformas superiores a mil euros tem problemas muito diferentes de quem recebe apenas trezentos ou quatrocentos euros. Não precisa de passar ao lado da fome e dizer-lhe bom dia, ao mesmo tempo que bebe um copo de água e mete um pedaço de pão na boca. Muito menos precisará de passar em frente da farmácia e não entrar...

Para estas pessoas deve ser tão difícil sobreviver, quanto mais sonhar...

O óleo é de Rolando Cubero.

terça-feira, dezembro 03, 2013

O Absurdo é o Teatro do Nosso Dia


Uma ministra que "chuta para canto" a dívida, com o aumento dos juros em três digitos e canta "vitória" em todos os serviços de notícias.

Um ministro que depois de achar fundamental a realização de uma prova de avaliação para a generalidade dos professores contratados, faz uma negociata no ministério e esta passa a ser apenas para os professores com menos de cinco anos de ensino. 

Outro ministro resolve oferecer uns estaleiros navais a uma empresa portuguesa, quase falida, entregando-lhes também o destino de mais de seiscentos trabalhadores. Também aparece em todos os noticiários a falar dos milhões de prejuízo anuais, durante todos os anos de má gestão, pela seita do costume, especialista a "enterrar" empresas públicas.

Para terminar este "teatro, só me falta ir buscar o vice "paulinho das feiras", que depois da sua experiência pelos mercados de Norte a Sul, resolve montar uma banca e vender banha da cobra, com desenhos dos nossos navegadores e das suas "cascas de nozes".

O óleo menos surrealista que este governo, é de Óscar Dominguez.


segunda-feira, dezembro 02, 2013

As Contradições do Costume


O presidente da República que agora clama que o futuro está no mar e na agricultura, mas que quando foi primeiro-ministro, foi o seu principal "coveiro", nem pia em relação o polémico negócio dos Estaleiros de Viana de Castelo, entregue a uma empresa falida, com uma renda que parece um "brinde" (400 mil euros por ano) e com a possibilidade de despedir a maior parte dos trabalhadores. 

Será que os estaleiros não fazem parte do tal mar, onde está o futuro? 

O óleo é de Stephen Namara.

domingo, dezembro 01, 2013

Mais um Roubo na Nossa Identidade (Calhar ao Domingo Disfarça...)


Hoje comemora-se o Dia da Independência, ou da Restauração, de 1640. É uma das datas mais importantes da nossa história, por termos mandado os "filipes" e a Espanha à fava, depois de sessenta anos de humilhações e da destruição (ou posse) de tanta coisa nossa, ao mesmo tempo que nos voltámos a sentir portugueses. 

Sei que a aliança com os ingleses também não nos trouxe nada de bom, mas o mesmo se passa com esta Europa (presidida por um "fantoche" português), que se pudesse já nos tinha retirado o "Sol do Sul"...

Ou seja, devemos sempre desconfiar de quem "finge" que nos quer ajudar.

Mas voltando a este dia primeiro de Dezembro, o facto de se comemorar ao domingo disfarça, não se sente a sua falta. Provavelmente para o ano só alguns adeptos da bandeira azul e branca é que se irão fingir indignados, mesmo os que apoiaram esta medida e pensam que o "povo" nasceu para trabalhar, não precisa de feriados, inclusive o agora vice-primeiro-ministro, que bem lá no fundo gostava era de ser a "Rainha de Portugal".

sábado, novembro 30, 2013

Um Dia de Livrarias, das Pessoas e dos Livros


Hoje é o "Dia das Livrarias e dos Livreiros" (não sei porque, mas não gosto do nome que é dado às pessoas que vendem livros).

Defende-se que todas as pessoas que antigamente vendiam livros eram especialistas, conheciam as obras de cima para baixo e também de um lado para o outro, além dos escritores, os bons e os maus. Em parte era verdade, provavelmente por contactarem com muito menos livros e autores. 

Quando comecei a comprar livros já morava próximo da cidade maior e visitava sobretudo a "Bertrand" do Chiado, que estava longe de ser uma livraria de província, onde até podíamos beber café com o gerente ou funcionário e saber das últimas novidades. Na "Bertrand" já experimentava a mesma sensação que senti algum tempo depois, quando apareceu a "FNAC" , a liberdade de olhar, mexer, ler, sem que alguém aparecesse e me interrompesse.

Noutras livrarias da Capital mais pequenas, recordo-me que as pessoas que vendiam livros nos olhavam de alto abaixo e raramente nos deixavam à vontade. Não sei se tinham medo que levássemos livros sem passarem pela caixa ou se era outra coisa...

Esta liberdade de movimentos que gosto de sentir, prende-se com o facto de não precisar de ajuda para comprar livros. Normalmente sei o que quero, poderei sim ter dificuldades com os títulos e socorrer-me dos funcionários e dos computadores (esses sim, sabem quase tudo sobre os livros e autores...), para descobrir onde está a obra que quero ou para me avivar a memória do tal nome esquecido.
O melhor que as livrarias mais antigas tinham era a manutenção dos títulos por muito mais tempo, permitindo-nos encontrar um livro (as chamadas raridades) que não comprámos quando saiu mas que nunca ficou esquecido.

Claro que tenho pena de não ter tido uma livraria que sentisse como minha, daquelas pequenas, em que as pessoas que vendem os livros, amam-os e defendo-nos quase acima de todas as coisas (como a "107" das Caldas e tantas outras que teimam em existir por esse país fora...).

Não sei se existe um contra-senso em ser contra monopólios, não me sentir bem nas grandes superfícies comerciais e gostar do conceito da "Bertrand" e da FNAC", e claro, da sua organização.

Provavelmente há. Ninguém é perfeito.

O óleo é de Marina Marcolin.

quinta-feira, novembro 28, 2013

Os Bons Livros, Com e Sem Prémio


A Obra, "E a Noite Roda ", de Alexandra Lucas Coelho ganhou o  grande prémio do romance e novela da Associação Portuguesa de Escritores, por unanimidade.

Ainda não li o livro, mas vou ler, porque gosto bastante da escrita da Alexandra, que ainda ganhou mais "magia", com a sua passagem para o lado de lá do Atlântico.

Provavelmente não devia utilizar uma entrega de prémio unânime, e justa (segundo a minha opinião, claro), para falar do outro lado dos prémios, que têm sido tema de conversa em cafés, com gente que conhece melhor estes meandros que eu e que sempre que pode, lança a desconfiança no ar.

No inicio sorria. Também fazia o mesmo quando comecei a escrever para um jornal desportivo. O problema é quando somos confrontados com a realidade, com a existência de árbitros e dirigentes corruptos, etc. Lá se vai a nossa santa ingenuidade e começamos a perder o sorriso.

Claro que não há qualquer comparação entre a literatura e o futebol, até pela diferença material que existe entre estes dois "mundos". Mas apesar disso, há prémios literários que são  recebidos quase com a mesma desconfiança de alguns resultados de jogos de futebol. Há sempre quem pense que os elementos do júri (tal como os árbitros) não estão ali para serem justos, mas sim para beneficiar alguém. 

Um amigo que já fez parte de vários júris literários, disse-me que por vezes se passam coisas estranhas, mas normalmente o que está em causa, é a amizade e não o dinheiro (falo de prémios em que os autores estão identificados). Há quem queira muito oferecer o prémio ao Manuel ou à Maria - pela tal amizade e até devoção - e não tenha em atenção que se está a premiar uma obra e não o autor...

quarta-feira, novembro 27, 2013

As Caríssimas Canções do Sérgio


Estou com bastante curiosidade para ouvir as versões do novo disco do Sérgio Godinho, "Caríssimas Canções", em que conta com a colaboração da Manuel Azevedo, do Helder Gonçalves e do Nuno Rafael.

É uma "ginástica" daquelas, cantar Chico Buarque (Geni), Tony de Matos (Vendaval), Frei Hermano da Câmara (Rapaz da Camisola Verde) ou Zeca Afonso (Vampiros), entre outras boas "avarias".

A coisa promete.

terça-feira, novembro 26, 2013

Palavra Pior que Intelectual só Mesmo Autodidacta


Durante muitos anos houve o hábito de rotular quem não tinha qualquer curso, de "autodidacta", como se no mundo das artes e das letras fosse possível aprender sozinho...

Felizmente este conceito esbateu-se um pouco. Hoje no mundo das artes e das letras, olha-se muito mais para a qualidade da obra que para o histórico da formação do artista.

O engraçado é que ainda existem para aí uns "patarocos", que se intitulam autodidactas, por não terem aquilo que poderemos chamar  de "escola".

Só o facto de conviverem com outros artistas com quem trocam ideias e conceitos, deita por terra a história de que se "auto-construiram"...

Isto digo eu, claro.

O óleo é de Álvaro Reja.

segunda-feira, novembro 25, 2013

Ser ou Não Ser Intelectual


Felizmente o termo "intelectual" está fora de moda.

Além de ter uma conotação política (normalmente era alguém que tinha lido os clássicos de Marx e Engels), era oferecido a pessoas que atingiam uma espécie de estrelato e eram convidadas a falar em sessões públicas. Havia outra coisa estranha, não precisavam de ser doutores ou de terem escrito pelo menos um livro, até porque isso era outra coisa, mais próximo da "burguesia".

Sinceramente, sempre houve algo no termo "intelectual" que me cheirou a mofo e pareceu postiço. Até por não ser profissão ou ocupação, embora aparecesse por vezes como tal...

O meu amigo Carlos costuma dizer que os "intelectuais" cairam juntamente com o Muro de Berlim. Como todos os exageros, tem pelo menos uma pontinha solta...

O óleo é de Boris Grigoriev.

sábado, novembro 23, 2013

As Estações Deviam Estar Abertas pela Noite Dentro


O frio chegou às ruas. 

Ruas inundadas de gente que perdeu quase tudo e se esconde por aí, dentro de papelões, em camas improvisadas, onde quase todos tentam esquecer os dias, afogados dentro da noite, que passa sempre tão rapidamente.

Nestes dias em que a temperatura desce até fazer doer, as estações do metro, do comboio, do barco, deviam permanecer abertas e deixar por lá mantas espalhadas pelos bancos.

Como as portas ficam fechadas, o frio faz doer e faz beber...

O óleo é de Reginald Marsh.

quinta-feira, novembro 21, 2013

Os Diários Publicáveis e os Outros...


Tenho falado com várias pessoas sobre essa "coisa" que se chama diário e que por vezes também acaba por ser transformado em livro.

Apesar dos bons exemplos de Miguel Torga e Vergilio Ferreira (registos bastante úteis por retratarem um tempo), as palavras publicadas acabam por ser escolhidas, passando pelo crivo do autor, transformamdo-se invariavelmente uma coisa diferente, mais "doce" e também mais literária.

Uma das coisas que normalmente desaparecem são os textos mais polémicos e contraditórios, que por serem tão verdadeiros e sentidos não cabem na chamada "literatura" (a excepção são as habituais "alfinetadas" a alguns inimigos de estimação, mas quase sempre veladas). 

Embora umas vezes acordemos virados ao contrário, com vontade de partir "pratos", outras acontece-nos o contrário. Há mais serenidade, uma vontade imensa de viver...

Sinto que este desiquilibro natural é demasiado discreto nos diários.

O óleo é de Davide Puma.

quarta-feira, novembro 20, 2013

Finjo que Ainda Leio Jornais


Há já algum tempo que insisto em comprar jornais, para depois apenas os folhear e colocar de lado.

Acho que o defeito não é apenas das notícias de papel, sempre pouco surpreendentes, é também do leitor, cansado do mesmo "filme", dos mesmos "actores", dia após dia.

E hoje até era dia de festa, de futebol, de Ronaldo, de bolas de ouro, de pausa na crise...

E eu em contraciclo...

O óleo é de Emile Bernard.

terça-feira, novembro 19, 2013

«Eu conheço-te.»


Não é de todo normal, uma mulher aproximar-se de nós, apontar o dedo (sim daqueles com gatilho...) e dizer: «eu conheço-te». Tudo isto sem perder o passo apressado e deixar de se misturar com a multidão que aparece e desaparece em segundos nas estações de metro. 

Talvez estivesse mesmo com pressa, talvez tivesse alguém à espera.

Durante vários minutos tentei descodificar aquele olhar, perceber se de facto a conhecia e de onde.

Não consegui chegar a qualquer conclusão. Já sabia que minha memória começava a perder qualidades, embora aquele rosto fosse giro e fugisse à vulgaridade...

O óleo é de Malcolm T. Liepke.

segunda-feira, novembro 18, 2013

«Oh Menina, cuidado com os pregos no chão, nós não queremos que escorregue e rompa os colans.»


Estava a passar em frente a um prédio em obras, do outro lado do passeio, quando começo a ouvir uma voz masculina e também algumas gargalhadas, à passagem de um jovem que devia rondar os vinte anos.

Além de olhar, fui obrigado a sorrir, até por perceber que os "piropos" dos profissionais da construção civil estavam muito mais polidos.

Ouvi sempre a mesma voz a dirigir-se à moça que passava, chamando-lhe "Menina", com alguma graça. sem recorrer ao que chamamos de ordinarices. Os companheiros limitavam-se a fazer ecoar  o seu riso pela rua e a rapariga continuou a caminhar bela e segura, interpretando o papel de "mulher sem ouvidos" com rigor, fingindo que nada daquilo era com ela.

Fui andando sem esquecer uma das frases do trolha, «oh Menina, cuidado com os pregos no chão, nós não queremos que escorregue e rompa os colans.» e claro, sem parar de sorrir.

O óleo é de Linda Christensen.

sábado, novembro 16, 2013

Passeio Pela Trafaria


Eu tinha pensado jantar no Ginjal, mas ela preferiu a Trafaria.

Achei estranho mas não comsegui dizer que não.

Encontrámo-nos na Estação Fluvial de Belém e apanhámos o Cacilheiro, cada vez mais fugaz nas travessias do Tejo, sempre deliciosas, mesmo quando ele se começa a transformar num riozinho, lá para as bandas de Alhandra, onde ainda existem alguns esteiros do Soeiro.

Já na Trafaria, pisámos aquela areia escura e oleosa da antiga praia, fotografámos as barcas adormecidas ancoradas e também as "deitadas de barriga para baixo", no areal, num sono mais profundo.

Ela estranhou encontrar aquelas torres circulares (cilos) na linha que nos podia mostrar o rio a abraçar o mar e a Torre do Búgio, o farol que é um dos primeiros cartões de visita de Lisboa, para quem chega do Oceano. 

Ofereci-lhe um lugar comum dos verdadeiros: «somos melhores a destruir o que a natureza nos oferece, que a aproveitar as suas maravilhas...»

Ainda nos perdemos pelas ruas da Vila, para olharmos as antigas vivendas apalaçadas, com alguma beleza, apesar dos sinais de abandono e decadência, quase sem palavras.

Ficámos uns minutos sentados a olhar o rio, naquela que ainda é uma das melhores "varandas" viradas para a Capital.

E depois fomos jantar.

quinta-feira, novembro 14, 2013

Os Cães Vadios do Bairro


A avó da Rita aproveitou a minha presença para falar da sua dor mais forte: ter sido forçada a abandonar o Bairro Alto, lugar onde viveu quase cinquenta anos e onde nasceram e cresceram os seus filhos.

Confessou que nem nos piores tempos das "meninas" e dos seus "diabos protectores", se viveu com tanta insegurança nas ruas. Lamentou ainda a existência de tanto "cão vadio", capazes de mijar em todos os cantos, tornando o ar matinal irrespirável.

Mais perigoso que o cheiro daquele "urinol a céu aberto", só os vestígios de "batalhas campais", deixados nos passeios. Tanto vidro partido, acabou com as poucas crianças que se viam nas ruas...

Ela sabia que os comerciantes e empresários pagavam mais impostos que os moradores à Câmara, mas interrogava-se: «será que os autarcas não percebem que estão a "matar" o Bairro, cada vez mais despovoado, como grande parte dos lugares históricos e típicos de Lisboa?»

Foi ainda mais longe: «as cidades não podem viver apenas à noite, não podem ser habitadas apenas por "zombies".»

quarta-feira, novembro 13, 2013

Fazer Jornalismo num Museu


Sabia que não era um emprego a sério, mas empregos desses tinham deixado de existir desde que o capitalismo se tornara indomável e a ganância, tal como o cinismo e a hipocrisia, governavam o "mundo".

Assim que subiu ao primeiro andar e descobriu uma sala com três secretárias, que em vez de computadores tinha máquinas de escrever, sorriu entre a admiração e o espanto.

Foi então que uma porta se abriu e percebeu que aquela sala era o "museu" do jornal, os computadores, as impressoras e os colegas estavam ao lado... 

O óleo é de  Jesus Navarro.

segunda-feira, novembro 11, 2013

Os Livros e a Escrita


Depois de acabar de ler "Alexandra Alpha", de José Cardoso Pires (um romance que começa antes da Revolução de Abril, mas ainda a consegue agarrar, acompanhando o PREC, para depois terminar, de uma forma fatal, em Novembro de 1976...), comecei a ler "Onde Andará Dulce Veiga?", de Caio Fernando Abreu.

O melhor que encontro hoje nos livros é a vontade de escrever, quase sempre a despropósito dos capítulos que estou a ler. Estou a ler e aparecem-me ideias mirabolantes que registo nos meus cadernitos...

E este livro de Caio Fernando Abreu, é bom nisso, talvez pela escrita viva e quase estonteante do autor.

domingo, novembro 10, 2013

Álvaro Cunhal, o Homem e o Mito


Álvaro Cunhal faz hoje cem anos.

Continua a ser uma figura controversa no nosso país, amado por uns odiado por outros. Poucas pessoas lhe foram e são indiferentes.

Eu sempre gostei dele. Não vou dizer que não sei porquê, porque seria mentira.

Gosto dele pela sua coerência (que não tem nada que ver com burrice, embora os "salta-pocinhas" gostem de dizer que só não muda quem é burro...). Coerência que seguiu a vida inteira. 

O seu desapego aos bens materiais, o seu sentido colectivo, a sua inteligência, a sua cultura e também a sedução que exercia sobre todas as pessoas com que convivia ou simplesmente conhecia de passagem (como foi o meu caso...), fizeram o resto. 

Foi por isso que aceitei as suas "regras" enquanto jornalista. Quando o quis entrevistar para o "Record", só havia uma possibilidade de o fazer, enviar-lhe as perguntas escritas... aceitei (a única vez...). Como mostrei interesse em o conhecer pessoalmente, tive a oportunidade de receber as perguntas das suas mãos e de conversar com ele durante alguns minutos, sobre literatura e jornalismo, na Soeiro Pereira Gomes. Como devem calcular, se já o admirava como resistente e político, essa admiração aumentou graças à afabilidade e simpatia com que me recebeu.

Sei que cometeu erros (quem não os comete?), mas não o poderão acusar de ter sido desonesto, incompetente ou mentiroso, como se pode fazer a grande parte dos políticos deste país...

Poderei gostar mais do "mito" que do homem. Mas não é nada que me incomode, sinceramente.