Todos nós sentimos que nos "roubaram" algumas das coisas que fazem mais sentido na vida, como as conversas animadas com amigos, o companheirismo e o convívio fraterno, complementado com abraços e beijos...
Mas as grandes vítimas desta pandemia foram (e são...) as pessoas de mais idade, que viviam em "lares de terceira idade". De um momento para o outro tornaram-se "prisioneiros". Não só deixaram de poder sair como também deixaram de receber visitas... Isto para pessoas que ainda tinham autonomia e saiam habitualmente para estar com os familiares e com os amigos, foi terrível.
Algum tempo antes de ter surgido este "pesadelo", um dos meus amigos, viúvo, sem filhos e com alguns problemas de saúde, para não incomodar os familiares mais próximos, decidiu passar a morar numa destas casas.
Por continuar lúcido e com alguma autonomia, continuou a sair, sempre que lhe apetecia estar com os amigos. Era por isso normal que de vez enquanto nos encontrássemos, para almoçar, com outro amigo comum. Eram sempre momentos bem animados, porque à sua volta ninguém estava triste.
Depois apareceu o vírus e este nosso convívio foi interrompido... De um momento para o outro, ficou "preso", tal como todas as pessoas que viviam em lares.
Nunca perdemos o contacto, íamos falando ao telemóvel, alimentando a esperança de um reencontro, logo que fosse possível.
Só que nunca foi possível...
Na última vez que falámos senti-o diferente. Estava triste, desiludido, cansado de tudo. Não falou de nenhum encontro e desabafou com tristeza que afinal as vacinas de pouco tinham servido, com o pensamento preso na "quarta vaga", que começava a crescer e a fechar de novo o país.
E na semana passada recebi o telefonema atencioso da sobrinha, que me deu a notícia que ninguém gosta de dar. Foi quando percebi que aquele último telefonema, demasiado triste, tinha sido mesmo uma despedida...
(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)