domingo, julho 31, 2022

Uma Semana "num Outro Mundo"...


Foram apenas seis dias, mas foram bem aproveitados para recuperarmos energias, numa pequena aldeia da Beira Baixa, onde as vozes humanas são secundadas pelos sons de quem está em maioria pelos campos fora.

Se as noites têm outro encanto com o céu estrelado e a "orquestra" de grilos, bem ensaiada... as manhãs não são diferentes com o chilrear dos pássaros que rodeiam a casa desde cedo. 

Nem mesmo o cantar madrugador e "anárquico" dos galos da vizinhança, que começam a dizer que já é de manhã ainda antes das sete e que se prolonga até depois das nove, é incomodativo...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


sexta-feira, julho 29, 2022

O Teatro de Sala e o Teatro de Rua


Quando um amigo actor se lamentou da ausência das pessoas na sala onde representa, dizendo que «As noites de teatro parecem apenas ensaios. A única diferença é que vestimos a "pele verdadeira das personagens". Agora a plateia, essa continua às moscas.»

Foi quando lhe perguntei, porque razão não vinham para a rua representar, ao encontro das pessoas. Ele disse que se fosse assim tão fácil já há muito tempo que representavam peças ao ar livre no centro da Cidade. Depois falou da burocracia e das autorizações e apoios que são necessários, das juntas de freguesia, à Polícia...

Entretanto soube que o "Teatro da Rainha" tinha feito quatro representações de uma das suas peças ("Mandrágora"), ao ar livre, num dos largos das Caldas da Rainha e que fora um sucesso, com todos os lugares sentados esgotados durante os quatro dias.

Pois é, parece-me que não faz mal nenhum ir atrás das pessoas, se eles não vêm atrás de nós...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quarta-feira, julho 27, 2022

De Costas para Mim...


Continuo a gostar de tirar fotografias de rua, com as pessoas de costas para mim. 

No início acho que o fazia por se tratar de um "roubo" mais discreto, já que protegia a identidade dos fotografados e também por puderem ser "qualquer pessoa". 

Li algures que, "é uma recorrência da história da pintura, a existência de personagens de costas para nós, a olharem para alguma coisa que vemos apenas através dos olhos desses terceiros."

Acho que esta frase tem muito de verdade. Muitas vezes queremos mesmo é ver o que os outros estão ver...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, julho 25, 2022

Pequenas Férias...


Hoje é dia de partir para o interior, para umas pequenas férias, para descansar e recuperar energias.

Para combater o "vazio" no Largo, dia sim dia não, publico qualquer coisa (agendado). 

Ou seja, também vou de férias da blogosfera.

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


domingo, julho 24, 2022

Não Sei se é o Sexto Sentido (ou o sétimo)...


Estava com o carro na oficina, já na parte final (alinhamento da direcção), quando comecei a sentir que me estavam a querer levar para um caminho "minado".

A narrativa do operador da máquina que faz acertos na direcção pareceu-me demasiado rebuscada. Acabou por ser traído pelos seus alertas dramáticos de "perigo na estrada", pois eu sabia muito bem que o carro era capaz de andar sem o apoio das mãos no volante, sem se desviar da rota.

Mesmo assim recebi um "prémio" na mudança das pastilhas e do disco dos travões, um "barulho novo" que apareceu numa das rodas e fez com que visitasse um outro mecânico amigo, que ficava a caminho de casa. Com um simples toque com a chave de fendas ele acabou com o som incomodativo e depois fez quase um "libelo acusatório contra" as oficinas grandes, que apenas querem ganhar dinheiro e secar tudo à volta (disse-me que tinha pago mais do que devia...). 

E disse-me para estar descansado, que não se passava nada de grave com o amortecedor, apontado a dedo.

O mais estranho foi ser ele próprio a dizer que a maior parte dos mecânicos só se preocupavam em ganhar dinheiro e que se valem da ignorância dos clientes, ao ponto de "inventarem" problemas onde eles não existem. E como estava certo...

Não sei se acontece com toda a gente, mas quando me estão a querer a enganar, é normal perceber que há ali qualquer coisa que não me soa muito bem, que não bate certo. Não sei se se trata do sexto ou do sétimo sentido...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


sábado, julho 23, 2022

Artes e Manhas...


Às vezes fico com a sensação que penso muito e escrevo ainda mais (mesmo que depois os papeis viajem para o cesto...).

Quase tudo me faz pensar e reflectir. Estou a ver uma coisa e a pensar noutra, porque há sempre uma ligação, mesmo que seja invisível.

No "Casario" escrevi duas ou três linhas sobre uma exposição colectiva, mas quis ir mais longe, quis furar o "silêncio ensurdecedor" que se vive em Almada, onde se finge que não se passa nada, a não ser duas ou três obras públicas que fazem lembrar a tal dona Engrácia. parece-me que de Lisboa, que chamam de santa.

Talvez nunca se tenha ido tão longe, como nos nossos dias, na manipulação da realidade. A televisão acaba por ser a "rainha dos dias e das noites", tudo pode ser cénico, até no improviso televisivo há teatralidade...

Mesmo sabendo que à sua direita é tudo muito pior, cada vez gosto menos destes políticos manhosos que nos governam, que são sobretudo uns fingidores... Se existissem "óscares" para políticos, António Costa já tinha levado o troféu para casa há algum tempo...

Voltando à exposição, gostei da generalidade das obras expostas, mas os trabalhos de Carlos Morais são sempre especiais...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, julho 22, 2022

Alguns Nomes...


Há nomes que se colam com mais facilidade aos rostos humanos. Foi o que notei com a Clarisse, que estava ali à minha frente, a tentar ser o mais prestável possível. 

Quando me virou costas para ir à procura do que eu precisava, fiquei a pensar que sempre gostei deste nome e conhecera poucas clarisses ao longo da minha vida, mesmo dentro de livros ou filmes.

Soube o seu nome por estar num atendimento e ela ter uma pequena placa que a identificava. Foi simpática, apesar de descobrir algumas "nuvens" em volta do seu olhar. Provavelmente cansaço, de uma vida difícil. Apesar de jovem (ainda não ultrapassara os trinta anos...), era capaz de já ser mãe, o que normalmente ainda escurece mais a pele rente aos olhos...

Despedi-me com um, "boa tarde, Clarisse", que recebeu como resposta um sorriso luminoso.

Durante a caminhada até casa fui pensando em nomes femininos menos vulgares que gosto. Esmeralda foi o primeiro nome que me apareceu. Conheci duas, há muitos anos, ambas bonitas e quase exóticas como os seus nomes. Dulce, também disse que sim. E não me lembrei de mais nenhum, diferente.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quinta-feira, julho 21, 2022

Somos e Seremos, Sempre, "Vários Países, num Só"...


Quem passe por Lisboa, mesmo nestes dias quentes, percebe que a Capital "está tórrida mas não arde"...

O calor? Combate-se dentro de lojas ou noutras casas com ar condicionado. Embora a maioria da gente de fora prefira estar debaixo das sombras dos chapéus das esplanadas, com as mãos seguras pelas insubstituíveis bebidas com gelo.

Quem diria... apesar dos "fogos" diários, os turistas continuam a ser muito mais que as suas mãezinhas. 

Talvez muitos venham de barco, carro ou comboio, para conseguirem escapar aos "incêndios" diários no aeroporto...

Os comerciantes e os seus colaboradores espalham sorrisos, na tentativa de "apagar" as chegadas e partidas na Portela, porque o presente é que conta.

Ainda bem que somos e seremos, sempre, "vários países, num só"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

terça-feira, julho 19, 2022

«Se o mundo é estranho, o futebol consegue ser muito pior. Tem pelo menos mais uma ou duas lentes de aumentar»


Os "dragões" do Sul são menos engraçados que os verdadeiros (esses mesmo, os ferrenhos...), pois além de não terem a pronúncia do norte, falta-lhe a alma bairrista de uma cidade que ainda finge que toda a gente se conhece.

Mais a brincar que a sério, queriam saber o que é um "ex-jornalista desportivo" pensava no caso do "pai e filho Conceição". Disse-lhes que achava muito bem o Francisco ir para o Ajax de Amesterdão. Saia no tempo certo, sem nos termos apercebido que um pai treinador e um filho jogador, nunca devem fazer parte da mesma equipa, pois mais tarde ou mais cedo, acabam por ficar os dois a perder. 

Também quiseram saber o que pensava das "mordidelas" de macaco do líder da claque portista ao Sérgio Conceição, disse-lhes que era um erro dar importância a quem não a tinha. Já bastavam os jornais e as televisões.

Depois houve alguém que salvou o café da manhã, ao falar do nosso Ronaldo, que parece ainda não ter clube. Muitos fingem que o querem (das árabias às américas), porque é uma óptima publicidade para qualquer negócio, ao mesmo tempo que outros desdenham e dizem que não o vão comprar.

Foi quando a Rita disse a melhor frase da manhã: «Se o mundo é estranho, o futebol consegue ser muito pior. Tem pelo menos mais uma ou duas lentes de aumentar.»

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


domingo, julho 17, 2022

«A tradição oral está ligada a uma coisa terrível: o analfabetismo»


Se há pessoas que não gostam de falar do passado, há outras que se deliciam a contar as histórias das suas vidas, sem qualquer pudor em abordarem os tempos difíceis das suas infâncias, passadas numa Vila operária, como era Almada.

Às vezes junto na mesma mesa quem andou descalço e quem não passou qualquer privação na meninice. O curioso, é as suas histórias não serem assim tão diferentes. À medida que foram crescendo, a vida acabou por "equilibrar" as coisas...

Claro que de vez enquanto há algumas divergências, vêm ao de cima memórias diferentes, o que é perfeitamente natural. 

Quando o Carlos disse com alguma tristeza que uma que uma das coisas que se perdendo com o tempo foi a "tradição oral", as histórias que os nossos avós nos contavam. O Fernando, embora também sentisse saudades dessas histórias, acrescentou um dado não menos importante: «Não se esqueçam que a tradição oral está ligada a uma coisa terrível: o analfabetismo.»

E tivemos de concordar todos. Na minha geração - e nas anteriores -, o normal era os nossos avós serem analfabetos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, julho 16, 2022

Parecem Contradições (mas são outra coisa qualquer)


Estou a escrever e a ouvir jazz. 

Dei por mim a pensar que este meu gostar de jazz foi influenciado pelo cinema. Mas não por qualquer cinema. Foram os chamados "filmes negros", com homens de chapéu e gabardine, cigarros, fumo e pistolas quase escondidas, e muita música experimental de improviso. 

Já o meu gostar de cinema, não tem qualquer influência do jazz ou de outra qualquer música. A única influência acaba por ser o próprio cinema... talvez pela sua proximidade com a vida.

Estou quase a deixar de escrever... sem deixar de ouvir jazz...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, julho 15, 2022

Se Fossemos um País Normal...


Se fossemos um país normal, os presidentes de juntas de freguesia e de câmaras, seriam os últimos a querer falar para as televisões, porque muito do que não se fez nas suas terras - na prevenção contra os incêndios - é responsabilidade sua.

Mas como se percebe com facilidade, são os primeiros a falar. Não deixa de ser curioso, não vermos jornalistas a fazer perguntas incomodas sobre o que não se fez de limpeza rente às casas das suas freguesias, fechando os olhos às distâncias de segurança que devem existir.

Se fossemos um país normal, muitos dos repórteres que estão no terreno deviam fazer o que o presidente Marcelo fez (segundo o testemunho do próprio), aceitar as recomendações dos responsáveis que lhe disseram que a sua presença perto nas frentes de fogos, era mais prejudicial que benéfica...  

Normalmente só vejo as notícias da noite, por isso escapou-me o quase "relato de futebol" (que às vezes é transferido para as provas de atletismo dos Jogos Olímpicos) de ontem, do repórter Amílcar Matos da CNN, quase feliz por se estar quase a bater um recorde nacional. 

« "48º é o número que se quer atingir, hoje, aqui em Coruche. Se esse número [de graus] for batido temos recorde batido e Coruche faz a festa"... E uma legenda 'informa' a audiência que "Coruche pode bater hoje o recorde europeu"!»

O mais grave é que o jornalista deve achar que fez bem o seu papel. Tal como os presidentes de junta e de câmara...

Se fossemos um país normal, de vez em quanto fazíamos autocrítica, em vez de passarmos o tempo a "sacudir o capote" e a apontar o dedo na direcção dos outros.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quinta-feira, julho 14, 2022

Um Mundo sem "Olhos e sem Palavras"


Como continuo a gostar de olhar para as coisas com olhos de ver, estranho cada vez mais "este mundo" que me rodeia.

Uma boa parte das pessoas - de praticamente todas as gerações - caminha cada vez mais com os olhos presos no telemóvel, como se lhes fosse impossível "viver sem sentir o mundo nas mãos". 

E quando acontece alguma coisa estranha no outro "mundo", olham pela parte de cima do ombro, como se estivessem a ver "o filme errado".

Continuando na rua da "sétima arte", fala-se também cada vez menos neste "mundo novo"... Talvez se esteja a caminhar para qualquer coisa parecida com o velho "cinema mudo"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, julho 13, 2022

A Tragédia do Costume...


Tenho cada vez mais dificuldade em falar dos nossos incêndios.

Tanta incúria e tanta maldade...

Faz-me confusão continuar a ver casas a arder, cercadas de mato. Percebe-se que os seus donos não cumprem a lei. Não entendo porque razão são tão pouco cuidadosos com os seus próprios bens...

Mas quando em muitos casos são as próprias autarquias que não cumprem a lei... Sim, basta andarmos pelo país fora para vermos bermas por limpar e árvores por cortar.

Para os incendiários ainda tenho menos palavras. Deverão causar mais de 70% dos fogos, quase sempre impunemente...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


terça-feira, julho 12, 2022

O Cinema Pode ser Quase Tudo...


Ontem vi um filme que não tinha nada de especial, mas à medida que o ia vendo, sentia que uma das personagens era parecida com uma das minhas poucas amigas. Pouco tempo depois telefonei-lhe e disse que a tinha visto dentro de um filme.

Embora o filme fosse apenas um pretexto para lhe dizer olá, acabei por a deixar baralhada e curiosa. E lá tive de enfrentar a curiosidade feminina, que suplanta quase sempre a "curiosidade humana".

Além do título e do nome da personagem, ela queria saber muito mais coisas do filme, que eu nunca iria conseguir responder-lhe, porque, provavelmente, as parecenças que descobri só estavam dentro da minha cabeça. Felizmente não era uma história de amor e a sua personagem era secundária.

Ela ficou de ver o filme e depois oferecer-me o seu comentário.

A primeira frase que escrevi numa folha de papel depois de ver o filme foi que o cinema pode ser "o espelho das nossas vidas". Poder pode, mas também poder ser muitas outras coisas. Foi por isso que não liguei muito ao que tinha escrito...

O cinema pode ser quase tudo, porque as imagens têm um poder imediato, nem sequer precisam de palavras para nos chamar a atenção, algo que os livros nunca terão e é por isso que serão cada vez um objecto de culto e não de massas.

Claro que também estou um pouco curioso em relação ao que ela me vai dizer. Mesmo que saiba que o mais provável é dizer que eu me tinha enganado, que não era ela que estava ali.

Foi a sobretudo minha imaginação a alargar-se e a fugir da realidade...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, julho 11, 2022

Segunda-Feira Marroquina


Se tudo o que é mais de trinta graus, já é calor a mais para mim, nem sei o que dizer com estas "ultrapassagens pela direita, pela esquerda e pelo meio" dos quarenta e vários graus.

Nem a proximidade atlântica nos vale... 

Não faço ideia se os turistas continuam a encher os aeroportos e Lisboa e o Porto. Provavelmente sim. Mas se calhar não era bem este Sol que queriam. Este parece-se mais com o deserto que com a Europa Mediterrânea, mesmo a da ponta mais ocidental...

Como seria de esperar, a "guerra" televisiva transferiu-se da Ucrânia para as nossas matas e pinhais, pois estamos na época dos incêndios. Se a televisão está apostada no "espectáculo", o Governo levou tudo mais a sério e declarou o estado de contingência, proibindo todo o tipo de actividades nas nossa zonas florestais, mesmo as agendadas (como os festivais de Verão...). É caso para dizer um carneiro é menos para brincadeiras que qualquer cabrita... E ainda bem, para todos nós.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, julho 09, 2022

O "Lixo Humano"...


Podia estar o dia todo a tentar explicar que não é assim tão "inexplicável", alguém cair para a rua e ficar por lá, por momentos, ou para sempre...

Nós humanos somos mais complexos do que parecemos. Um dos exercícios que me habituei a fazer desde cedo (às vezes com  alguma ginástica e quase forçado pela minha mãe...), foi tentar "colocar-me" no lugar dos outros. É uma coisa que todos devíamos fazer, aqui e ali, pois oferece-nos logo uma perspetiva diferente do que está em discussão.

Com tantos problemas para resolver neste país, o meu barbeiro desta vez foi "meter-se" com os sem abrigo, essa "escória" da sociedade, esse "lixo humano", no seu léxico de barbearia. Felizmente ele é bem falante, raramente utiliza o vernáculo, o que faz com as conversas não "descambem (talvez seja uma estratégia pessoal, pois assim pode dizer as maiores barbaridades, deixando a imagem de que não está a "insultar ninguém"...).

Mas ao chamar alguém de "lixo humano" (mesmo que possa ter razão em alguns casos) está logo a entrar no domínio da ofensa pessoal e colectiva, a todos os homens e mulheres que, voluntariamente ou involuntariamente, foram despejados para a rua e transformaram um banco de jardim ou um velho alpendre em "quarto de dormir".

Eu disse-lhe que quando surge um desemprego tardio e de repente todas as portas se começam a fechar, é difícil dar à volta e voltar a ter uma vida normal. Se a família em vez de ajudar ainda "empurrar para baixo", é meio caminho andado para as pessoas se sentirem uns empecilhos e quererem "desaparecer"...

Ele respondeu-me da forma mais fácil, que "trabalho é coisa que nunca faltou por aí, falta sim, vontade".

Foi quando esgotei os argumentos...

Não valia a pena dizer que a forma de desaparecer mais usual é esta: deitar a chave de casa fora e esquecer o "número de polícia" da porta da rua e inventar outra vida, aparentemente mais livre, mas também mais suja e com menos sentido...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, julho 08, 2022

Aconteceu o que se Previa (espero que os governantes tenham percebido e voltem a colocar autocarros de onde foram retirados)


Já toda a gente esperava que a Carris Metropolitana não viesse melhorar nem resolver coisíssima nenhuma, aqui na Margem Sul, a nível de transportes (é cada vez mais difícil acreditar neste Governo).

Na primeira semana a única coisa que se nota é a supressão de autocarros (várias linhas desapareceram e onde fazem mais falta, nas zonas suburbanas...) e os que circulam como "passam por todo o lado", fazem com um volta de trinta minutos passe a demorar o dobro...

Isto faz lembrar os tempos da "troika" onde a existência de escolas, de hospitais de tribunais e de transportes,  começaram a funcionar consoante o número de utentes existentes e não segundo as necessidades locais...

Em relação à Carris Metropolitana não estou a falar "de cor". Na terça-feira como não tinha carro (o meu filho precisou dele...) e tinha de ir à Vale Figueira (Sobreda) resolvi ir à aventura. Descobri que o autocarro que passava pelo local para onde ia, tinha mudado a rota e agora ia para a Charneca de Caparica e já não passava ali. Para não apanhar dissabores maiores fui de metro até Corroios e a partir daqui dei "corda aos sapatos" (o que vale é que gosto de andar...). Ou seja fiz duas caminhadas de 45 minutos (ida e volta) e durante este espaço de tempo só passou por mim um autocarro, quando já estava quase em Corroios, e ia na direcção de Paio Pires...

Sei que os moradores têm protestado, e com razão. E para variar, lá apareceu a presidente do Município de Almada, a colocar "paninhos quentes" no problema, não deixando de abreviar a questão com uma frase  que mais parece um slogan eleitoral (só que não há eleições próximas): "Contamos com todos para melhorar os transportes públicos rodoviários em Almada".

Gostava que este PS "fosse mais trabalho e menos propaganda". Que as coisas bonitas que registam em papel e espalham pela comunicação social se tornassem práticas quotidianas e deixassem de ser promessas... 

Era bom para o país e para todos nós.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, julho 07, 2022

A já Velha Hipocrísia Norte-Americana


Sei que os norte-americanos nunca foram um bom exemplo de quase nada, para o mundo. Sempre acenaram com a "bandeira" do país mais livre do planeta, mas nunca passou disso mesmo, de uma bandeira.

Não é por isso de estranhar o retrocesso na lei do aborto, muito menos o eternamente adiado "debate" sobre a venda e o uso e porte de armas.

Sempre que há mais um "louco" que decide fazer dos seus semelhantes alvos, apenas porque sim, lá surge nas televisões a velha afirmação dos políticos: "Temos de acabar com estes atentados, temos de fazer um debate sério e alterar a lei das armas."

No dia seguinte finge-se que não se passou nada e o assunto fica resolvido, "à americana" (como tantos outros...).

É esta mesma hipocrisia, que alimenta o falso puritanismo, capaz de censurar filmes e livros. Porque o importante continua a ser o "parecer". E só se consegue manter erguida a capa do "melhor país do mundo", alimentando os vícios privados e as virtudes públicas...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, julho 06, 2022

A Ficção esta Sempre a querer Meter a Realidade do Bolso (ainda a propósito dos cartuchos com sal)...


Se eu tivesse qualquer dúvida sobre o gosto das pessoas por histórias, com balas verdadeiras e não com cartuchos com sal, tinha-as perdido com a aventura do Alfredo, contada aqui, há dois dias.

Como eu já tinha dito num comentário, a família do Alfredo não achou graça nenhuma a este seu "momento de loucura" (mesmo que tenha surtido efeito, pois não voltaram a ser incomodados...). 

Mal sonhavam eles que o melhor ainda estava para vir...

Todo e qualquer dissabor que o Alfredo pudesse vir ter, até mesmo com as autoridades, desapareceu, graças à imaginação das pessoas. O único tiro disparado naquela noite passou a "tiros". E nunca sequer a vizinhança colocou como hipótese que tivesse sido "o velho dos rés de chão" a disparar contra os "bandidos". Também nunca questionaram o casal de idosos sobre o que acontecera. Preferiram colocar a imaginação no terreno, como qualquer escritor de livros pretos.

Ou seja, existem pelo menos duas versões sobre o que aconteceu. A primeira, espalhada pelos vizinhos do prédio, na manhã seguinte, era de que tinha sido algum familiar ou amigo do Alfredo que surpreendera os dois ladrões a quererem entrar em casa e que os tinha corrido a tiro (alguém sabia que eram dois, da janela deve ter vistos os dois vultos a fugir...). Sem que ninguém percebesse porquê, houve outro alguém que resolveu "apimentar" o que aconteceu naquela noite (deve ver o CMTV...) e começou a falar de uma "guerra entre gangues" e que tinham sido disparado vários tiros. Só faltou mesmo terem despejado um frasco de ketchup na rua, para que a acção tivesse o "sangue" usado nos filmes. 

E como é natural, foi esta segunda tese que ganhou força e que se está a espalhar pelos cafés de Almada (claro que com ela veio também o habitual xenofobismo, devido ao excesso de "brasileiros" e de "paquistaneses" que vivem na cidade).

As únicas pessoas que sabem o que realmente aconteceu, permanecem em silêncio, porque nestes casos o "silêncio é mesmo de ouro"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, julho 05, 2022

As Coisas são o que São...


Hoje participei numa conversa ligeiramente acalorada, em que duas ou três pessoas pareciam ter descoberto, só agora,  que afinal a "meritocracia era uma treta"...

Poderia dizer que sempre foi. E talvez comece logo na escolha dos "representantes do povo" quer em cargos governativos como no parlamento, onde se percebe com facilidade que não estão ali os melhores mas os que puseram a jeito (ou deram mais jeito...) para receber convites.

Felizmente a conversa não levou nenhuma "guinada" para o lado da política, ficou-se pelo jornalismo e pelas culturas, os interesses mais imediatos das cinco alminhas que bebiam café e faziam horas para mais uma tarde criativa.

A grande crítica era sobre as pessoas que escreviam opinião hoje nos jornais. A maior parte dos "escolhidos", além de estarem longe se escreverem com brilho, eram incapazes de exprimir uma ideia que ultrapassasse o interessante. 

Estávamos todos de acordo. Mas as coisas nunca foram assim tão diferentes. Talvez hoje seja menos atractivo escrever em jornais por se saber que há menos leitores. Mas a escolha de convidados para escreverem nos jornais sempre se deveu mais à sua notoriedade social, que ao seu talento literário (disse e digo eu), salvo algumas boas excepções.

Recordei que uma das coisas que mais me fez confusão no curso de jornalismo, foi um dos meus professores, jornalista do "Expresso", na época, dizer que era mais importante para as redacções ter alguém com uma boa agenda de contactos que escrever bem. Claro que, com o tempo fui percebendo, que era muito assim. O importante era seres o primeiro a dar a notícia (qualquer um a podia depois "aprimorar", se fosse necessário...) e isso só acontecia se conhecesses bem as pessoas dos "poderes" e controlasses os meios...).

Voltando à "meritocracia", se no nosso país nunca nos conseguimos libertar da "cunha", como é que podemos falar do mérito, no que quer que seja?

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


segunda-feira, julho 04, 2022

Os Cartuchos de Sal como Resposta (muito rara)


De longe a longe passa uma história do arco da velha na televisão, de novos proprietários de prédios que fazem de tudo, para correr com os inquilinos. E se for gente da terceira idade, nunca mais têm paz...

Infelizmente alguns senhorios portugueses também começaram a imitar os mafiosos estrangeiros, nas patifarias aos arrendatários, quando percebem que podem ganhar muito mais dinheiro, se conseguirem correr com os "velhos" que "nunca mais morrem", que moram nas suas casas.

Pagam a alguém, para os assustar durante a madrugada, sejam com a tentativa de abrir a porta de entrada ou até partindo vidros de janelas, destruindo vasos, etc.

Claro que a maior parte dos velhos não são de "ir à luta" como o Alfredo, que nunca mais caçara, mas ainda tinha a arma guardada num dos armários da dispensa. Mesmo com oitenta e um anos, achou que não se podia ficar, até por saber que a polícia não podia montar guarda em todas as casas. Também não tinha para onde ir com a esposa. A casa da filha era demasiada pequena para todos...

Determinado, à terceira noite montou guarda no quintal, longe da vista de quem aparecesse. Às duas e tal da manhã apareceram dois indivíduos, um ficou junto à porta e o outro começou a bater nas persianas das janelas, acordando todo o prédio. Como nos outros dias a vizinhança fingiu que não ouviu (inquilinos recentes, já com a renda actualizada...).

O velho Alfredo não teve meias medidas e disparou contra o vulto que estava junto à porta, que assim que ouviu o tiro, começou a correr sem parar, tal como o companheiro de aventura. Não chegou a saber se o sal fez mossa, mas já vão no décimo dia sem receber visitas estranhas. 

Claro que tanto ele como a esposa continuam com dificuldade em adormecer, pois estão sempre à espera que surja qualquer coisa, no escuro da noite...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, julho 03, 2022

A Procura Incessante da "Estrela de Famoso" (pelos próprios)


De vez em quando estou num lugar público e reparo em alguém (homem ou mulher) que passa a olhar para os lados, como se estivesse a passar por alguma passadeira, de qualquer cor. Não é difícil perceber que em algum momento das suas vidas, estiveram quase, quase, a agarrar a tão ambicionada estrela de "famoso". Tanto podem ter participado em qualquer programa manhoso da televisão, como serem cantores da "cassete pirata" ou actores de terceira categoria.

Normalmente não os conheço, mas mesmo assim, finjo não perceber ao que vêm, por achar desolador  aquele "espectáculo" em busca do reconhecimento. 

Mas depois fico a pensar, que esta gente precisa mesmo disto, de mesas de autógrafos em qualquer centro comercial, de "estar" numa festa qualquer com um rissol na mão e um copo com palhinha na outra a promover cuecas ou cremes. 

Graças aos "engodos" lançados diariamente nas televisões, esta gente quer simplesmente ser "famoso", sem saberem muito bem o que isso significa. Para eles ser famoso é "aparecer", "ser visto", mesmo que não saibam fazer nada. O simples facto de serem figurantes de qualquer programa intromissivo (daqueles que segundo os entendidos dá "audiências"), faz com que sejam "felizes" e se sintam "importantes".

Claro que também sei que são muito poucos os actores ou músicos, com talento e popularidade, que se sentem incomodados com estas coisas. Mesmo os que saem à rua de óculos escuros ou passam a vida a queixarem-se nas revistas mexeriqueiras que "deixaram de ter "vida pessoal", adoram este jogos de rua, em são apontados  e olhados de alto a baixo pela gentinha que passa e adora passar ao lado do actor ou actriz da telenovela das nove.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, julho 02, 2022

As "Sociedades do Medo"...


Uma das coisas mais importantes da globalização tem sido a aproximação entre todos os continentes, com um conhecimento geográfico e social (mesmo que continue a ser demasiado "leve"...) de praticamente todos os povos que habitam o nosso planeta.

Talvez por isso, tenhamos percebido que não somos assim tão diferentes dos outros, por muito que estejamos afastados, geograficamente.

Após o lançamento do seu livro, "Portugal, Hoje, o Medo de Existir", o filósofo José Gil deu uma entrevista ao "Jornal de Letras" (Janeiro de 2005), em que demonstrou conhecer-nos como mais que "visitas da sua casa":

«Este novo medo é o que temos uns dos outros. Tememos que o Outro nos critique, que não estejamos à altura da ideia que ele supostamente tem de nós, e tudo isto trava a coragem do pensamento e da acção. Isto significa que somos uma sociedade suavemente paranóica. Temos medo de enfrentar os outros, temos medo de dizer o que pensamos. Como se a expressão do que pensamos se voltasse contra nós. E assim, em nome de estratégias que visam proteger a nossa vida, fazer a nossa carreira, etc., não avançamos. O que não impede que, aproveitando-se deste medo, haja em toda a parte pequeninos déspotas.»

Sim, somos muito isto.

Mas voltando à globalização, talvez ela nos tenha feito perceber que não estamos assim tão sós, nestes "medos". Ou seja, há muitas mais "sociedades do medo" espalhadas pelo mundo... 

E por outro lado, talvez a pandemia ainda tenha agravado ainda mais estes "medos".

Claro que esta nossa aproximação do tal "espelho quase universal", está longe de ser positiva, porque em vez de nos ajudar a enfrentar - e desafiar - o nosso "medo", pode sim, ajudar a que ele seja aceite como uma coisa normal.

(Fotografia de Luís Eme - Corroios)


sexta-feira, julho 01, 2022

«A sorte é um vento que sopra sempre a favor do mais forte»


Não sei quanto tempo recuámos em pouco mais de vinte anos... Mas foi muito. 

Apesar das muitas comparações que se fazem no Oriente, com passagens por África e pela América Latina, penso que só na Segunda Guerra Mundial é que se assistiu a invasões de países, com a de que a Ucrânia está a ser vítima, em pleno século XXI, pela Rússia. 

Pelo menos, nós os europeus, tivemos durante algum tempo a ilusão de que a "lei do mais forte" estava a ser esbatida, que a democracia, aqui e ali, ia conseguindo equilibrar as coisas. 

Mas alguma coisa falhou por esse mundo fora. Sei que o mais fácil será culpar os políticos. Mas não podemos nem devemos ser tão simplistas.

Mas é triste que a frase que Alves Redol escreveu numa das suas obras mais emblemáticas, "Barranco de Cegos", publicada em plena ditadura salazarista (1962), «A sorte é um vento que sopra sempre a favor do mais forte», volte a fazer cada vez mais sentido...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)