quarta-feira, junho 30, 2010

Ser Artista é Qualquer Coisa

Digam o que dizerem, ser artista é qualquer coisa. É querer estar ligeiramente acima do comum dos mortais, é puder deixar algo aos outros, que não desapareça no dia seguinte. Sim, como por exemplo os jornais, que a minha mãe usava quando embrulhava aquele arroz de tomate saboroso, que levava para a praia, quando fazíamos praia o dia inteiro...

É por isso que é de todo legítimo, que qualquer jornalista tenha a ambição de publicar um livro, ou que um fotojornalista queira fazer uma exposição de fotografia artística.

Acho bem que o Rui, além de tirar fotografias para os jornais, também queira explorar o seu ofício com um olhar mais abrangente, capaz de comunicar de uma outra forma, mesmo que os seus retratos não digam mil palavras, mas apenas novecentas e noventa e nove...

Força e não ligues aos complexos que existem por aí. Se há alguém habilitado para escrever livros, será o jornalista, que faz da escrita a sua vida. Se há alguém habilitado para publicar álbuns e fazer exposições de fotografia, será o fotojornalista, pelas mesmas razões.

Claro que é importante querer fazer diferente, ter talento para deixar uma marca pessoal, o que é cada vez mais difícil, diga-se de passagem.

Do que não existe qualquer dúvida, é que ser Artista, é qualquer coisa.
Nota: A foto faz parte do filme memorável, "Persona", de Ingmar Bergman.

terça-feira, junho 29, 2010

O Sonho dos "Navegadores" Acabou

No fundo era isso, um sonho, pelo menos para mim. Antes do jogo começar sabia que em dez jogos que jogássemos com a Espanha, havia a forte proabilidade de perdermos nove.

Por no futebol não existirem "impossíveis" (é por isso que equipas amadoras da terceira divisão vencem equipas de primeira compostas por profissionais, nos jogos da Taça...), podia dar-se o caso de hoje ser o tal nosso jogo de "sorte".

Não foi. Perdemos. Não vale a pena culparmos o Carlos Queirós, o Cristiano Ronaldo, o Deco, o médico, o massagista, o cozinheiro, ou até o senhor Amândio de Carvalho que é dirigente federativo quase vitalício, até conseguiu ser o chefe da comitiva presente do Mundial do México em 1986, no célebre "Saltillo", e continuar em frente, como se o que se passou não fosse nada com ele...

Mas é bom não esquecer que a partir daqui, as coisas só podem piorar. Os "fora de série" portugueses começam a ser uma espécie em extinção. Basta olharmos para o Benfica, que chegou a jogar sem um único português no onze inicial da época passada, em que se sagrou campeão...

E sem jogadores, nem mesmo o Mourinho conseguirá fazer milagres...

A capa de "A Bola" de hoje, afinal não ficou para a história...

domingo, junho 27, 2010

"Mon Ami Soares"

Ao ver nas notícias televisivas o espectáculo de louvaminhas, protagonizado por José Sócrates, Freitas do Amaral (e provavelmente outros que estavam na fila...), a Mário Soares, só posso acrescentar, mesmo sabendo da irrelevância para o caso, que me sinto muito satisfeito por nunca ter votado em nenhum dos dois, que de socialistas sempre tiveram nada.


«Mário Soares é um patriota, gosta de Camões. Eu gosto de políticos que gostam de Camões. Eu gosto muito de Mário Soares.»

Além de patética e infantil, esta declaração de "amor" de Sócrates tem muito mais que se lhe diga, pois Salazar, de certeza que também gostava muito de Camões...
Sei que o melhor da "posta" é o óleo de José Malhoa, que retrata muito bem Luís de Camões, que se andasse por aqui, não perderia a oportunidade de glosar este "amor", quase delicado...

sábado, junho 26, 2010

Tudo é Possível


A partir daqui tudo é possível, até sermos campeões do Mundo.

Só é preciso que Queirós não invente e perceba, entre outras coisas (ele é um bocado lento...), que Cristiano Ronaldo não é um ponta de lança...

Os jornalistas adoram fazer comparações entre Ronaldo e Messi (eles adoram alimentar rivalidades como as entre a Madalena Iglésias e a Simone de Oliveira), felizmente os dois campeões passam ao lado deste interesse "venenoso" e respeitam-se como grandes atletas que são.

Eu não consigo gostar de Messi, mas é apenas uma questão de empatia, não aprecio o seu ar de "rato". Acho que são tão diferentes na forma de jogar, que é difícil fazer um paralelo entre ambos, como tanta gente tenta fazer, quase diariamente. O Ronaldo é um atleta de eleição, corre a uma velocidade vertiginosa com e sem bola, o Messi é um malabarista, capaz de conseguir fazer com a boa coisas impensáveis. E ambos marcam e dão a marcar excelentes golos.
Voltando à nossa selecção, há três jogadores portugueses, que embora não se fale muito deles, têm sido extraordinários. Falo de Eduardo, Ricardo Carvalho e Fábio Coentrão.

sexta-feira, junho 25, 2010

Trinta e Quatro Anos Depois...

Trinta e quatro anos depois, Portugal volta a encontrar o Brasil na fase final do Mundial. Desta vez Eusébio e Pelé, serão apenas espectadores, entre os muitos milhões que acompanham este "circo" africano, nos cinco continentes.

Normalmente a nossa selecção dá-se mal com os jogos que não são de "vida ou morte". Parece quer só sabemos jogar com pressão, foi assim no apuramento e também no último jogo com a Coreia do Norte.
Uma vitória era bem vinda, tal como aconteceu em 1966, para terminarmos em primeiro lugar no grupo e para "deitar fora" o nervoso miudinho de vez.

quinta-feira, junho 24, 2010

Fora de Prazo?

Dizemos muitas vezes que não são apenas os iogurtes ou os pacotes de leite que ficam fora do prazo, nós também ficamos.

É uma daquelas frases que ficam...

É verdade que resolvemos permanecer no lado errado de muitas histórias, quando uma parte de nós sabe que já estamos a mais. isto acontece umas vezes por teimosia, outras por amor, e outras ainda por razões que a própria razão desconhece,

O futebol talvez seja a face mais visível deste "paradigma" humano. Por exemplo, não sei exactamente as razões que levaram o seleccionador francês a permanecer no lugar, mesmo com tantas contestações, internas e externas. Talvez amor, talvez teimosia, talvez a ilusão que ainda era possível fazer mais...
Nunca foi tão bom como o pintaram, nem tão mau como o pintam. O mesmo se poderá dizer de Carlos Queirós, que passou de besta a bestial em apenas um jogo (cuidado que a besta pode não estar muito longe...).

No associativismo e na política passa-se o mesmo, embora com nuances diferentes. No associativismo as pessoas são obrigadas a permanecer como dirigentes, por não aparecer ninguém para as substituir. Na política passa-se o contrário, há sempre candidatos à sucessão, só que há algo no exercício do poder (acho que se sentem donos de quase tudo, até das pessoas...), que faz com que os governantes raramente saiam no "timing" certo.

Deixo para o fim a família, onde também surgem as mesmas dúvidas e as mesmas certezas. Sim, todos conhecemos casamentos fora de prazo, que apenas resistem por existirem filhos ainda menores, por teimosia, ou ainda por dependência económica.

Claro que é um erro enorme sermos comparados a objectos de consumo. Nunca nos devemos esquecer que nós, seres humanos, temos a capacidade de nos regenerarmos, de conseguir reconstruir algo sólido a partir de cacos. há milhentos exemplos do que acabo de dizer por aí.

Entre muitas coisas, somos esperança, sonho e ilusão. É por isso que não temos muito a ver com iogurtes, leite ou maionese (embora devamos continuar a ter cuidado com os prazos e as datas...), apesar das muitas comparações, nem sempre felizes...
A fotografia é do inesquecível, Robert Doisneau.

quarta-feira, junho 23, 2010

Caixas de Ressonância

É provável que a Cultura como a entendemos seja sempre um "mundo de minorias", por exigir um conhecimento, uma sensibilidade e um sentido critico aprofundado, mesmo quando parece estar na moda.

Moda que é muitas vezes aproveitada pelos "fingidores", que gostam de dar um ar de erudição e acabam por escorregar na própria ignorância, trocando o violino pelo piano de Chopin.

O que realmente conta neste meio são os que gostam da Arte pela Arte. Alguns são tão generosos que conseguem passar as lado das muitas vaidades que circulam pelos salões, cafés ou galerias, com um sorriso nos lábios. Outros nem por isso, sentem-se quase "enxotados" pelas "estrelas" de trazer por casa, incapazes de perceber que a vaidadezinha os cega e ridiculariza. E quando a sua qualidade é diminuta piora as coisas e faz com que repitam dezenas de vezes os mesmos poemas, os mesmos quadros e as mesmas histórias, ainda que em palcos diferentes.

Alguns vão mais longe e fazem comparações perfeitamente ilusórias e idiotas, como o senhor que diz declamar melhor que o João Villaret ou o pintor "naif" que afirma ter melhor traço que o Júlio Pomar. Claro que nós temos culpa destas situações, pois ouvimos estas asneiras e raramente temos coragem de lhes estragar a festa, dizendo para se enxergarem, mesmo que o façamos apenas por uma questão de educação ou por pertencermos ao mesmo círculo de amigos.
O que ainda não consegui perceber é se esta gente tem noção da figura que faz, se aquilo é apenas um número ou se se acham mesmo muito bons. E nem sei o que é melhor para os seus egos tão salientes, a realidade ou a ficção.

O factor mais negativo é que estes autênticos "cromos" culturais vão afastando pessoas realmente interessadas pelas coisas da cultura, mas sem paciência para ouvir "caixas de ressonância"...

O óleo é de Matisse.

terça-feira, junho 22, 2010

A Ficção da Realidade (ou a Realidade da Ficção)

O "Expresso" costuma trazer alguns derivados regionais, dentro do respectivo saco de notícias e publicidade, oferecendo algumas notícias cá da "aldeia".

Desta vez fiquei pasmo com uma notícia da página 3 do "Semmais", da qual transcrevo uma parte que poderia ser ficção, mas para ser notícia, acredito que faça mesmo parte da realidade.

A notícia começa por falar do resgate do corpo do surfista que se encontrava desaparecido desde o dia 8 e foi encontrado na tarde de 17 de Junho, na praia da Costa de Caparica.
A parte verdadeiramente surpreendente é a afirmação do autarca local. Aí vai: «O presidente da Junta de Freguesia da Costa de Caparica, declarou que se tratava de uma pessoa surda, que não sabia nadar e que tinha uma prancha de surf, encontrada à beira-mar, apenas há dois dias quando desapareceu.»

Qualquer bom ficcionista, era capaz de não ir tão longe...

A vida está a ficar tão estranha, cada vez mais "enrolada" com as palavras dos livros e as imagens dos filmes.

domingo, junho 20, 2010

Um Sonho de Mulher...

Há expressões que identificam as pessoas.

Estava no café com um dos meus amigos de tertúlia dominical (é quase a nossa missa...), a ouvi-lo deliciado, enquanto ele folheava o livro, "Na Viragem do MiIénio, 160 Anos Incríveis". Ia matando saudades de muitas pessoas que apareciam nas fotografias, ao mesmo tempo que contava pequenas histórias de cada uma delas. De um dos elementos que surgiu, além de contar algumas das suas peripécias como dirigente, disse que a esposa era um Sonho de Mulher.

Fixei-me aqui, nesta pequena frase, por saber que o Victor era incapaz de dizer algo como: "a gaja era cá uma boazona", ou algo ainda mais pequeno.

Sem sombra de dúvida que é nestas pequenas coisas que nos distinguimos como homens e mulheres...

sexta-feira, junho 18, 2010

O Adeus de José Saramago


Despediu-se de nós, ao fim da manhã, na sua Ilha de Lanzarote, Espanha, o nosso primeiro e único escritor laureado com o Prémio Nobel da Literatura.

É um autor especial, diria mesmo único, que não deixou ninguém indiferente à sua obra, graças à forma e também às temáticas que escolhia, quase sempre polémicas.

O Poder das Palavras

Um amigo meu irrita-se por toda a gente ter a mania que percebe de futebol. Uma das formas que encontra para baralhar e calar estes "entendidos" é aplicar algumas palavras que lé nos jornais e escuta na televisão, espalhadas por filósofos como o "Ribeirinho" (Rui Santos) ou o "Lobão Planetário" (Luís Freitas Lobo).


Fala de "bases estílisticas", "circulação do processo ofensivo", "ego táctico", "pilar da organização defensiva", etc. O estranho é ninguém o mandar «lamber sabão», geralmente calam-se e viram costas, recusando-se a trocar ideias com alguém que é capaz de usar tantos "palavrões" para falar de futebol....

quarta-feira, junho 16, 2010

O Anexo Amarelo

No meio daquele casario velho, havia uma entrada de casa que sobressaía, pela sua cor viva, um amarelo canário.
Pouco depois pude ver que no canto oposto tinham construído uns sanitários e um lavatório, debaixo da escada que dava para o piso superior.

Ainda tinha um contador de água, provavelmente com uso, para regar as hortas que se escondiam nas traseiras das casas abandonadas.

Mesmo Assim Entrei...

Talvez fosse por causa da ferrugem, não liguei à "chapa" afixada na porta e fui entrando.

Demasiado descontraído, como sempre, nem sequer pensei na possibilidade de existirem cães, daqueles que se soltam aos vagabundos e estranhos que aparecem do nada.

Subi as escadas escuras e gastas na companhia do silêncio que habita os espaços abandonados.

Ao fundo reparei numa janela aberta e numa mulher de óculos com cabelo curto que me olhou surpreendida. Mostrei-lhe a máquina e fiz-lhe sinal que estava ali apenas a ver todo aquele espectáculo de abandono. Ela sorriu-me, acenando com a cabeça e foi para dentro...

domingo, junho 13, 2010

Lisboa, António e Pessoa

Lisboa sempre foi uma cidade bastante rica e abrangente, com espaço para gentes e culturas diferentes, que chegavam do Norte, do Sul, do Ocidente e do Oriente.

A sua situação geográfica também contribuiu para isso, pois sempre foi um cais aberto a chegadas e partidas, de todos os cantos do mundo.
Não deixa de ser curioso que este dia da nossa cidade maior, seja também o dia do seu santo mais popular, o António que também é de Pádua, e que segundo consta, quebrava as bilhas às raparigas e tinha ainda o "péssimo" hábito de ser casamenteiro.
E depois é também o dia do nosso poeta maior, o Fernando, que foi tanta gente, além de Pessoa...
Na foto o miradouro do jardim de S. Pedro de Alcântara, no Bairro Alto, onde se pode ver o melhor de Lisboa.

sexta-feira, junho 11, 2010

Crónica de uma Travessia

Com o tempo fui percebendo que os melhores livros não são os mais bem escritos, mas sim os que me fazem pensar e até escrever.

Tudo isto para dizer que "Crónica de uma Travessia" (que vou a meio da leitura...), de Luís Cardoso, autor timorense - livro que faz parte da excelente colecção de "autores lusófonos" da revista "Visão" e que custa apenas um euro -, está a ser uma bela surpresa.
O Luís leva-me também de viagem, para esse país longínquo, que descobri no final dos anos sessenta, princípios de setenta, quando o meu vizinho Henrique foi destacado para a então nossa Ilha do Oriente como militar. Éramos próximos porque o irmão era um dos nossos melhores amigos de infância e a mãe deles a melhor amiga da minha mãe.
Eu devia ter uns oito anos, quando senti a verdadeira distância entre Timor e o Continente, pois a mãe do Henrique adoeceu com gravidade (faleceu pouco tempo depois...) e ele não pôde vir visitá-la, dar-lhe um último abraço...
A "Crónica de uma Travessia" fez-me pensar na pátria que somos, povoada de gente que foi e continua a ser obrigada a partir (neste tempo de crise, estamos a voltar a este nosso fado...), não tanto por sentir que o futuro mora do outro lado, mas sim por sentirem que neste país não há futuro...

quarta-feira, junho 09, 2010

Os Livros, as "Pérolas e os Porcos"

Desde pequeno que oiço a expressão popular, «deitar pérolas a porcos», que utilizamos vezes sem conta, quase sempre pelos piores motivos...

Penso que a nossa prática de vida no quotidiano nunca se ficou tanto pela teoria como na actualidade. Talvez seja um dos reflexos visíveis de sermos governados há mais de três décadas por demagógicos, quer a nível local quer a nível nacional, gente que passa a vida a prometer o que não cumpre, porque sabem que "promessas não pagam dívidas".
E realmente tudo tem limites...
Perguntam (e muito bem), «o que é que este agora quer?». Nada de especial, talvez apenas procurar compreender, em conjunto, o porquê da ausência (cada vez mais notória) das pessoas nas salas de teatro, exposições ou lançamentos de livros. Provavelmente estão cansadas de Cultura. Digo cansadas porque há várias maneiras de "matar" a cultura, se uma delas é fazer de conta que não existe, outra é banalizá-la, vulgarizá-la.
Ontem houve duas apresentações do projecto local "Bookcrossing", simplificado nas escolas de Almada, com um mais simples, "Levar, Ler e Libertar", coordenado por uma grupo de professoras bibliotecárias dos agrupamentos das escolas D. António Costa e Cmdt. Conceição e Silva. Realizaram-se à tarde e à noite, cada uma delas com menos de duas dezenas de participantes.
É a crise? Sim, mas eu diria outra, quase existencial.
E pensar que esta é uma das melhores ideias que surgiram nos últimos anos, para valorizar o livro como companheiro de aventuras e também como mensageiro de tantos conhecimentos, atrás do sonho (que já é real, felizmente...) de transformar o mundo numa biblioteca. Sim, através do "Bookcrossing", podemos encontrar um livro num banco de jardim, de autocarro ou cacilheiro, ou até numa mesa de café, apenas à procura de um amigo, de alguém que lhe ache graça, que o leia e o volte a libertar depois, onde quiser...
É mais que louvável a vontade das professoras, Ana, Carla, Dina, Margarida e Sara (com o apoio do Município de Almada), em passar para a cidade a sua boa experiência escolar, com esta maneira de valorizar o livro, dando-lhe quase pernas para andar por aí à procura de leitores.
Nota-se que as pessoas estão cansadas de quase tudo, até de viver, quanto mais de ler, de olhar a arte ou assistir a um espectáculo cheio de "metáforas" desta vida...
Mesmo assim, se encontrarem um livro por aí, à procura de leitores, tratem-no como ele merece, com muito carinho. E libertem-no, dêem-lhe a possibilidade de ser lido e relido, em Almada ou qualquer parte do mundo...

domingo, junho 06, 2010

A Realidade das Coisas...

Li duas entrevistas na sexta-feira, que me fizeram pensar bastante, a de Inês Pedrosa, da revista "Ler" e a de Maria do Rosário Pedreira, do suplemento, "Ipsilon".

Pensar e não só. Questionei-me bastante como "escrevinhador", ao ponto de pensar que poderia muito bem deixar de andar a brincar às estórias, mesmo sabendo que escrever faz parte do meu dia a dia, e é algo tão natural como fazer outras coisas simples que preenchem o meu quotidiano.
Mas a vida é mesmo isso. Um labirinto estranho com 1000 caminhos e 999 portas fechadas...
Sei que poderia fazer mais por mim (trabalhar e lutar muito mais...), mas também sei que sem "golpes de asa" e "amigos" nos lugares certos, nunca acertarei na tal porta certa, uma em mil...
Não será por isso que deixarei de escrever e de ler, mas sinto que as minhas próprias ambições vão encurtando com o tempo.
Apesar da seriedade da Inês e da Rosário, sei que o mundo literário não vai mudar para melhor(tal como a sociedade), porque os dados continuam viciados. Estou farto de saber que este mundo é demasiado desigual e que muitas vezes mais importante que ter talento, é estar à hora certa, no sitio certo, com a companhia certa.

sexta-feira, junho 04, 2010

O Feriado foi Assim...

A "blogosfera" tem muitos motivos de interesse, o maior de todos é a liberdade de se discutir tudo, de todos os ângulos e perspectivas, o que raramente se consegue fazer nos jornais, quanto mais não seja pelo respeito que nos deve merecer o verdadeiro serviço informativo.

Este feriado, por ser religioso ou por outra coisa qualquer, foi alvo apetecido de muitos puristas que se colocaram em cima de um banco para dizerem que temos feriados a mais. Eu acho que não, temos sim muitas pontes (eu sei, algumas em mau estado, mas...), e claro, um grande aproveitamento - especialmente no sector público - dos feriados para se fazer mini-férias.
Penso que é nestas alturas que os funcionários públicos são mais invejados, já que por norma se repartem em dois grupos, passando cada um a sua ponte.
Eu não fiz ponte mas aproveitei o feriado para ir até ao Sul, ao interior. Passei por Avis, Arraiolos e Montemor-o-Novo.
A fotografia mostra a água onde nos refrescámos e a mesa onde fizemos um piquenique, tão ao gosto dos miúdos...

terça-feira, junho 01, 2010

Têm Toda a Razão...

Só posso dizer que têm toda a razão: trocar a passagem do octagésimo aniversário de Dinis Machado pelo futebol, não lembra a ninguém...

Um dia depois, só posso fazer uma coisa, transcrever uma parte do pequeno caderno que escrevi, de tiragem limitadíssima, construído a partir de um "post", publicado no Dia Mundial da Poesia.
Aí vai:
[...] Cardoso Pires foi ainda mais longe[i]: «não me digam que não é uma felicidade estar-se assim, com gaivotas a saírem-nos de baixo dos pés e a passarem-nos a dois palmos dos olhos num bailado de gritaria.»
Carlos de Oliveira
[ii] continuava deslumbrado com o Sol que brilhava rente ao Tejo: «o ar boreal reflecte-nos os olhos, tão limpos que os extingue.» Cardoso Pires sorriu e deu uma palmada nas costas do amigo, antes de resolver falar de coisas mais palpáveis, recordando[iii] as muitas vezes que desceu a rua do Alecrim em direcção ao rio, como se o estivesse a fazer naquele momento, «quando olho para o fim da rua, descubro que os enormes guindastes da Lisnave da Outra Banda do rio se encontram quase do lado de cá, em cima do Cais Sodré.» Sem se esquecer de brincar com a situação, fingiu perguntar-lhes: «atravessaram o Tejo ou foi o Tejo que encolheu durante a noite?»
O Dinis olhou-me com aquele olhar doce de criança grande, igual ao das tardes que partilhámos no primeiro andar da rua Ancheta, no Chiado. Confidenciou-me
[iv], «tive sempre uma pequena bússola – para me levar aos pais, aos amigos, aos trabalhos de que gostava. E guiou-me para as auroras boreais dos livros e dos filmes.» Com o olhar preso a um cacilheiro que cortava as águas do rio, contou-nos que, «a imaginação é um barco.»
Zé Gomes, assim que viu o seu amigo, Manuel, alentejano do mundo, expressou
[v] a amizade dos dois desta forma: «ambos ciganos por temperamento, e com pernas incansáveis, entendemos-nos sempre às maravilhas, até porque nunca se quebrou entre nós aquele ritual de cerimónia que acompanha as amizades verdadeiras.»
Manuel da Fonseca abraçou o amigo e ofereceu-nos um bom exemplo
[vi] da sua alma de vagabundo: «sou barco de vela e remo, sou vagabundo do mar. Não tenho escala marcada nem hora para chegar: é tudo conforme o vento, tudo conforme a maré…» [...]
[i] “Lisboa Livro de Bordo”, José Cardoso Pires, p.114.
[ii] “Colheita Perdida”, Carlos de Oliveira, p. 20.
[iii] “Lisboa Livro de Bordo”, José Cardoso Pires, p 38.
[iv] “Gráfico de Vendas com Orquídea”, Dinis Machado, p 114.
[v] “A Memória das Palavras I”, José Gomes Ferreira, p. 180.
[vi] “Antologia Poética, Manuel da Fonseca, p. 59.