Hoje estive a consultar algumas revistas antigas e acabei por ler algumas apreciações de Manuel de Oliveira (nestes anos sessenta do século passado ainda não era Manoel...), sobre o cinema desse tempo, e também de alguns jovens realizadores (Fernando Lopes, Paulo Rocha e António-Pedro Vasconcelos).
Gostei da sua serenidade e abertura (mesmo depois dos seus 100 anos de vida, continuava igual...) e também de sentir o quanto era respeitado e admirado pelos cineastas do chamado "cinema novo". Era praticamente a única figura que era tida como referência do pobre cinema português de então.
Embora não seja um apreciador do seu cinema (fez muitas vezes o mesmo filme...), demasiado poético e teatral, ficou para a história como alguém que fez sempre os filmes que quis fazer, e não os que queriam que fizesse.
Quando ele disse: «É necessário que haja um cinema individual, ainda que exista outro que o não seja. O que é necessário é que haja um cinema meramente artístico e outro espectacular. Não se combatem, completam-se», estava cheio de razão.
E era um cavalheiro. Adaptou vários livros de Agustina para o cinema, que ela não gostou e disse-o publicamente (de forma desagradável)... mas ele nunca lhe respondeu. Aliás, respondeu, quando disse numa entrevista: «Há uma diferença muito grande entre o que é cinema e o que é um livro. A transposição de um livro para o cinema é uma coisa extraordinariamente difícil e nunca há correspondência.» Ela, provavelmente, fingiu que não percebeu...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)