Estava a guardar esta história para outra altura...
Não queria falar apenas de Adriano, sem me referir aos outros rapazolas de camisas aos quadrados, de viola às costas e canto fácil, capazes de percorrer o país de uma ponta a outra, para participar em festas e encontros, ou coisas ainda mais simples, como o casamento de um amigo...
Apesar das estradas serem estreitas e curtas, os carros, as camionetas e os comboios mais lentos, eles raramente faltavam a uma "convocatória".
Alguns carros foram chegando, vindos de Lisboa, Porto e Coimbra, completamente cheios de gente. Os menos abonados vieram de comboio e de camioneta.
Depois foram-se chegando, ao local escolhido, abençoado por um Deus, distante da Igreja de Salazar e de Cerejeira.
Os noivos selaram a união perante um padre de calças e camisa, como os restantes, com muitas canções livres e poucas orações surdas...
Curiosamente, era a única criança ali presente, provavelmente para "guardar" a minha tia, como noutras vezes, uma moçoila bonita, que tinha entregue o coração a um marinheiro...
A comida era muito pouco casamenteira, mas deliciou todos os presentes, graças ao perfume do pão, do chouriço das febras e do vinho caseiro, assim como alguns doces...
Não me lembro de tudo, mas sei que passei um dia extremamente alegre, em que me trataram quase como um príncipe. Até me obrigaram a cantar naquele coro, para estragar todas aquelas canções heróicas, cantadas no bosque livre...
No regresso a casa, cansado de tanta brincadeira, voltei às cavalitas, conhecendo as costas de todos aqueles rapazes felizes, onde também estava o Adriano, alto e magro, ainda sem aquela barba à Almeida Garrett, que mais tarde soube que também era Correia de Oliveira...
Só muitos anos depois é que soube que aquele casamento no bosque, também tinha sido considerado uma reunião politica...
Penso que nunca mais nos voltámos a encontrar. Tinha sido giro lembrar-lhe aquele encontro especial de amigos no campo, e dizer-lhe que eu era o "puto reguila"... mas Adriano partiu cedo demais para o lado de lá do mundo e...
Ele partiu mas deixou-nos a sua magnífica voz, como testemunho de uma vida de luta, por uma sociedade mais justa e solidária, nem sempre compreendida...