terça-feira, agosto 31, 2021

Os Melhores da Rua Deles na "Casa de Espelhos"


Nunca me pareceu que a televisão fosse reflexo da sociedade (nossa ou de outra...). Parece-me sim, que é o espelho de meia dúzia de farsantes com poder, que se acham os "maiores de qualquer cantadeira", mesmo que apenas consigam brilhar em "play-back".

Percebo perfeitamente todos aqueles que escolhem viver sem televisão. Quase todos os dias a programação nos diz, que o fundo afinal "não tem mesmo fundo". E sim, é sempre possível descer ainda mais baixo.

Embora a "feira de vaidades" social se tenha transferido em peso, altura e largura, para as democráticas redes sociais, que conseguem fazer de qualquer anónimo um "famoso", pelo menos no quarteirão virtual por onde se passeia, as antenas televisivas não querem "perder a corrida" e colocaram cada vez mais espelhos à sua volta.

Nem devia estranhar, a SIC e a TVI sempre se alimentaram da autopromoção - com dezenas de programas no ar para promover e bajular os seus produtos, de carne e de plástico -, desde o seu começo.  Percebo que a concorrência (mesmo em ponto mais pequeno...) tenha de fazer pela vida, por isso nem estranho o que ouvi hoje, que o CMTV "tem a maior redacção do país". A única coisa que estranhei, foi que não tenham dito que "tinham a melhor"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, agosto 29, 2021

Memórias Inventadas que Deitam fora a Verdade



Há um amigo de infância com o qual me dou cada vez menos, porque as suas mentirinhas inocentes da infância e adolescência, foram dando lugar a "filmes" (cada vez mais elaborados), onde é vezes demais protagonista sem sequer ter feito parte da "fita". 

Com o tempo fui deixando de lhe achar piada. Ainda lhe disse uma ou outra vez que ele estava a mentir, mas percebi que pouco adiantava.

Ele finge não se aperceber que passa a vida a alterar as histórias do nosso bairro, usando os argumentos que mais lhe convêm, para se vangloriar de coisas que não fez. E como se julga um "d. juan", as moças da nossa rua não escapam aos seus remoques... Ou seja, pelo caminho, há sempre alguém que é empurrado pela "porta dos fundos" ou que fica mal no "filme". As estórias são mesmo assim, são quase como as telenovelas, para manterem a plateia interessada, têm de ter bons e maus da fita. A verdade é o que tem menos interesse..

Há dois tipos de pessoas, que com o passar dos anos, me habituei a evitar, por ter dificuldade em me relacionar com elas. São os mentirosos compulsivos e as pessoas que se afogam diariamente em álcool.

Mesmo sabendo que ambos sentem necessidade de fugir da realidade, "como o diabo foge da cruz", não consigo ter complacência para os seus casos (que têm sempre alguma explicação traumática...) e para o seu modo de vida. 

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, agosto 27, 2021

A Aparente "Parte de Dentro do Mundo"...


Quem não usa e frequenta as redes sociais, como é o meu caso, nem se apercebe que muitas das conversas de café no último ano e meio foram transferidas para estes lugares (continuo a entender os blogues como "matéria diferente"...). 

Digo isto porque de longe a longe há alguém que me fala sobre uma qualquer discussão interminável, que me passou completamente ao lado. E como costuma acontecer nestes casos, não se chegou a conclusão nenhuma e ainda houve as habituais ofensas, zangas e amuos.

Sou sempre um péssimo interlocutor para falar sobre estas coisas, porque como "não uso" (não enfatizo muito esta ausência, mas mesmo assim há quem me olhe de lado e pense que ando por lá anonimamente, porque têm dificuldade em viver "sem rede"...), evito "dizer mal".

Ainda há pouco tempo tive uma conversa familiar sobre todas as vantagens que nos são oferecidas. Eu disse que sim, mas além de assumir o meu conservadorismo tecnológico, falei na minha vontade de viver sem grande perturbações externas (o meu irmão não percebeu e tive de lhe explicar que tenho uma grande dificuldade em conviver com a mentira, e que ela continua a ser o grande motor deste "novo mundo", com demasiadas pessoas a fingir ser o que não são...).

Não diabolizo quem passa o dia a viajar nesta "parte de dentro do mundo", até porque sei que deve ter sido de grande utilidade durante os períodos mais cinzentos da pandemia. Da mesma forma que sei que essa não é "a minha praia", por gostar mais da "parte de fora do mundo"...

 (Fotografia de Luís Eme - Olho de Boi)


quinta-feira, agosto 26, 2021

O Tejo Parece um País Diferente


A agitação humana no interior e nas margens do Tejo, faz com que se fique com a sensação de estar num outro país, sem infecções, internamentos e óbitos.

Lembrei-me do João. Talvez seja este o seu país, pouco crente na existência de um vírus perigoso, e irredutível em tomar qualquer vacina... 

Olhava o rio, quando me recordei, que enquanto falávamos  senti,  a espaços, que havia nos seus argumentos um dedo do Trump e um braço do Bolsonaro. 

Ainda lhe falei de dois ou três exemplos daqueles que assustam, mas não consegui que baixasse a guarda. 

Foi quando ele me disse que um nosso amigo comum tinha falecido (que eu não via há meia dúzia de anos...), três dias depois de ter sido vacinado, com o intuito de usar este caso para "culpar" a vacina, achei aquilo rebuscado. mas... Ainda falei da hipótese de ele já poder estar infectado quando foi vacinado, mas não só não foi aceite, como ainda foi atirada para fora da mesa.

A vida também é isto. Quando as pessoas metem algumas ideias na cabeça, mesmo que nos pareçam malucas, sei que é quase impossível retirá-las das suas cabeças...

(Fotografia de Luís Eme - Arealva)


terça-feira, agosto 24, 2021

Indiferença, Importância (ou o gosto pelo anonimato)...


Estive a organizar as minhas fotografias e descobri algumas preciosidades, como este cão, que estava à janela da sua casa, a ver quem passava na rua.

Assim que me viu com a máquina fotográfica, preparado para disparar, desistiu de olhar para mim.

Eu sabia que ele era tudo menos fotogénico, mas não estava à espera de tanta "indiferença", ou "importância"... 

Ou talvez fosse um animal cioso da sua privacidade, com vontade de continuar a ser apenas um cão anónimo...

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)


segunda-feira, agosto 23, 2021

Ganhar o Almoço e o Jantar...


Sabia mais ou menos onde ficava a casa, que era tudo menos uma loja, embora se vendessem coisas. Quem por lá entrasse, via que era uma sala igual a tantas outras. Talvez com mais objectos à vista...

Havia um pouco de tudo, até livros (mesmo dos bons...) a um euro. 

Como não encontrei nenhuma porta aberta, fiquei na dúvida, se era no número 83 ou 85. Continuei a descer até ao final da rua e recordei as duas irmãs, simpáticas. 

Na penúltima vez que passei por esta rua, aceitei o convite para entrar e depois da visita guiada, feita por uma delas, fiquei parado junto à estante e acabei por comprar três livros.

 Depois de pagar os livros, a mulher que me convidou a entrar, sem perder o sorriso, disse: «Temos de vender pelo menos dez livros por dia, para almoçarmos e jantarmos...»

Fiquei sem palavras e com vontade de comprar mais sete livros, mas limitei-me a sair e a continuar a minha caminhada, pelas ruas e ruelas de Lisboa...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, agosto 22, 2021

A Arte e o Dinheiro


Quando criamos coisas e sabemos que nunca iremos ficar ricos com o que fazemos, isso acaba por nos apaziguar, ao mesmo tempo que relativiza tudo aquilo que está à nossa volta.

Sei que o mesmo não acontece com quem já conseguiu ganhar muito dinheiro através da sua arte, porque o "vil metal" tem sempre mais poder do que imaginamos... 

Conheço meia-dúzia de pintores que no último ano deixaram de desenhar e de pintar, porque não conseguem (dizem eles...), nem querem, trabalhar para o boneco. Para eles a pintura só faz sentido tendo como objectivos a exposição e a venda de quadros.

Ao princípio fez-me confusão. Pensava que eles gostavam mesmo era de criar, que o acto criativo era a coisa mais importante, enquanto artistas. Até aconselhei um ou outro amigo a trabalhar apenas em papel (não ocupa muito espaço, arruma-se em qualquer gaveta ao contrário das telas...).

Pensei desta forma, dentro da minha "inocência", de quem sabe que morreria à fome se estivesse à espera de ganhar dinheiro com a escrita de livros. Nem sequer pensei que alguns destes amigos pintores, mesmo sem serem "estrelas",  chegaram a vender várias obras de arte por valores entre os mil e os dois mil euros. Ou seja, durante bastante tempo, ganharam mais dinheiro como pintores que através da sua profissão...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, agosto 21, 2021

Ali Estávamos nós, com os Filmes e os Livros a Sairem dos Bolsos...


Ali estávamos nós, dois anos depois, a falar do que nos apetecia, com a cumplicidade do nosso Tejo, que além de calmo, parecia interessado na conversa.

Primeiro falámos de nós, do que não tínhamos feito (ele tal como eu tivera dificuldade em fazer coisas novas, também preferiu "organizar", "guardar" e "deitar fora"...).

Depois falámos do que realmente gostamos, de coisas que experienciámos ao longo das nossas vidas, eu a escrever e ele a filmar.

Parámos nas personagens, na sua construção, na sua "liberdade" (tanto num lado como noutro, querem caminhar sem seguir o guião). Claro que quando falo de personagens "fugidias", vou sempre ao passado, ao tal primeiro romance com quase trinta anos... Não imaginava que no cinema as personagens gostassem tanto de liberdade, até por terem um rosto. E nas filmagens fazerem exactamente o que o realizador lhes manda. Na literatura é diferente, vamos escrevendo e as personagens vão ganhando vida própria, mudam de lugar e fazem coisas "imprevistas", fora do esboço inicial.

Foi então que ele me falou da montagem do filme, nas horas de película que se "deitam fora" e na vontade que surge de "fazer outra fita"... Disse-me que isso também acontece porque alguns filmes demoram anos a serem feitos (quase sempre por dificuldades financeiras) e quando se chega à mesa de montagem, já somos outra pessoa e vemos "outro filme" e também "outras personagens".

Confidenciou-me que num dos seus filmes teve uma grande vontade de fazer quase tudo diferente, até de alterar os protagonistas. Havia personagens secundárias que lhe pareciam mais interessantes que as principais. E tinha horas de filmagem que lhe permitiam fazer um "outro filme". Mas depois surgiram as questões éticas, que nestas coisas, andam quase a par das estéticas. Não podia "enganar" as pessoas que convidara para os papéis principais, invertendo os papéis e mudando a história inicial...

Foi quando eu que lhe disse que na literatura tínhamos a vantagem das personagens serem apenas de papel, por muito que queiram ir por aqui ou por ali, somos sempre nós que escolhemos o final, sem qualquer tipo de constrangimento ou problema ético. 

Deve ter sido por isso que estivemos de acordo, talvez o cinema esteja mais próximo da vida que a literatura. A existência de um corpo e de um rosto, pode fintar a ficção, pura e dura, ou seja, podemos ser os melhores, mas não é por isso que conseguimos ser os protagonistas de qualquer história...

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


sexta-feira, agosto 20, 2021

Conversas Melhores que Cerejas...


Eu mesmo não sendo a pessoa mais comunicativa do mundo, em apenas uma semana senti o quanto importante são as conversas com quem gostamos e sobre aqueles assuntos que fazem parte de nós e... não têm nada de circunstancial.

E foram apenas duas conversas, com dois amigos, um que desenha e pinta bonecos e outro que é um fazedor de filmes...

A primeira conversa foi ocasional. Encontrámo-nos num clínica, eu tinha ido a uma consulta de rotina com o meu médico, quase dois anos depois. E ele mais ou menos a mesma coisa. Começámos a falar na "máquina se senhas" (ele não estava a conseguir imprimir o papel com o número das consultas médicas...) e depois continuámos na sala de espera, junto ao guiché e perto das escadas, até nos lembramos que o médico devia estar a chamá-lo...

A segunda foi combinada. A meia-hora de café ultrapassou as três horas, passámos ao lado de uma série de coisas, que não eram urgências, porque a conversa estava boa, muito boa mesmo.

Se na primeira conversa fomos falando de ausências (de pessoas e lugares que nos foram retirados...) e das novidades dele (mudou-se quase para o campo e já estava envolvido numa associação de artistas locais, cheio de entusiasmo e de fazer coisas novas). Na segunda a conversa foi mais profunda, falámos sobretudo do acto de criar, naquilo que une e afasta o cinema da literatura, através das nossas experiências pessoais.

Há muito que não me sentia assim, capaz de estar a conversar o dia inteiro, sem que os assuntos chegassem ao fim...

Eu sabia que havia conversas melhores que cerejas, mas já não me lembrava muito bem.

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


quinta-feira, agosto 19, 2021

Restam as Imagens, num Dia Especial...


Quase sem palavras, em mais um dia quente, restam as imagens...

Sim, hoje é o Dia Mundial da Fotografia. E por isso, deixo aqui uma fotografia feliz, de cumprimentos entre desconhecidos, da margem para a barca e da barca para a margem...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, agosto 17, 2021

O "Ódio aos Invasores" faz Esquecer Outras Questões Maiores...


Não vou opinar sobre o que se fez, ou não, no Afeganistão nos últimos vinte anos, embora não tenha qualquer dúvida que se fez muito menos do que se devia. 

Por culpas que devem ser repartidas por todos, não se conseguiu diminuir o rasto de "ódio", contra os "invasores", que deve ter estado sempre latente, por parte dos habitantes locais (especialmente contra os norte-americanos, que têm um gosto especial em se arvorarem como "polícias do mundo"...).

E deve ter sido este mesmo "ódio" (quase sempre cego e surdo...) que fez com que alguns até esquecessem como era a sua vidinha durante a governação Talibã...

(Fotografia de Luís Eme - Caramujo)


segunda-feira, agosto 16, 2021

O Choque de Liberdades nos Estados Democráticos


Nos estados democráticos é normal existirem "choques de liberdades", porque há sempre quem conviva  mal com a liberdade dos outros (e possa, ao contrário das ditaduras...), defendendo com "unhas e dentes" a sua liberdade, como se esta não tivesse nada a ver com o colectivo onde está inserido.

Eu, por exemplo, aceito que existam pessoas que não queiram ser vacinadas contra o "covid 19". Mas já não aceito que exerçam profissões onde por norma estão em contacto permanente com os outros (como são os casos dos médicos, enfermeiros, funcionários de lares, professores, militares, bombeiros ou polícias). Ou seja, quem exerce estas actividades, se não quer ser vacinado (é um direito que tem...), só devia  fazer uma coisa: mudar de profissão, para não colocar os outros em risco.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, agosto 15, 2021

O Pôr do Sol no Coração do Ginjal


Depois de um sábado com muito sol, foi bom sentir um domingo um pouco mais arejado, especialmente ao fim da tarde.

Foi por isso que foi uma excelente ideia irmos passear ao fim do dia e ver o pôr do sol à beira Tejo, no coração do Ginjal... 

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sábado, agosto 14, 2021

O Humor e o Drama "Adoram-se"...


Sempre fomos bons a misturar o humor com o drama dos nossos dias. É possível que isso aconteça por normalmente a "vida" não nos oferecer grandes motivos para sorrir...

Pode ser a explicação para o quase "vício" de vivermos as vitórias dos outros, especialmente no futebol, esse ópio popular que tanto jeito tem dado aos políticos, de Lisboa a Trás-do-Outeiro (o normal é os costas, os medinas e os moreiras andarem às palmadinhas nas costas com os dirigentes do "chuto na bola"...).

Toda esta prosa, porque afinal a onda de calor, sempre veio, apesar dos meteorologistas (coitados, fartam-se de meter água, mesmo em tempo de seca...), dizerem que "era outra coisa"...

E um dos meus amigos, que se tivesse jeito para o desenho podia ser um "Vilhena", disse na esplanada suada que "há vida para lá dos 50 graus", acrescentando de seguida, com o ar mais sério do mundo, enquanto limpava o suor da testa, "para répteis e insectos".

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


sexta-feira, agosto 13, 2021

Parece que o Futuro é Só depois de Amanhã...


Mesmo não sendo normal, continuamos a aceitar que existam demasiadas pessoas que não percam segundos das suas vidas a contribuir para uma vida e um ambiente mais saudável. Apesar dos exemplos diários que nos chegam do mundo, continuam a não fazer reciclagem, desperdiçam água e energia, como se o futuro continuasse distante das nossas vidas.

Se uma pequena parte pensa que o dinheiro continuará a "comprar tudo" e fingem-se felizes com o egoísmo que alimenta os seus dias, a outra parte maior, por ignorância e dificuldades económicas, encolhe os ombros e vive um dia de cada vez.

Mas será muito difícil mudar mentalidades enquanto os nossos ministros e secretários de Estado tiverem uma postura idêntica, especialmente os ligados ao Ambiente e à Agricultura. O "negócio" continua a sobrepor-se às próprias leis, com violações permanentes ao Plano de Ordenamento da Orla Costeira e às normas das regiões que fazem parte da Reserva Ecológica e Agrícola Nacional. E nem falo dos atentados ambientais que têm sido praticados ao longo dos anos pelos espanhóis e pelos nossos empresários no Tejo, com o habitual encolher de ombros do poder político...

Deve ter  sido também por isso que a chamada de atenção recente das Nações Unidas, por António Guterres, em relação às alterações climáticas, não teve o relevo que deveria ter, no nosso país.

Nós que estamos no Sul da Europa, onde todos os dados científicos dizem se caminha para a desertificação (mais depressa do que se pensava...). E é no Algarve e no Alentejo - as nossas regiões mais quentes e secas - que se usa e abusa da agricultura intensiva nas estufas e nos olivais, se mantêm os campos de golfe verdinhos com relva natural e se continuam a construir empreendimentos turísticos na costa...

Mas que faz muitas confusão esta postura, faz. Especialmente de ministros como o do Ambiente e da Agricultura, que deveriam colocar os interesses nacionais à frente de tudo e continuam a governar como se o futuro fosse só depois de amanhã...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quarta-feira, agosto 11, 2021

As Gentes da Rua de Cima e da Rua de Baixo...


Enquanto subia na direcção da antiga Azinhaga das Figueirinhas cruzei-me com duas mulheres de idade e uma delas comentava: «A rua de baixo tem gente cada vez mais estranha e feia.»  A outra não foi de meias medidas e acrescentou: «E porcas!»

Sabia bem a quem se referiam (a passagem de um trabalhador emigrante da construção civil, moreno, com barba por fazer e calças pintalgadas com cimento e tinta, deve ter servido de mote para a conversa, mesmo que este não fosse diferente de qualquer operário português "das obras"...).

Nos últimos tempos a praceta ficou mais povoada de famílias de emigrantes, gente do Oriente, de várias idades (penso que  são nepaleses e paquistaneses), e também de brasileiros. 

Como vivem com algumas dificuldades e se vestem de qualquer maneira, acabam por ser alvos fáceis do preconceito, sobretudo de quem tem mais dificuldades em compreender este mundo, que vive em constantes mudanças.

Mudanças cada vez mais forçadas... 

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, agosto 10, 2021

Caspa, Gorduras e um Toldo Vermelho


Há poucos dias li uma frase, curta, no "Cais do Olhar", que achei de uma grande felicidade. 

Foram estas as palavras de Joaquim Manuel Magalhães, professor e poeta, escolhidas pelo Sammy: «Há poemas que não têm caspa nem engordam com o tempo.»

Pouco tempo depois lembrei-me que há dez anos, o poeta Magalhães, resolveu "alterar" e "apagar" grande parte da sua poesia editada até então, com a publicação do seu "Um Toldo Vermelho" (que também substituiu o tão elogiado "A Luz de um Toldo Vermelho"...).

Dizer que o livro e o poeta foram brindados com palavras de escárnio e maldizer, é passar ao de leve pela questão... Pois Joaquim foi tudo menos bem tratado. Houve até quem dissesse que estava senil... Ou seja, foram muito poucos os que aceitaram a decisão do poeta de excluir e substituir a sua obra poética anterior (algo que acaba por se revelar uma impossibilidade, pois seria tarefa impossível andar a recolher de porta em porta os livros editados e vendidos antes de "Um Toldo Vermelho").

Nós achamos que o poeta podia (e pode...) fazer o que lhe apetecesse, com os poemas que escreveu. Mas também estamos fartos de saber que a sua opção teria poucos efeitos práticos (e ele sabia disso...), pois, como já dissemos, os poemas que "alterou" ou "apagou", continuam bem vivos dentro dos livros que publicou antes de "Um Toldo Vermelho".

Voltando à sua frase, à distância de dez anos é possível sorrir e dizer que o que Joaquim Manuel Magalhães achou, foi que toda a poesia que tinha escrito antes de "Um Toldo Vermelho", estava cheia de caspa e de gordurinhas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, agosto 09, 2021

O Arroz, as Avós, a China e a Riqueza Popular


Estávamos à mesa e em jeito de brincadeira a Alice perguntou à minha filha se ela comia muito arroz. Ela disse que sim e recebeu logo o conselho: «Tem cuidado, a minha avó costumava dizer-nos que o arroz nos esticava os olhos e depois ficávamos como olhos de chinesinho.»

Foi quando me meti na conversa e disse que a minha avó também dizia uma coisa parecida, que o exagero de arroz nos colocava os olhos em bico.

Era praticamente a mesma coisa, usando palavras diferentes. 

Acabámos todos a sorrir e a falar da riqueza da nossa língua e das expressões que se vão inventando à volta do mesmo tema, neste caso o arroz, que sempre deve ter existido em quantidade suficiente na Lezíria Ribatejana e nos vales do Sado, mas que até parecia ser todo importado da China, pelas histórias que circulavam à sua volta...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


domingo, agosto 08, 2021

O Racismo e os "Altifalantes" (cada vez menos) Anónimos...


Quem continuava a "bradar aos céus" que não somos um país racista, deve ter baixado os braços, de vez, e ficado em silêncio, com as reacções xenófobas  (já não são todos anónimas e além das redes sociais, já começam a aparecer alguns ecos em colunas de jornais...), aos três medalhados portugueses de pele mais escura, onde, como de costume, faltou rigor e verdade. 

Se Pedro Pichardo só se tornou português em idade adulta (como refugiado político...), Patrícia Mamona nasceu em Lisboa e Jorge Fonseca, embora tenha nascido em São Tomé e Príncipe, veio para o nosso país com apenas onze anos, onde fez toda a sua formação desportiva.

Sei que as vozes anónimas e e cobardes das redes sociais valem zero, mas quando um dos atletas mais ecléticos do nosso desporto (Bessone Basto), atleta internacional e campeão nacional em várias modalidades, vem dizer que para ele, só conquistámos uma medalha, o caso torna-se diferente.

Mau mesmo é sabermos que o antigo campeão não exprime apenas o sentimento de muitos ignorantes, racistas. Exprime também o de alguns nacionalistas esclarecidos que emergiram com a voz do Chega, e que continuam a não aceitar que pessoas de cor diferente tenham os mesmos direitos que eles...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, agosto 06, 2021

Um "Recorde" dos Atletas e dos Clubes (mas não do País e dos Políticos)...


A conquista de quatro medalhas (um "recorde"...) nos Jogos Olímpicos de Tóquio não reflecte, em nada, o panorama desportivo português. 

O apoio do Estado ao desporto continua a ser uma miragem, sem grandes diferenças em relação ao que se passava no final do século XX.

A ausência de uma política desportiva apoiada pelo Estado tornou-se ainda mais evidente durante a pandemia, com a interrupção de toda a actividade desportiva (só o futebol profissional, por movimentar milhões, é que não parou, embora tenha ficado sem público...). O ministro da Educação e o secretário de Estado do Desporto, nem sequer devem ter a noção dos clubes que tiveram de fechar portas no último ano, muito menos do número de pessoas que foram "proibidas" de praticar desporto no último ano e meio.

Isto acontece porque o Estado continua a ser o eterno ausente no que toca ao apoio dado ao desporto escolar e popular. Limita-se a subsidiar e a aplaudir os atletas medalhados, sem ter qualquer preocupação com a base, com a existência de uma política de desenvolvimento desportivo consistente. 

Na maior parte dos países a escola é a base da pirâmide do desporto, com o apoio do Estado, só depois é que aparecem os clubes e o movimento associativo. No nosso país continua a não existir "desporto escolar". Existem sim, alguns professores, que por estarem ligados a clubes, quando lhes aparece um jovem com talento nas aulas, aliciam-nos para se dedicaram às modalidades para as quais revelam talento, abrindo-lhes as portas dos clubes e do desporto federado.

Enquanto o Estado fingir que está, mas não está, as medalhas dos atletas serão apenas o reflexo do seu talento natural e do apoio que recebem dos clubes, e claro, da sua aposta pessoal em chegarem ao topo (com anos e anos de sacrifício e entrega ao treino e à competição...). 

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quinta-feira, agosto 05, 2021

Um Campeão Olímpico (quase) Português...


Embora tenha ficado acordado até depois da final do triplo salto dos Jogos Olímpicos, ganha pelo Pedro Pichardo - um cubano que escolheu Portugal para continuar a sua carreira desportiva -, foi estranho, não senti esta vitória como se fosse de um português. Sei que não se trata de um problema de cor de pele ou do nome próprio ou apelido, mas sim de não ter vivido no nosso país desde a infância e feito toda a sua carreira desportiva em Portugal.

A vinda de Pedro para Portugal foi feita já em adulto (era um atleta internacional cubano medalhado em grandes competições...) e coincidiu com a saída de Nelson Évora do Benfica para o Sporting e a posterior passagem de Pichardo para o clube da Luz. E por essa razão, o atleta nascido em Cuba acabou por ser envolvido numa polémica, sem ter feito nada para isso. Nelson Évora é que não perdoou este "troca", e ainda menos o seu processo de naturalização (segundo o seu ponto de vista, demasiado rápido...).

O mais provável é que o atleta nascido em Cuba nunca tinha ouvido falar da rivalidade entre o Benfica e o Sporting, apenas aproveitou a boa oportunidade de poder voltar a treinar com o seu pai (estava proibido na ilha de Havana...) e com melhores condições de treino e de vida, num país com um excelente clima para quem faz desporto.

É também importante referir que o tempo dos "puristas" acabou, especialmente no desporto. Pedro Pichardo tem hoje a companhia de muitos outros atletas, que representam Portugal e não nasceram no nosso país (nos Jogos Olímpicos estiveram pelo menos mais cinco atletas cuja naturalização também poderia ser colocada em causa...).

Mas quando se trata de campeões, o normal é "fechar-se os olhos". Lembro-me por exemplo, do processo da naturalização de Deco (que por acaso até veio para o nosso país bastante jovem, assim como Pepe...), que foi criticada por alguns jogadores, especialmente Figo e outros centro-campistas. Ou seja, as críticas acabam por vir sempre de quem sente de alguma forma o seu lugar em risco... 

Já em relação ao Governo, aos Clubes ou às respectivas Federações, o silêncio é quase sempre ensurdecedor...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, agosto 04, 2021

Estar e (ainda) não Estar...



É sempre assim.

Chegamos de férias e precisamos de apanhar novamente o ritmo do quotidiano. Mas quanto mais os anos passam, menor é a vontade de voltar...

É estar e (ainda) não estar... essa frase curta que parece pessoana...

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)


terça-feira, agosto 03, 2021

Começar (mais perto da normalidade)...


Sinto que este Agosto vai ser diferente do de 2020 (tal como foi Julho, já com férias...), sinto que há uma tentativa de todos regressarmos aquilo que entendemos ser uma vida normal.

Durante as férias foi possível sentir essa aparente normalidade. Por frequentar uma praia isolada e sem concessionário, era possível manter o distanciamento tanto no areal como no mar. E por essas razões era raro ver alguém de máscara (a excepção era a senhora das bolinhas da praia...). E nós íamos e víamos da praia sem colocar a máscara porque nas viagens atravessávamos um pinhal, quase sempre sem nos cruzarmos com ninguém.

O facto de estarmos vacinados também nos dá alguma segurança e esperança (as mentiras que são difundidas quase diariamente sobre as vacinas e sobre o vírus valem muito pouco, quase menos que zero, pelo menos cá em casa, onde todos esperámos calmamente pela nossa vez...), de que é possível caminharmos na direcção da normalidade.

Claro que o distanciamento nas ruas continua a ser decisivo, assim como o uso de máscaras em locais fechados. Só desta forma é que é possível voltar a ter uma vida mais perto da normalidade...

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


segunda-feira, agosto 02, 2021

Patrícia "Gigante" (num Jornal de Gigantes)


Raramente compro jornais, mas hoje não resisti à capa de "A Bola", que faz uma bela homenagem a Patrícia Mamona, uma excelente atleta e uma mulher linda, que ontem conquistou a medalha de prata na prova do triplo nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Sei que esta capa inteirinha para a Patrícia também se deve ao futebol ainda estar de férias e à Volta a Portugal ainda não ter começado, mas é mais que merecida.

É bom que o Jornal de Cândido de Oliveira, Vitor Santos, Carlos Pinhão, Carlos Miranda, Homero Serpa, Alfredo Farinha, entre tantos outros gigantes do jogo das palavras, de vez enquanto seja um verdadeiro jornal desportivo...