quinta-feira, março 31, 2022

O Exemplo de Cristiano Ronaldo que Fica...


Penso que o Cristiano Ronaldo é o primeiro grande "astro" do futebol que conseguiu ser um exemplo para os jovens, em todos os campos. Além de ser um superdotado, tecnicamente, fez questão de se afirmar como atleta extraordinário, procurando sempre a superação (nunca ninguém bateu tantos recordes no mundo do futebol como ele, nem mesmo Messi...). 

Antes de Ronaldo, o normal era os melhores jogadores não gostarem muito de treinar, dando maus exemplos de profissionalismo, dentro e fora dos estádios (não prescindiam das noitadas com álcool e companhias femininas...). Eram quase sempre tolerados pelos treinadores por serem "fora de série", com a capacidade de decidir os jogos, com um ou outro lance de génio.

O futebol do nosso tempo tornou-se de tal forma exigente, que quase que já não há espaço para estes jogadores. É também por isso que os jovens seguem sobretudo o exemplo de Cristiano, e não o de Neymar (talvez o último grande jogador, que conseguiu ser um dos melhores, apesar de gostar mais de "samba" que de treinar...). Sabem que a exigência do futebol actual não se compadece com a gente que "brinca apenas com a bola"...

Ao Neymar poderei juntar também os exemplos de Hazard e de Bale, no Real Madrid. São grandes jogadores, mas poderiam ter sido muito melhores, se fossem bons profissionais. São um bom exemplo de que quem treina mal, acaba por sofrer mais lesões, "perdendo o comboio", onde Ronaldo e Messi se passeiam há mais de uma década.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, março 29, 2022

A Vida Está Cada Vez Mais Longe dos Contos de Fadas...


O mundo sempre foi uma coisa estranha, mas agora começa a ficar "perdido", para quem acreditava e tinha esperança na humanidade.

Não me apetece falar da agressão gratuita de um actor ao apresentador da cerimónia da entrega dos óscares (um comediante que disse uma piadola sobre a esposa do actor e que provavelmente nem foi escrita por ele...), sem me esquecer de referir a ironia das ironias, que aconteceu minutos depois, quando o agressor foi premiado com o óscar para melhor actor e que, depois de subir ao palco, juntou às desculpas, as "lágrimas de crocodilo", que tornaram o seu discurso mais húmido.

Pensava que nestes tempos de guerra as pessoas fossem mais comedidas e pensassem duas vezes, antes de tentarem resolver as pequenas querelas da vidinha através da violência física. Não foi o que se passou na Festa dos Óscares (que até por ser uma festa, dispensava o que aconteceu...). Tal como não é o que acontece ao fim de muitas noites, como a da tragédia que ceifou a vida a um agente da PSP (que continua muito mal explicada, pois estes senhores, com e sem farda, infelizmente, têm muito pouco de "anjos salvadores" de quem quer que seja...).

Era bom, era que o inferno que está a destruir um país e a vida de milhões de pessoas, nos tornasse melhores pessoas, mas a vida está cada vez mais longe dos "conto de fadas"...

(Fotografia de Luís Eme - Caramujo)


segunda-feira, março 28, 2022

"Zero Respeito" Mesmo...


Pois é, provavelmente há pessoas que correm o risco de nunca perceber o verdadeiro significado da palavra liberdade. 

Não vou à procura de razões, embora saiba que tudo começa nas nossas casas, nos exemplos (e nas regras sociais...) que nos são oferecidos pelas pessoas que mais amamos e admiramos.


Mas quando se proclama o "zero respeito" desta forma, a batalha parece perdida... 

E por muito que tente, não consigo perceber porque razão é que a Arte da Rosarlette no concelho de Almada, é vítima de quem faz da vida uma "selva"...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal e Monte de Caparica)


domingo, março 27, 2022

Talvez...


Talvez seja um sintoma de "velhice", mas sinto que cada vez se respeitam menos as pessoas (de todas as idades) e as coisas (mesmo as bonitas)...

Tal como sinto que não há "remédio" que cure quem salta de vandalismo em vandalismo, apenas porque sim.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, março 26, 2022

A "Confiança" continua a ser mais Importante que a "Competência" Política


Já há novo Governo, mesmo que continue com as histórias antigas, de gente mais e menos recomendável. É sempre assim. Se com Salazar e Cavaco se passava a mesma coisa (apesar dos seus ares austeros e de gostarem de andar com a "seriedade" na ponta da língua, tinham "de tudo" nos seus governos...), não se podem esperar grandes mudanças.

A nova ministra, Elvira Fortunato, que vem desta minha Margem Sul, é uma das excepções que confirmam a regra. É também por isso que foi colocada num ministério sem grandes ondas políticas (Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), mas provavelmente passa a ser a esperança para os muitos investigadores, tão maltratados por sucessivos governos...

Talvez desta vez não existam tantos maridos, esposas, cunhados, primas, tios, etc., mesmo que o PS continue a ser a melhor "agência de empregos políticos", para inveja da "segunda melhor agência de empregos políticos" (PSD). 

Mas irão continuar a passar-se coisas no mínimo estranhas, porque a "confiança" política consegue abarcar tudo e mais alguma coisa, empurrando quase sempre a "competência" para a "porta dos fundos"...

Não tenho grandes dúvidas que é por aqui que se podem explicar muitas das nossas habituais "crises políticas", que fazem com que sejamos, permanentemente, um "país adiado".

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, março 25, 2022

As Exposições de Arte a Céu Aberto


Sei que nem toda a gente gosta da "Arte de Rua" (estou a falar de arte e não de "tags" ou riscos...), mas também sei que dificilmente se consegue ficar indiferente (até pela dimensão das obras...), ao que os nossos olhos são quase obrigados a ver.

É por isso que há vários municípios que têm apostado nos últimos anos nesta arte, para dar vida a locais quase abandonados, e que depois despertam a curiosidade de muita gente que gosta destes trabalhos artísticos, inclusive turistas (além de Capital e dos seus concelhos próximos, com Almada, estou a lembrar-me da Covilhã e de Viseu...).

E lá volto à arte da Rosarlette, como exemplo, que não deixa ninguém indiferente nas ruas de Almada.

Mas a minha dúvida que fica, é se esta "arte de rua" tem alguma influência, ao nível da sensibilidade e da curiosidade artística, nas pessoas comuns, ao ponto de as levar a visitar museus...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, março 24, 2022

O Cinema é um Grande Amigo das Palavras (com e sem poesia)


Às vezes penso que há muito tempo que não escrevo nada que tenha poesia. Não é nada que me provoque crises existenciais. Sei que quando os poemas quiserem aparecer, aparecem...

Hoje estava a ver um filme e apareceram-me duas ou três imagens poéticas, que "colei" logo a um papel. Uma delas era sobre a "morte", que tem valores e sentidos diferentes, de continente para continente, de país para país. A Ucrânia, por exemplo, neste seu tempo de bombas e sirenes, sente-a de uma forma demasiado próxima...

Mas vamos lá às minhas (outras) palavras, sem qualquer drama, apesar do tema...


Esperar ou Escapar

Olho para a televisão e fico a pensar
que a morte tem menos mistérios
do que o que nos tentam fazer crer.
Deve ser por isso que há duas ou três pessoas 
que querem ir para lá, 
apenas por estarem fartos de estar cá.
Não se preocupam se é uma coisa melhor ou pior
e com hora previamente marcada.
Apetece-lhes experimentar outra coisa
e não precisam de nenhuma boleia.
Metem-se pela estrada fora
e vão embora,
sem olhar para trás
até deixarem de se ver...


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, março 22, 2022

Lidar com "Primas Donas" no Futebol


Embora saiba que o futebol está longe de ser o tema mais apreciado pelos amigos do "Largo", ando há já algum tempo para escrever sobre os efeitos da presença diária de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi nas suas equipas (dentro e fora dos relvados).

Já se percebeu, que nem todos os técnicos têm estrutura mental para conseguirem lidar diariamente com jogadores considerados os "melhores do mundo". Não é por acaso que há vários treinadores que se recusam a tê-los como seus jogadores nesta fase final das suas carreiras (segundo alguma imprensa, Allegri regressou à Juventus na condição de Cristiano sair...). Isso não acontece por eles serem "maus rapazes", mas sim para não terem de lidar com tudo os que rodeia, com a pressão diária da comunicação social, que passa o tempo a "inventar" casos. Uma simples careta de Messi ou de Cristiano (que pode ser provocada por mau estar físico ou por terem acordado ao contrário) pode ser motivo para as maiores especulações.

Penso que quem treina jogadores deste nível (e em final de carreira...), não deve ler jornais nem ver programas de radio ou televisão. Deve conseguir "escapar" de todo o género de influências negativas (há comentadores que são capazes de anunciar a "morte" tanto de um como de outro jogador, vinte vezes por época, sem que alguém os coloque em causa...).

Por estarem em "curva descendente", os treinadores além de extremamente inteligentes, têm de pensar em primeiro lugar no que é melhor para as suas equipas. Ou seja, além de lhes darem a importância que eles realmente têm (não podem ser tratados como outro jogador qualquer...), devem conseguir extrair o melhor das suas qualidades, em favor das suas equipas. E para isso acontecer, tanto o Cristiano como o Messi, devem jogar nas posições onde se sentem mais confortáveis e podem obter mais rendimento.

Claro que um treinador como Mourinho, por exemplo, que se acha sempre a figura mais importante do clube que treina, nunca conseguirá lidar da melhor maneira com estes "deuses terrestres". Vai sentir-se sempre ameaçado por não ser a "estrela da companhia". 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, março 21, 2022

A "Casa" do David...


Porque hoje se festeja a poesia, a "Casa", de David Mourão-Ferreira, a pensar em todos aqueles que no último mês tiverem de abandonar as suas famílias, as suas casas, as suas cidades, o seu país...


Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo e desisti.
Era pior do que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores, cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração.


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)



domingo, março 20, 2022

Impotência


Impotência, é o que a maior parte dos cidadãos comuns da Europa e do Mundo sentem em relação ao que se está a passar na Ucrânia.

Continuo a desconfiar da "desculpa", de que existe o perigo de uma "guerra nuclear", se a NATO tivesse uma participação mais activa na defesa das pessoas e das cidades ucranianas. Existiriam sim, mais baixas de parte a parte... Mas estou convencido de que a invasão russa teria os dias contados... 

Se tudo permanecer como até agora, a Ucrânia pode ficar sem uma única cidade habitável...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)



sexta-feira, março 18, 2022

"Olha para mim"...


Quando olhei para este "grafitte", pensei que, nestes tempos estranhos, as paredes olham mais para mim que as pessoas...

Claro que é um pensamento um pouco exagerado. Mas só um pouco. 

E não tem nada a ver com as máscaras. É mais um problema dos rectângulos mágicos que fingem ter o mundo dentro de si...

Pessoas como eu, que continuam a gostar de olhar em volta, à procura do mundo, começam a ficar deslocados...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, março 17, 2022

A "Vida" Voltou aos Céus...


O que me fez mais confusão nestes últimos dias "amarelentos", foi a ausência de pássaros a voar.

Talvez tenham sentido, mais que ninguém, o que se escondia por detrás destes céus estranhos, que conseguiram esconder durante vários dias o azul e o cinzento.

E hoje foi um "ver se te avias" de gaivotas em terra...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, março 16, 2022

A Lucidez de Pacheco Pereira


Ao longo do seu longo percurso como comentador, José Pacheco Pereira tem sido criticado (muitas vezes injustamente, no meu entender, claro...), por não ter qualquer problema em dizer o que pensa, nunca se preocupando com essa coisa que chamam o "politicamente correcto". 

Isso voltou a acontecer no domingo passado na CNN, quando falou das diferenças de tratamento que são dadas aos refugiados, e que tudo começa pela cor de pele. Deu como exemplos vários conflitos no mundo, também com invasões e bombardeamentos a países. Falou mesmo em estas vítimas terem a "cor errada".

Eu não vou tanto pela "cor de pele" (embora cidadãos portugueses de cor, tivessem sido barrados na fronteira da Polónia, quando estavam a fugir da Ucrânia...). Vou mais pela proximidade geográfica, por a Ucrânia ser na Europa. Por sentirmos este conflito muito perto (até pelo "espectáculo televisivo" diário, que abafou completamente a pandemia...).

Claro que o mal não está no apoio que está a ser dado aos ucranianos, mas sim aos outros refugiados, africanos ou orientais. 

Gosto da lucidez de Pacheco Pereira, porque mesmo quando não concordo com ele, sou "forçado" a olhar para os lados, e não apenas para a frente e para trás...

(Fotografia de Luís Eme - Arealva)


terça-feira, março 15, 2022

A Nossa Cultura Ficou mais Pobre


Jorge Silva Melo deixou-nos ontem. 

Quem o conheceu, sabe que ele era muito mais que um encenador ou um homem de teatro. Adorava cinema e realizou vários filmes (ficções e documentários), que têm a sua marca pessoal. Apaixonou-se desde cedo pelo mundo dos livros, mas não se limitou a ser leitor. É também o autor de três bonitos livros de crónicas, onde nos oferece textos sobre as coisas que mais gosta (as pessoas, os lugares e claro, as suas Artes...) e de várias peças de teatro.

Mas o mais importante, era o Jorge ser um Homem Livre.

A nossa Cultura ficou mais pobre.

(Fotografia de autor desconhecido)


segunda-feira, março 14, 2022

Perder uma Boa Oportunidade (com mais de um milhão de euros)...


Desde o início que olho para as obras que procuram transformar o Largo de Cacilhas, num lugar mais agradável, com alguma desconfiança.

Quase um ano e mais de um milhão de euros depois, continuo com algumas reservas. Embora ainda esteja longe de descobrir o "produto final", tenho a sensação que se "finge que se mudam algumas coisas, para depois ficarem quase iguais"...

Mas o pior mesmo é não se aproveitarem as "mudanças" para se embelezar mesmo o Largo. No domingo passeámos por lá e acabámos por nos sentir desiludidos, por perceber que a calçada rente ao cais de embarque continua a ser colocada  por verdadeiros amadores (ainda mal foi  estreada e já se nota os seus "altos e baixos"...) e sem qualquer motivo que a torne diferente.  

Por saber que aquele lugar é, nada mais nada menos, que a entrada para a Margem Sul, por via fluvial, sei que merecia um trabalho de melhor qualidade, como é a bonita calçada portuguesa, com desenhos característicos da localidade ribeirinha (não faltam bons motivos...) e feita por verdadeiros profissionais...

Esta é apenas uma das várias oportunidades perdidas, no Largo de Cacilhas, numa obra orçada em mais de um milhão de euros...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, março 12, 2022

«Não calculas o gozo que dá, mostrar o que não está à vista.»


Sei que devia começar por "desmontar" este título e dizer que ele está bastante longe de ser o que parece. Mas como não passamos sem a "curiosidade" e o "gato", o melhor mesmo é contar...

Ao olhar para um cartaz de uma peça de teatro já com alguns anos, lembrei-me de uma conversa quer tive com um amigo, que se fartou de "viajar", em cima de um palco praticamente vazio, sentado numa cadeira de madeira com um volante na mão.

Ele conseguiu durante mais de uma hora mostrar a Lisboa culta e pitoresca, aos clientes que entravam e saíam da sua "viatura imaginária" (só podiam ser duas pessoas de cada vez, porque só tinha duas cadeiras atrás da dele).

Achei o papel dele brilhante, pelos pormenores. Além de passar o tempo a conduzir com uma mão, a outra apontava para os monumentos, as tascas, os restaurantes (todos inventados assim como as personagens que espreitavam à porta e lhe acenavam...). 

Felizmente o autor do texto não se preocupou muito com o trânsito (não fez travagens bruscas nem passou o tempo a meter mudanças...). Outro aspecto curioso, era a personagem do meu amigo, falar com os clientes, apenas através do espelho retrovisor imaginário.

Quando conversámos sobre a peça, ele disse-me que tinha sido dos papéis que mais gostara de fazer e foi quando me ofereceu esta "pérola": «Não calculas o gozo que dá, mostrar o que não está à vista.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, março 11, 2022

A Procura do "Eu" no Mundo Artístico


Um dos meus amigos ficou chateado porque lhe disse que o quadro de uma terceira pessoa era uma verdadeira obra de Arte. Ao olhar comum os seus quadros são mais bonitos mas falta-lhe aquilo que podemos chamar de originalidade. 

Quando olho para os seus quadros e fico sempre com a sensação de que já vi aquilo em algum lugar.

O outro rapaz não. Quando olho para as suas obras de Arte (para mim é disso que se trata...), vejo sempre algo de novo, algo que não conhecia (nem mesmo de fotografias de catálogos ou revistas). Ele consegue juntar a criatividade com a inovação e a Arte acontece, de uma forma natural.

Acho que esta procura do "eu", é a coisa mais importante para um criador, seja ele de que área for, mesmo que ela seja procurada por uma minoria de pessoas.

Em relação ao meu amigo, sei que vai ficar chateado mais vezes, porque a complacência nunca foi boa para a verdadeira amizade.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, março 10, 2022

«Isso pode ser a "morte do artista"»


Hoje vou falar de um rapaz que vi crescer, que sempre gostou de dar nas vistas, no bom sentido, ao ponto de ser conhecido como o "palhacito" da família. 

Claro que nem todas as pessoas com estas características, acabam dando actores ou actrizes... A vida dá sempre umas voltas a mais ou a menos, normalmente com mais "derrotas" que "vitórias", nesta caminhada.

Acabámos por nos encontrar na rua esta semana. Bebemos um café e conversámos durante cinco minutos. Já não era o rapaz iludido de há meia-dúzia de anos, foi por isso que fez este desabafo, quando o questionei sobre a sua carreira: «Ultimamente só me dão papéis de merda, mas vai andando...»

Quando lhe perguntei se não se fazia castings na escolha das personagens, disse-me que não era bem assim que as coisas funcionavam. Claro que eu sabia disso, há demasiados estereótipos televisivos. Devem ser poucas as actrizes que gostam de passar a vida a representar a vida de criadas, por muito que estas possam ser interessantes...

Antes de nos despedirmos disse: «Ainda não tenho estatuto para dizer não, para recusar trabalhos. E também já percebi que isso pode ser a "morte do artista" neste meio.»

E como ele está certo... Tanta gente que fica pelo caminho, por pensar que "pode fazer escolhas"...

Continuei a minha marcha pelas ruas, consciente de que a vida está cheia de obstáculos por toda a parte, mesmo onde ela  "parece mais fácil"... 

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quarta-feira, março 09, 2022

A Reacção Ucraniana à Invasão Russa (comentada)


Tenho conversado com algumas pessoas, que quase condenam a reacção ucraniana à invasão russa. O seu argumento, é de que se não tivessem resistido, não havia mortes nem bombardeamentos a cidades.

Faz-me sempre confusão este tipo de argumentos. Por muito "cobardes" que sejamos, quando são colocados em causa os nossos bens individuais e colectivos, e existe uma invasão externa sem qualquer sentido, o mais normal é reagirmos.

Pergunto-lhes, se por acaso a Espanha, resolvesse invadir o nosso território, o que é fazíamos? Ficávamos quietos, à espera que tomassem o poder? Com certeza que não.

Se em 1580 até havia alguma legitimidade, porque o rei de Espanha e os príncipes eram de alguma forma, herdeiros da coroa (a "esperteza" de D. João II e de D. Manuel I em fazer casamentos reais com princesas espanholas, acabou por ter um efeito contrário...), os portugueses não descansaram enquanto não se viram livres do "jugo" espanhol. 

E além disso, hoje, (supostamente) vivemos em repúblicas democráticas...

(Fotografia de Luís Eme - Trafaria)


terça-feira, março 08, 2022

Será um Tempo Diferente...


Sei que está quase a chegar, o "Tempo das Mulheres".

Gostava que fosse um tempo melhor, mas a única certeza que tenho, é que será um tempo diferente...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, março 07, 2022

Nem de Propósito...


No fim do dia de sábado achei estranho a presença de meia dúzia de polícias (coisa rara de ver nas ruas...), próximo de um café que visito pelo menos uma ou duas vezes por semana, que estava fechado e com o acesso vedado por duas fitas, uma de cada lado.

Junto à esplanada, com as mesas e cadeiras recolhidas, estava um corpo coberto por uma lona (pelo contorno e pela presença policial, só podia ser um corpo...).

O meu filho disse que só no domingo, já ao fim da tarde, é que o corpo foi recolhido. Não percebo como é que tal foi possível, mas só se pode dever à disponibilidade, ou não, de um médico legista...

Não cheguei a saber quem tinha sido a vítima. Se era homem, mulher, velho, novo, conhecido, desconhecido. Mas achei curioso existirem nas ruas pelo menos três versões sobre o que acontecera (ataque cardíaco, pancada no chão e álcool a mais...), e também sobre o "retrato" da vítima. Só o sexo não variava, era um homem, mas a idade "subia e descia", entre os 40 e os 80...

Se vivêssemos num tempo "sem assunto", era provável ver por ali, pelo menos um repórter do CMTV. E claro, lembrei-me do senhor António e da dona Hortência...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, março 06, 2022

A Caracterização de Personagens...


Escrevi ontem um pequeno texto sobre um "homem invisível", que depois de se mudar foi mal recebido num prédio e numa rua de bairro, onde as pessoas gostavam de "viver a vida dos outros"  e pensavam saber tudo umas das outras.

Respondia com silêncios e sorrisos irritantes aos "avanços" dos vizinhos mais atrevidos. O senhor António, cuja elegância física e de trato, fazia com que fosse impossível mandá-lo para qualquer sítio. A dona Hortência era um caso de estudo, apesar de ter mais de cem quilos, parecia uma "enguia" a deslizar pelas esquinas do bairro. Por ser do Norte, tinha sempre muito "alho" para distribuir pela rua.

Claro que na caracterização destas personagens, pensei no meu bairro. No bom e no mau que é os nossos vizinhos "especializarem-se" nas nossas vidas...

O bom é a sua disponibilidade para nos ajudarem numa situação de aperto. São os primeiros a espreitarem pela janela, atrás do cortinado, mas também a virem para rua (para seguirem em "directo" o acontecimento e se possível, participarem...). 

O mau é estarem sempre a "meter o nariz onde não são chamados".

Mas não tenho dúvidas que o senhor António e a dona Hortênsia, dariam óptimos colaboradores do CMTV, sempre com excelentes directos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, março 05, 2022

Viagens pelo Mundo...


À medida que os anos vão passando por mim, reparo que vão caindo mais que dois ou três lugares que gostava de visitar um dia. 

Por exemplo, em relação ao Brasil, além da fixação quase natural pela Baía, Brasília tem ganho pontos nos últimos anos, conseguindo ultrapassar São Paulo ou Rio de Janeiro. 

Isso acontece graças à sua arte arquitectónica é à ideia de se criar uma cidade de raiz, no meio do nada, que foi tão bem apadrinhada por Juscelino Kubitschek (que continua a ser reconhecido como o melhor presidente de sempre do Brasil e foi proibido de visitar a "sua cidade", pelos ditadores militares, embora o tenha feito, "clandestinamente", num dia de chuva...) e desenhada e construída, entre outros, por Oscar Niemeyer.

A minha companheira gostava muito de conhecer Moscovo. Eu nem por isso. E cada vez tenho menos fascínio pelo Oriente...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, março 04, 2022

É Lamentável a Posição do PCP


Eu, que sou no mínimo, "eleitor" da CDU, acho lamentável a posição do PCP sobre a invasão da Rússia à Ucrânia.

Penso que ninguém fica diminuído por condenar um acto de guerra e selvajaria, que vai contra todos os princípios humanos e a própria Organização das Nações do Mundo.

A única coisa que está em causa é a soberania de um país e a liberdade de um povo. Todas as outras narrativas que possam envolver os EUA, a China, o Afeganistão ou o Iraque, neste momento são coisas secundárias. 

Além destes aspectos, os dirigentes comunistas colocam em risco a continuidade do PCP no nosso mapa político, porque uma boa parte dos seus eleitores (e até militantes...) está longe de se rever nesta posição ambígua.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, março 03, 2022

A Pobreza: o Mal de todos os Males...


Tenho cada vez mais dificuldades em falar com pessoas que se dizem defensoras do liberalismo, por saber que o que elas defendem são outras coisas, como o "comodismo social" do costume, que lhes permitiu durante séculos a manutenção das "castas familiares" que tanto mal têm feito ao país. 

O mais grave, é que muitos destes "defensores" do liberalismo não fizeram (nem fazem...) outra coisa, senão viver à sombra do Estado...

É também por isso que compreendo perfeitamente que esta gente continue a amaldiçoar o 25 de Abril, por pelo menos ter tentado oferecer algum equilíbrio social, na educação e na saúde. Sei que eles preferiam que as universidades continuassem a ser quase exclusivamente para os seus filhos e netos, e que existissem mais "hospitais para ricos" e menos para "pobres". Mas o mundo está longe de ser só deles, felizmente.

Pode-se, ou não gostar, de Pacheco Pereira, mas ele é uma das pessoas mais lúcidas a olhar e a comentar a sociedade. No mês de Abril de 2016 uma das suas crónicas da "Sábado" versou sobre a pobreza, cuja parte mais significativa, transcrevemos com a devida vénia:

«A pobreza ou qualquer forma de privação do mínimo necessário para uma vida com dignidade é uma forma de dar aos poderosos o direito natural à liberdade e a de privar os mais fracos.

Sim, porque ser pobre é ser mais fraco. É ter menos educação e menos oportunidades de as usar, é ter empregos piores e salários piores, ou não ter nem uma coisa nem outra. É falar português pior, com menos capacidade expressiva, logo com menos domínio sobre as coisas. É ter uma experiência  limitada e menos qualificações. É depender mais dos outros. É não ter outro caminho que não seja o de reproduzir nas novas gerações, nos filhos, o mesmo ciclo de pobreza e exclusão dos país.»

Só não vê quem não quer, que só cresceremos como país, quando em vez de aumentarmos - como acontece actualmente -, reduzirmos o fosso entre ricos e pobres.

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)


quarta-feira, março 02, 2022

«Num mundo normal o Putin estava cercado por todos os lados»


Acho que todos pensamos a mesma coisa, mas não dizemos.

Não sei se vivemos num mundo "anormal", mas percebi perfeitamente o que o Carlos quis dizer, quando disse:

«Num mundo normal o Putin estava cercado por todos os lados e já tinha sido obrigado a recuar e a enfiar o rabinho por entre as pernas.»

Infelizmente vivemos num tempo em que os interesses pessoais, se têm sobreposto, com cada vez mais "normalidade", ao interesse comum... 

(Fotografia de Luís Eme - Arealva)


terça-feira, março 01, 2022

Acreditar (ou Não) no Outro...


Aquilo que separa verdadeiramente as pessoas de esquerda e da direita, é o que cada um de nós pensa da liberdade individual. 

As pessoas de esquerda tentam dar um  sentido colectivo às suas vidas, pensam no outro e por isso lutam por uma sociedade mais igualitária, nos direitos e nos deveres. Gostavam que todas as pessoas vivessem melhor, por muito que este pensamento pareça "utópico". Não pensam na liberdade sem os outros, que os rodeiam.

As pessoas de direita pensam sobretudo nelas e nos seus, não estão nada interessadas em dividir o que é seu, pelos outros. É por isso que quando são confrontadas com pessoas que precisam de apoio, os seus primeiros argumentos são: "estudassem, trabalhassem", sem se esquecerem de lhes chamar "calaceiros, malandros", e coisas piores, claro.

Nem coloco esta questão no ponto de "sermos melhores ou piores cidadãos". Coloco sim no ponto de conseguirmos confiar, ou não, no outro: pensar que a pessoa que está ao nosso lado, está ali para nos ajudar e não para nos tramar.

De uma maneira simplista, é isto que separa a maior parte das pessoas: o sentido colectivo ou individual que elas dão às suas vidas. E infelizmente o mundo está organizado de uma forma que fomenta cada vez mais o individualismo e o egoísmo (e começa logo nas famílias)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)