Aquilo que lhes era mais comum, além da juventude, era a sua ambiguidade sexual.
Sim, ambiguidade sexual.
O primeiro era um rapaz com uma bela cabeleira loura (o trabalho que deveria dar, ter um cabelo tão sedoso e comprido...), que estava sentado de uma forma estranha. Enquanto o observava ia perdendo características de "rapariga loura", para passar a ser um "rapaz louro", por coisas peculiares. O corpo não tinha muitas curvas e calçava um número de ténis quase grande... Só quando se levantou para sair na estação do metro percebi que era um "Alberto"...
Já sentado no cacilheiro, recebi a companhia de um rapaz de cabelo curto, roupas pretas, olhos e lábios pintados, brincos. O tempo da duração da viagem fez-me perceber que era demasiado leve e suave, para ser "o que parecia (e queria) ser". Agora era uma rapariga que lutava contra a tal questão, do que era suposto ser, segundo a sociedade...
O mais curioso, foi pensar que ambos deviam estar em negação, que se recusavam a aceitar o sexo que lhes fora destinado, por mais um daqueles acasos, que não se explicam (e agora também se podem negar...).
Talvez tivessem medo do destino que a vida lhes traçara e queriam mudar o seu rumo, ou apenas queriam ser algo diferente...
Pois é, vivemos num mundo onde se há coisa que não nos falta, é o "talvez"...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)