Embora estivesse quase com oitenta primaveras, detestava ficar em casa, sentado a ver os programas de televisão que animavam os dias da esposa. Gostava de conversar mas cada vez tinha menos amigos, que mesmo velhos e reformados, ainda continuavam a gostar de falar de mulheres e futebol, entre outros prazeres mundanos.
Quando não encontrava estes amigos entrava na biblioteca municipal e ficava por ali a ver as pessoas a folhearem livros, em silêncio, com meia dúzia de livros à sua frente, que escolhia apenas pela cor e vida das capas.
Provavelmente ninguém imaginava que aquele homem não sabia ler. E ainda menos acreditariam que ele era capaz de ler as histórias que se escondiam dentro dos livros, olhando apenas para as suas capas...
O óleo é de Pierre Bonard.