Eu só tive a verdadeira noção da existência de saudosismo do "destino social", que foi uma realidade durante a ditadura, quando contactei com um descendente de uma das famílias salazaristas (avô deputado da Assembleia Nacional e tio-avô ministro salazarista...). Percebia-se à légua as limitações culturais deste individuo, que continuava a sonhar com a "almofada" e o "empurrão" familiar... que talvez o tivesse ajudado a manter os negócios da família (uma seguradora nacionalizada após o 25 de Abril e várias fábricas desaparecidas...). Não era de todo inocente a presença da fotografia de Salazar na parede do seu escritório...
O mais curioso é que alguns "pobres" (mais de espírito que de outra coisa...), também se revêem nesse país desigual, em que os médicos e os advogados passavam os seus consultórios e escritórios para os seus descendentes, tal como os engenheiros. Nunca esqueço que uma prima afastada da minha mãe, uma vez lhe disse, pouco agradada, que nós (eu e o meu irmão) éramos "quase contranatura", por contrariarmos o destino e termos chegado à universidade, quando os nossos avós eram agricultores e analfabetos...
Claro que ela é que nunca saiu do seu "mundo pequeno". Felizmente hoje somos muitos milhares (talvez até já tenhamos passado o milhão...), aqueles a quem Abril deu a possibilidade de fintar o tal "destino social".
(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)