quinta-feira, fevereiro 29, 2024

Talvez...


Lá fora gritam.

É algo no mínimo estranho, a rua é calma. Por vezes até acaba por ser calma demais.

Espreitei à janela e percebi que era uma confusão familiar de um dos prédios da frente. Nem sequer faltou a cena "agarrem-me se não vou-me a ele". 

Parecia um "arrufo de namorados", com pais metidos ao barulho.

Felizmente, um minuto depois regressou o silêncio.

A rua voltou a ser uma das "mais calmas do mundo"...

Talvez se tivessem sentido intimidados com a curiosidade alheia, com a quantidade de pessoas que vieram à janela...

Talvez tenham decidido continuar a contenda familiar dentro das quatro paredes. 

Talvez...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, fevereiro 27, 2024

Ter a mesma "ideologia cultural"...


Estou a preparar uma intervenção, de homenagem a um amigo. Quero fazer algo diferente, quero conseguir transmitir a imagem de alguém para quem a cultura era o motor de quase tudo na vida. E por conhecer as nossas muitas limitações, foi sempre um "farol cultural".

Ele acreditava no que Vergílio Ferreira escrevera um dia (e antes dele outros...), que "A Cultura só se aprecia, depois de se ser culto". Foi por isso que deu muitas "aulas" de cultura, nas muitas colectividades que passou durante a sua longa vida, com pequenos ensinamentos e exemplos retirados no nosso dia-a-dia, oferecendo pequenas pistas de livros que se deviam ler. 

Tinha uma grande bagagem cultural porque gostava de tudo, de literatura (de ler, escrever e contar...), de teatro (de ver, de escrever e de fazer...), de cinema (aqui era mais ver...), de música (mesmo sem ser um afinadinho gostava de cantar - fez parte de um grupo de canto coral - e de tocar a sua harmónica), e de fotografia (chegou a ser premiado em salões de fotografia...).

E tinha uma coisa muito importante, fugia da "cultura chata", aquela que podia dar sono ou fazer com que as pessoas estivessem nos sítios sem lá estar. Tinha a percepção de que que o começo de tudo devia ser agradável, desde os livros até ao teatro ou cinema. Não se podia começar pelas obras mais difíceis de entender, que mais nos obrigavam a pensar. Essas ficavam para depois de se gostar...

Acho que fomos grandes amigos por partilharmos a mesma "ideologia" cultural e gostarmos de espalhar e partilhar as coisas boas de que gostávamos...

(Fotografia de Elsa Carvalho - Cacilhas)


segunda-feira, fevereiro 26, 2024

Mentiras, descontentamentos e dúvidas...


Não sei muito bem bem onde começa a realidade e acaba a ficção, nos números que nos são oferecidos diariamente como o "retrato eleitoral" do partido da extrema-direita.

Isso acontece por todo este movimento - tal como o seu líder - usarem como principal fundamento a mentira. Não há um facto que não seja manobrado e tenha uma leitura muito própria, quase sempre distante do que realmente aconteceu (os "rateres" transformados em tiros são apenas uma pequena amostra...). Até foram capazes de inventar uma sondagem cujo resultado lhes oferecia um "empates técnico" com as duas maiores forças políticas portuguesas...

É por isso que me faz alguma confusão que possam existir pessoas tão "parvas" no nosso país, ao ponto de andarem atrás de um "vendedor de banha da cobra", que é capaz de dizer uma coisa de manhã e o seu contrário da parte da tarde. 

Se o que está em causa é o descontentamento político, existem forças políticas democráticas mais que suficientes (tanto à esquerda, ao centro como à direita) para receberem todas as pessoas insatisfeitas, em vez de se virarem para uma "mentira partidária e política". 

Embora saiba que basta mais um voto, para quem cantem vitória, gostava muito que esta gente desonesta recebesse uma lição de democracia, no dia 10 de Março. 

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


domingo, fevereiro 25, 2024

Tantos dias que têm cem anos (felizmente há a vontade e a determinação de continuar por mais dias)...


Hoje estive na festa de aniversário da única pessoa da minha família que vi chegar aos 100 anos.

É uma pessoa especial, que me acolheu na sua casa, quando vim para a Capital, com dezoito anos. Mas não me acolheu apenas, tratou-me sempre com grande ternura, a espaços, quase como o filho que não teve, tal como o primo Zé.

Ternura que devolvi, de uma forma natural, porque "amor com amor se paga", pelo menos no mundo das pessoas normais.

E como eu cresci nos meses que vivi na Cruz Quebrada...

As conversas que tínhamos (falava mais com a Elisete do que com o Zé...) eram extremamente enriquecedoras. Felizmente o bom ambiente familiar contrastava com a impessoalidade que encontrava nas ruas lisboetas. Embora nunca me tivesse sentido uma "cobaia", sei que a formação em psicologia da Elisete, abria portas e janelas da "minha ainda pequena casinha".

Sei também que me tornei um adulto mais responsável, graças à liberdade e aos bons exemplos que recebi deste casal especial. E também uma pessoa melhor (claro que os meus pais foram as pessoas mais importantes na minha formação e educação, mas este tempo que vivi com os primos Zé e Elisete foi diferente, deu-me outras coisas, muito mais mundo).

É também por isso, que, poder assistir ao centésimo aniversário desta Mulher especial - que continua a manter uma lucidez invejável, para esta idade grande -, deixa-me muito feliz e orgulhoso.

(Fotografia de Luís Eme - Algés)


sábado, fevereiro 24, 2024

O preto e branco, a fotografia e a memória...


Num tempo que já cheira a Abril, pelo menos na fotografia (há por aí grandes exposições, de Augusto Cabrita, Alfredo Cunha, Eduardo Gageiro, Júlio Diniz, Luís Pavão ou Maria Lamas), com a beleza que só é possível ser transmitida pelo preto e branco, fiquei a pensar que as memórias não precisam de cor, aliás, elas próprias nem sempre surgem com as várias tonalidades que pintam os nossos dias.

Talvez sejam elas próprias, que não sintam a necessidade da cor (a não ser que sejam memórias muito expressivas, que apareçam com o mar, a praia, a feira ou o circo...).

Acabei por ficar na dúvida, porque até as pessoas quando me surgem aparecem quase "dentro de uma nuvem", sem que se usem aguarelas.

Talvez seja o preto e branco que pareça ter mais sensibilidade, e até autenticidade, para tratar da memória...

Talvez...

(Fotografia de Luís Eme - Barreiro)


sexta-feira, fevereiro 23, 2024

"Um (Belo) Olhar Inédito" do Mestre Augusto Cabrita


Hoje passei pelo Auditório Augusto Cabrita para ver a exposição de fotografia do patrono desta Casa da Cultura do Barreiro.


Sabia ao que ia, mas ainda fiquei mais satisfeito do que pensava, ao olhar as belas fotografias de um dos grandes fotógrafos portugueses do século XX, o Mestre Augusto Cabrita, neste ano em que se comemora o seu centenário.


E trata-se de certa maneira, mesmo de "Um Olhar Inédito", com belas surpresas e uma excelente diversidade de imagens, que não se ficam pelas nossas fronteiras.

Que bom voltar ao Barreiro, por uma excelente razão.

(Fotografias de Luís Eme - Barreiro)


quarta-feira, fevereiro 21, 2024

É importante desmontar o "mito"...


Quando me preparava para ir para a cama, dei uma voltinha pelos canais e descobri que a RTP2 estava a passar um documentário, "As Memórias do Século XX" (era já o terceiro episódio), fiquei parado um ou dois minutos a ouvir as duas filhas de Cottinelli Telmo, que nos deixou precocemente em 1948 (enquanto pescava foi levado por uma vaga do mar, que se revelaria fatal...). 

Acabei por desligar a televisão, mas hoje, mal me levantei, enquanto preparava o pequeno-almoço, enchi a casa silenciosa com este episódio da nossa história.

Acabei por ficar ainda mais convicto da importância de homens como Duarte Pacheco, Cottinelli Telmo ou António Ferro, no começo da governação salazarista e também na criação do "mito" (pois é, ainda somos capazes de ouvir alguns ignorantes dizerem que "isto só lá ia com um novo Salazar"...). Principalmente o primeiro, que foi Presidente do Município de Lisboa e Ministro das Obras Públicas de Salazar e que morreria estupidamente num acidente de automóvel, em 1943...

Foi um homem de tal forma influente, que deu trabalho a vários democratas (Keil do Amaral, Almada Negreiros ou Pardal Monteiro), contrariando a vontade da própria polícia política e de ministros ultra-conservadores e deixou uma obra que fala por si (sei que já foi comparado ao Marquês Pombal, e esta comparação não é assim tão descabida quanto isso, pois foi capaz de ver mais longe que todos os outros...) e ainda se vê nos nossos dias (há vários exemplos, talvez a Mata de Monsanto seja o mais simbólico...).

Quem muitas vezes elogia o ditador não faz ideia que este homem foi contra muitas das coisas que foram feitas, inclusive a construção da Ponte Sobre o Tejo, que até acabou por ser baptizada com o sue nome. A própria Cidade Universítária, que continua a manter a sua imponência, teve de ser feita quase clandestinamente por Duarte Pacheco, porque Salazar não concordava com ela... 

Continuo convencido que este homem, fechado dentro de si, fez-nos muito mais mal que bem. Ele, que nunca se deu sequer ao trabalho - e ao prazer - de conhecer o que existia para lá do nosso Portugal, atrasado e esquecido...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, fevereiro 20, 2024

Nunca fui (nem quero ser) um purista


Nunca fui (nem quero ser) um purista.

Também tentei sempre fugir dessa coisa, de ser uma "maria vai com as outras". Desde muito pequeno, mesmo sem o saber...

A avó talvez tenha sido a principal vítima. Ao contrário do meu irmão, dizia ao que ia, não queria comer a comida de que não gostava, coisa impensável para quem durante os tempos de fome da Guerra (a segunda do mundo...) tenha três crias pequeninas a quem dar de comer...

Não fazia o que queria, mas dizia quase sempre do que não gostava.

E fui sempre assim.

Com as palavras, com as artes plásticas, com o teatro, com a fotografia.

Sempre quis gostar de coisas que me diziam alguma coisa, mesmo que fossem uma porcaria para os outros. Por outro lado, tinha (e continuo a ter...) dificuldade em perceber a arte que chamo "do nada", em que alguém - muitas vezes até artistas "famosos" - nos tenta passar por estúpidos e dizer que está lá, qualquer coisa que não se vê (nem verá...).

É sobretudo a olhar esta arte que me acho conservador.

Estou a escrever e vou lembrando-me de coisas (não era para escrever sobre a avó Henriqueta...) mas... 

Um dos lugares que faz parte da infância dos meus filhos, mesmo que eles hoje não pensem muito nisso, é a Casa da Cerca de Almada. Enquanto cresciam, andámos muito pelos jardins, passeámos pelas salas com exposições, olhámos Lisboa e o Tejo... E foi numa dessas mostras de arte, em que tivemos a companhia do meu sobrinho João, que ele disse que também era capaz de fazer "aquilo", que estava pendurado na parede: quadros pintados de brancos com saliências criadas por cimento, atirado às telas. E estava certo...

Estou com ele. Arte é muito mais que atirar cimento a uma tela e depois cobri-la de tinta branca, amarela ou azul, com uma trincha ou um rolo.

É também por isso que me faz confusão ouvir gente a dizer mal do Pessoa do Chiado (poderei ser suspeito, por o Lagoa Henriques ter sido um dos meus mestres...) ou até do Padrão dos Decobrimentos, enquanto objectos artísticos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, fevereiro 19, 2024

A transformação de um debate num "Benfica-Sporting"...



Sem fugir do tema de ontem, hoje foi dia de "derby" (não há grandes hipóteses de escapar à "futebolização", graças às televisões e aos seus comentadores...). 

Foi um "Benfica-Sporting" (sei que Montenegro é portista, mas não há jogo que gere tantas paixões como este, entre os grandes de Lisboa...), com uma vitória clara do socialista, que me apetece "colar" ao Benfica, por razões pouco racionais.

Após o debate, nem mesmo os comentadores que usam mais a mão e o braço direito, foram capazes de "puxar" o líder da AD para cima, porque ele além de não responder a questões essenciais, quis "interromper", mais vezes do que devia o adversário político, usando a táctica (ainda que mais tímida...) do homem que já o apelidou de "prostituta"...

Não sei se este debate foi bom para os indecisos. Provavelmente ficaram ainda mais baralhados. Muitos estão fartos de saber que o PS não merece o seu voto (os últimos três anos deixaram muito a desejar), mas com a prestação do candidato da AD, as dúvidas em vez de diminuírem cresceram...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, fevereiro 18, 2024

Jornalistas-moderadores preferem o acessório e popularucho à verdade e aos factos nos debates


Tem sido demasiado pobre o espectáculo dado por alguns dos jornalistas que têm moderado os debates eleitorais nas televisões.

Já se percebeu que o tempo é demasiado curto, pelo que era evitável que passassem o tempo a interromper os candidatos, quando estão a tentar dizer algo de útil. Preferem fazer perguntas sobre o que é acessório, deixando o que é importante, para depois.

Uma moderadora da SIC até se deu ao luxo de começar um dos debates com a candidata do BE a falar da sua avó.... como se isso é que fosse realmente importante para as eleições (deve ser por força do hábito televisivo de fazer "telenovelas" com quase tudo...).

Também não percebo porque razão não desligam o microfone do candidato do Chega, deixando-o sistematicamente a tentar interromper os adversários políticos. Ou talvez se perceba. Talvez pensem que dá mais audiências e é melhor para o "espectáculo"...

Dos comentadores da "hora seguinte" nem falo, porque não há um único que não apareça armado "em júri de debates", vestido com as camisolas do "Benfica", do "Sporting" ou do "Porto"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, fevereiro 17, 2024

"Vagabundos" a mais no onze da equipa da Luz...


Embora fosse incapaz de assobiar o treinador do Benfica, sei que ele é o pior dos três grandes. Vou ainda mais longe, cada vez  se justifica menos a contratação de um técnico estrangeiro, quando nós temos os melhores treinadores do mundo, graças à excelente leitura de jogo e capacidade para alterar o que se passa no terreno, em poucos minutos.

Mas o problema maior do Benfica é ter "vagabundos" a mais no seu onze, jogadores que correm e defendem menos do que deviam. Têm sido pelo menos três nos últimos tempos: Di Maria, João Mário e Kokcü. O futebol moderno não se compadece com tantos jogadores, que além de não correrem muito, não defendem nem têm cuidado com o seu posicionamento no campo, deixando quase sempre os adversários demasiado à vontade.

Não tenho dúvidas que no onze benfiquista só existe espaço para um "vagabundo", e ele é o Di Maria, porque a qualquer momento, pode fazer a diferença.

Como também vimos na televisão, até um rapaz, com uns dez anitos, no máximo, sabe que Schmidt têm muito a aprender com Amorim ou  Conceição, na leitura do jogo e na capacidade de mudar o que é preciso dentro do relvado...

Escolhi esta fotografia, porque esta pequena oficina de sapateiro, faz parte do meu imaginário. Ficava a caminho das Praças da Fruta e do Peixe e sempre que ia de mão dada com a minha mãe às compras soltava a mão e ia espreitar as paredes, forradas com as grandes equipas e os grandes jogadores de futebol, num tempo em que os "vagabundos" abundavam nos relvados...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


sexta-feira, fevereiro 16, 2024

Era bom que fosse o principio do fim...


Escolhi este título, sobretudo por não gostar de ditadores. 

Normalmente eles fazem tudo para se manterem no poder, como é o caso de Vladimir Putin, que tem a singularidade de assistir à morte dos seus opositores ou inimigos políticos, de formas no mínimo estranhas. Tanto podem cair de escadas, atirarem-se de varandas altas como ingerirem substâncias nocivas ao organismo.

Acredito que Putin até possa não estar directamente ligado a este final de vida de Alexei Navalny (estranho para não variar...). Teoricamente Alexei era o seu grande opositor político e por essa razão estava preso num dos muitos  "campos de reeducação" russos, mais para "apodrecer" que para "desaparecer". Isso acontecia porque o ditador sabia do perigo, que é, a existência de mártires, em qualquer causa libertária.

E é por isso mesmo que eu gostava que Navalny se tornasse um factor de união entre todos os opositores de Putin, que a sua figura se fosse tornando cada vez mais mítica, ao ponto de começar a alimentar um outro género de nacionalismo, cada vez mais forte, contra um regime repressivo, arbitrário e mentiroso.

(Fotografia de Luís Eme - Marvila)


quinta-feira, fevereiro 15, 2024

As frases batidas e os "heróis" do costume...


Ontem escrevi sobre o "Laranjadas", porque não me apeteceu voltar a falar da justiça, das coisas que se passam neste país e quase ninguém percebe (penso eu)...

O que já todos percebemos é que existe um problema grave entre o ministério público, as polícias e os tribunais (e também a comunicação social que gosta de "fingir" que não sabe o que é segredo de justiça). 

É bom que ele seja resolvido, rapidamente. E que os políticos não se continuem a escudar na frase cada vez mais batida: "à política o que é da política, à justiça o que é da justiça"...

Acho que todos sabemos que quando a justiça faz bem o seu papel, não se fala dela, muitos menos em juízes, polícias ou procuradores. E para que isso aconteça com frequência, não são necessários "juízes justiceiros", "procuradores super-heróis", muito menos polícias, que gostam de se fazer acompanhar pelas televisões, quase como "guarda de honra", quando deviam ser "invisíveis"... 

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, fevereiro 14, 2024

«Lembras-te do "Laranjadas"? O que será feito dele?»


O mundo mudou um pouco por todo o lado.

O Vitor estava na oficina a arranjar um vitrine, quando passou por lá o Dinis, mesmo a tempo de nos interromper a conversa, com as banalidades do costume.

Por saber que muitas das nossas conversas começavam e acabavam na Incrível, começou a falar de quase toda a gente que andava por ali, pelo salão, à procura de qualquer coisa para matar o tempo, enquanto ajudavam a manter de "cara lavada" que era a sua "segunda casa".

De repente soltou quase um grito, para o Vitor: «Lembras-te do "Laranjadas"? - fez uma pausa, para voltar a perguntar - O que será feito dele?»

O Vitor sorriu, lembrava-se muito bem dele, era quase a sua sombra. E era mesmo...

O rapaz que devia ser ligeiramente mais velho que eu, tinha um problema qualquer cognitivo, daqueles que costumamos associar a "fios mal ligados, na caixa dos fusíveis". Mas andava sempre por ali e gostava de ajudar. O único prémio que queria, era um copo de sumo de laranja. Foi por isso que ficou o "Laranjadas".

Ele tinha ido viver para o Alentejo com a mãe, que se reformara e foi à procura das suas raízes... e por lá ficou. Há dez, quinze anos? 

Como o tempo passa...

Gostei de me recordar desta Cidade, que era capaz de tratar os "maluquinhos" como gente quase igual a nós...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, fevereiro 12, 2024

Um esboço de autarcas, "quase modelo", com envelopes (e até estantes e diamantes...)


Os almoços tertulianos das segundas oferecem-me sempre um ou outro tema, que poderei, ou não, explorar por aqui.

Nunca tinha pensado nisso, mas faz todo o sentido, que sejam os "extras" que aumentam os pecúlios dos autarcas, que os levam a permanecer tempo demais no poder, e não apenas o gosto de ouvir o trato de "senhor presidente", nas ruas e nas festarolas. 

Embora quem ganhe 1000 euros ou menos ache graça dizer-se que os políticos do nosso país são mal pagos, é esse o pensamento geral desta classe que vai fingindo que governa, enquanto se vai "governando", seja através de envelopes que aparecem dentro de caixas ou livros (Sim, livros. Nunca me esqueço do construtor que gostava de oferecer livros a presidentes de câmara e que um mês depois telefonava a perguntar se eles já tinham lido o livro e se tinham gostado... Ouvi a história da boca do próprio durante um serão, bem comido, bem bebido e bem conversado, que também nos disse que preferia trabalhar em Angola, onde era tudo mais simples, e não precisava de perder tempo a comprar livros...).

Nada do que acontece na Madeira, em Espinho ou em Vila Real de Santo António (é mesmo assim, percorre todo o Continente e Ilhas...), é estranho.

E também não devíamos estranhar o sentimento de "impunidade" que eles sentem, ao ponto de se tornarem cada vez mais distraídos, na forma como recebem os "envelopes" e também na exibição cada vez mais vistosa dos sinais exteriores de riqueza (que são quase sempre a sua perdição, devido à bendita "inveja", que dizem ser portuguesa...). 

E depois o ministério público e as polícias enchem-se de brios, chamam a comunicação social e anunciam mais uma "grande operação"...

Algum tempo depois descobrimos que a montanha pariu mais um rato. Embora seja normal eles ficarem tempo demais em "preventiva", também ficam a aguardar o julgamento em liberdade, até quase ao "infinito e mais além"...

Que dizer mais? A nossa realidade parece-se tantas vezes com um mero "teatro de costumes", entre a comédia e a farsa, ao ponto de chegar um momento em que nos parece, que tudo o que nos rodeia "é a brincar"... 

Claro que é uma "brincadeira séria", para quem ganha apenas mil euros ou menos, que tem que fazer pela vida. Como não recebe "suplementos" em envelopes, tem de inventar segundos e terceiros empregos para alimentar a prole que tem em casa...

Mais uma vez deixei as palavras à solta, sem ter a certeza se era sobre isto que queria mesmo escrever. Mas como "já está", não vale a pena "riscar" nem "apagar". 

Mas era tão bom que este país do esboço não passasse de uma invenção...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, fevereiro 11, 2024

Afinal quem (e o quê) é que "mudou"...


Fartamo-nos de dizer que "o mundo mudou", mas somos nós que estamos sempre a alterar regras (quem pode, claro) e a mudar tudo o que conseguimos.

Talvez quem não tenha, nem frequente redes sociais (os blogues sempre foram e são outra coisa) como eu, olhe cada vez mais o mundo de outra maneira. Nem se pode dizer que é a certa. É apenas diferente.

Dizem que o sucesso do Chega se deve à aposta que faz em todas as novas formas de comunicação. Eu acho que se deve mais à simplificação que se fez da forma de comunicar, à preguiça que se tem de pensar e de ler um texto com mais de cinco linhas.

Se isso ainda não acontece comigo, foi porque eu sou um "antigo", ainda ontem acabei de ler um velho romance de Vergílio Ferreira, e li-o em apenas cinco dias (porque ele quis muito ser lido e ocupar todos os meus tempos mortos...). Falo de "Cântico Final" (é mais um daqueles livros que tinha ficado para trás).

O mais curioso, desta coisa de escrever directamente no computador para o blogue, é que ia falar de uma coisa e acabei a falar de outra. E ainda bem...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, fevereiro 10, 2024

«Estamos a ficar novamente parecidos com a fita de Fellini (aliás, Scola), "Feios, Porcos e Maus"»


Quando o Carlos disse: «Estamos a ficar novamente parecidos com a fita de Fellini, "Feios, Porcos e Maus"», pensei que se estava a referir aos últimos episódios do nosso país, das contestações dos polícias e agricultores, dos casos de justiça na Madeira e no Porto, ou ainda da campanha eleitoral.

Mas não. Estava a referir-se mesmo ao nosso aspecto e à forma como vivíamos, com a miséria a ser cada vez mais visível nas ruas da Capital, com o aumento dos sem abrigo. Curiosamente, ou não, gente de todas as idades: jovens toxicodependentes; pessoas de meia-idade sem emprego; e claro, velhos abandonados e esquecidos pelas famílias...

Com a curiosidade de também se encontrarem gentes de outros países misturadas com os nativos, que além de enfrentarem os mesmos problemas, vêem estes agravados pela dificuldade de comunicação e pela sua situação de ilegalidade...

Infelizmente o Carlos está certo (não na fita, pois o filme citado é de Ettore Scola - obrigado José). 

Mas os governantes, como é hábito, fingem que o problema é pequeno e está controlado (e fora da campanha)... 

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sexta-feira, fevereiro 09, 2024

Olá liberdade! Bom dia!


O normal é que as gentes que trabalham em lugares, onde estão a servir os outros, quando tiram a respectiva "farda", sejam outras pessoas, muitas vezes quase irreconhecíveis.

Foi o que disse ao meu amigo que estranhou ver na rua, aquela miúda doce e simpática, que trabalha no nosso restaurante preferido, com um penteado estrambólico, percings, baton preto e roupas do mesmo tom.

Ela até lhe disse olá, pelo que ele não devia estranhar, nem um pouco, que aquela menina, tivesse uma identidade própria, distante daquela que conhecemos, mais pública, imposta pelas regras da sociedade e do próprio patrão...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quinta-feira, fevereiro 08, 2024

Os museus são outra coisa (normalmente boa)...


Os museus nunca deverão ser "casas de terror", porque normalmente absorvem e mostram o melhor de nós.

Foi também por isso que nunca me preocupou a existência de um museu das descobertas ou dos descobrimentos. Porque nós não nos limitámos a matar, pilhar e escravizar. Só as viagens em si, foram "cruzadas do saber", em relação ao mundo que nos rodeava. Levámos-lhes coisas que pensávamos ser boas, mesmo que o termo "civilização" tenha muito que se lhe diga (embora seja uma coisa que só começou a ser discutida nos últimos 80 anos...).

Claro que não devem ser "casas de mentira" (aí estou completamente de acordo contigo...).

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quarta-feira, fevereiro 07, 2024

A Arte e os "Artistas de Circo"...


Duas tardes, dois encontros com dois artistas plásticos, diferentes. Um cansado e quase resignado a um tempo que não é o dele. O outro farto do tal "mundo que mudou" e que o quer obrigar a ser mais artista de circo que pintor.

Sorri quando ele me disse que: «Os "artistas de circo" do nosso meio eram eles próprios uma obra de arte, até são capazes de pintar o cabelo de azul ou de roxo, só para serem olhados como se fossem uma "tela"... mas hoje as coisas são diferentes. Não é apenas uma questão visual.»

Depois explicou-me as razões porque quer ser "artista de circo". Não se trata da tal questão visual, apenas não quer fazer parte do espectáculo artístico que lhe sugere que vista as peles de malabarista, contorcionista e palhaço (as palavras são dele), quase em simultâneo, enquanto artista...

Segundo ele, a Arte por si própria, começa a ser uma coisa secundária, em demasiados lugares.

Deve ter dito uma ou outra coisa, não me limitei a ouvir apenas estes dois amigos. Mas nem sempre sabia o que havia de dizer...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, fevereiro 06, 2024

A Justiça "justiceira", que "prende" mais gente dentro da televisão que nos tribunais...


Há já alguns anos que não consigo perceber muito bem o comportamento das nossas polícias de investigação, do ministério público, e sobretudo dos juízes dos tribunais.

Não sei se sou eu que vejo filmes a mais, ou se são eles. Embora também exista a possibilidade de andarmos todos a ver os "filmes errados".

Não vou dizer que a realidade é outra coisa, porque muitos filmes são o espelho do mundo que nos cerca. Mas incomoda-me todo este espectáculo, que conta sempre com a cumplicidade da nossa comunicação mais populista e "voyeurista" (até parecem terem conhecimento das coisas antes das próprias autoridades...).

Sinto que a justiça não tem nada a ganhar com esta gente que adora vestir a capa de "super-herói", antes de se sentarem nos palcos dos tribunais.

E o resultado de todo este espectáculo, são as prisões em directo, que se prolongam cada vez mais no tempo, ao ponto de prenderem pessoas, durante mais de uma semana, para depois as libertarem sem qualquer acusação (o caso mais gritante deverá ter sido o autarca de Sines...). O mesmo poderá acontecer com os "corruptos" da Madeira ou com os "bandidos" da claque do Porto (mesmo que não sejam culpados pela justiça, já não se safam destes rótulos, colocados pela comunicação social...). 

Não tenho qualquer simpatia por qualquer destas pessoas que foram presas (nem tão pouco sei quem são...). Até porque isso neste momento é o que me interessa menos. O que verdadeiramente me interessa é o método, a forma como se investiga, a forma como se prende, a forma como se acusa e a forma como - quase sempre - se liberta.

Parece que a justiça em vez de ser uma coisa séria, é uma "coisa de brincar". 

Sei que esta "brincadeira" dá muito jeito aos "sócrates, salgados, berardos e pinhos", que apesar de serem tudo menos inocentes, brincam mesmo com o estado de direito e com todos nós. Mas não é essa gente que me interessa. Interessa-me sim falar das pessoas que acabam por ser inocentadas, depois de passarem anos no "purgatório".  Ao ponto de as obrigar muitas vezes a mudarem de cidade e até de país, para voltarem a ter uma vida aparentemente normal.

Não é por acaso que nos países verdadeiramente humanistas se diz que mais vale dez culpados em liberdade que um inocente na prisão.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, fevereiro 05, 2024

Os "sinais exteriores de riqueza"...


No plano oposto ao que escrevi no sábado, em relação aos cada vez mais visíveis, "sinais exteriores de pobreza", há lugares onde percebemos que há muita gente que vive bastante bem.

Um dos espaços públicos onde isto mais se nota é nas auto-estradas, onde nos cruzamos com demasiados carros "topo de gama", com valores de mercado acima dos 50.000 mil euros.

É possível que estejamos mais atentos a estes carros, por darem mais nas vistas, mas que na contabilidade geral, nem sejam assim tantos em circulação.

Mas a vida é assim nos sistemas capitalistas "selvagens", ditos liberais: há muita gente que vive cada vez pior e  pouca gente que vive cada vez melhor.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, fevereiro 04, 2024

O descrédito das forças das segurança


O descrédito cada vez mais notório das forças de segurança na nossa sociedade, deverá ter atingido ontem, um dos pontos mais altos, quando vários agentes resolveram invocar razões de saúde para não assegurarem a segurança dos cidadãos que pretendiam ver o jogo de futebol entre o Famalicão e o Sporting, que se disputava ao fim da tarde.

Mesmo estando de acordo com as reivindicações tanto dos agentes da PSP como dos guardas da GNR, tenho noção de que não se pode colocar em causa a segurança do País, por estes se sentirem injustiçados em relação ao governo socialista.

Se não percebem que ser polícia ou militar, faz com que se tenha um estatuto diferente de qualquer outro cidadão, devem pedir a demissão e arranjar uma ocupação mais compatível com as suas vontades. E isso começa e acaba com os seus representantes sindicais, que fingem esquecer as suas especificidades profissionais.

E nem vou falar da diferença de tratamento que existiu entre agricultores (estes até de deram ao luxo de andar a passear nas auto-estradas) e jovens que bloqueiam estradas...

Apesar de estarmos num tempo pré-eleitoral, espero que o governo actue em conformidade. E se a direção nacional das polícias não tem capacidade de liderança suficiente para fazer com que os seus agentes cumpram as suas missões, devem ser os primeiros a pedir a demissão.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, fevereiro 03, 2024

«O problema é que há cada vez mais gente pobre no nosso País»


Normalmente quando conversamos, conseguimos alargar os nossos horizontes e as nossas perspectivas sobre quase todos os problemas que nos cercam.

Foi o que aconteceu quando falei ao telemóvel com um dos meus amigos, que além de me ler nos blogues gosta mesmo é de comentar ao vivo (devem contar-se com os dedos de uma mão os comentários que escreveu na respectiva caixa...) o que escrevo.

Como está a quase três centenas de quilómetros da nossa urbe, não foi possível conversarmos na nossa velha esplanada (cada vez mais entregue aos pombos, como ele gosta de dizer...).

Falámos do que escrevi ontem e da miséria que não se esconde nos países democratas, como o nosso. O Adriano começou logo por dizer: «O problema é que há cada vez mais gente pobre no nosso País.»

Tanto em relação à imigração como em relação à saúde, educação, habitação, segurança, agricultura (e quase tudo...), os dois últimos governos socialistas fingiram que governavam e que resolviam os problemas, embora continuassem mais preocupados em ser "bons alunos" (Costa quis ser ainda melhor que Coelho...) e "poupar dinheiro", esquecendo-se do perigo das "bolas de neve", quando se tornam gigantescas (mesmo em países em quase que só cai neve na Serra mais alta...).

Estivemos de acordo em quase tudo, e sim, todos os problemas estão interligados. Existe gente a mais, oriunda de outros países, muitos ilegais, e por isso mesmo, têm mais dificuldade em arranjar emprego (os que arranjam são ainda mal pagos que os "legais", devido às circunstâncias...).

Não é por acaso, que ao final do dia, surgem tantos acampamentos clandestinos, em quase todas as zonas da cidade, onde existe um jardim ou um campo baldio (esquecendo os residentes fixos de avenidas como a Almirante Reis ou do Parque das Nações...). 

Quem está mais a par desta realidade são as associações humanitárias que continuam a distribuir refeições e bens essenciais aos "sem abrigo". Conhecem melhor o fenómeno que as próprias autoridades, que se limitam a fazer rondas dentro dos respectivos carrinhos "tinoni", sem sequer olharem para estes novos "guethos"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, fevereiro 02, 2024

A "guerra surda" (e estúpida) contra os imigrantes


Não percebo, mas também não vou perder tempo a tentar perceber, o ódio crescente no nosso país aos imigrantes, sejam eles asiáticos, africanos ou brasileiros.

Até porque a grande maioria vêm para o nosso país fazer tarefas que quase ninguém quer fazer (os que possam querer, também não têm qualquer possibilidade de o fazer, porque os patrões preferem a mão de obra estrangeira, mais barata e menos reivindicativa...). E começam a ser fundamentais para a nossa economia e até para o equilíbrio social.

O que falta com toda a certeza é um controle por parte das autoridades sobre a imigração. 

Como já escrevi por aqui, os responsáveis pelo sector não devem fazer ideia do número de estrangeiros que vivem no nosso país. Preferiram "fechar os olhos", ao mesmo tempo que alimentavam todo o tipo de negócios, como as redes de tráfico humano, que oferecem condições mais próximas da escravidão, que do trabalho digno para seres humanos.

Se tivéssemos um bocadinho de memória recordávamos que nos anos 1960 e 70, os portugueses foram os "asiáticos" da Europa. Faziam o trabalho que os franceses, alemães, suiços ou holandeses, não queriam fazer...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, fevereiro 01, 2024

A praga dos "medíocres" e o seu medo do saber...


Nunca vou entender este medo generalizado por quem sabe mais que nós, no nosso país. Até por saber que é uma oportunidade de ficarmos a saber mais.

Também estou cada vez mais convencido que não é apenas um problema português, a praga de "mediocres" está espalhada pelos sete cantos do mundo...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)