sexta-feira, julho 26, 2024

"Universos" pouco paralelos...


Estava a começar a trabalhar, ainda antes das nove da manhã (não sei se é por os dias ser maiores, de Verão deito-me mais tarde e continuo a levantar-me cedo...) e ao ler uma frase, lembrei-me de outras coisas (acontece-me tantas vezes...).

Lembrei-me das pessoas que pertencem a um campo artístico, mesmo que andem às voltas por outros lugares. Algumas pessoas nem sequer o disfarçam, não dão tréguas e passam a vida a recusar convites para fazer isto e aquilo.

Ainda não perceberam, mas eu estou a falar de cinema. De actores e actrizes que são só da sétima arte. O Pedro Hestnes foi o extremo, mas há outros casos especiais como a Beatriz Batarda (embora ela goste e seja boa nos palcos, telenovelas é que não...). Laura Soveral e Isabel Ruth, são duas senhoras que pertencem ao cinema. Ponto final. As outras coisas que fizeram, nunca tiveram o brilho do ecrã que enchia a parede branca grande da esplanada de Verão do "Roscas"...

Até mesmo o Rogério Samora e a Alexandre Lencastre, sempre foram "cinema", a televisão era a forma mais fácil de terem dinheiro para comerem lagosta, se lhes apetecesse...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, julho 25, 2024

(acabei de ler um livro de poesia que não é de poesia)


Acabei de ler um livro de poesia que não é de poesia.

A poesia é outra coisa, pertence a um universo bem distante da prosa, entre outras coisas, por ser mais sentida e menos vivida.

Sei que há muito boa gente que não percebe - nem nunca irá perceber... -, esta diferença, por mais poemas que escreva.

Por escreverem com métrica e de forma rimada, não quer dizer que se tenham afastado dos "mundos" da prosa e estejam a caminhar nos "jardins" da poesia.

Não estou a dizer que o livro é mau. Estou apenas a dizer que o livro não é de poesia...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, julho 24, 2024

Os nossos olhos às vezes enganam-se. Mas é só às vezes...


Os nossos olhos às vezes enganam-se. Mas é só às vezes...

Não são eles que definem o que é uma boa e uma má pessoa, são sobretudo as acções dessas pessoas...

Podemos nunca ter falado com uma ou outra pessoa e sabermos que se trata de alguém bem formado, capaz de ajudar os outros, mesmo desconhecidos...

Claro que há quem pense de forma diferente de mim, e ache que precisamos de conhecer uma pessoa, antes de darmos palpites, de que se trata de alguém bom ou não...

(Fotografia de Luís Eme - Vila Franca de Xira)


terça-feira, julho 23, 2024

Três traços comuns...


Escrevo muitas vezes sobre os meus amigos, mas por serem coisas pessoais, ficam quase esquecidas mas minhas espécies de diários (são dezenas de cadernos...).

Publico aqui uma ou outra coisa, mas são quase sempre "suaves", nunca vou ao "osso". 

E hoje, para não variar, faço o mesmo.

Durante anos e anos, pensei que o meu Pai era o homem mais livre do mundo (muito graças ao amor e generosidade da minha Mãe, que o deixava fazer o que queria e ser quem era...).

Mas hoje quando penso em Liberdade, daquela que a sua defesa e luta, davam prisão, sinto que alguns dos bons amigos que conheci em Almada, podem não ter sido tão livres como o Pai, mas amavam-na muito mais que ele... e as coisas em que se meteram para a defender antes e depois de Abril...

Claro que nem todos foram - e são comunistas (mas a maioria é) -, poucos foram presos, mas nenhum escapou de ter ficha na PIDE, de ser incomodado no trabalho, nas associações e até nas ruas.

Quando temos amigos como o Henrique, o Fernando, o Orlando, o Carlos (é quase um colectivo, são quatro...), o Chico, o Jaime, o Zé ou o Mário, tornamo-nos, naturalmente, melhores pessoas.

Com tudo isto quase que me esquecia de referir os seus três traços comuns: a Dignidade, a Generosidade, e claro, a Liberdade...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, julho 22, 2024

O que se pensa com quarenta graus à sombra...


O normal é nós pensarmos coisas diferentes, quando enfrentamos os mesmos problemas.

Pensei nisso quando estava à sombra, a sentir a brisa quente e suave que passava, capaz de quebrar em segundos qualquer pedra de gelo.

Talvez muitas pessoas pensassem que boa ideia era entrar em qualquer loja, com o ar condicionado ligado e ficar ali, a fingir que queria comprar qualquer coisa...

E eu ali sentado, armado em ambientalista, a pensar em todas as coisas parvas que continuamos a fazer, enquanto fingimos que este planeta aguenta tudo e que estes quarenta graus à sombra é uma coisa passageira...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, julho 21, 2024

«Quando pensamos nos outros, fica mais fácil tomar decisões que sejam boas para todos»


Quando dizemos coisas simples e que têm sentido, é quase normal fazer-se referência a "La Palisse", como se ele fosse o "rei" dos lugares-comuns e das frase certeiras.

Mesmo que possa parecer quase um "hino religioso" (que deve ser dito nas milhares de capelas de culto, de todos os credos...), ninguém duvida da verdade que está dentro frase que escolhi para título destas palavras, da mesma forma que ninguém a leva a sério.

O que é certo é que ninguém chega ao poder, a defender coisas tão simples e essenciais, como a paz, o amor e a união entre os povos.

Os EUA são apenas mais um exemplo, em que a construção de muros e a expulsão de imigrantes, dão mais votos, que as políticas que facilitem a sua integração na sociedade.

Isso explica que embora a frase «quando pensamos nos outros, fica mais fácil tomar decisões que sejam boas para todos», esteja certa, ninguém a segue, muito menos ganha eleições com ela...

Mas este problema não é de agora, tem milhares de anos. É por isso que o planeta Terra sempre foi um lugar estranho para se viver...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, julho 20, 2024

Não há sistemas perfeitos e talvez o nosso ainda seja mais "imperfeito" que os outros...


Estava sentado a ver "o mundo passar" na esplanada de um restaurante no centro de Almada, no começo da noite. Saboreava o café, distraído com coisas mais lunares que terrestres, quando a minha companheira, reparou num facto, cada vez mais evidente nas nossas ruas: mais de metade das pessoas que passavam por ali eram oriundas de outros países. Pela forma como se expressavam percebia-se que a maioria tinha vindo do Brasil.

Claro que não concluímos que a população imigrante já ultrapassara os locais. Havia pelo menos duas razões para que fossem estas pessoas a passearem nas ruas e não os almadenses. A primeira dizia-nos que somos uma população envelhecida que sai cada vez menos à rua à noite (já o éramos antes da chegada destas gentes das américas e das índias, cuja maioria contribui de uma forma positiva para a nossa economia...). A segunda era que estas pessoas muitas vezes partilham casa e com estas temperaturas elevadas deve ser um suplício ficar dentro de quatro paredes em casas superpovoadas.

Depois passou por nós um vizinho carregado com dois sacos de mercearias. E lá voltei a ser "acordado"... Tratava-se de um chefe de família que sempre vivera de expedientes. De repente descobriu-se "velho e cansado", com mais duas bocas em casa para alimentar (a esposa que nunca trabalhou para fora e uma filha deficiente...), e teve de se "agarrar" com unhas e dentes ao Estado e a todas as Instituições que ajudam pessoas que dificuldades.  Corria o boato de que vendia muitos destes produtos, para arranjar umas moedas para o tabaco e para as cervejolas. 

Ao contrário da minha esposa, encarei o caso com normalidade, por ele ser quem era e por não existirem sistemas perfeitos. Até porque tudo indicava, que o nosso ainda fosse mais "imperfeito que os outros...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, julho 19, 2024

A expansão do "Algarve" dos "ingaleses" por este país fora...


Cada vez temos de ser mais criteriosos nas escolhas de restaurantes e noutros lugares de "estar", que apostam cada vez mais nos "turistas" (pelo menos é que os preços indiciam, tal como a qualidade dos serviços...). É também por isso que há muito tempo que não frequento restaurantes na rua Cândido dos Reis, em Cacilhas, onde os preços subiram e a qualidade baixou.

Mas isto já não acontece apenas em Lisboa (Cacilhas e Almada confundem-se com Lisboa...) ou no Porto. As grandes cidades parecem apostar cada vez mais no "dinheiro fácil", espalhando "passadeiras de cores berrantes" para quem vem de fora e esteja disposto a gastar dinheiro na restauração, na hotelaria, no património e na diversão nocturna.

É mesmo a expansão do "Algarve". Aquele Algarve do tempo em que quase só existiam listas nos restaurantes, escritas na língua inglesa. 

Estão todos esquecidos é de que esse Algarve, com as crises, teve de meter a "viola no saco" e voltar a ter listas escritas em bom português, porque se não fossem estes, a maior parte dos lugares virados para o turismo tinham fechado...

Os nossos governantes fingem esquecer-se do perigo que é para a nossa economia, esta cada vez maior dependência das receitas de turismo...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, julho 18, 2024

Ainda os livros, com e sem polémicas...


Como já perceberam pelos últimos textos, li meia-dúzia de livros nas férias (o segredo foi levar obras com menos páginas que o habitual...). 

Um deles já fazia parte da lista de aquisições (em alfarrabistas, porque está esgotado...), por ter sido uma obra polémica quando foi editada nos anos 1960. Só o encontrei este ano à venda, a um preço simpático. Falo de "Rumor Branco" de Almeida Faria, que a par da "Torre de Barbela" de Ruben A., foram alvo de críticas, por serem obras completamente inovadoras, escritas de uma forma diferente, sem a esquematização habitual do romance (com muita acção e quase sem princípio, meio e fim...).

Claro que fiquei ligeiramente desiludido, porque as expectativas eram grandes. Não acho que seja um grande livro. Nem sequer o considero um romance, coloco-o mais na esfera dos diários. Mas a curiosidade é o que é (aconteceu o mesmo com "O Toldo Vermelho" do poeta Joaquim Manuel Magalhães, outra desilusão...), e lemos muitas coisas pelo que os outros escrevem sobre elas...

Felizmente tenho também "A Paixão" e "O Conquistador", que penso ler brevemente, para poder ficar com uma opinião mais avalizada do romancista, Almeida Faria.  

Mas não deixa de ser curioso, que as polémicas resistam mais no tempo que a própria obra de alguns escritores...

(Fotografias de Luís Eme - Algarve)


quarta-feira, julho 17, 2024

Este blogue podia ser apenas sobre livros...


Às vezes ponho-me a pensar que este "Largo" podia ser mais elitista e fazer referência apenas a coisas que gosto e que me fazem bem, como são os livros, as exposições, os teatros "da vida" e dos outros, e claro os filmes, até por existirem tantos que querem ser o "filme da minha vida"...

Pois, poder podia, mas não era a mesma coisa. 

Sei que exerço mais vezes do que queria a minha autocensura, para não falar dos "FDP" que enchem diariamente as notícias televisivas e inspiram os "donos da verdade" das redes sociais. 

Penso que faço isso por saber que o pior que pode acontecer a um lugar, é começar a ser mal frequentado...

Mas também não quero que o mundo de repente se transforme num lugar maravilhoso, onde se lêem livros, onde se visitam exposições, onde se vai ver teatro, para sorrir e pensar, ou ao cinema, tocar na mão da companheira ou companheiro naquela escuridão que também fala com os nossos sentidos, quando surge um plano que nos recorda a vida, como ela é, ou como ela deveria ser...

E como já me estou a "esticar", a conversa sobre livros vai ficar para amanhã...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


terça-feira, julho 16, 2024

A nudez na arte e na vida...


O peso da fotografia nota-se sobretudo na nudez, na sexualidade e na sensualidade.

Não é por acaso que sempre existiram estátuas com mulheres e homens nus (pelo menos desde a Grécia e a Roma antigas), sem causar qualquer tipo de constrangimento, mesmo a nível institucional. Passa-se o mesmo com obras de pintura.

Quando aparece uma fotografia de um corpo nu, tem logo outro tipo de envolvimento e até de interpretação, muito diferente de uma obra artística, mesmo que o retrato também queira ser artístico.

É uma coisa que sempre me fez impressão, desde a infância (desde pequenote que visito museus...), por ver que um decote ou uma mini-saia era uma coisa mais escandalosa que uma estátua de uma mulher, completamente nua.

Voltei a pensar nisso, ao olhar um dos livros que li nas férias, "Filipa nesse Dia", de Urbano Tavares Rodrigues (uma estranha história de amor do Alentejo do latifúndio...), com capa de Francisco Simões.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


segunda-feira, julho 15, 2024

O extraordinário Fernão Mendes (cada vez menos "Minto"...) Pinto


Um dos livros que levei para ler nas férias foi "Na Senda de Fernão Mendes Pinto", de Joaquim Magalhães de Castro.

O autor não só desmonta muitas das falsidades que se foram escrevendo sobre este grande aventureiro, que felizmente se tornou escritor de viagens, quando estes ainda não existiam, como prova a passagem desta figura histórica pela China, Japão e muitos outros orientes. É importante recordar que Fernão viveu os últimos anos da sua vida no Pragal, em Almada, onde escreveu a "Peregrinação".

Neste caso particular, o tempo tem sido amigo do escritor português, pois, ano após ano, o seu registo histórico vai-se valorizando, pela quantidade de informação - cada vez mais respeitada e enaltecida - que nos ofereceu e também pela forma como conta as suas peculiares epopeias, positivas e negativas. Ou seja, afinal não é o "mentiroso" que muitos pensavam e difundiam.

Publico esta fotografia especial, de um amigo que já não está por cá, porque neste ano de 2024, se comemora o centenário do seu nascimento: o também almadense Fernando Barão. Fotografia tirada numa tertúlia histórica de Almada ("As Tertúlias do Dragão", organizadas pela SCALA no Café Dragão Vermelho...), com o Fernando a encarnar com graça e história, o extraordinário Fernão Mendes Pinto.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, julho 14, 2024

"Não tinha rua"...


O primeiro período de férias já foi.

Há algum tempo que não lia tanto (tem sido sempre assim...). Como de costume houve palavras que tiveram mais peso que outras.

E lá vou voltar a Maria Judite de Carvalho, que em 1963 (um ano depois de eu nascer...), quando escreveu o livro "As Palavras Poupadas", já fazia um retrato tão actual da sociedade, no conto "A Sombra da Árvore":

«As pessoas caminhavam em frente sem se voltarem para os lados onde havia outras pessoas que seguiam também em frente. Atropelavam-se, esmagavam-se umas às outras e não paravam para olhar. Era isto afinal a vida. A vida como as pessoas a entendiam. Todos tinham onde chegar e lá iam, rua fora, com uma pressa doida. Só ele se sentia perdido, não achava o caminho para a sua rua. não sabia qual ela era, não tinha rua.»

Talvez o mundo nunca fosse tão diferente como queremos fazer crer...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, julho 12, 2024

É mais diferente do que o que poderá parecer, falar e escrever sobre a vida dos outros...


Como de costume, li bastante nas férias (mais até na praia, nos intervalos entre o banho e o "torrar" na toalha...).

Quando leio também escrevo. Este período também é bom para ter conversas descontraídas, com a que tive com a minha filha sobre as minhas preferências literárias e também sobre o que mais gosto de escrever.

Não gosto de José Gomes Ferreira e Maria Judite de Carvalho, por um mero acaso, sei que me dá bastante prazer escrever sobre o quotidiano, ser um "observador" deste mundo que nos cerca (aliás, é esse o grande "alimentador" deste Largo...).

Ela acha estranho que eu não goste de falar sobre a vida dos outros, mas adore escrever sobre a vida outros. Foi por isso que tive de "desmontar" esta falsa proximidade. Podem parecer coisas iguais, mas são completamente diferente. Normalmente o que se escreve é pensado, depois de se ouvir e olhar. Infelizmente isso acontece pouco com o que se diz, basta olhar para se falar, sem se quer nos darmos ao trabalho de pensar...

Ficou mais ou menos esclarecida.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quarta-feira, julho 10, 2024

"Era como se as pessoas não tivessem crescido ou como se o tempo se tivesse esquecido delas"


Nestas férias voltei a Maria Judite de Carvalho e às suas "Palavras Poupadas" (prémio Camilo Castelo Branco).

Como de costume foi um prazer. É por isso que transcrevo um bocado de um parágrafo do conto "Uma História de Amor":

«Descia do eléctrico e tinha de fazer um pedaço de caminho a pé. Encurtava-o passando pela minha antiga rua. Divertia-me, mas a maior parte das vezes, perturbava-me ver à mesma porta, à mesma janela ou a sair da mesma loja as pessoas que há dez anos eu ali havia deixado. Dir-se-ia que só tinha corrido dentro do tempo, e que ele era para outras pessoas uma entidade estática. Um dia entrei por simples curiosidade, a fim de me documentar, na tabacaria da esquina e vi que o dono da loja conversava com o mesmo homem de um dia qualquer dos meus verdes anos, sobre um desafio de futebol que talvez não fosse o mesmo da outra vez, mas que não era com certeza muito diferente. Era como se as pessoas não tivessem crescido ou como se o tempo se tivesse esquecido delas.»

Acho que isto só não aconteceu (ou algo parecido), a quem nunca mudou de casa e de rua...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, julho 08, 2024

O mar, sem ser ruidoso, é a voz mais forte da praia...


Este mar do sotavento algarvio, mais Mediterrâneo que Atlântico, está longe de ser "falador" como o do meu Oeste, mesmo assim é quem mais fala e barafusta na praia.

Passamos minutos sem ouvir uma voz humana. De longe a longe aparece a senhora das bolinhas, a quebrar a monotonia humana. As pessoas preferem ler livros (esta praia é muito culta, há uma grande percentagem de leitores...) e o smartphone a falar umas com as outras.

Quase não há crianças. É tão estranho. Parece que as gerações a seguir à minha se esqueceram de que as crianças são a alegria das casas... Foi por isso que só ao terceiro dia de praia vi duas crianças já grandotas a fazerem um castelo de areia, coisa que fiz sempre com os meus filhos, pelo menos até eles terem dez, onze anos.

Claro que não me estou a queixar, estou a constatar. Se quisesse ficar cheio de vozes humanas na praia, fazia férias em Agosto.

Felizmente na casa ao nosso lado, onde estão avós, filhos e netos, há um menino com menos de dois anos (ainda usa fralda...) a partir das oito da manhã anda e fala - mesmo que ainda não se perceba bem o que diz - sem parar, põe tudo em alvoroço, especialmente o avô, que é uma espécie de "guarda-costas"

É o melhor exemplo do que escrevi anteriormente, o pequenote é mesmo a alegria da casa...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


sábado, julho 06, 2024

A dificuldade que as pessoas têm em sair no momento certo...


Eu sei que é muito difícil sair no tempo certo. E isso tanto acontece com quem exercesse cargos de poder, como nas carreiras profissionais. 

Joe Biden deverá ser o exemplo maior, de quem já não tem as condições que se exigem a um presidente de qualquer País, devido ao peso natural da idade (mas o senhor não desiste...). 

Os anos não perdoam. Basta olharmos à nossa volta para sentirmos que poucas pessoas percebem que o seu tempo já passou...

Posso dizer o mesmo sobre Cristiano Ronaldo. Provavelmente vai insistir em continuar na Selecção até ao próximo Mundial. Mas este era o tempo certo para ele abandonar a "Equipa de todos Nós", pelos quase quarenta anos, mas sobretudo pela sua prestação neste Europeu do nosso descontentamento (mesmo que não tenhamos sido em nada inferiores aos franceses...).

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quinta-feira, julho 04, 2024

Tempos para recordar, tempos para esquecer...


Embora seja muito cedo para se fazerem contas ou estudos, a pandemia parece-se cada vez mais com uma divisão histórica. Sabemos que não é, mas que parece, parece...

Tenho notado isso várias vezes, por pequenas e grandes coisas. Hoje voltou a acontecer, quando a minha filha reencontrou uma amiga de praia que não via há quatro anos. Eram duas adolescentes e hoje são duas mulheres.

O reencontro pareceu-me feliz, pela conversa animada. Ao longe, apenas posso dizer que cresceram um palmo, passaram da secundária para a universidade, e um dia destes acabam os cursos e passam a fazer parte da chamada "vida activa"...

Voltando à pandemia, foi um tempo terrível, em que se perdeu muita coisa, até vidas humanas. Pessoas que nunca mais vimos e que não voltaremos a ver, umas próximas outras que apenas se cruzavam connosco, nas ruas, nos cafés,  transportes públicos.

Talvez seja por isso que a sensação maior continue a ser de perda...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


terça-feira, julho 02, 2024

O sul do nosso contentamento...


Este é o "sul do nosso contentamento", há mais de uma dúzia de anos.

Talvez até seja difícil de acreditar, que é possível estar na praia, sem ninguém muito próximo, a sentir a calma do mar nos "algarves"... E não menos importante, são os cheiros do pinho e de outras plantas, quase aromáticas, no caminho para casa.

Temos menos "internet" que  noutros anos, algo que até acaba por ser saudável, dando-nos espaço para outras coisas, quase do antigamente...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)  


sábado, junho 29, 2024

O carrossel do tempo...


O tempo não é de final de Junho. Tal como em Janeiro não tivemos sempre tempo de Janeiro.

Não vale a pena falar sobre as alterações climáticas e a nossa passividade (somos bons a fingir que tudo vai bem...).

Ano após ano, fomos tornando o nosso dia a dia num "carrossel", onde pode chover e fazer sol, minuto sim minuto não, cada vez com mais naturalidade.

É por isso que é no mínimo estranho, partir de férias para o Sul com um céu de Inverno...

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


sexta-feira, junho 28, 2024

Olhares de cá e olhares de lá


Ao olhar para as fotografias, lembrei-me das palavras de um grande retratista. Com algum humor, ele disse-me que depois dos candeeiros, dos bancos, das portas, das janelas e das árvores, aparecem sempre as pessoas.

Primeiro de uma forma tímida. Depois habituamo-nos a roubar rostos e bocados de corpos e nunca mais paramos. E sem darmos por isso, as pessoas passam a ser a melhor "paisagem" das fotografias.

E ainda me disse outras coisa, como há quem goste de ficar em fotografias, até era capaz de focar um ou outro sorriso...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, junho 27, 2024

As habituais contradições do dia seguinte...


Não tinha pensado escrever sobre a Selecção e sobre o Europeu, por sentir (como de costume...), que as espectativas estavam demasiado altas.

E continuo a pensar, que não há nada melhor que uma derrota, para colocar toda a gente com os pés no chão. Claro que não é preciso viajar do 80 ao 8, nem os "bestiais" passarem a "bestas", em apenas noventa minutos... Muito menos que o senhor Martinez passe a ser apenas o "espanhol" (sim, com letra minúscula).

Continuo a pensar que não somos a melhor Selecção da Europa. Mas também acredito que tudo é possível, basta que a sorte fique no nosso lado (o que não aconteceu ontem, além das ofertas que fizemos, o árbitro também era do clube dos que "não gostam do Ronaldo" (é a única explicação para não marcar o penalty das puxadelas da camisa...).

Só espero é que os jogadores pensem como eu. Faz muito mal a qualquer equipa, achar que são "os melhores da europa", antes de jogarem. 

É muito importante respeitar os adversários.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 26, 2024

Não é nenhuma novidade , de que «há gente para tudo»...


Nunca mais tinha entrado no café. Preferia parar na pastelaria. Mas naquele domingo a pastelaria estava fechada e ele lá entrou, de fugida, no café, para beber a bica da manhã. 

A cara não me era desconhecida. Mas não lhe dei muita atenção, embora tenha percebido que foi atendido com maus modos e foi por isso que mal bebeu o café saiu pela porta fora.

Mal ele saiu, a dona do café começou a "pintar-lhe a manta", dizendo que «Há gente para tudo.»

A minha companheira disse-me que ele morava na Avenida e era deputado, desde as eleições de Março.

«Vejam lá, que o merdas até mudou de penteado e comprou óculos redondos cor pele de tartaruga», continuou a mulher atrás do balcão.

Um dos clientes encostado ao balcão deu a novidade de que o tipo ainda não usara da palavra nos Passos Perdidos. Estava lá apenas a para fazer parte do coro dos "muito bem", assim que alguém acabava de falar, e bater palmas, claro.

«Faz cá tanta falta como a fome!» Insistiu a dona do café.

Entretanto nós saímos, com a sensação de que a conversa estava longe de ter acabado.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 25, 2024

Tentar pensar "dentro dos outros"...


O Cacilheiro ainda é "margem-sul", não tens pensamentos sobre o que te rodeia, como eu tive, hoje, no interior do Metro.

Andei atrás no tempo e recordei as minhas primeiras viagens a Lisboa, ainda adolescente, com o meu irmão (ele já devia ter mais de dezoito anos e eu apenas dezasseis e viemos à Capital provavelmente por causa da Universidade, em que ele se preparava para entrar...). Mesmo assim, só dava para sentir o "cheiro a novidade", todo aquele movimento e a quase indiferença das pessoas pelo que as rodeava. Não dava para descobrir muito mais, entre aquele viver e o da nossa cidade de província.

Só quando vim viver para Lisboa (Cruz Quebrada) é que senti mesmo na pele as grandes diferenças, a quase desumanização da sociedade, mais interessada em coisas de somenos, como conseguir "chegar a casa", ao fim de um dia de trabalho ou de estudo... Era uma cidade diferente, esta, do começo da década de oitenta do século passado, mais velha, mais cansada e sem capacidade para explorar o seu melhor (vivia-se de costas voltadas para o Tejo e para os bairros típicos, onde a degradação era demasiado visível, lugares que hoje são os seus melhores cartões de visita, mesmo que sejam só isso...).

Lá estou eu a mudar de assunto ou a ir longe de mais com as palavras...

O que eu pensei, ao olhar aquela gente, mesmo que muitos fossem de fora, era o que viam no buliço da cidade. Provavelmente, vêm coisas diferentes... Os que têm a pele mais escurecida, que chegam das índias, devem achar que em Lisboa é tudo mais calmo ,que nos seus países de origem, demasiado desorganizados e habitados, e também com mais poluição e pobreza... Os das europas não devem pensar muito. Gostam sobretudo do nosso "exotismo" (mesmo que esteja a desaparecer...), dos preços das coisas e da nossa simpatia (mesmo que seja hipócrita...). Ou seja, em quarenta anos, este Lisboa, não tem quase nada da que descobri no fim da adolescência.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, junho 24, 2024

«Sempre se mentiu muito. Ajuda a viver.»


Como é que eu podia desmontar uma frase como esta? Não podia...

O Carlos estava certo, tal como o seu cigarro, que emergia de um mundo já quase sem fumadores clássicos.

Eu sabia que a mentira é como aquelas facas que se usam apenas nas conversas e que têm dois gumes. Tanto ajuda como desajuda a viver. Depende sempre da forma e do método com que é usada.

Foi por isso que não disse nada. Ele fingiu não perceber e mudou de assunto. E ainda bem, falou-me de um escritor que eu desconhecia, Nelson Aldren. Era americano. Havia um ou dois realizadores que adaptaram os seus romances para o cinema. Adiantou-me que ele escrevia sobre as pessoas que não contavam, os pobres, os desgraçados, os marginais. E ainda me disse que ele era de Chicago...

E rematou a conversa, dizendo que o Aldren era incapaz de mentir, nos livros e, provavelmente, na vida.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, junho 23, 2024

O Sol é mesmo um Deus...


No nosso canto, ainda só sentimos umas ligeiras transformações, até porque gostamos de Sol (ainda existem campos de golfe no Algarve e tudo)...

Mas no Mediterrâneo as coisas estão longe de ser simples e fáceis.

Ainda estamos em Junho e já se fecham ilhas (aos turistas...), como aconteceu em Capri, na Itália, porque a única água que existe por lá em abundância, é a salgada.

Segundo as notícias do mundo, há várias regiões do planeta (em vários continentes...) onde as temperaturas têm ultrapassado os 50 graus, como se fosse uma coisa normal.

Continuamos a fingir que não é necessário mudar de vida. Não sei bem porquê. Ou talvez saiba.

Sempre fomos bons a inventar coisas, como se a autodestruição fosse o caminho... 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 22, 2024

Contradições que escapam à compreensão de quem tem dois dedos de testa


Eu sei que os políticos e a sua prática diária - cada vez com mais contradições - está longe de fazer parte da compreensão da maior parte dos portugueses.

Mas quando se começa a entrar no jogo do "vale tudo", 

Como é que se pode compreender, que a mesma pessoa que é boa para ser candidata ao cargo da presidência do Conselho Europeu, com o apoio do PSD, possa ser envolvida num caso em que não teve qualquer interferência (caso das gémeas...), apenas por ter recebido um e-mail (provavelmente de informação e que deve ter o mesmo destino de uma boa parte da correspondência electrónica...), com os votos dessa mesma força política.

São todas estas coisas, no mínimo, esquisitas, que afastam cada vez mais as pessoas do mundo da política e das eleições...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, junho 20, 2024

Os cheiros e outras coisas parvas que fazem parte das conversas


Há dias que falamos sobre coisas parvas. Sei que isso acontece porque este mundo que nos rodeia, também está cada vez mais parvo...

Não vou ao exagero de dizer que está tudo mal nessa coisa que dizem ser a mais inteligente que habita neste planeta quase redondo. Mas o normal é encontrarmos mais caras sisudas que caras sorridentes nas ruas e nos transportes públicos.

Não sei quem foi que começou a falar de "cheiros", mas acho que foi a senhora que disse que teve de fingir que estava com alergia logo de manhã e tapar o nariz, e logo às oito e alguns minutos da manhã, porque um dos companheiros de viagem não devia gastar dinheiro em desodorizantes e também devia evitar tomar banho para poupar água...

Claro que depois a Capital quase que veio abaixo, porque Lisboa há muito que não cheira bem. E diziam eles, que era por causa de quem vinha de fora, não de férias mas em trabalho...

Estavam certos. Se em muitas casas vivem mais de uma dezena de pessoas, deve ser complicado ter condições para dormir, quanto mais para um banhito... E nem vale a pena falar de quem vive em tendas.

Vá lá que só se falou do cheiro do sovaco, não se falou do cheiro dos lugares mais recatados, que fazem as vezes de urinol público...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 19, 2024

Falar para o microfone é uma coisa, falar com a bola é outra coisa...



As coisas mudaram muito no nosso país, inclusive no futebol, onde se ganha muito mais dinheiro que há cinquenta, sessenta anos.

O normal é que as diferenças monetárias também se intrometessem na cultura e na educação (mas nem sempre acontece...).

Esta pequena entrada deve-se a um comentário que ouvi sobre um jogador da selecção, que além de ter dificuldade em falar para a televisão, não falava com clareza. 

Foi quando me lembrei de uma história contada por um dos nossos grandes jornalistas, Carlos Pinhão, quando se sentiu na obrigação de perguntar a outro jornalista, que estava a criticar de uma forma abusiva a dificuldade que um dos nossos grandes futebolistas tinha em se expressar - ainda por cima tinha vindo das "áfricas", ou seja a sua instrução devia ser diminuta -, "se ele tinha sido contratado para discursar ou para resolver jogos com golos". 

E o bom do Carlos lá obrigou o outro senhor "a meter a viola no saco" e a escolher outro, para o "canal da critica", porque ele fazia golos de toda a maneira e feitio...

(Fotografia de autor desconhecido - uma homenagem a Fernando Vaz e ao Vitória de Setúbal, que tinha acabado de ganhar a Taça de Portugal com estas três excelentes "pérolas negras")


terça-feira, junho 18, 2024

Agora é tempo do "país do futebol"...


Nós agora somos um país de muitas coisas, depende sobretudo da "moda" da semana ou do mês.

E a moda do mês de Junho (e Julho...) é o futebol. Não o dos clubes mas o das selecções. Por norma costuma ser mais pacífico, embora aconteçam sempre coisas estranhas, aqui e ali.

O que já não é estranho são as horas que todas as televisões lhes dedicam, nem tão pouco os comentadores, normalmente, treinadores, jornalistas ou antigos futebolistas. Pelo menos na área do "comentário da bola", não se vai buscar gente  de quem nunca ouvimos falar (como acontece com a guerra ou com a cultura da batata). 

Claro que, mesmo assim, junta demasiados motivos para desligar a televisão e voltar ao mundo sem futebol...

(Fotografia de Luís Eme - Boca do Vento) 


segunda-feira, junho 17, 2024

Os "filhos do euro"...


Sei que há publicidade e publicidade e que os profissionais do ramo, tentam ir cada vez mais longe.

Não me lembro se os primeiros anúncios sobre os "filhos do euro" já tem nove meses, mas deverão ter. Ou pelo menos deveriam ter.

Falámos sobre isso ao jantar cá por casa, se a taxa da natalidade terá aumentado ou se é apenas mais um anúncio. Todos achámos que não, que um campeonato de futebol não é uma motivação para se encher Portugal de crianças. Mas nunca se sabe...

Já tínhamos falado também sobre as "noivas de Santo António" (acho curioso nunca se falar dos "noivos de Santo António, já faltou mais...), mas aí não estivemos de acordo. Mesmo sem dados estatísticos, achámos que embora seja uma oportunidade, está longe de ter tudo "para dar certo"...

Sim, apesar do "espectáculo" fazer cada vez mais parte da nossa vida, isso não indica que sejamos mais felizes...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 16, 2024

O mundo com "coitadinhos" e com a "gente que só tem direitos"...


Nunca percebi muito bem a quem é que interessa um estado exageradamente assistencialista, como é cada vez mais o nosso. O problema é que à medida que vou procurando respostas, vou descobrindo interesses onde não esperava. Mas a vida é isso...

Sei que quanto mais nos viramos para a direita (a mais clássica, não a liberal...), mais se faz sentir a filosofia de um mundo com "coitadinhos", como se o mundo fosse mais bonito com pobrezinhos e estropiados. Também sei que os socialistas contribuíram para "este estado de coisas", ao evitarem resolver alguns problemas sociais que careciam de alguma urgência, roubando a dignidade a cada vez mais pessoas...

E também se mantém a ligação ao catolicismo mais conservador, que gosta que exista a "esmola", quase como instituição, alimentando a fábula de que os ricos à medida que vão distribuindo umas moeditas aos pobres, "compram" o seu espaço no céu...

Normalmente quem recebe rendimentos mínimos e afins, são as franjas que cresceram (e habitam...) em meios mais pobres, muitos, mesmo jovens, nunca chegaram a terminar o secundário. O mais curioso é a sua filosofia de vida: fazer o mínimo possível e sacar o mais possível ao estado, à igreja ou seja a quem for (fazem da pedincha um modo de vida e são capazes de ir buscas alimentos ao máximo de instituições que puderem, muitas vezes para os venderem, obrigando a que sejam criados sistemas burocráticos, que não permitam estes abusos completamente egoístas). Ou seja, fazem da "esperteza" um modo de vida (só que nós não somos todos estúpidos, como eles pensam...).

E por muito que queiramos proteger ou ajudar esta gente, rapidamente percebemos que não pertencemos a este mundo, onde as pessoas, por serem "pobrezinhas" (às vezes até parece que gostam deste estatuto...), pensam que só têm direitos e nada de deveres...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, junho 15, 2024

«Somos todos malucos. É por isso que continuamos aqui, à espera do Godot...»


Muitas vezes fico sem muitas palavras para meter nos diálogos, quando converso com amigos. Parece que fico preso àquela frase velha e gasta de que, "só sei que nada sei". 

Talvez seja por isso que gosto do depois. Sim, é o depois que me faz acordar com uma vontade imensa de escrever, no dia seguinte e nos outros, sobre as pontas soltas e as outras.

Pois é, a noite tanto é boa como má conselheira.

Aquecia o café e não me saía da cabeça a proximidade daqueles amigos teatreiros com a "Avenida do Brasil". Foi a Rita que disse, num ar alegre, com a concordância geral: «Somos todos malucos. É por isso que continuamos aqui, à espera do Godot...»

Sim, mas além da tal loucura, deve ser preciso alguma dose de marginalidade, e até ausência de amor próprio, como se sentiu no desabafo do Ricardo. A "sopa" que os alimenta, deve ter ainda mais ingredientes, para os ajudar a viver tantas vidas diferentes, esquecendo o "Eu", que é nada mais nada menos, que o primeiro rosto que encontram quando se olham ao espelho de manhã (que quase nunca é de manhã...), e dizem para ele, «estou uma desgraça», como nos contou a Ana a sorrir.

Por serem parecidos com os palhaços, tão são capazes de rir com as coisas sérias, como de chorar, a fingir, porque a personagem que encostaram à pele é ainda mais melodrámatica que eles...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 14, 2024

O teatro é cada vez mais outro...


Ontem estive com três amigos do teatro, que aproveitaram a minha visita, para fazerem contas à vida, para depois acrescentarem que os problemas continuam a ser os mesmos de sempre, para quem a vida nunca foi fácil, neste país que faz "gala" em tratar mal os criadores (quase todos, das artes e letras).

Os únicos que escapam a esta "triste sina" na Arte de Talma são a meia-dúzia de actores e actrizes, que gosta do conforto de fazer parte do clube dos "artistas do regime", ao mesmo tempo que enchem revistas com jogos de "verdade e consequência" e "brilham" na primeira fila das telenovelas.

Os subsídios são cada vez mais curtos, os espectadores cada vez visitam menos as salas... 

Eles sabem que o teatro nunca vai acabar, mas também sabem que cada vez haverá menos companhias ou grupos profissionais...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 12, 2024

O que havia antes do depois (continuação de ontem)...


Para ficarem com uma imagem do que existia antes de se erguer o tal muro no Ginjal, coloco aqui duas fotografias que dão uma panorâmica do que está acontecer  nesta zona rente ao Tejo, da Margem Sul.


Faz-me confusão a passividade das autoridades perante estes aparentes abusos. Parece que tudo é permitido em algumas zonas do Concelho...

(Fotografias de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, junho 11, 2024

A tentação de erguer muros...


O Ginjal está longe de ser "uma terra de ninguém", mesmo assim tem sido um espaço fértil em ocupações, de imigrantes de mais de uma nacionalidade. Um dos barrações, onde esteve alojado o Clube Náutico de Almada foi ocupado por "pseudo-artistas", que andam ao "lixo" pelas ruas da cidade, provavelmente quando esta dorme e criaram uma espécie de "quermesse", com livros, quadros, fotografias e mil e uma bugigangas, que devem vender à melhor oferta.

Só entrei naquele espaço logo no início, quando ainda estava aberto e eles ocupavam um espaço mais recatado. Pouco tempo depois começaram a colocar madeiras nas janelas e portas improvisadas, tornando o que era aparentemente público (abandonado, mesmo com donos...) em privado. Nunca liguei muito a este comportamento, que é mais normal do que parece. Quem ocupa, tenta tornar esses espaços seus...

Mas o que estranhei foi terem erguido agora, um muro em cimento, num espaço antes aberto (será para terem também o seu quintal "reservado"?)... 

Pois é... Mesmo quem vive às vezes preso entre muros, por muito que clame pela liberdade, assim que pode, faz também o seu murozito de estimação...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, junho 10, 2024

Camões do Tamanho de Portugal


Luís de Camões é, sem qualquer dúvida, o nosso grande poeta da história. 

Sei que há Fernando Pessoa, mas não nos devemos esquecer que Camões é do século XVI...

Por hoje ser aquele dia que é muitas coisas, até Dia de Portugal, a melhor combinação continua a ser o Dia de Camões.

E nada melhor que esta fotografia tirada na Feira do Livro, para homenagear o nosso Poeta, que além de excepcional vate, via melhor com um só olho que muito boa gente com dois...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 08, 2024

A partidarização da justiça (cada vez mais às claras)


Ninguém no nosso País deverá ter dúvidas que há uma "partidarização" da justiça, especialmente dentro do ministério público.

Começa a ser norma que na semana antes das eleições, apareça um escândalo qualquer que, normalmente, envolve a principal força da oposição. Ou seja, se for o PS que está a governar, há uma forte possibilidade de que alguém do PSD seja "investigado".  Se for o PSD (ou AD...) que seja governo, acontece o mesmo em relação ao PS. Neste caso a vitima directa é Lacerda Sales, as indirectas são o Presidente da República e a antiga ministra da Saúde, que por mera coincidência, é a cabeça de lista do PS, às Eleições Europeias...

É apenas mais um sector do país a precisar de um verdadeiro "25 de Abril"...

(Fotografia de Luís Eme - Caramujo)


sexta-feira, junho 07, 2024

A medida pessoal do tempo...


Sei que é um exagero dizer que cada um de nós tem uma medida do tempo, mas não deixa de ser verdade, que não vivemos todos no mesmo tempo...

E não estou apenas a referir-me à vizinha que sempre que se cruza comigo na rua, pergunta pelos meninos, "como estão os meninos". E entretanto já passaram quase vinte anos... já estão uma mulher e um homem.

Passa-se o mesmo com os acontecimentos. Se não estivermos a lidar com cronologias, facilmente temos a noção que o tempo é mais lento do que realmente é... Facilmente dizemos que algo que se passou há vinte anos, passou-se há apenas dez.

Ou seja, trata-se de uma imprecisão natural, que faz parte do facto de sermos seres imperfeitos, que à medida que o tempo passa (sempre o tempo), perdemos qualidades, a todos os níveis.

Talvez seja por isso que alguns espertalhaços continuem a pensar que o futuro é a inteligência artificial...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)