Há mais de dez anos estive quase a participar numa aventura oceânica de veleiro, com dois amigos.
O dono de uma "barca" à vela queria muito levá-la para o outro lado do Atlântico, para se recrear, mas faltava-lhe coragem para se meter nos "apertos" do Oceano, durante pelo menos uns quinze dias, se o vento estivesse pelos ajustes.
O meu amigo Tozé era conhecido no meio, pois costumava ganhar umas notas nas horas vagas, com a sua carta de patrão de mar. Conduzia alguns "barcões", desde Lisboa, Figueira da Foz ou Matosinhos, de gente que gostava de passear os seus "brinquedos" no Sul, mas que era pouco afoita para se aventurar em viagens oceânicas.
Quando ele nos lançou o desafio (a mim e ao Henrique), fiquei expectante. Sabia que seria uma aventura e pêras, já tinha andado pelo mar, de traineira e corveta, mas nunca de veleiro.
Estava tudo planeado, até fizemos um fim de semana de mar, ao largo do Algarve, para nos adaptarmos aquela "casa ambulante" (partíamos da Marina de Vilamoura em direcção ao Rio, com escala na Madeira).
Quando até já tínhamos data para a "viagem", o dono do veleiro de doze metros achou por bem aproveitar uma boa oferta e vendeu-o.
Na época fiquei com pena, mas para a família foi um descanso. O meu filho ainda não tinha dois anos...
Senti que perdi a oportunidade de uma vida.
Digo isso porque sei que se me surgisse hoje uma aventura do género, dizia que não, porque uma coisa são trinta e alguns anos, outra são quarenta e muitos...
O óleo é de Brent Lynch.