quinta-feira, junho 30, 2022

O Grande Exemplo de que o Interesse Nacional Fica quase Sempre atrás do Interesse Pessoal e Local


Interessa-me muito pouco falar da "rábula" entre o ministro das Infraestruturas e o primeiro-ministro, que se tornou no grande tema "telenovelesco" das notícias desde ontem à noite. Embora isso explique como funciona a governação socialista...

Prefiro falar do que se têm passado nos últimos quarenta anos. Na escolha (e insistência, com gastos de milhões...) em lugares que se percebe que estão longe de serem os ideais para a construção de um novo aeroporto.

O que tenho percebido ao longo dos anos, é que nunca se conseguiu chegar a uma escolha consensual, porque o interesse nacional tem ficado sempre atrás dos interesses pessoais e locais. O papel de alguns autarcas em todos estes processos tem sido de um egoísmo e mercantilismo sem limites (quase sempre com a cumplicidade de ministros e secretários de estado). Olham mais para as suas regiões, para o que podem ganhar, que para o País e para os interesses de todos nós.

Esta é a principal explicação que encontro para que nunca se tenha encontrado uma solução consensual em quase quatro décadas.

(Fotografia de Luís Eme - Céu)


quarta-feira, junho 29, 2022

Sinais Sonoros da Crise na Minha Rua


Nos últimos dias a minha rua tem sido visitada por um senhor que se faz anunciar como se visitasse uma das nossa aldeias do interior, com a música eloquente do Quim Barreiros, que de alguma maneira está ligada ao comércio do pão. 

Ainda antes de chegar à minha rua já começo a ouvir "Ai, ai, Maria! Gosto de ir à tua padaria."

Embora "o disco da Maria já comece a ficar riscado", percebo que o senhor para sobreviver a estes tempos estranhos, tenha de apostar em novas rotas, mais citadinas, para vender o seu pão alentejano...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, junho 28, 2022

«O mundo como o conhecíamos morreu»


Encontrei-a no centro da cidade à hora do almoço. Cumprimentámo-nos apenas com os olhos, que sorriram de contentamento.

Ela sempre gostou de falar, mas agora ainda estava com mais vontade de dizer coisas. Em pouco mais de dez minutos limitei-me a escutá-la, na sua volta pelo passado recente, de que também fiz parte, em alguns momentos.

Tinha alguém à minha espera, mas não ia estragar aquele encontro, muito menos a vontade dela de comunicar, de falar de amigos comuns, das coisas que nunca mais tínhamos feito.

Fui "salvo" com a chegada de duas senhoras, uma das quais lhe deu um toque no ombro. Disse-lhe para a aproveitar a boleia até a casa... Ela sorriu e disse que sim.

Quando virei costas recordei a frase que todos sentimos e que nem sempre dizemos. E que ela disse por outras palavras: «O mundo como o conhecíamos morreu.»

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, junho 27, 2022

«Como nós bebíamos as palavras do professor Vieira de Almeida»


Um dos trabalhos de pesquisa que estou a fazer é sobre as histórias que fazem parte da história da principal colectividade de Almada. Nesta fase inicial é um trabalho muito gratificante, porque se limita a conversas com vários amigos, que me vão contando as histórias que acham mais interessantes e importantes sobre a Incrível Almadense.

Hoje o meu amigo Francisco recordou alguns dos vultos que eram convidados para abrilhantar as Assembleias Gerais (que eram um acontecimento na então Vila, ao ponto de encher primeiro o Cine-Teatro e depois, já nos anos cinquenta, o Salão de Festas) e também algumas conferências que faziam parte do programa do aniversário, que na actualidade ainda continua a encher o mês de Outubro de Cultura em Almada.

Além do professor Simões Raposo Júnior, um senhor com umas barbas enormes que era um prazer ouvir, por ser um democrata e não ter medo de usar as palavras, todas, nem de "cavalgar" em cima do Estado Novo, para gáudio da assistência. Recordou também a visita do professor universitário, Francisco Vieira de Almeida, enaltecendo o  prazer inesquecível que era estar ali a ouvir durante mais de duas horas aquele distinto filósofo, historiador e político, que além de ser um dos grandes intelectuais portugueses da época, era também um comunicador extraordinário.

O Francisco disse mesmo: «Como nós bebíamos as palavras do professor Vieira de Almeida.» Acrescentando depois, que já ninguém tem paciência para ouvir alguém durante quinze minutos, quanto mais duas ou três horas...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, junho 26, 2022

Este Acordar Tarde Demais...


Este nosso hábito de "acordar tarde demais" para os problemas, faz sempre vítimas, muitas vezes de uma forma irremediável, como aconteceu em Setúbal, com uma menina de três anos, que foi abandonada por todos nós (mesmo sem sabermos...).

Se pensar que o "Estado" somos nós (é o que os governantes dizem...), fomos todos nós que permitimos o que aconteceu à pequenina Jéssica - que na sua tão curta existência, poucas vezes deve ter sentido o significado da palavra amor...

Se por um lado, há por aí demasiadas pessoas que não são dignas de ter filhos, por outro, há demasiados funcionários de serviços de apoio social, que são completamente incompetentes.

Sobra ainda outra pergunta, não menos importante: onde estiveram durante todo este tempo, os familiares, amigos e vizinhos, que deviam ser os primeiros a defender todas as "Jéssicas" deste mundo?

O que não aconteceu, mais um vez...

Além do espectáculo gratuito que é aproveitado pelas televisões, não valem de nada as "esperas" nos tribunais e os "gritos" nos velórios, no dia seguinte. 

Vêm sempre com o atraso fatal de dias, meses ou anos...

(Fotografia de Luís Eme - Peniche)


sábado, junho 25, 2022

Andar Atrás no Tempo (a pedido)


Hoje a minha filha sentiu curiosidade em saber como é que vivíamos sem "internet" e também que música ouvíamos, no fim da adolescência, começo da idade de adultos.

Em relação à "internet", como não existia, não fazia falta nenhuma. Fazíamos outras coisas, diferentes, provavelmente mais saudáveis, porque estávamos menos tempo fechados em casa, "presos" a telemóveis ou computadores. 

Falei-lhe da minha paixão pelo cinema. Durante muitos anos ia uma ou duas vezes (no mínimo) às salas ver um bom filme. Solteiro ia mais vezes, mas mesmo depois de casado, quando ainda não havia filhos, eu e a minha companheira víamos muito cinema.

Praticamente deixei de ir ao cinema, mas continuo a pensar que os bons filmes devem ser vistos numa sala escura, em silêncio e num ecrã gigante.

Nesses tempos via pouca televisão. Mas mesmo assim falei-lhe da existência de um programa de divulgação musical, o "Top +", que nos mostrava os "videoclips" dos discos mais vendidos no nosso país. Algo que não existe hoje, apesar de termos mais de uma centena de canais para vermos... Talvez acabasse por condicionar um pouco o nosso gosto, assim como a rádio (também se ouvia muito mais rádio que hoje...).

Mas ouvíamos muita coisa. Desde as músicas comerciais da moda ao rock português que tinha uma grande vitalidade nos anos oitenta, passando por bandas míticas, como eram os Pink Floyd, os Rolling Stones, os Genesis ou os Dire Straits.

Também quis saber se eu ouvia fado (por saber que hoje gosto de ouvir os nossos bons fadistas...). Disse-lhe que não. A única coisa parecida com fado que ouvia era o Zeca Afonso ou o Adriano.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, junho 23, 2022

«A cidade pode ter turistas, mas os turistas não devem ter a cidade»


Lisboa (e arredores...) voltou a ter uma mão cheia de dias dourados para todos aqueles que vivem do comércio e da indústria turística. 

Não sei se só um povo conformista como é o nosso, é que se limita a abanar os ombros e a distribuir sorrisos, com este regresso  tão desejado da gente de fora (especialmente por governantes e comerciantes).

Talvez sim, talvez não...

Mas está longe de ser um bom sinal este gosto em "servir" toda esta gente que, entre outras coisas, quase que nos "obriga" a falar inglês, como se esta fosse a nossa língua oficial.

Talvez por  falar pouco, a Isabel acerta mais que nós todos juntos. Quando ela disse que vão ser os estrangeiros que se irão fartar do nosso "cantinho", dando como exemplos o aeroporto, que só tem tendência para piorar, tornando os começos e os fins de viagem autênticos pesadelos. E mesmo a comida e a dormida, já não são as "pechinchas" de outros tempos, porque os comerciantes estão "famintos" de dinheiro e também serão eles a "matar" a galinha dos ovos amarelos que brilham...

Foi ela que nos lembrou o que um tal Doug Lansky disse há uns cinco anos: «A cidade pode ter turistas, mas os turistas não devem ter a cidade.»

O problema, é que talvez já seja "tarde para amar"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 22, 2022

«É cada vez mais difícil para os "bons" ganharem qualquer guerra.»


Talvez não seja o mundo, e sejamos mesmo nós, que começamos a ficar diferentes, mesmo sem nos apercebermos... 

Esta mudança de hábitos, quase forçada, terá alguma responsabilidade, pois cada vez é mais difícil gerir com alguma independência o nosso dia a dia. Se não nos distanciarmos, tornamo-nos mesmo "escravos" desta "batalha diária" que nos envolve, minuto a minuto, ao ponto de cada vez termos mais dificuldade em separar o o mundo real e o mundo virtual.

Curiosamente esta transformação da realidade numa outra coisa, tem sido alimentada pela televisão, que tem feito tudo para se manter viva e fazer esquecer os anúncios de "uma morte anunciada", que também foram "decretados" noutras épocas em relação à rádio ou ao cinema.

Mais uma vez, comecei a escrever a desviar-me... 

O que eu queria dizer é que todo este excesso de "verdades" e "mentiras", oficiais, oficiosas ou outra coisa qualquer, faz com que tudo seja discutível, até aquilo que é tão óbvio, que nos entra pelos olhos dentro, como é a morte, o desalojamento e todas as marcas físicas e psicológicas que ficam nos milhões de inocentes, ucranianos, que ainda hoje não devem perceber o porquê desta invasão (por mais ou menos manipulação que seja usada por alguns generais e comentadores, para justificar o injustificável...).

E foi por essa razão que o Carlos nos disse: «É cada vez mais difícil para os bons ganharem qualquer guerra.»

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, junho 21, 2022

A Vida (também) é isto...


A minha primeira reacção foi de estranheza. Não é muito habitual alguém se aproximar de nós, sem o conhecermos de parte alguma, principalmente neste tempos de menos calor humano. 

Estava a arrumar as compras no porta-bagagens quando o homem, cuja idade andava entre os 70 e os 80 anos, se aproximou de mim. Continuei a fazer o que estava a fazer, mesmo quando ele passou a apenas dois metros e olhou para mim. Curiosamente, não parou nem disse uma palavra.

Quando se afastou, olhei-o com mais atenção. Andava calmamente e observava com olhos de ver os carros à sua volta, com a chave na mão. Foi quando percebi que devia estar à procura da sua viatura.

Aquele parque de estacionamento era relativamente pequeno (nem sequer tinha as letras e os números dos dos centros comerciais...), nem era daqueles que nos fazem andar perdidos, com vários pisos, se não fixarmos as cores e sinais.

De vez enquanto carregava no botão da chave, à procura de um sinal, de uma luz... Foi o que aconteceu, pouco tempo depois, numa das pontas do parque.

A vida (também) é isto. Vai-nos roubando frescura e faculdades, à medida que o tempo passa...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


segunda-feira, junho 20, 2022

Atravesso o Rio Sempre com Companhia...


Sempre que atravesso o Rio, levo na sacola um livro ligeiro (quase sempre de poesia, por serem geralmente curtos de páginas...). Hoje levei o "Horto de Incêndio" do Al Berto. É um livro sofrido e dorido, pela doença do poeta e pelo desaparecimento de amigos e provavelmente, amantes...

Lembrei-me de outro poeta, por saber que tinham vários pontos em comum, como era o desaparecimento de uma certa Lisboa, mais vadia e vagabunda, por ter lido na véspera uma frase sua já antiga (do final de 2004, quando deu uma entrevista ao suplemento "Actual" do Expresso).

Mário Cesariny quase que pedia desculpa por "ter sido abandonado" pela poesia:

«Tenho vergonha de dizer isto, parece que estou a armar-me ao Rimbaud. Mas a poesia foi um fogo tão poderoso em mim, que ardeu tudo, só ficaram as cinzas. Sou um poeta esgotado, em toda a acepção da palavra. Não há nada na gaveta e eu próprio sou uma arca vazia, esvaziada, pelo menos.»

Al Berto não foi abandonado pela poesia. Foi sim, por um mundo ainda mais preconceituoso que este dos nossos dias, que já viveu dias melhores...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


sábado, junho 18, 2022

Correr Atrás, à Frente ou ao lado da "Felicidade"...


Era para escrever sobre duas ou três coisas, mas a notícia que narrava a morte de um jovem actor norte-americano, Tyler Sanders, com apenas 18 anos, encontrado sem vida na sua casa, mudou tudo.

O meu primeiro pensamento foi que os jovens que costumam pôr termo à vida (sei que estou a especular, pode não ter sido o caso...), são aqueles que aparentemente têm tudo para serem felizes. Fazem o que gostam e ganham bom dinheiro. Claro que as coisas não são bem assim. Nunca são. Quem escolhe ser actor, está longe de ser uma pessoa feliz. É por isso que precisa tanto de viver outras vidas...

O mais curioso, foi o desaparecimento de Tyler acontecer quase em simultâneo com o do actor francês Jean-Louis Trintignant, com 91 anos, doente há já algum tempo.

Há pessoas como o Jean-Louis Trintignant que parecem estar a mais no mundo do espectáculo, por não usarem na lapela a "estrela de famoso" (podia estar a falar do meu amigo Xico...). Não sobem aos palcos por causa da fama, mas sim porque querem (e precisam) experimentar outras vidas, têm necessidade de começar de novo para voltarem a cometer os mesmos erros... 

Jean-Louis Trintignant nunca conseguiu fugir da "alma" que transportava dentro de si, foi sempre discreto, autêntico e nunca conseguiu esconder a timidez que se sentia na forma como olhava para o lado de fora do mundo. Nem mesmo depois dos 80, quando foi um dos protagonistas do filme "Amour" (2012), de Michael Hanke, ao lado de Emmanuele Riva...

Eu sei que cada vida é um drama, mas poucos viveram a tragédia pessoal de Jean-Louis, que perdeu duas filhas dos três  que teve. E a última de uma forma completamente bárbara (espancada até à morte pelo companheiro...).

E ficou por cá até ao fim, a correr atrás, à frente ou ao lado da "felicidade", essa coisa fugaz que de vez enquanto nos acena a dizer bom dia ou boa tarde...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 17, 2022

A Mentira (em cinco palavras)...


A mentira deixou de nos envergonhar. Ou então nós fomos perdemos a vergonha pelo caminho... 

Falámos sobre isto, quase em trabalho, à volta de uma mesa por causa de um texto quase antigo de Agota Kristof. Sabíamos que havia mais que uma peça de teatro sobre e com "A Mentira", além da de Kristof. Mas nesses tempos a ficção não andava tão embrulhada com a realidade...

A Clara disse que talvez nunca se tivesse ido tão longe, como agora. Provavelmente não. E foi buscar os mentirosos que foram e são chefes de Estado. Ninguém quis ir por aí, por todas as razões e mais algumas... 

Preferimos ir atrás e à frente dos "profissionais de rua". dos burlões que se sofisticaram, na conversa e no vestir. Nas mulheres que ainda fazem cara de inocente para levarem comida da mercearia fiada e depois não voltam. Ou os pedintes que pedem sempre uma moeda para "matar a fome" e nunca para "matar o vício"...

Claro que acabámos por ir parar à ficção. Aí é tudo mais fácil, os "golpes" que se dão, só fazem feridas nas personagens. 

O Tiago sorriu e disse que apesar de tudo, ainda não se tinha inventado nada melhor que a ficção, onde também se pode tirar olhos. Sim,  vale tudo, não há portas nem janelas fechadas.

Depois cada um de nós escolheu apenas uma palavra para sintetizar a mentira. Éramos cinco. As cinco palavras escolhidas foram: Sofisticação. Banalização. Realidade. Dinheiro. Amor.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, junho 16, 2022

Quase um "Teatro do Absurdo" Diário...


Sei que em política o que parece raramente é. É um dos poucos espaços onde mentir "sempre fez parte do jogo". Há quem diga mesmo, que esse é um dos segredos dos homens que quase apodrecem no poder, como aconteceu com Salazar e está agora a acontecer com Putin.

Nos poucos contactos que tive com o poder, a nível mais doméstico, ainda mantenho vivas na memória algumas "mentiras", quase piedosas, ditas para "entreter"que nunca percebi se eram da lavra de um dito vereador, ou se lhe eram ditadas pela presidência. Ficou conhecido localmente pelo "nim", por ser uma personagem bem falante mas muito pouco afirmativa.

O problema é que tudo isto foi ganhando uma dimensão tal (talvez este quase "vale tudo" tenha começado com Sócrates. É importante recordar que um dos seus homens da comunicação, passou depois para o Benfica, onde se deve ter sentido como "peixe em água", nas "guerras" com o FC Porto...), que cada vez é mais difícil perceber onde começa a verdade e acaba a mentira, e vice-versa.

As coisas tornam-se ainda mais graves, quando se percebe que se brinca, cada vez mais, com coisas sérias, como são, por exemplo, a saúde ou a segurança de todos nós. 

O que os governantes e os opositores estão a fazer com o SNS, não nos vai levar a nenhuma coisa melhor, pelo contrário. Vão retalhar cada vez mais o SNS. Nós iremos poder escolher, mas também iremos pagar muito mais... 

A novela do SEF é parecida e parece também não ter fim à vista. De erro em erro, vão se desmotivando profissionais, porque um Governo - devido a um incidente grave, que causou a morte de um estrangeiro, algo que acontece, também, com alguma regularidade, na PSP e na GNR - decidiu que um serviço vital nos nossos aeroportos, devia ser substituído, por uma coisa, que parece que ninguém sabe muito vai o que vai ser. 

A política sempre foi uma coisa "teatral", mas nunca esperei que caminhasse, a passos largos, para este "teatro do absurdo" diário, com a cumplicidade de uma comunicação social, cada vez mais servil, tóxica e telenovelesca.

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quarta-feira, junho 15, 2022

É Mais que uma Tendência, é uma Certeza...


Não sei se faz parte da nossa natureza, se é mais uma defesa, das muitas que criamos com o passar dos tempos... sei que é algo que me desgosta, embora faça parte das nossas vidas.

Mas é um facto que nos sentimos mais protegidos ao lado de qualquer "poder", que fora dele. É por isso que não deve haver nenhuma área da nossa sociedade que resista a esse velho hábito de viver, umas vezes "encostado ao poder", outras debaixo da "sombra do poder".

Também não sei se isso acontece por segurança, comodismo, oportunismo ou outra coisa qualquer. Sei apenas que acontece.

E quem foge destes "encostos" e destas "sombras", a sete pés, é quase sempre apelidado de "parvo" ou "louco".

Isto até poderia ter alguma coisa de positivo, se não nos habituasse a funcionar em "rebanho", com todas as influências e manipulações que partem de quem detém o poder, e que não nos deixam ver as coisas com clareza e justiça.

Pensei nisto, depois de ter estado ao telefone com um amigo, com quem troquei alguns desabafos sobre injustiças que quase nos entram pelos olhos dentro. Como gostamos muito de futebol, acabámos por falar dos problemas que existem desde sempre e que parece que ninguém tem vontade de resolver. 

Quando eu disse que ainda não tinha chegado um "25 de Abril" a este desporto, ele acrescentou às contas a justiça e a igreja, onde também já era mais que necessária, uma "Revolução"... 

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, junho 14, 2022

O Poder dos "Vendedores de Sabonetes" da Televisão


Embora tenha o poder de mudar de canal, sempre que me apetece, incomoda-me ver no que se transformaram os canais generalistas portugueses, sempre com as mesmas caras, a saltitar de canal em canal, para fingirem que cantam ou para ficcionarem a história das suas vidas, naqueles programas apresentados pelos "vendedores de sabonetes" do costume, que se têm em tal conta, que se vangloriam de  de serem capazes de tudo, até de fazer "chorar as pedras da calçada".

Faz-me confusão que nos programas de fins de semana sejam promovidas tantas pessoas, que além de não terem vozes melódicas e afinadas, cantam sempre a mesma canção, sem som ao vivo.

Gostava de saber o que pensa um Sérgio Godinho, um Rui Veloso, um Camané, um João Gil, um Pedro Ayres de Magalhães, um Rodrigo Leão, um Samuel Úria,  uma Dulce Pontes, uma Aldina Duarte, uma Capicua, uma Manuela Azevedo, uma Sónia Tavares, uma Márcia ou uma Ana Bacalhau, sobre o protagonismo que hoje é dado a Marco Paulo (até tem um programa nas tardes de sábado), que andou toda a vida a cantar versões de músicas cantadas por outros artistas...

Infelizmente, este "triunfo da mediocridade", retrata a época em que vivemos, e acaba por se reflectir em quase tudo na sociedade...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, junho 13, 2022

As Marchas, os Bairros e as Colectividades Lisboetas


Provavelmente o meu filho foi excessivamente sincero quando disse, ontem ao jantar, que não conseguia encontrar qualquer encanto nas marchas populares. Não suportava a falta de originalidade, que começava na música, praticamente igual há cinquenta anos, e sem grandes variações, de marcha para marcha.

A única coisa que tem mudado são os cenários e a coreografia. De ano para ano as roupas e os arcos das marchantes vão mudando de cor e de temática, assim como a forma como se apresentam.

Embora saiba que o meu filho tem razão, também sei que há coisas tão ou mais importantes, que o espectáculo na Avenida...

Sim, as marchas são hoje um dos principais incentivos para a sobrevivência de muitas das colectividades, que representam nestes dias festivos os bairros lisboetas. Estas participações, além de trazerem os jovens para o seu seio, animam os seus arraiais, que acabam por ser a principal fonte de receitas para as suas actividades do ano inteiro.

Normalmente nestes dia falo dos dois aniversariantes, os dois Fernandos e os dois Antónios, que continuam a ser tão importantes para Lisboa. Mas hoje apeteceu-me falar do Associativismo Popular Lisboeta...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 12, 2022

Parece que "Não há Bela sem Senão"...


Os acontecimentos de violência do Bairro do Cerco no Porto (ligados à claque do FC Porto...) fizeram com que fizéssemos alguns "jogos de diferenças" no café, entre a Capital do Norte e Lisboa.

Quem conhece - mesmo quase só de relance - o Porto, sabe que as portistas são muito diferentes dos lisboetas, Há uma proximidade muito grande as pessoas, que nem mesmo este turismo de massas (que incide sobretudo sobre as duas nossas cidades maiores...) tem conseguido esbater.

O Carlos disse o óbvio que nos sítios onde se vive com mais dificuldade, as pessoas são mais unidas e mais solidárias. E o Porto ainda tem muitos bairros pobres onde o "turismo não entra" (talvez só a Rua Escura tenha perdido "qualidades" por estar no centro histórico do Porto e ter um casticismo único, mantendo as velhas tascas, muito apreciadas por quem vem de fora e se calhar até prostitutas em vãos de escada, impossíveis de descobrir por exemplo no Bairro Alto...).

O Paulo disse que o Porto não cresceu para os lados como Lisboa, nem nunca empurrou os habitantes no centro da cidade para as zonas suburbanas (as mudanças aconteceram de forma natural e não forçadas como em Lisboa...). Mesmo agora, em que começou a ser moda comprar prédios velhos para instalar alojamentos locais, houve sempre mais resistência das pessoas em deixarem as suas casas, ao contrário do que aconteceu por exemplo em Alfama, Castelo, Graça ou Bairro Alto.

Dissemos muitas mais coisas, evitando falar da violência dos "macacos" e dos "orelhas"... Embora acabasse por surgir à mesa outra violência, que também não pode ser silenciada. Nem tudo o que ficou do século XX e que parece permanecer mais vivo nestes bairros é positivo. A existência de cafés que continuam a ser tabernas, faz com que se beba de mais, que se viva o futebol como se fizesse parte integrante das vidas destas gentes e também que se bata com mais frequência, do que noutros sítios, nas mulheres...

Pois é, parece que "não há bela sem senão", nas coisas pequenas e grandes da vida...

(Fotografia de Luís Eme - Porto)


sábado, junho 11, 2022

O Calor Humano, os Bairros e os Santos


Ao passarmos por qualquer arraial de bairro dos Santos Populares, percebemos o quanto os portugueses gostam do "calor humano" e das festas.

Claro que mesmo não sendo todos, são muitos. Provavelmente são os mais bairristas, os que sentem os Santos Populares quase como uma tatuagem, que mesmo invisível, fica-lhes para sempre no corpo. 

Foi por isso que fiquei a pensar se os antigos moradores de Alfama e de outros bairros típicos (apesar de "terem sido corridos" pelos empreendedores do turismo de lucro fácil), nestas noites especiais, voltam às suas antigas ruas, para matar saudades da vizinhança e das colectividades locais.

Talvez sim, talvez não. Calculo que nem todos gostem das confusões em todas as ruas, que em alguns casos não permitem andar, nem para a frente nem para trás...

Eu por exemplo, menos dado a estas confusões, se sentisse saudades, escolheria dias e noites mais calmas.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, junho 09, 2022

"Um Artista da Fome" (e outros circos, aliás, contos...)


A minha filha leu os "Contos" de Franz Kafka, selecionados por Jorge Luis Borges, para a escola. E eu resolvi aproveitar a "boleia" para ler também, antes dela entregar o livro na biblioteca.

Embora ainda esteja no início desta obra não posso deixar de salientar o conto, "Um Artista da Fome", que embora hoje possa parecer inverosímil (um homem fechado dentro de uma jaula, vigiado 24 horas por dia, para manter o seu jejum, até à hora fatal...), fazia parte  das  diversões presentes nas feiras, onde também se mostravam o "homem-elefante" a "mulher-barbuda", o "homem com seis dedos", entre outras excentricidades que quase chegaram aos nossos dias. Ainda vi o homem mais alto do mundo (as pessoas da minha geração devem recordar-se do gigante moçambicano que mais de dois metros e meio...) ou um pequeno anão, que parecia um bebé e que diziam ser o homem mais pequeno do mundo.

Outro aspecto curioso, foi o "Artista da Fome" (depois de deixar de "ser moda" e morrer quase anonimamente, misturado com as jaulas dos animais...) ter sido substituído na jaula por uma pantera jovem, em que agora o "espectáculo" humano era vê-la comer, principescamente. A natureza humana tem destas coisas, que parecem ser bem captadas nestes contos de Kafka, que rondam o fantástico... ou não fosse essa a sua "imagem de marca" enquanto ficcionista.

(Fotografia de Luís Eme - Óbidos)


quarta-feira, junho 08, 2022

Paula Rego (1935-2022)


«Pinto a verdade. A Guerra Colonial existiu e foi uma vergonha. Faziam-se festas e, no fim, andavam aos pontapés às cabeças dos indígenas. As mulheres, em 1950, viviam vidas tenebrosas. Na Ericeira, de que eu gostava muito, ouvia uma mulher à noite à gritar, lá em cima, no moinho, porque o marido batia-lhe. Chegava a casa bêbado e batia na mulher, que tinha filhos após filhos. Ela dava-os à luz no moinho e criava-os completamente sozinha. Mas ele morreu e ela ainda ficou ali, rija, toda tesa. Isto é triste? Acho que não. Quis mostrar a força extraordinária de mulheres com esta.»

(palavras de Paul Rego, extraídas de uma entrevista na "Grande Reportagem", de Novembro de 2004, que nos deixou hoje...)


(Óleo de Paula Rego)


terça-feira, junho 07, 2022

Um País que não se Reforma e o Poeta que não Escreve apenas Poemas...


Vou voltar ao livro "A Essência do Comércio" de Fernando Pessoa, desta vez por uma questão mais laboral que comercial.

Fernando Pessoa neste pequeno livro também aborda a forma como a sociedade está organizada. Quem o ler, pensa que ele defende as ideias da "Iniciativa Liberal", mas não é bem assim... Ele está sim, farto de país que parece ingovernável. É por isso que é muito importante situarmo-nos no seu tempo (o texto foi escrito em Fevereiro de 1926, ainda na Primeira República, onde se assistiu a quase um "PREC", que foi aquecendo em lume brando, ao longo dos quase 16 anos de "desnorte" governativo, com cada vez mais descontentamento popular, que acabaria por gerar uma ditadura que durou 48 anos...).

Farto de assistir a todo o género de "oportunismos", no seio da administração pública, Pessoa defende uma sociedade com pouco Estado. Claro que ele não lidou com o "capitalismo selvagem" dos nossos dias...

Lá estou eu "a fugir" ao que queria escrever...

Hoje fui às Caldas e numa das artérias da cidade, estavam a arranjar um passeio. Eram dois funcionários que ali estavam a trabalhar (aliás, a fingir...). Como sempre, ainda de manhã, dou uma volta pela cidade. Quase uma hora depois, quando voltei a passar rente ao passeio, vi que estava tudo igual: as ferramentas continuavam encostadas a um muro e os dois trabalhadores também se mantinham na conversa. Voltei a ter de passar pela estrada (tal como todas as pessoas que passavam por ali...) e pensei que estas pessoas, como normalmente não são muito bem pagas, acham que também têm de trabalhar pouco...

Há quase cem anos, Fernando Pessoa, escreveu: «Nenhum homem de verdadeira energia e ambição entra para o serviço fixo do Estado. Não entra porque não há ali caminho para a energia, e muito menos para a ambição.»

Infelizmente não se aprendeu nada em um século. Muitos dos impostos que pagamos são para pagar ordenados na função pública, onde como muito bem diz o Poeta, não há ali caminho para a energia nem para a ambição (eu acrescentava exigência...) e é por isso que continuamos a ser tão mal atendidos em dezenas de serviços públicos. Além de estarem com  cara de quem "precisa de ir ao WC", informam-nos muitas vezes de forma deficiente, obrigando-nos a ter de voltar aos seus serviços... E nem vou falar da saúde, onde os serviços públicos estão muito piores que antes da pandemia. Os médicos e os enfermeiros continuam a achar que temos de esperar pelo menos uma hora, até sermos atendidos...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)

 

segunda-feira, junho 06, 2022

Parece que "isto está tudo ligado"...


A pandemia transformou-nos muito mais do que queríamos. Não conseguimos voltar a ser as mesmas pessoas porque o mundo à nossa volta também não voltou a ser igual. 

Claro que o uso abusivo do telemóvel também ajuda a toda esta desumanização crescente. É graças a ele, que não se olha, não se fala nem se respeita o outro. O "outro" passou a ser quase um objecto.

Lá vou eu "misturar" as coisas, mas é mais forte que eu. 

Se o poeta Guerra ainda estivesse entre nós, provavelmente também insistia na tese de que "isto anda tudo ligado"... 

O que eu sei é que não é normal, que um jogo de hóquei em patins entre o Benfica e o Sporting, disputado no sábado, acabasse quase num combate, com "stikadas" e socos entre os atletas dos dois clubes. Se fossemos um país em que a justiça funcionasse, uma boa parte destes jogadores seria suspenso por mais de um ano e teriam de pagar multas exemplares. Mas como são jogadores dos poderosos Sporting e Benfica, devem apanhar apenas três ou quatro jogos de castigo (se apanharem...) e finge-se que está tudo bem.

Muito menos normal são as "guerras" no interior da claque mais importante do FC Porto, que já provocaram duas mortes. Quase toda a gente diz que isso não tem nada a ver com o futebol. Será? Até parece que a "clubite aguda", essa autêntica praga que cerca cada vez mais o futebol, em particular, e o desporto em geral, pertence a outro mundo qualquer.

Não deixa de ser curioso, que não se ouça ninguém do Governo a falar sobre estes casos, muito menos a anunciar medidas exemplares contra os prevaricadores...

Talvez se continue a insistir na tese habitual: "ao desporto o que é do desporto", "à sociedade o que é da sociedade", como se  vivêssemos em mundos paralelos.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 05, 2022

O Poeta Pina e as Palavras que Fazem Equilibrismo Dentro dos Livros...


No meio de um poema do livro, "Os Livros", Manuel António Pina diz que: "A literatura é uma arte escura de ladrões que roubam a ladrões".

Sei que esta frase pode ser quase deliciosa para quem gosta de discutir o "sexo dos anjos", porque parece ser provocatória e capaz de dar espaço a demasiadas interpretações, do lado de quem não se alimenta de palavras.

Mas quem escreve, sabe muito o que o poeta Pina quer dizer. 

Tantas vezes que saímos para a rua, apostados em "roubar", no mínimo, duas ou três pessoas, que têm dentro de si algo que só é descodificado por quem precisa muito de alimentar o espírito e dar corda às palavras que fazem equilibrismo dentro dos livros.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 04, 2022

Quando uma Pessoa Justa Comete Injustiças...


Como sei como fomos Campeões da Europa (com muita sorte e  muitas orações à "senhora de fátima"...), nunca endeusei Fernando Santos, que embora reconheça que é um excelente líder e ser humano, também sei que tem algumas limitações a nível técnico, táctico e na leitura de um jogo de futebol. 

Não é por acaso que a sua Selecção  nunca conseguiu jogar um futebol atractivo, próximo do nível da qualidade dos futebolistas, que são dos melhores do mundo. Penso que não se trata apenas de um problema de Santos ser um "resultadista", mas sim, de não conseguir (vá-se lá saber porquê...) colocar os jogadores nas posições onde se sentem mais confortáveis e obtêm maior rendimento.

Mas não é disso que quero falar. Quero falar sim, do facto de ele ser um homem bem formado e justo e mesmo assim ter cometido uma grande injustiça a um dos melhores guarda-redes do mundo: o nosso Rui Patrício.

Nunca percebi (nem irei perceber...) porque razão tirou o Rui da equipa para colocar Diogo Costa como titular na baliza (não sei se houve pressões do FC Porto, por o jogo onde ele se estreou como titular ter sido o Estádio do Dragão, mas acho que já passámos essa fase, em que alguns dirigentes escolhiam os jogadores que iam à selecção...). 

Embora o Diogo seja um belíssimo jogador, está longe de ter a experiência e a maturidade de Patrício. E como isso se notou em mais um jogo que merecíamos ter perdido (ainda bem que não há justiça no futebol...), com a selecção espanhola.

É possível que ainda haja quem faça muitas orações à "senhora de fátima" e acenda velinhas, no seio da Selecção...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 03, 2022

Perguntar as Horas para Ouvir as Vozes das Pessoas que Passavam...


Subia a avenida quando uma senhora com mais de oitenta anos, que estava à sua janela, num daqueles prédios com cave e com rés de chão alto, com um ar doce e cândido me perguntou se eu lhe dizia as horas. Apanhado de surpresa, olhei para o telemóvel e disse as horas à senhora, que se mostrou muito agradecida.

Meia-hora depois, desci a avenida, em sentido contrário e reparei que a senhora continuava à janela e a fazer a mesma pergunta a quem passava. Percebi porque uma das pessoas ainda usava relógio, olhou para o pulso antes de lhe responder...

Não sei se a senhora tinha algum problema de saúde ou se padecia apenas de solidão... e tinha necessidade de olhar para as pessoas e de ouvir as suas vozes, mesmo que fosse para apenas lhe oferecerem horas e minutos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, junho 02, 2022

Conquistar (ou Não) Novos Leitores...


Um dos blogues que visito diariamente é o "Horas Extraordinárias". O ponto comum que existe entre as pessoas que costumam passar por lá, é o amor pelos livros.

Muitas vezes fala-se de coisas quase impossíveis. Hoje foi um desses dias. Falou-se da procura de novos leitores, num tempo em que já nem sequer se compram livros para decorar as salas (as casas das pessoas de hoje já não fazem qualquer questão de terem livros...).

Isso fez com que me lembrasse de duas visitas que fiz a duas escolas (os Salesianos do Estoril e a EPED do Monte de Caparica), em que o objectivo principal era "convencer os alunos a ler"... A visita à escola da "linha" deve ter sido há uns vinte anos (ou mais...). Lembro-me que fiz a "história da minha vida de leitor", até me socorri de imagens de capas de livros de banda desenhada que foi o que mais li na infância e no começo da adolescência... e disse-lhes que ao contrário do que um tio vaticinava, a banda desenhada nunca fora uma má influência. E ainda bem que os meus pais nunca nos proibiram de ler estes livrinhos, que acabaram por ser o "bilhete" para outras leituras, sem a ajuda das imagens... 

Sim a leitura faz-se como todas as outras coisas, "caminha-se, caminhando", e cada vez se procuram novos desafios, de preferência mais profundos e inquietantes. Também falei das muitas viagens que fiz pelo mundo fora, sem sair do lugar... Percebi que alguns alunos não ficaram muito convencidos com esta parte (principalmente na EPED, talvez por os alunos serem mais crescidos...), mas qualquer bom leitor, sabe que é verdade.

E disse-lhes também que a melhor coisa para "agarrar leitores", são os livros bem escritos e com boas histórias, capazes de nos prenderem do princípio ao fim. Devo ter dado mais que três exemplos. Mas de momento só me lembro de ter sugerido três livros a estes jovens que fingiam querer ler... ("O Malhadinhas" de Aquilino Ribeiro, "Os Capitães da Areia" de Jorge Amado e "O Velho que Lia Histórias de Amor" de Luís Sepúlveda).

Claro que nunca fiquei muito convencido de ter conquistado novos leitores...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 01, 2022

A Empatia e as "Primeiras Impressões" em Relação ao Outro...


Ontem quando estava a ver o o jogo de ténis do apuramento para as meias-finais do Roland Garros (uma final antecipada...), entre Rafael Nadal e Novak Djokovic, que durou mais de quatro horas, pensei porque razão, estava eu ali, em frente do ecrã, a querer tanto que Nadal vencesse Djokovic. O que acabou por acontecer.

Não é pela proximidade geográfica. Provavelmente, será sim, por conhecer o passado de ambos e perceber que Nadal, por razões de saúde, terá mesmo de abandonar os grandes palcos deste espectáculo fascinante, que é ténis, ao mais alto nível, brevemente. Isso fez com sentisse que seria notável se o espanhol se despedisse de Paris com uma vitória (onde é o recordista de vitórias no torneio, "treze"...).

Outro exemplo é o que acontece na fórmula um, onde não consigo gostar de Max Verstappen. Começa logo pelo seu rosto, que me inspira tudo menos confiança. E depois passa também pelas suas atitudes nas pistas. Prefiro de longe a postura de Leclerc ou de Hamilton.

O mais curioso, é que esta maior ou menos simpatia, rege-se sobretudo pelo conhecimento exterior, pelo que olhamos na televisão, pelas notícias que lemos. Max não tem a culpa de ter nascido com aquele ar estranho e até pode ser boa pessoa fora do circuito da fórmula um...

Mas as coisas são o que são. E muitas vezes deixamo-nos levar pelas "primeiras impressões", que podem ser "falsas como judas"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)