Talvez o nosso país seja mesmo um pesadelo. Segundo muitos "pessimistas", desde sempre.
Há argumentos para todos os gostos. Profetas da desgraça que contam sempre a "estorinha" do filho que bateu na mãe (detesto ouvir esta babuseira), no começo da nossa história, acrescentando que o que nasce torto nunca se endireita (até apagam o tarde...).
Outros recorrem ao Eça, sempre actual. Esta utilização da literatura nem é grande novidade, os pessimistas de outros países também recorrem aos "clássicos" e até aos grandes filósofos, quando é preciso dizer mal. E há ainda quem regresse à "roma imperial", quando um centurião qualquer, cansado de lutar contra os lusitanos, disse qualquer coisa do género: «estes parvalhões dos montes nem se governam nem se deixam governar.» Enfim, várias "músicas de serrote" para quem gosta do bota abaixo e de nos denegrir como povo.
Outra gente de memória mais esconsa, trás à liça o Salazar, enchendo-o de adjectivos e predicados. Até são capazes de dizer que no seu tempo é que era bom, esquecendo a pobreza e a miséria em que se vivia... e nem falo da repressão, da censura, dos muitos homens e mulheres presos sem culpa formada.
Eu penso que não, nem tudo foi e é mau na nossa história. Falando apenas da nossa história recente, de 1974 a 1986, apesar das constantes mudanças políticas, próprias das democracias, tornámos-nos um país mais justo, com melhor educação, melhor saúde, melhor justiça e melhores condições económicas e sociais.
Onde falhámos redondamente foi após a entrada na Comunidade Europeia. Em vez de fazermos as reformas necessárias, que deveriam visar a modernização e o reforço da democracia no nosso país, desperdiçámos dinheiro e recursos, ano após ano, que tanta falta nos fazem hoje.
Culpados? São sem qualquer dúvida os chefes de governo que alimentaram a ilusão da "entrada na europa dos ricos", sem qualquer esforço ou mudança, de uma forma completamente irresponsável. Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates, bem podem repartir culpas no estado actual do país, sem ser necessário recuar na história...
O óleo é de Kostecki Tomasz.