A pandemia parou quase tudo aquilo que continua a ser "acessório" à sociedade, ou seja, quase tudo o que tem pouco peso na economia do país.
A cultura e os seus agentes talvez tenham sido as maiores vítimas deste tempo estranho, que ainda tornou mais difícil, aquilo que já era difícil. Não sei quem se segue na lista. Talvez seja o desporto amador e de lazer (o futebol profissional deixou de ter público mas esteve parado muito pouco tempo, por ser uma "indústria de milhões"...), com o encerramento prolongado de pavilhões, piscinas, ginásios, sedes de clubes desportivos e muitas outras instalações ao ar livre.
Antes da pandemia tinha feito uma pausa voluntária na minha participação associativa e cultural. Isso fez com que não sentisse tanto na "pele" o fecho das bibliotecas, teatros, auditórios, galerias, sedes de associações, etc. Provavelmente é por isso que só esta semana é que vou participar em dois eventos culturais (lançamentos de livros...).
Pensei nestas coisas porque um dos meus amigos, que é uma mistura de "António Aleixo" e de "Alberto Caeiro", cuja quarta classe somada aos muitos anos de café e de associativismo, vale mais que alguns cursos universitários, fez-me uma pergunta curiosa.
Ele perguntou-me há dias, qual seria a vidinha, neste último ano e meio, de algumas pessoas que nós conhecemos que passavam o tempo a correr atrás de um microfone. Eu disse-lhe que se deviam socorrer dos espelhos de casa, para não perderem o "palco". Havia também a possibilidade de terem descoberto o "youtube"...
Muito tempo antes ele tinha caracterizado esta gente de uma forma exemplar, depois de saber que eu enquanto moderador de uma sessão literária tinha somado mais um inimigo, ao recusar dar-lhe o microfone (havia pessoas convidadas para falar e não estava prevista a participação do público, por falta de tempo... e abrir uma excepção era o mesmo que abrir a famosa "caixa de pandora").
Ele disse-me: "Há pessoas que mesmo sem terem nada de importante para dizer, andam a vida toda a dizer coisas."
A simplicidade da frase tocou-me bastante e faz-me sempre pensar duas vezes quando sou convidado para falar sobre isto ou aquilo em qualquer lugar público...
(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)