Luís Sepúlveda deixou-nos.
Foi sempre um autor especial para mim...
Conhecemos-nos por um mero acaso, quando "O Velho que Lia Romances de Amor", me veio parar às mãos, em 1995. Foi bom voltar a sentir o realismo mágico latino-americano (que já conhecia graças a Garcia Márquez ou Rulfo...).
É por isso que é o autor sul-americano de quem li mais livros (doze, de 1995 a 2018, de "O Velho que Lia Romances de Amor" à "A Lâmpada de Aladino"...), porque quando gosto de um escritor, costumo ler todos os seus livros que se aproximam de mim.
Numa altura em que a Gazeta das Caldas" se interessou pelas pessoas que escreviam livros com ligações à Cidade (deverá ter sido nas comemorações Dia do Livro, graças à Isabel da saudosa "Livraria 107"...) pediram-me um texto para um suplemento, publicado no semanário sobre os "livros da minha vida". Fiz dois textos, um primeiro não com um, mas com os meus "dez livros". Mas depois preferi escolher um autor e acabei por escrever o texto definitivo sobre Luís Sepúlveda...
Não recuperei o jornal (deverá estar "perdido" na garagem...), nem sei exactamente a data em que o suplemento foi publicado, mas consegui descobrir o texto num dos meus discos externos (com uma última revisão em 2008).
Ele fala muito do que eu sou como leitor. Como é um pouco longo, vou transcrever as partes que considero essenciais:
«As minhas preferências ficam-se em alguns aspectos que considero fundamentais. O principal é a história que está dentro de cada livro e que nos dá a possibilidade de viajar no tempo, conhecendo pessoas e lugares, com um encantamento especial. Desde que escrevo, as minhas escolhas também se envolvem num outro detalhe particular, sentir ao longo das páginas, que vou lendo com um prazer desmedido, que gostava de ser o seu autor.
Olhando para trás, penso que "O Velho que Lia Romances de Amor" foi um dos últimos livros, na qual senti isso.
É sempre reconfortante apreender que se pode construir uma bonita história a partir de coisas simples...
Outro facto que faz com que me identifique com o meu homónimo chileno, é o facto da sua escrita ter parágrafos curtos e não utilizar grandes artifícios na linguagem (o jornalismo deixa sempre rasto...).
Quando a personagem principal (António Bolívar) sabia ler, mas não sabia escrever e preferia livros com sofrimentos, amores infelizes e desfechos felizes, podia ser o princípio do fim de qualquer história, mas não, pelo menos com Luís Sepúlveda.
Toda a obra de Sepúlveda é amorável, leva-nos de viagem pelos muitos encantos e tragédias humanas da "latina-américa" do Sul, mas este romance é especial, é um hino de amor à vida, à aventura, à natureza e à poesia.»
"Hasta la vista", Luís...
(Foto de Luís Eme - Lisboa)