quinta-feira, abril 30, 2020

Partir e Chegar de Cacilheiro...


Hoje fui à Lisboa, de cacilheiro.

Na viagem para a Capital correu tudo normalmente, como não havia muita gente, foi fácil "manter a distância"...

No regresso a Cacilhas as coisas foram mais complicadas. Assim que o sinal de abertura do portão soou as pessoas deixaram de se preocupar com as distâncias, só faltou correrem para serem os primeiros a entrar no barco, como se estivéssemos a viver tempos normais.


Por imaginar que à saída seria igual, fui dos últimos a sair do cacilheiro (mas não resisti à tentação de tirar uma fotografia de uma das janelas do "primeiro andar" - as fotografias publicadas são da tarde de hoje...).

Em situações como esta, não há qualquer dúvida, tem de ser mesmo obrigatório, o uso de máscaras em transportes públicos (apenas um terço dos passageiros usavam máscara...).

Também estranhei que não houvesse qualquer controle nas entradas de passageiros (os últimos a entrar acabaram por sentar próximo de mais, de quem já estava sentado...).

(Fotografias de Luís Eme - Lisboa e Cacilhas)

quarta-feira, abril 29, 2020

Vou Esperar Sentado pelo "Mundo Novo"...


Embora o carro cá de casa também esteja "confinado", tem circulado, pelo menos uma vez por semana , para o que não nos é possível fazer a pé.

Mais de um mês depois já estava a entrar na reserva e lá fui a uma bomba... que descobri ter ganho um "pedinte oficial". Aproximou-se de mim, mais do que devia, quando estava a preparar-me para abastecer o depósito e disse-lhe para se afastar, para ter juízo e respeitar os outros neste tempo estranho. Afastou-se ligeiramente e pediu-me a moeda que eu não tinha (pois é, há muito tempo que não uso "dinheiro vivo"...) e deve ter ficado a pensar que não lhe dei nada por má vontade, enquanto se afastava.

Quando regressava ao carro fiquei a pensar que deveria ter pago o gasóleo com uma nota, para ficar com uma moeda para dar ao rapaz, quase imundo, que não devia ter mais de trinta anos. 

Embora não sirva de desculpa, esta "doença" faz com que sejamos ainda mais rápidos e distantes em quase tudo o que fazemos, roubando-nos o tal bocadinho de "humanidade", que devíamos ter. Embora alguns sonhadores mentirosos finjam acreditar que quando tudo isto acabar, vamos ter "um mundo novo"...

Quando comecei a conduzir lembrei-me dos meus  amigos e companheiros dos almoços de segunda-feira, da "tertúlia do bacalhau com grão". Dos seus  sorrisos, da partilha de  histórias giras e de anedotas, mas também dos quase gritos de indignação - libertados maioritariamente pelo Viriato - contra este capitalismo selvagem (o Carlos é o único que tolera o capitalismo, provavelmente pelo seu passado empresarial...), que vai criando vários "bancos alimentares", aqui e ali, como suporte da desigualdade com que se vai alimentando, dia após dia.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

terça-feira, abril 28, 2020

«A senhora dona Justiça nunca foi muito respeitável»


No meu trabalho diário de pesquisa descobri uma crónica de Augusto Abelaira (que à época "escrevia na água"...), que assinala - muito bem - o absurdo de  uma sentença jurídica, dentro do semanário "O Jornal" de 18 de Abril de 1980. 

É compreensível que me tenha passado ao lado, porque com a bonita idade de 17 anos, tinha com certeza coisas mais interessantes  para pensar, que na justiça. Justiça que, infelizmente, continua a ser o "calcanhar de aquiles" da nossa sociedade.

Crónica da qual transcrevo duas partes, que nos deixam no mínimo de boca aberta:

«A um leigo não é fácil discutir as decisões de um tribunal, os pormenores técnicos que levaram a essas decisões (e já não falo dos factores de ordem subjectiva). Mas há uma coisa que lhe é fácil e que espontaneamente se traduz nas suas reacções: o espanto e até a indignação. O espanto e a indignação, porque os espontâneos, nenhuma ordem (desordem?) jurídica pode negar. E que outra coisa se não o espanto e a indignação pode provocar a um leigo com um mínimo de sentimentos humanistas a recente sentença que condenou Carlos Antunes a quinze anos de prisão, Isabel do Carmo a onze e Fernanda Fráguas a dez e meio - e isto quando as penas pedidas pela acusação eram incomparavelmente menores? De resto, o próprio leigo pode informar-se de certas coisas e saber que tal decisão embora legal, não se insere coerentemente nos hábitos dos nossos tribunais.» [...]
A acusação pediu a absolvição de Fernanda Fráguas e tenho de admitir que essa acusação, ao proceder assim, se manteve no plano da lógica jurídica. O tribunal aplicou dez anos e meio a Fernanda Fráguas. E então: como aceitar tal discrepância? Impossível não haver aqui um absurdo qualquer. No pedido da acusação? Na decisão dos juízes? Não sei onde está o erro, mas recuso-me a admitir a racionalidade de uma tão contraditória situação. Entre absolvição e dez anos e meio de cadeia há um abismo inadmissível. Uma ordem jurídica que permite tamanho absurdo, que revela uma tal flutuação de opiniões não é ordem é desordem.»

Quando falei deste caso com um amigo mais velho, ele recordava-se e confirmou que tinha sido um escândalo na época. Acrescentou que as únicas pessoas que ficaram agradadas com a sentença foram as apoiantes de uma AD, que queria virar o país novamente para 24 de Abril e que estavam saudosas dos "tribunais plenários do outro senhor" e achavam que os "terroristas" tinham de ser punidos exemplarmente.

E depois em jeito de desabafo, a pensar nos tribunais que condenavam quem gostava da liberdade antes de Abril, nos juízes que condenaram o Carlos Antunes, a Isabel do Carmo e a Fernanda Fráguas e nesse senhor, mais do nosso tempo, que abre e cita a Bíblia para amesquinhar as mulheres, disse: «Para os nossos lados, a senhora dona Justiça nunca foi muito respeitável.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

segunda-feira, abril 27, 2020

A Memória Está Sempre Presente no Largo...


Embora hoje fosse tempo de andar em frente, eu tinha algumas palavras escritas pelo jornalista José Silva Pinto na edição de "O Jornal", do dia 25 de Abril de 1980, guardadas para publicar hoje.

Felizmente durante estes dias a televisão recordou muitas das injustiças que fizeram a Salgueiro Maia, por este assumir logo no dia 26 de Abril, que não queria ser político, queria sim continuar a ser militar, e regressar aos quartéis.

Ninguém lhe perdoou a ousadia, nem mesmo aqueles que deviam estar na linha da frente para o defenderem, os próprios companheiros do MFA...

Mas vamos lá às palavras de José Silva Pinto:

«O capitão que mais se notabilizou, aos olhos do povo, na "batalha" pela liberdade, no dia 25 de Abril, está agora, virtualmente reduzido a um lugar de burocracia - ao alcance de um sargento -, como comandante da secção dos presidiários, na prisão militar de Santarém.
Esse capitão chama-se Fernando Salgueiro Maia, tem 35 anos de idade, e as crónicas da "Revolução dos Cravos" apontam-no como responsável por uma das acções mais corajosas da operação "Fim do Regime", levada a efeito, com êxito pelo Movimento das Forças Armadas: o cerco ao quartel do Carmo, onde, afinal de contas, caiu a ditadura mais velha da Europa.
"Responsável" ou "implicado"? nos círculos mais próximos do capitão Salgueiro Maia, há quem seja tentado a supor que o comandante da coluna que, numa madrugada de há seis anos, arrancou de Santarém para Lisboa. é agora visto pelas altas esferas militares como um homem que deve expiar a "culpa" de ter entrado no 25 de Abril...
Só falta declararem-no implicado..." O comentário, obviamente amargo - em demasia, talvez? - ouvi-o em Santarém, um destes dias, numa roda de admiradores deste homem que, vencedor de duas datas-chave do regime democrático - o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975 - poderia ter sido brigadeiro, general, ministro, ou membro do Conselho da Revolução, mas preferiu manter-se, apenas, capitão.»

E é também importante não esquecer algumas atitudes miseráveis de um primeiro-ministro e presidente da república (de letra pequenina mesmo), que será colocado no seu devido lugar, pela  história. A recusa da pensão de sangue à viúva de Salgueiro Maia, ao mesmo tempo que atribuía outras a inspectores da PIDE, por "serviços relevantes prestados à pátria" ou a ausência nas honras fúnebres  de José Saramago, o nosso único Prémio Nobel da Literatura, são apenas dois exemplos da sua completa ausência de honradez e de sentido de Estado.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

domingo, abril 26, 2020

"Abril Floria" (com malas à porta)


O mês de Abril simboliza muitas coisa bonitas, que ultrapassam as boas memórias revolucionárias, graças à Primavera, que ano após ano, nos carrega de esperança e de vida...

Por ser domingo, decidi colocar aqui mais um poema da tal exposição abrilenta, que têm "inundado" os meus blogues, com cravos e poesia. 

Embora este meu poema de "despedida" seja diferente, seja mais reflexivo...

Abril Floria

Fazias as malas
enquanto la fora ABRIL FLORIA.
Sabias que não havia
lugar para ti neste país
onde se continua a fingir
que se vive em democracia...

Utilizei o meu filho como modelo e também o título de uma peça, que estava então no Teatro Azul de Almada ("Turismo Infinito", 2014), desgostoso por o meu país ser governado por um primeiro-ministro que aconselhava os nossos jovens a emigrar... porque cá não havia espaço para eles.

Não é só triste. Economicamente também é um desastre, porque muitos destes jovens, formados superiormente, já não voltam...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, abril 25, 2020

"Capitão de Abril"


No dia 25 de Abril os cravos ficam sempre mais bonitos . 

É também por isso que continuo  a partilhar  as minhas palavras e uma das imagens da minha exposição, "Cravos da Liberdade - Palavras com Fotografias", para homenagear Salgueiro Maia que, para mim, continua a ser o verdadeiro Homem da Revolução (prometo voltar ao assunto...).

Capitão de Abril

Olho para a tua fotografia
vejo o verdadeiro Homem da Revolução
aquele que deu o peito às balas
que quase por teimosia...
ficaram presas no "canhão"...

Olho para a tua fotografia
já com 40 anos de história
e vejo um homem inteiro, nada servil, 
que apenas quis ficar na nossa memória
como CAPITÃO DE ABRIL.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

sexta-feira, abril 24, 2020

"Recebeste Cravos"


No dia 24 já havia muito Abril, muita esperança no amanhã... e também muita poesia...

Em 2014 apeteceu-me fazer uma exposição com fotografias, cravos e poemas. Chamei-lhe, "Cravos da Liberdade - Fotografias com Palavras" e viveu no "Espaço Doces da Mimi", em Almada, no mês de Abril. 

Este foi um dos poemas, e esta, uma das fotografias...

Recebeste Cravos

RECEBESTE CRAVOS
na quase caixa do correio
do teu portão azul que dança
de braço dado com a amargura e o vento
que só muito raramente te oferece
uma nesga de esperança...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

quinta-feira, abril 23, 2020

Eu Sei, Hoje nem Sequer Devia Falar de Livros...


Há quem pense que se os livros fossem mais baratos, tal como os bilhetes para o teatro ou para o cinema, havia mais leitores e mais gente nas salas de espectáculos. 

Como já deixei de ser ingénuo há algum tempo, nem sequer discuto estas coisas. Mas também não gosto de dizer que as coisas são como são.

Pelo exemplo da cultura em Almada, sei que quanto mais baratas  as coisas são, menos valor as pessoas lhe dão. E se foram gratuitas então, estraga-se tudo...

Posso começar pelos livros. Quando o Município e algumas Juntas de Freguesia editavam livros, gostavam de os oferecer à população (acho que ainda gostam, então se estiverem perto de eleições...). Isso fazia com que, depois, em outros lançamentos locais, as pessoas aparecessem e comentassem se o livro era oferta. Como não era, saiam como tinham entrado, de mãos vazias. 

Estavam de tal forma mal habituadas, que nem sequer tinham a ousadia de pensar que os livros não caiam do céu. Mesmo que os autores não quisessem ganhar dinheiro, tinham de custear a sua impressão...

Pior que tudo isto, só o mesmo facto da maioria dos livros, caminhar directamente da sessão de lançamento para as estantes...

Nos espectáculos de teatro passa-se mais ou menos a mesma coisa. Se as pessoas receberem convites gratuitos, vão. Caso contrário, ninguém as vê nas salas... É por isso que normalmente as salas só se enchem nas estreias...

Sei que hoje é dia de festa dos livros, não devia estar com estas coisas, mas continua a incomodar-me que se passe, sistematicamente, ao lado da realidade, que se aproveitem estes dias para se dizer bem dos livros que os outros lêem, ou que se tente "fechar" o assunto com a compra ou a leitura de um livro, uma vez por ano. 
  
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quarta-feira, abril 22, 2020

Soltar o Reboque (das minorias)...


Graças à Liberdade de Abril, no nosso país podem fazer-se petições, por tudo e por nada. 

Se o papagaio que chamava nomes ao Salazar, numa taberna próxima dos "Prédios do Viola" (nas Caldas da Rainha, que fazia com que eu na infância pedisse à minha mãe para mudarmos de rua, só para ter o prazer de o ouvir...) ainda fosse vivo e desbocado, havia quem fizesse uma petição para o obrigar a recolher e a ser fechado em casa, como fizeram as autoridades de então. É por isso, que as petições valem o que valem...

Como o futebol também continua "fechado" em casa, a malta que tem a imaginação sempre à flor da pele, até foi capaz de inventar-se um novo "benfica-sporting", com as comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República. Em vez de uma, criaram-se logo duas petições. Só não sei com que "cores" se vestem...

Mas como muito bem disse o seu Presidente, Ferro Rodrigues, o Parlamento não se rege pela vontade das minorias, por muito ruidosas que sejam nas redes sociais (ou noutros "cafés", "barbearias" ou "táxis", improvisados).

Com toda a certeza que as comemorações cumprirão todas as regras de segurança exigidas pela Direcção Geral de Saúde. E o senhor Silva não fará falta nenhuma, até porque ele sempre demonstrou ser alérgico a cravos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

terça-feira, abril 21, 2020

Andava às Voltas com Jornais e Revistas Antigos, quando me Apareceu um Grande Cronista...


Passo os dias a remexer revistas e jornais antigos (sim, que o jornal com um dia já passou do prazo... dantes servia logo para embrulhar coisas, agora menos). Guardo algumas páginas - mais do que devia -, transcrevo algumas frases, e o resto, vai para a reciclagem.

Hoje parei os olhos na revista "Ler", de Junho de 2014, e fiquei a reler a entrevista de Ferreira Fernandes, que há meia-dúzia de dias deixou de ser director do "Diário de Notícias" (segundo consta, por não aceitar a passagem da redacção para "lay-off").

Gostei de saber o porquê desta coisa das notícias e das crónicas, na primeira pessoa. «Sou jornalista por três razões: porque nasci para isso, porque tirei o curso da vida que me permitiu ver muito e porque nunca estudei jornalismo e li sempre jornais.»

É um grande cronista. Uma coisa que não se aprende em nenhuma escola. E nem precisa de escrever sempre contra alguém, como faz o barbudo careca do "Governo Sombra" e como fazia o sempre pouco Pulido e pouco Valente...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

segunda-feira, abril 20, 2020

A (não) Valorização das Palavras Escritas...


Se o jornalismo, como profissão, nunca foi muito valorizado no nosso país (já foi sim, moda... mas era mais o televisivo, antes de alimentarem essa coisa deliciosa que é a "fama instantânea", em que o único talento que se exige é estar à vontade à frente das câmaras e ter lata para "aparecer" em todos os momentos), nem sei que dizer da literatura...

Ser escritor no nosso país, sempre foi tudo, menos uma profissão. A principal razão para que isso acontecesse (e continue a acontecer...), é o facto de sermos um país pequeno e com poucos leitores. Ou seja, com muito pouco "espaço" para gente que se queira dedicar à literatura a tempo inteiro.

Mesmo nos nossos dias, devem contar-se pelos dedos de uma mão, os escritores que não fazem mais nada, a não ser escrever livros. Sei que há alguns que "fingem" ser profissionais, mas vêem-se forçados a escrever crónicas todas as semanas, para jornais e revistas, para ganharem uns trocos suficientes para a "sopa".

Penso que a grande culpa é dos escritores com outras ocupações (quase todos...). Como não dependem economicamente dos livros que escrevem, têm dificuldades em encarar a literatura como profissão, é por isso que visitam escolas, sem cobrar um cêntimo, mesmo que além do tempo que oferecem, finjam esquecer os trocos gastos em transportes ou alimentação.

Embora quem os convide, também nunca está à espera que peçam "cachet"...

Sei que a profissão de escritor não  tem a "urgência" de um canalizador, eletricista, mecânico ou pedreiro, mas podia (e devia), merecer um outro olhar da sociedade.

Da mesma sociedade que é capaz de pagar aos tais "famosos", que não têm nada que os distinga socialmente - a não ser aparecerem na televisão e nas revistas -, pelas suas ditas "aparições"...

(Fotografia de Luís Eme - Óbidos)

domingo, abril 19, 2020

«Escrever bem, e com seriedade, não é para todos»


Ao contrário do que muito boa gente pensa, escrever bem, e com seriedade, não é para todos. É mesmo só para alguns. 

É por isso que as notícias que se escrevem nos jornais continuam a ser diferentes do que o que se escreve nas redes sociais, nos blogues ou sites.

Sei que os problemas do jornalismo não começaram com o aparecimento dos sites, dos blogues e das redes sociais. Começaram algum tempo antes, com a venda de alguns títulos, a quem queria tudo, menos produzir notícias e reportagens, credíveis e pertinentes. Só assim é possível perceber a escolha de alguns directores, cuja principal função era defender os interesses dos "patrões" e não do jornalismo...

Continuo a acreditar que estes "tiros nos pés" não retiraram, em nada, a importância do jornalismo na sociedade. Vou mesmo mais longe, é em alturas críticas como a que vivemos, que as notícias credíveis adquirem maior importância (imagino o quanto deve ser difícil estar bem informado nos EUA ou no Brasil...).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sábado, abril 18, 2020

A Maneira como Olhamos os Outros...


A maneira como olhamos os outros, é influenciada por vários factores. Colocando de parte aspectos que fingimos serem menores (a cor de pele, a cultura, a opção sexual, o futebol...), a religião e o ideário político são os elementos sociais que mais acabam por nos definir como gente (talvez pela carga ideológica e também por algum fundamentalismo que acaba por ficar...).

Falo isto porque falei há pouco com um amigo comunista e reparo que o seu ideário está sempre presente nas suas palavras, assim como o ódio ao capitalismo e ao patronato.

Quando ele me disse: «Acho que eles ainda não tinham percebido muito bem que morrem como os outros. O "covid 19" não lhes vai espreitar as contas bancárias nem se atemoriza com o luxo com que vivem», acabei a sorrir.

Mas o pior é sabermos que, com mais ou menos "ódio ao capitalismo", socialmente pouca coisa mudará. Quando se descobrir a vacina milagrosa, os ricos continuarão ricos e os pobres, como já todos percebemos, irão ser em maior número, e ficarão, ainda mais pobres...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

quinta-feira, abril 16, 2020

"Hasta la Vista" Luís...


Luís Sepúlveda deixou-nos. 

Foi sempre um autor especial para mim...

Conhecemos-nos por um mero acaso, quando  "O Velho que Lia Romances de Amor", me veio parar às mãos, em 1995. Foi bom voltar a sentir o realismo mágico latino-americano (que já conhecia graças a Garcia Márquez ou Rulfo...). 

É por isso que é o autor sul-americano de quem li mais livros (doze, de 1995 a 2018, de "O Velho que Lia Romances de Amor" à "A Lâmpada de Aladino"...), porque quando gosto de um escritor, costumo ler todos os seus livros que se aproximam de mim.

Numa altura em que a Gazeta das Caldas" se interessou pelas pessoas que escreviam livros com ligações à Cidade (deverá ter sido nas comemorações Dia do Livro, graças à Isabel da  saudosa "Livraria 107"...) pediram-me um texto para um suplemento, publicado no semanário sobre os "livros da minha vida". Fiz dois textos, um primeiro não com um, mas com os meus "dez livros". Mas depois preferi escolher um autor e acabei por escrever o texto definitivo sobre Luís Sepúlveda...

Não recuperei o jornal (deverá estar "perdido" na garagem...), nem sei exactamente a data em que o suplemento foi publicado, mas consegui descobrir o texto num dos meus discos externos (com uma última revisão em 2008). 

Ele fala muito do que eu sou como leitor. Como é um pouco longo, vou transcrever as partes que considero essenciais:

«As minhas preferências ficam-se em alguns aspectos que considero fundamentais. O principal é a história que está dentro de cada livro e que nos dá a possibilidade de viajar no tempo, conhecendo pessoas e lugares, com um encantamento especial. Desde que escrevo, as minhas escolhas também se envolvem num outro detalhe particular, sentir ao longo das páginas, que vou lendo com um prazer desmedido, que gostava de ser o seu autor.
Olhando para trás, penso que "O Velho que Lia Romances de Amor" foi um dos últimos livros, na qual senti isso.
É sempre reconfortante apreender que se pode construir uma bonita história a partir de coisas simples...
Outro facto que faz com que me identifique com o meu homónimo chileno, é o facto da sua escrita ter parágrafos curtos e não utilizar grandes artifícios na linguagem (o jornalismo deixa sempre rasto...).
Quando a personagem principal (António Bolívar) sabia ler, mas não sabia escrever e preferia livros com sofrimentos, amores infelizes e desfechos felizes, podia ser o princípio do fim de qualquer história, mas não, pelo menos com Luís Sepúlveda.
Toda a obra de Sepúlveda é amorável, leva-nos de viagem pelos muitos encantos e tragédias humanas da "latina-américa" do Sul, mas este romance é especial, é um hino de amor à vida, à aventura, à natureza e à poesia.»

"Hasta la vista", Luís...

(Foto de Luís Eme - Lisboa)

quarta-feira, abril 15, 2020

Não Basta "Publicitar" a Solidariedade...


Espero que os responsáveis pelos canais de televisão, que se mostram sempre muito expeditos a divulgar e a participar em acções de solidariedade telefónicas, estejam atentos aos dramas humanos que os envolvem. 

É importante que não se "esqueçam" também de praticar a solidariedade para  com os muitos trabalhadores precários que lhes prestam serviço (mesmo que as suas contratações sejam feitas por produtoras independentes - muitas vezes com um único vínculo: o chamado "31 de boca"...).

Mesmo sabendo que isso não é muito bom para o "espectáculo", gostava que se lembrassem-se de todos aqueles, que ao deixarem de trabalhar, deixaram de receber  ordenado (desde técnicos a actores)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

terça-feira, abril 14, 2020

Pois é: "Mais vale cair em graça que ser engraçado"...


Vou continuar com o "gostar" de livros (e dos seus autores...), porque fiquei a pensar, depois de receber um telefonema amigo. Além de falarmos desta vida estranha e do que andamos a fazer por casa, o "Largo" também foi tema de conversa, pelo que tenho escrito, especialmente a "posta" de ontem...

Confessou-me que é incapaz de ler livros de escritores que não gosta. Disse-me que é mais forte do que ele. Nem sequer olha bem para as capas, quando mais folheá-los... Ofereceu-me uma dúzia de nomes e tudo, de cá e de lá. 

Entre duas ou três graçolas, chamei-lhe "extremista", mas fiquei a pensar no assunto.

Durante a conversa disse que não tinha nenhuma antipatia especial por nenhum escritor, nem costumava misturar a "vidinha" com a literatura. E não tenho mesmo. 

Claro que não acho muita piada à publicidade que se faz de dois ou três escritores medianos, como se eles fossem muito bons. Mas isso sempre deve ter sido assim. Não sei se é milenar, mas já deve ser bastante antiga a expressão de que "mais vale cair em graça que ser engraçado"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

segunda-feira, abril 13, 2020

Coisas do Gostar e dos Livros...


Embora as coisas boas tenham sempre mais pessoas a gostar delas... a vida gosta de nos dizer que "há gostos para tudo", e ainda bem. O mundo fica sempre mais rico e, no mínimo, com mais cores.

Mas o gostar não tem apenas a ver com beleza ou qualidade. Todos nós sabemos que o nosso estado de espírito faz com que os nossos dias sejam desiguais, é também por isso que não se vestimos da mesma maneira, todos os dias...

(era para falar de livros e  como me devo ter enganado na rua, estou a afastar-me...)

Queria dizer apenas esta coisa simples: a maneira como agarramos os livros e como eles nos agarram a nós, é que os torna "excelentes" ou "péssimos". E isso nem sempre tem que ver com o apelido que aparece na capa, mesmo que este seja Andresen, Oz, Saramago, Hemingway, Amado, Steinbeck, Torga, Marquez, Auster ou Luís.

Até porque, no meu caso pessoal, adoro gostar de livros de "autores desconhecidos"...

(Fotografia de Luís Eme - Vila Nova da Barquinha)

domingo, abril 12, 2020

Um Olhar Pascal


A Páscoa é diferente do Natal, não é tanto da família, mas é muito de reencontros e de viagens...

Se os espanhóis adoram vir até ao nosso lado (de Norte a Sul, era costume encontrarem-se em todo o lado, o que lhes dava direito a algumas "piadas" nossas...), nós também gostamos de ir aqui e ali.

Claro que falo muito por mim, por esta quadra ser sempre aproveitada para fazer "mini-férias" no interior, para fazer coisas diferentes...

Estou convencido que no próximo ano as coisas já terão voltado à normalidade. Ouviremos a "língua apressada" (e ruidosa) dos "nuestros hermanos", por tudo o que é sitio, e poderemos voltar a alguns lugares que nos fazem felizes...

(Fotografia de Luís Eme - Idanha-a-Velha)

sábado, abril 11, 2020

O País da Cultura dos "Amigos dos Amigos"...


O que mais me surpreendeu em toda a polémica sobre o festival de música "TV Fest", foi a reacção imediata de tanta gente contra (mais de 18.600 assinaturas em menos de 24 horas da divulgação das regras de funcionamento do evento) a "festa".

Se analisarmos a maneira como os políticos funcionam - a nível nacional e local, em praticamente todos os campos - a base do seu critério de escolha é quase sempre a mesma, o "amiguismo". A única coisa que mudou aqui, foi o Ministério da Cultura (entidade organizadora e financiadora...) ter entregue a "escolha" aos músicos envolvidos no projecto (cada um escolhia um amigo para o "render"...). Talvez por estarmos na época da Páscoa, fez como Pilatos, "lavou as mãos"...

Como só iam ser abrangidos 160 músicos (e 700 técnicos), num universo que terá mais de mil homens e mulheres que se assumem como músicos, do fado ao rock (técnicos serão bem mais de cinco mil...), foram muitos os que sabiam que não iriam ser escolhidos... e as redes sociais fizeram o resto.

Quem deve estranhar tudo isto é o Júlio Isidro, que escolheu os primeiros quatro músicos, porque para ele, tudo isto é normal,  e espelha a forma como ele e tantos promotores culturais funcionam, sempre na sua "roda de amigos"...

E a Ministra da Cultura não teve outro remédio, senão "meter a viola no saco". Mas é triste que se gaste o dinheiro de todos nós, desta forma, sem que exista um critério de escolha, claro, que tenha como base a qualidade e a variedade musical (seria polémico na mesma, mas não era a "mesma coisa"...).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sexta-feira, abril 10, 2020

Passagem Obrigatória...


A passagem por Idanha-a-Velha, faz sempre parte do nosso roteiro pascal...

(Fotografia de Luís Eme - Idanha-a-Velha)

quinta-feira, abril 09, 2020

Uma Páscoa sem Andorinhas, Oliveiras e Procissão...


Há praticamente duas décadas que íamos passar a Páscoa à Beira Baixa. Tornou-se mais que uma tradição...

Se a razão "maior" era abrir a casa de família, que por lá está fechada o ano inteiro, as "menores" não lhe ficavam atrás. Sim, acordar com o chilrear das imensas aves de pequeno porte, que animavam os campos, com destaque para as andorinhas que todos os anos faziam ninho na varanda do primeiro andar; espreitar à janela e ficar encantado, porque a única coisa que se vêem são campos floridos cheios de oliveiras, que se perdem no horizonte; ou entrar dentro da noite com um céu completamente estrelado, são coisas inesquecíveis para quem vive na cidade...

E depois, na sexta-feira santa, ainda tínhamos a "procissão cantada", que costumávamos apanhar a meio caminho, onde era possível ver a "Verónica", a subir um banco e a estender o pano com o rosto de Cristo, num grito quase cantado. Procissão que dava a volta pela Aldeia e era digna de se ver...

Este ano a nossa Páscoa, será diferente, assim como a de milhões de pessoas, por esse mundo fora...

(Fotografia de Luís Eme - Alcafozes)

quarta-feira, abril 08, 2020

Uma Primavera Diferente


A Primavera continua a ser estação do ano mais bonita, e mais agradável, para se passear por aí (eu sei que não se deve...), e se for pelos campos, melhor.

Neste ano de 2020, em que Abril tem feito jus ao ditado das "águas mil", continuam a crescer flores em todos os recantos, mesmo que esta seja uma Primavera diferente...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

terça-feira, abril 07, 2020

Livros, Memórias e Livreiros...


Embora não tenha nada a ver com a situação que se vive actualmente, achei curiosas as palavras de Santos Fernando, no seu livro "Sexo 20" (a primeira edição é de 1975), que também é de memórias, sobre a relação que a PIDE tinha com a literatura, e também sobre a "habilidade" e "capacidade de adaptação" dos livreiros a esses tempos... 

Transcrevo as suas palavras com a devida vénia:

«Lembro-me, numa manhã de Dezembro, ter visto entrarem na "Ler" dois burjessos que, munidos de autos de apreensão do modelo 325, por determinação superior, segundo constava do auto em papel almaço azul (da cor dos descobrimentos marítimos) caçaram dois meses depois da abertura da caça, 125 exemplares de "Sobre a Emancipação da Mulher", da autoria de Engels, Lenine e A. Kollantai, e alguns exemplares de "Pessoas Livres", do padre José Felicidade Alves.»

«Os livreiros aprenderam os seus truques, passaram a fazer o seu bom negócio com o fruto proibido, vendendo não só a maçã do pecado, como ainda o Adão, a Eva e a serpente, por baixo do balcão e às escondidas.»

«Os livros proibidos escondiam-se nos sítios mais incríveis e inacessíveis. Algumas vezes uma obra de Neruda ou de Fidel Castro era embrulhada com o rótulo exterior de "Discursos de Marcelo Caetano".»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

segunda-feira, abril 06, 2020

O "Covid", os Jornais e os Livros...


Neste momento de grande indefinição social, já se percebeu que há mudanças que vieram para ficar. O "tele-trabalho" será uma delas. Não tenho dúvidas que irá aumentar, em todos os sectores da sociedade, porque irá permitir reduções de despesas nas contas de "quem mais ordena".

Mas há dois sectores que me são queridos, que não voltarão a ser os mesmos. Falo do jornalismo e da literatura. A quebra das vendas nas bancas e da publicidade na imprensa irá acabar quase com a sua venda "em papel", a curto prazo.

O comunicado assinado por duas dezenas de directores de jornais e revistas sobre o aumento da "pirataria" (distribuição por e-mail, de forma gratuita - em pdf - para a rede "infinita" de amigos de jornais e revistas...), é o primeiro sinal do "medo" que impera num sector essencial, que tenta informar-nos segundo as regras  e de forma isenta, combatendo o "reino da mentira" nas redes sociais. Mas é também o alerta para um crime.

Só há uma maneira de ajudarmos, é assinarmos alguns deste órgãos de comunicação social - e até há boas promoções. Eu fiz mais duas assinaturas digitais (já era assinante de um semanário), de dois diários, um desportivo e outro generalista.

Já em relação aos livros, ainda não fiz nenhuma compra (não me faltam livros cá em casa para ler...), mas vou fazer, esta semana.

Estas são apenas duas das muitas maneiras que existem, de ajudar a nossa economia e quem trabalha (e tem de continuar a viver...).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)