segunda-feira, fevereiro 28, 2022

Estes Tempos do "Vale Tudo"...


Estes tempos do "vale tudo" não acontecem por acaso.

Putin só veio confirmar, que quando se "finge que não se vê" o que está a acontecer à nossa volta, dificilmente conseguimos reagir e enfrentar os problemas da melhor maneira, quando batem com força à porta (ao ponto de a derrubar).

Mas é importante realçar que os trumps, os johnsons, os bolsonaros, os maduros e os putins (e outros tantos que se continuam a governar por aí...), não chegam ao poder por acaso. 

São o produto da mentira, da manipulação e do espectáculo, em que se tornou o nosso dia a dia.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, fevereiro 27, 2022

As Nuvens que Aparecem e Desaparecem...


As alterações climáticas fazem-se sentir de várias formas. Uma das mais visíveis é podermos sentir os ares do Outono, do Inverno, da Primavera e do Verão, num só dia.

Pode estar um belo dia de Sol e de repente começa a arrefecer e sentes necessidade de arranjar um agasalho, para te protegeres (senti isso hoje à tarde...). 

Também pode acontecer o dia nascer cheio de nuvens cinzentas (ontem de manhã, por exemplo...) e uma hora depois, o céu começa a ficar azul, as nuvens vão desaparecendo, quase num "truque" de magia e voltamos ao Verão...

Como não tem chovido por aqui, imagino que as nuvens negras  vão "descarregar a sua água" em qualquer lugar...

E depois temos os finais do dia, alaranjados com cheiro ao tal Verão. Podem ter uma ou outra nuvem, mas é apenas para ajudar na composição da fotografia...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


sábado, fevereiro 26, 2022

O Meu Regresso à "Festa das Artes"...


Voltei a participar na "Festa das Artes da SCALA", com três fotografias (essas mesmo que estão dentro da fotografia...), por várias razões, mas a principal, terá sido a tentativa de regressar ao um "tempo normal" (mesmo que Putin não o deixe...).

Foi bem ver amigos que não via há mais de dois anos, sentir no seu olhar e no toque (houve dois ou três abraços, quase espontâneos, que souberam muito bem...), que nada mudou entre nós, para além de termos ficado mais distantes e mais velhos...

A exposição em si, é isso mesmo, uma "festa" com artes, sem selecções, e por isso existem coisas muito boas e também outras que não são "arte". Mas a escolha e a sensibilidade são uma opção dos autores e não da SCALA...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, fevereiro 24, 2022

Misérias Humanas


Digam o que dizerem os muitos comentadores ("cata-ventos" ou "com agenda"...), que quase fazem fila para "opinar", não há qualquer hipótese de branquear o que está acontecer na Ucrânia.

Só há um país que está a invadir um território que não é seu e a iniciar uma guerra, que como todas as outras, irá matar sobretudo inocentes.

(Fotografia de Luís Eme - Arealva)


quarta-feira, fevereiro 23, 2022

A "Autopromoção" Televisiva Cada vez mais "Abusiva"...


Como se não bastasse a "autopromoção" dos principais canais televisivos (SIC e TVI), sempre a colocarem-se "às cavalitas" das audiências, para se autoelogiarem como os "maiores da cantadeira" televisiva, agora foi a vez da Vodafone, "lamber as feridas", com um "orgulho" e uma "vaidade", publicitários, que devia ser outra coisa.

Para mim este anúncio é das coisas mais estranhas que tenho visto, mesmo em televisão. 

Mas pelos vistos neste mundo tudo é possível, até alguém sentir "orgulho e vaidade", por ter deixado de prestar um serviço - pago pelos seus clientes - durante vários dias (mesmo que involuntariamente)...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


terça-feira, fevereiro 22, 2022

A Protecção do Ambiente devia estar acima da Esquerda e da Direita


É uma constatação, que quanto mais se caminha para o lado direito da política, menos preocupações existem com ambiente. Até porque o "dinheiro" raramente é amigo da qualidade de vida ambiental...

Podia falar de Almada, em que a CDU quis retirar os carros do centro da Cidade (um pouco antes do tempo, é certo...). Também foi criada uma zona industrial nos subúrbios, para retirar da cidade as industrias poluentes. Com a subida ao poder do PS, aliado ao PSD, tudo isso tem sido esquecido. Até oficinas de reparação automóvel já voltaram ao centro de Almada...

Em Lisboa passa-se a mesma coisa. As preocupações ambientais de Medina estão a ser colocadas no bolso do Moedas. Além da destruição de ciclovias, as vias de circulação automóvel vão expandir-se no centro da Capital.

Sei que existe algum fundamentalismo das associações ambientais e até de alguns partidos de esquerda mais virados para a ecologia. Mas outra coisa, bem diferente, é assobiar-se para o lado e fingir que está tudo normal, que não há alterações climáticas, que a "seca" é uma coisa passageira (o antigo ministro da agricultura socialista, Capoulas Santos, disse algo parecido...) e que se deve continuar a apoiar a agricultura intensiva ou a plantação de eucaliptais, por exemplo.

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


segunda-feira, fevereiro 21, 2022

Há Espaço para a História no Mundo dos Partidos?


Não tenho qualquer afinidade com o CDS nem senti nenhum desconforto especial pela sua ausência no Parlamento, decidida nas últimas eleições por quem ainda acredita, que "o voto é a arma do povo".

A única coisa que sinto é curiosidade. Curiosidade em saber se o "peso da história" conta alguma coisa na "vida" ou "morte" dos partidos políticos. Estou a falar de um partido com quase 50 anos de existência e não de um daqueles partidos, que "aparecem" e "desaparecem" da vida política. Partidos que nunca se distanciam da imagem dos seus principais ideólogos (o PRD e Ramalho Eanes são o melhor exemplo...) nem conseguem criar uma identidade colectiva própria. 

Por saber que os partidos não são pessoas, não sei até que ponto é que a sua componente social, a história e o seu sentido colectivo (teoricamente deveria ter um peso muito maior que a imagem dos seus dirigentes, mas apenas teoricamente...), ultrapassam a imagem dos seus líderes. 

Mas a política é quase como o futebol, o que parecer ser, muitas vezes não é. Isso explica, por exemplo, a existência incrível de políticos com mais que "sete vidas". O caso mais gritante é Pedro Santana Lopes, o político a quem mais vezes foi anunciada a "morte política"... e que venceu recentemente as autárquicas para o Município da Figueira da Foz...

(Fotografia de Luís Eme - Alcochete)


domingo, fevereiro 20, 2022

«Não existem mentiras na nossa profissão»


Eu já sabia da generosidade do Pedro, o actor com quem falei, por ser um "faz tudo" na companhia, profissional, onde trabalha.

Quando tinha funções executivas numa associação, recebi várias vezes o seu telefonema, para nos disponibilizar bilhetes para assistirmos à peça em exibição nos "dias mortos" (meio da semana...). Fazia questão de nos oferecer bilhetes por saber que "éramos das culturas" e gostarmos de teatro. E quando não podia oferecer, fazia preços de grupo convidativos.

Numa das poucas vezes que conversámos, no bar do teatro, ele explicou-me o porquê daquelas "ofertas". Algumas empresas patrocinadoras recebiam bilhetes como contrapartida dos apoios, mas raramente os levantavam. E como o mais importante era ter gente na sala, a companhia tinha uma lista de associações e de escolas, que aceitavam os convites de bom grado, e que até poderiam, mais tarde ou mais cedo, tornarem-se espectadores assíduos (gostei deste seu argumento...).

Lá estou eu a "esticar-me"... Só queria escrever uma frase que ele me disse, e que diz quase tudo desta arte. Quando me falou da "feira de vaidades" que reina nos palcos, deixou bem claro, que essa é uma das características da profissão: «Aqui, ninguém esconde ao que vem.» E continuou, «ninguém esconde que o que quer é brilhar no palco. Não existem mentiras na nossa profissão.»

E como ele está certo... A maior parte dos actores de teatro (não estou a falar dos das telenovelas...) só quer aquele palco. Nem sequer participa no "jogo" das revistas castanhas, que alguém resolveu "pintar cor de rosa"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, fevereiro 19, 2022

O Teatro Continua a ser um Enigma (para mim)


O teatro continua a ser, em parte, um enigma para mim. Uma das coisas que me faz mais confusão é a escolha dos textos por parte dos encenadores. Muitos até são capazes de escolher textos que não têm nada a ver com o teatro (desde poemas a ensaios, desde que tenham sido escritos por alguém conhecido...), apostados na parte mais "absurda" da arte de talma e na sua reinvenção.

Como tenho dificuldade em perceber, em pleno século XXI, a "paixão" de tantos actores e encenadores pelo rei dos clássicos: o eterno William Shakespeare (passam a vida a sonhar com Otelo, Rei Lear, Hamlet ou McBeth...), aproveitei a oportunidade de estar na mesma mesa com um actor, para falar com ele sobre esta "fixação", entre outras coisas.

Com um sorriso disse-me ser imprescindível que Shakespeare conste na "ficha curricular" de qualquer actor ou encenador que se preze.

Mas foi ainda mais longe: confessou que não existe outra arte, com tantos "jogos de espelhos" e "feiras de vaidades", como o mundo da representação. Mas que se não fosse assim, não teria tanta magia e tanta beleza, nem existiria tanta gente a sonhar com a possibilidade de viver "outras vidas" nos palcos.

Ou seja, o teatro continuou a ser, em parte, um enigma para mim...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, fevereiro 18, 2022

Viver uma Vida Normal


Viver uma vida normal afasta-nos de outras coisas boas, como por exemplo, escrever romances. Claro que falo de "romances com alma" e não de "estórias de cordel"...

Sei que pode parecer exagero, o que António Lobo Antunes disse, mais que uma vez: «Não podes escrever e fazeres outra coisa. Não se podem fazer bons livros e ser-se jornalista, médico ou o que quer que seja. Estás de tal maneira ocupado com o livro que não tens tempo para mais nada, tens de sacrificar as outras partes da tua vida.» Mas é mesmo assim...

Mas não me arrependo nem um pouco, de em vez de escrever romances, ter acompanhado de perto o crescimento dos meus dois filhos...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quinta-feira, fevereiro 17, 2022

"Caminhos" e "Descaminhos" na Rua das Artes...


Uma boa parte dos criadores da actualidade gostam de esconder coisas, como se possuíssem um "cofre" especial, onde guardam os seus segredos artísticos. 

É curioso, mas os artistas mais velhos que hoje andam pelos oitentas e noventas, cresceram muito uns com os outros, partilharam muitos sonhos e projectos. Era um tempo diferente do nosso, onde o colectivo fazia sentido, até por quase todos terem um inimigo comum (o fascismo...).

Mas não era disso que eu queria falar. Uma das coisas que apareceu na conversa de ontem com a Teresa, foi a caminhada que muitos pintores fazem ao longo da sua vida. Embora ela não se quisesse, "colar", ofereceu-me os exemplos de Picasso e Pomar, que também começaram na arte figurativa e cuja evolução os levou para "caminhos" onde a cor e a forma se tornaram a sua razão de ser, e de existir, enquanto artistas. 

Como contraponto, acabámos por falar de outros "pseudo-artistas", que por serem incapazes de desenhar um rosto ou um corpo, entraram logo no "descaminho" que os levou para o lado que parece mais fácil da arte: essa coisa que pode ser tudo e nada, o abstracionismo (eles nem sequer falam da cor e da forma...).

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quarta-feira, fevereiro 16, 2022

«É quase como organizar o caos...»


Hoje bebi café com uma amiga pintora que não encontrava há mais de um ano.

Nunca pergunto aos meus amigos criadores, o que têm andado a fazer neste tempo estranho. Mas eles perguntam... Digo que se não tivesse o blogue para escrever diariamente o que me apetece, talvez colocasse a escrita de lado. Digo isso porque estive largos meses sem escrever poesia ou ficção...

Ela disse-me que também esteve alguns meses sem conseguir pintar. E como tinha perdido o hábito de desenhar em papel, teve de fazer um esforço para voltar a mexer nas tintas. Perguntei-lhe se ainda anda com as suas abstracções. Disse-me que sim, com um sorriso. Falei-lhe das "suas mulheres" e de quanto gostava delas (durante muito tempo pintou mulheres, vestidas, despidas, usando quase todas as cores. Já havia o chamamento da cor e da forma, só faltava deixar de ser "gente"...).

Acabei por lhe oferecer uma definição de abstracção muito feliz, do pintor Rogério Ribeiro, que também deixo por aqui: «Há um momento em que se sente que só com a cor e a forma se podem coser os elementos que criam um universo muito próprio. É quase como organizar o caos.»

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


segunda-feira, fevereiro 14, 2022

Um Dia Bonito e Feliz para as Floristas


Talvez não tenha andado muito pela rua nos últimos anos, neste dia 14 de Fevereiro, em que se comemora o amor e os namorados.

É a explicação para não me lembrar de ter encontrado tantos homens, de todas as idades, com ramos de flores nas mãos (ou uma simples flor, neste caso particular, a escolha comum de dois ou três rapazes, uma rosa vermelha...), durante a minha viagem de Cacilhas a Lisboa, com bilhete de "ida e volta".

Percebi que foi um dia bonito e feliz para as floristas.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


domingo, fevereiro 13, 2022

O Grande Equivoco do Futebol


O maior equivoco do futebol é percebermos que grande parte dos seus adeptos, gostam mais dos clubes que da arte e beleza deste desporto tão singular.

Se tiverem a possibilidade de assistirem a um grande espectáculo de futebol, ficam satisfeitos, mas essa está longe de ser a principal premissa que os faz visitar os estádios. O que é realmente importante é a vitória dos clubes que amam e os fazem vibrar e vestir as cores das suas camisolas e acenar os seus cachecóis...

E o problema, é que isto não é um fenómeno nacional, é um fenómeno mundial...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, fevereiro 12, 2022

"Basta de Impunidade no Futebol"


Depois de tudo o que se passou ontem no Estádio do Dragão, só posso dizer que Frederico Varandas falou no momento e no sítio certo, sem ter medo de usar todas as palavras devidas e de apontar o dedo ao "papa do futebol", que apesar do seu ar de "santinho", há muito tempo que está a mais no futebol.

Só espero que o Sporting não recue na queixa-crime, que fez contra três elementos do FC Porto. Não tenho outro nome para dar ao que o assessor de imprensa fez ao presidente do Sporting, senão roubo. E ao que consta, nas "barbas" da polícia. 

Em relação à Liga e à Federação, sei que o mais certo é que a montanha do costume pare o ratito também do costume. E que a "lei do silêncio" continue a imperar.

Mas é mais que tempo de dizer que: "Basta de Impunidade no Futebol".

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, fevereiro 11, 2022

Um Deputado não é um Simples Taxista ou Barbeiro...


Há já algum tempo que se tentou normalizar a mentira, tanto a de perna curta como a de perna comprida, pelo mundo inteiro (o antigo presidente dos EUA e o primeiro-ministro inglês ajudaram muito à festa...). É também por isso que uma canal de televisão até tem um programa que faz as vezes de "detector de mentiras". 

Quem assistir a este programa percebe que a maioria das mentiras, que se espalham cada vez com mais velocidade, começam por ser alimentadas nas redes sociais e depois crescem, crescem, ao ponto de chegarem aos jornais e até à televisão, que nem sempre se dão ao trabalho de fazer desmentidos.

É por todas estas razões que fiquei satisfeito por um dos deputados agora eleitos pelo Chega ter sido condenado, por ter colocado um "twitter" mentiroso e caluniador, sobre Francisco Louçã (disse que este tinha recebido uma avença do BES...).

Não é esta condenação que vai fazer com que se deixe de mentir, mas pode ser que pelo menos as pessoas com responsabilidades públicas, pensem duas vezes, antes de espalharem "mentiras" nesse mundo em rede, que já demonstrou ser capaz de despertar os nossos piores instintos.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, fevereiro 10, 2022

"Até Amanhã Camaradas!"


Sei que o Jaime Serra era muito mais que o homem simples, inteligente e generoso, que conheci. Era um grande exemplo de militância e de coragem. Não gosto de utilizar a palavra "heróis", mas ele é sem qualquer dúvida, um dos têm um lugar na primeira fila da história de luta contra a ditadura fascista.

Foi um prazer enorme tê-lo conhecido e conversar sobre coisas, muito mais simples que a sua vida, que ainda pode dar um filme, dos bons. E como ele gostava de "fugir" das prisões fascistas (esta fotografia é do lançamento do seu livro, "Doze Fugas das Prisões de Salazar", em Almada)... Era o último dos bravos que tinham fugido do Forte de Peniche, no começo do ano de 1960, fintando mais uma vez o "impossível".

O Jaime e outros homens como Ele (alguns são meus amigos...). explicam a razão de ter votado no final do mês de Janeiro na CDU...

Jaime Serra deixou-nos aos 101 anos, com um: "Até Amanhã Camaradas!"

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, fevereiro 08, 2022

Os Diários e a Escrita do Quotidiano...


Ao ler os "Diários de Emília Bravo" de Maria Judite de Carvalho, fiquei com vontade de escrever sobre eles. Isso acontece sobretudo pela pertinência do seu conteúdo.  Mesmo quando deixa de ser o "Diário de uma dona de casa" (o livro está dividido em três partes), a temática não se altera muito. Convém referir também que estes textos foram publicados nas páginas do "Diário de Lisboa", no começo dos anos 1970.

São pequenos relatos do quotidiano, como o nome sugere, são muito virados para o sexo feminino. Por vezes surge por ali uma mulher, que quase grita com as outras mulheres, por se sentirem confortáveis numa sociedade completamente desigual. Há também muitas referências culturais ao teatro, ao cinema, à arte ou à música (provavelmente foi uma das primeiras pessoas a elogiar o Zé Mário Branco, então em Paris, no final do ano de 1971, com referências elogiosas que se estendem a Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e  Luís Cília (fala dele como "exilado", a censura devia estar distraída...). 

Mesmo sem ter a qualidade da ficção e das crónicas livres da Maria Judite (tenho encontrado algumas deliciosas nas páginas amarelecidas de "O Jornal"...), gostei da leveza da sua escrita e do seu habitual olhar atento a um tempo no mínimo estranho, para todos os portugueses, mas especialmente para as mulheres. 

Não posso deixar de referir um outro grande escritor do quotidiano, o poeta José Gomes Ferreira. O "Poeta Militante" tem coisas de grande beleza sobre os dias, que fingem ser iguais uns aos outros. Além dos seus "Dias Comuns" (vários volumes), há também os olhares poéticos registados nas páginas de a "Gaveta de Nuvens" ou na "Calçada do Sol".

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, fevereiro 07, 2022

A Memória Misturada com a Economia das Palavras e os "Rabos-de-Palha"...


Durante a infância passei sempre, entre um a dois meses das férias grandes, na casa dos meus avós maternos. O avô era agricultor a tempo inteiro, distribuindo-se diariamente pelas várias fazendas e vinhas que possuía. A avó era uma daqueles seres multifacetados, que se disfarçava de dona de casa, mas fazia um pouco de tudo, em casa e nos campos.

Eu e meu irmão acompanhávamos mais a minha avó que o meu avô, que saia cedo de casa para a sua labuta diária. O que se compreendia, pois era difícil estar atento a duas crianças e a trabalhar ao mesmo tempo. Ou seja, era a avó que mais aturava as nossas traquinices. Embora fosse uma pessoa um pouco seca, tinha expressões giríssimas para quase tudo. Usava muitos ditos populares, sem sequer se aperceber. O avô também se fazia entender muitas vezes através da sabedoria popular, mas com menos ligeireza e mais profundidade (adorava contar-nos estórias e lendas e era bastante bom neste "ofício"...).

Não estava à espera de toda esta introdução, pois ia apenas falar dos "rabos-de-palha", que todos temos (uns mais quer outros, como em tudo na vida...), mas a memória gosta de se meter pelo meio e...

A minha filha, com dezassete anos, excelente aluna, de vez em quanto pergunta-me o significado disto e daquilo. Nem precisava, o "google" é um rapaz com muito melhor memória para estas coisas, que eu. Mas acaba também por ser um pretexto para conversarmos, o que é muito bom, nestes tempos de economia de palavras...

Expliquei-lhe que "rabos-de-palha" são coisas que deixamos para trás, mal resolvidas, que podem ir  de erros cometidos a falhas involuntárias. Como "deixam rasto", podem ser utilizadas pelos outros, quando menos esperamos, para fazerem "tiro ao alvo". Sorriu com a explicação e disse que era mais ou menos o que pensava...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


domingo, fevereiro 06, 2022

A "Vox Populi" e a Cobardia Habitual


Sempre ouvi dizer que é um acto de nobreza e de dignidade, não bater em quem já se encontra no chão. Mas não é por isso que a expressão popular, "bater no céguinho", alguma vez deixou de ser um passatempo nacional (provavelmente mundial...). Há mesmo quem viva disso, como é o caso da maior parte da comunicação social...

Se no futebol o Benfica agora é o "bombo" de todas as festas, na política há muitos candidatos a "levarem mais que a burra do cigano", nestes dias após as eleições que ofereceram um "trono" ao Costa. É só escolher, da esquerda para a direita, ou da direita para a esquerda.

Como não sou um seguidor atento de programas com comentadores políticos, acabo por ser transportado para a realidade por programas como o antigo "Governo Sombra" ou ainda o "Isto é Gozar com Quem Trabalha", de uma forma mais leve, e até anedótica (é o que acontece no segundo programa, que acabei de ver).

Se já tinha assistido ao "aparecimento" do antigo líder do PAN pelos jornais (afinal parece que a sua saída não foi tão pacífica como nos quis fazer crer, ou então não achou muita piada ser substituído por uma mulher...), a criticar o partido de que faz parte e a sua líder, não fazia ideia que no CDS a vingança de vários deputados que "ficaram sem parlamento", tinha sido tão incisiva, contra o rapaz que demonstrou mais qualidades para "moço forcado" que para "cavaleiro"  na "tourada" da política...

Os únicos derrotados que escaparam à fúria dos seus rivais foram Jerónimo de Sousa e Rui Rio. Se do primeiro não se conhecem adversários, do segundo, todos sabemos que eles "são mais que as mães". Talvez tenha sido a sua legitimidade, ganha nas eleições internas no partido, embora eu vá mais pelas sondagens (o "cheirinho" a vitória, mesmo muito ténue, colocaram a seu lado na última semana quase todos os seus "inimigos públicos" - só Passos Coelho fugiu à rua e à campanha...), para esta quase "unanimidade", mesmo na derrota (é só "violas no saco"...).

Só não estava à espera que aparecesse uma senhora loura a "culpar" o povo pelo mau resultado do PSD. 

E como ela estava certa. A "vox populi" vingou-se tanto das sondagens como do número enganador de Rio como humorista.

(Fotografia de Luís Eme - Charneca de Caparica)

 

sábado, fevereiro 05, 2022

O "Querer" Ser Está Sempre a Léguas do "Ser"...


O "querer ser" sempre esteve a léguas do "ser". Se há coisa que o tempo nunca conseguiu reduzir muito, foi esta distância, enorme, entre o sonho e a realidade. É bom esclarecer que este "querer ser" a que me refiro, é o que está dependente de talento para se "ser"...

Talvez o melhor exemplo seja o futebol, com as muitas escolinhas que pensam ter tudo para "fabricar cristianos ronaldos", com muitos pais a fazerem contas de cabeça e a pensar em "ferraris" e "palácios", até perceberem que a realidade está-se borrifando para os sonhos e ambições de cada um de nós.

Claro que, como o poeta disse, "é o sonho que comanda a vida". E ele não estava a mentir, todos acabamos por perceber que há muitos sonhos que são alcançáveis pela vida fora, desde que não sejam daqueles muito altos, que quase tocam nas estrelas...

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


sexta-feira, fevereiro 04, 2022

Nem Toda a Gente Gosta de Viver em Liberdade e Democracia


Há muita gente, mesmo pobre, que nunca se integrou, de corpo inteiro, no nosso regime democrático, nunca acreditou, nem percebeu muito bem, o que era isto de se viver em liberdade e democracia.

Ficou sempre no ar alguma desconfiança.

E é esta "desconfiança" que acaba por "minar" tudo o que nos cerca. Não é por acaso que muitas destas pessoas acreditam que o regime democrático facilita  a "criminalidade" (especialmente a de "colarinho branco"...) assim como a sua "impunidade". 

Infelizmente a realidade tem-lhes oferecido vários exemplos, especialmente no campo da justiça. Exemplos que acabam por dar espaço a todo o género de especulações e são a principal fonte de inspiração dos discursos populistas.

Embora estes meus pensamentos não expliquem totalmente o crescimento da extrema-direita, entre nós, dão algumas pistas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, fevereiro 03, 2022

Tudo Começa e Acaba Dentro de Campo


O Benfica está a atravessar uma crise complicada dentro e fora de campo.

Aos problemas com a justiça seguiu-se a falta de respeito de alguma comunicação social, que tem explorado diariamente o conteúdo de conversas privadas entre dirigentes, treinadores, agentes e até jogadores (sem qualquer relevância criminal, mas que minam as relações pessoais e a imagem do Benfica...).

Mas continuo a acreditar, que tudo começa e acaba dentro de campo. Com vitórias todos estes problemas acabavam por ser esquecidos.

É por isso que eu digo, que por mais problemas que existam - exteriores ao balneário -, é completamente inaceitável que jogadores que ganham dez vezes mais, corram dez vezes menos, que os adversários, como aconteceu ontem no jogo com o Gil Vicente e em muitos outros, com adversários de qualidade inferior, nos últimos três anos.

Podem continuar a falar dos árbitros (que também já não respeitam o Benfica como respeitavam...), mas o principal problema está no plantel escolhido (com mais "mão" de dirigentes e de empresários que dos treinadores...), onde se nota que quase metade da equipa não tem classe para vestir a camisola do clube da Luz.

Se Rui Vitória, Bruno Lage ou Nelson Veríssimo, nunca tiveram "peso" como treinadores, para puderem escolher os futebolistas com quem queriam ou não trabalhar, o mesmo não se pode dizer de Jorge Jesus, que escolheu e aceitou vários jogadores de qualidade duvidosa, que estão claramente a mais no Benfica e não merecem o dinheiro que ganham.

Mas como disse anteriormente, tudo começa e acaba dentro de campo. Com vitórias todos estes problemas acabavam por ser esquecidos...

(Fotografia de Eduardo Gageiro)


quarta-feira, fevereiro 02, 2022

«O excesso de oferta, não só nos divide, como ainda pode deitar tudo a perder»


Hoje bebi café com uma amiga, que se mudou de "armas e bagagens" para a província, porque já não aguentava o ritmo infernal da vida suburbana, onde todas as horas têm quase sempre menos de sessenta minutos.

Falámos de várias coisas que organizámos juntos, assim como dos "malefícios" de quase querermos fazer da "cultura uma indústria". Concordámos que fizemos coisas a mais, muitas vezes apenas porque sim.

Quando ela disse: «O excesso de oferta, não só nos divide, como ainda pode deitar tudo a perder», estava certa. Cansamo-nos a nós e cansamos os outros... 

Todas estas coisas acabam por ser tornar quase um "vicio" e a partir de algum tempo, o prazer é substituído por outra coisa, diferente e pior. O curioso, é que só quando nos afastamos é que conseguimos perceber tudo isso. 

 comecei a pensar no assunto, quando voltei a ter os fins de semana livres, sem a obrigatoriedade de ter de ir à inauguração de uma exposição, à apresentação de um livro ou de outro projecto qualquer.

Bem dita distanciação...

(Fotografia de Luís Eme -Almada)


terça-feira, fevereiro 01, 2022

A Cultura ficou Atrás da Liberdade...


Hoje de manhã dei por mim a pensar, no quanto o país cresceu, em quase cinquenta anos de liberdade.

Pensei também na "Liberdade" do Sérgio Godinho, que nos diz que "só  há liberdade a sério quando houver", e depois continua com: "a paz, o pão, habitação, saúde, educação ". Todo este crescimento, que nem sempre notamos, também está expresso noutra parte da canção: "Só se pode querer tudo quando não se teve nada".

E nós tínhamos mesmo muito pouco. 

Claro que acabei por sentir que a Cultura foi o parente pobre de todos estes anos de democracia, porque nunca foi para todos... E continua a não ser (percebeu-se isso com bastante nitidez durante a pandemia). 

Há muitos portugueses que nunca assistiram a uma peça de teatro, ao vivo. E muitos outros nunca entraram num museu nem apreciaram uma exposição artística. E há ainda outros, que nunca leram um romance do princípio ao fim...

Claro que não conheço nenhuma "fórmula mágica" para inverter esta marcha, que tanto jeito tem dado aos políticos, que se sentem sempre mais confortáveis quando governam um "bando de ignorantes" e não um grupo de pessoas esclarecidas...

(Fotografia de Luís Eme - Marvila)