Por saberem que escrevo e gosto de ouvir histórias com gente dentro, alguns amigos sempre que me apanham a jeito, vão ao fundo do "baú" e começam a contar-me episódios do arco da velha.
Uma senhora bem vestida que passou pela esplanada acabou por entrar numa das histórias que me contaram, por ser viúva do António "Pescarias", que era uma jóia de rapaz. Talvez por isso, por ser bom demais, é que o irmão o avisou que a mulher o andava a trair. De início não acreditou, por gostar da esposa e por pensar que ela era incapaz de fazer algo do género.
Ele trabalhava por turnos nos estaleiros navais e para se certificar se era verdade ou não, trocou o horário de trabalho e pouco depois da meia-noite apareceu em casa. Assim que deu à chave ouviu algum alvoroço no quarto. Ainda foi à cozinha, para dar tempo ao amante da mulher para se esconder.
A mulher surpreendida perguntou-lhe se tinha acontecido alguma coisa. Ele sossegou-a disse que fora apenas uma avaria nas máquinas e o pessoal fora dispensado.
Depois de se deitar perguntou à mulher se não ouvia um ruído estranho, que lhe parecia vir do roupeiro. Ela disse que talvez fosse um rato. Ele exclamou, «deve ser é uma ratazana.»
Na manhã seguinte quando acordaram ouviram um barulho fora do normal no largo. Quando chegaram à janela estava o "amante", preso a um poste, completamente nu, apenas com um cartão grande a tapar-lhe o tronco e as partes, que tinha escrito, "ratazana".
Como o homem traído era incapaz de lavar a honra com sangue, combinou com o irmão (que ficou de sentinela, a ver quando é que o "herói" se escapulia de casa), aquela "humilhação", para que que servisse de lição para a mulher e para o amante, que nunca mais perdeu a alcunha de "ratazana" pela vida fora...
Claro que naquele tempo a maior parte das pessoas que souberam o que acontecera, acharam que a "lição" tinha sido demasiado suave. Para elas a honra só se podia lavar com sangue...
O óleo é de Larry Bracegirldle.