Chovia mas era preciso ir à rua, pois faltava o bacon para o peixe no forno para o almoço.
E lá fui eu, passear à chuva. Desde que bem vestido, bem calçado e com chapéu de chuva, gosto de andar por ai a deambular pelas ruas, com menos gente que o habitual para um domingo de manhã, com a companhia da água que vai lavando as ruas.
Sei que enquanto caminho surge sempre alguma coisa que me faz pensar, mesmo que seja só um pouco, como aconteceu quando passei rente ao restaurante mexicano, que descubro quase sempre vazio. Desta vez olhei lá para dentro e os meus olhos esbateram nos das menina solitária que estava ao balcão. Pela forma fixa como olhava percebi que não estava ali...
Pensei que nunca ali tinha entrado para comer ou beber o que quer que fosse. Nunca fui grande adepto dos molhos picantes, mas eles deviam ter pensado nisso quando abriram a casa e a ementa também devia ter pratos mais suaves, com toda a certeza.
Muitas vezes nem sequer damos uma oportunidade aos donos... de pelo menos experimentarmos o seu serviço uma vez, para termos uma opinião formada. E é assim que muitas casas de comércio acabam por fechar...
Não vale a pena falarmos ou pensarmos nas famosas "penas", depois de terem fechado as portas... Mas não há nada a fazer, nós somos assim, umas vezes ligeiramente, outras muito distraídos. Tantas vezes que acordamos tarde demais...
Um pouco mais à frente comprei o jornal, apenas porque sim. Sei que é um vício que ainda permanece, talvez por ter medo de um dia chegar ali e ver que só existem raspadinhas, lotarias, cigarros e outras bugigangas que as pessoas compram... e nada de jornais.
(Óleo de Suzanne Lalique)