E depois explicou-me o que lhe está a acontecer, com demasiada frequência: «depois dos sessenta e pouco começamos a confundir com mais facilidade as pessoas, os lugares e os acontecimentos do dia-a-dia. E o pior é que transportamos esta "confusão" para dentro dos livros, deixando o leitor tão ou mais baralhado que nós.»
Falei-lhe de Saramago e dos livros que escreveu depois dos 65 anos de idade. Ele não ficou muito convencido e trouxe para a conversa o seu "eterno rival" (que gosta de tratar por senhor Antunes), que ainda se baralha mais que ele, com as personagens e com a história dos livros.
E depois foi tempo de darmos os dois uma gargalhada das boas. Dessas mesmo que agora são raras, ao ponto de deixar toda a gente a olhar desconfiada para nós.
(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)
E Lobo Antunes e Miguel Torga, Manuel da Fonseca e tantos outros nacionais e estrangeiros?
ResponderEliminarAbraço e saúde
Pois, foi apenas uma perspectiva pessoal, Elvira. :)
EliminarDão licença que ele se sente à mesa e também gargalhe um pouco?
ResponderEliminarA escrita com prazo de validade?
Disseram-lhe um dia que a primeira regra do escrever, é escrever. Não pensar.
Verificou há dias que nesta vida destrambelhada que a pandemia trouxe, lhe deu para reler prosas antigas e verificou que só tem escrito disparates, erros de palmatória, ideias distorcidas.
Entradote na idade, deu-lhe para pensar rápido que o melhor seria parar.
Claro que ele não é escritor nenhum, mas sabe que só lhe restam as palavras.
Claro, Sammy. :)
EliminarE sim, devemos escrever, sempre, sempre que nos apeteça.
Mas falava-se de publicar, não de escrever. Mas há jovens com 80 anos... Ou seja, cada caso é um caso.
E o Saramago é o melhor exemplo de um grande "escritor senior". :)