sábado, abril 30, 2016

A Origem é um Poema em Aberto


Hoje foi apresentado na Sala Pablo Neruda do Forum Romeu Correia, em Almada, o livro de poemas, "A Origem é um Poema em Aberto", da autoria do professor Américo Morgado.

Tive a honra de dizer algumas palavras sobre o autor e também de ler dois poemas desta bela obra poética, que começa com:

A Origem


Tenho um pequeno mundo na minha mão.

Lindo!

Outro iluminado, infinito na minha mente

constantemente a seduzir

uma vontade enorme de ir

sem saber para onde vou.

Esta angústia, este desassossego

de ser um e ter dois mundos onde viver
sem estar bem em lado nenhum.

É a origem que me inquieta

é este vazio que me desperta
e me fez ser gente.


A professora Elisa Araújo, autora do prefácio e apresentadora da obra,  fez uma intervenção brilhante. Helena Peixinho e o autor leram vários poemas para gáudio da assistência que encheu a sala, para abraçar as palavras de Américo Morgado.

sexta-feira, abril 29, 2016

«Nunca tenhas medo de ter medo...»

Nunca esqueci as palavras de um dos meus heróis da infância, que ao perceber que havia coisas que me assustavam, como o escuro, me disse: «Nunca tenhas medo de ter medo», ao mesmo tempo que me fazia uma festa no cabelo. E foi ainda mais longe quando acrescentou: «Nunca te esqueças disto, o medo torna-nos mais fortes. Só precisamos de o olhar de frente.»

Foi por isso que nessa noite de Lua Nova, depois do jantar ele me levou a passear de mão dada,  ao mesmo tempo que me contava histórias alegres enquanto furávamos a noite.

Na altura não devo ter percebido completamente o sentido daquelas palavras. Mas acho que foi a partir daí que comecei a perder o medo de ter medo...

(Fotografia de Laura Makabresku)

quinta-feira, abril 28, 2016

No Limite da Dor


Ao começo da tarde recebi um telefonema de gente amiga a convidar-me para o lançamento de um livro.

Nesse momento ainda não tinha a certeza se podia ir. Mas disse que ia tentar... Não só tentei como fui. E acabou por ser uma agradável surpresa esta apresentação.

Falo de "No Limite da Dor", que começou por ser um conjunto de entrevistas de rádio da Antena 1 a presos políticos, feitas por Ana Aranha, co-autora (juntamente com Carlos Ademar, que a desafiou a passar o programa para livro). Embora esta obra já tenha uma segunda edição e tenha sido lançado há dois anos, passou-me um pouco ao lado.

O grande atractivo desta sessão foi a presença de dois antigos prisioneiros políticos, Mário Araújo e José Pedro Soares (é um dos entrevistados, cuja existência ignorava...), que na época tinha apenas 21 anos e estava a cumprir o serviço militar e foi um dos presos mais torturados pela PIDE, pela sua intransigência em falar, em trair... ele que só foi preso porque um camarada seu não aguentou a dor e falou...

Durante o seu testemunho pensei em várias coisas, até na acusação que me foi feita em relação a um dos meus livros, por eu não ser independente na forma como falava do Estado Novo e da Oposição. E nunca poderia ser, até por não reconhecer qualquer legitimidade a governos ditatoriais. Esta acusação foi feita por um "salazarista"...

Vou ler o livro com todo o interesse, por razões óbvias.

quarta-feira, abril 27, 2016

Uma Cidade Para os Outros

Não gosto desta Lisboa que está a perder a autenticidade, da Cidade que se está a virar para fora e a esquecer a sua verdadeira essência bairrista, apenas porque se transformou num óptimo negócio, para alguns, apostados em a espremer até ao tutano.

O mais estranho é que nos acusam de trabalharmos pouco, mas são os outros povos, oriundos de países mais desenvolvidos (os turistas estão longe de ser apenas reformados, pois há entre eles gente de todas as idades...), que passam o tempo a viajar, a conhecer mundo...

Os preços dos bilhetes para os museus aumentaram, penso que os próprios bilhetes de transportares são diferenciados (por enquanto...). A comida nas partes que atraem mais visitantes também deve ter sido inflacionada. 

Nunca tinha visto tantos eléctricos a circularem pelas colinas, com "aluguer" como destino, a par das "motorizadas-táxi" coloridas e voadoras, conduzidas por jovens de ambos os sexos que nos fazem lembrar o oriente,  até pelo seu desembaraço.

Sei que este "filão é esgotável", pelo menos desta forma confusa e atabalhoada, que nos faz lembrar mais o Norte de África e algum Oriente, que a Europa. Mas talvez seja isso que estas pessoas procuram... e como agora não dá muito jeito visitar a Síria, o Egipto, a Líbia ou Tunísia, visitam este Portugal, com exotismos para quase todos os gostos.

A identidade nacional? Está no fado, e não se fala mais nisso...

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, abril 26, 2016

Os Campos Verdejantes da Beira

Passei este fim de semana - que recebeu mais um dia de "borla" em nome da Liberdade -, na Beira Baixa.

Gostei de ver os campos floridos e cheios de água.

É bom sinal para a agricultura e para a pastorícia da região que  nos oferece, entre outras coisas, tão bons queijos de cabra e ovelha.

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, abril 25, 2016

Abril Sem Idade


ABRIL SEM IDADE

Abril é um poema sem idade
Que invade o sonho dos poetas
E lhes lembra a Praça da Liberdade
Que encontraram de portas abertas

Fizeram da praça uma canção
Que percorreram de mãos dadas
Com o povo e as forças armadas
Dando vivas à Revolução

 Saudaram os capitães-coragem
Erguendo um cravo encarnado
E gritaram de punho fechado
- Já chega de malandragem!

Apesar dos anos passados
Continuam na Praça da Liberdade
E exclamam encantados,
Abril é um poema sem idade!

Luís [Alves] Milheiro


sábado, abril 23, 2016

Abraçar os Livros


Ontem, quase no final da minha intervenção, a professora de Português daqueles jovens, perguntou-me como é que ela poderia fazer com que eles lessem.



Voltei atrás na conversa (ela esteve a dar uma aula só apareceu depois...), ao meu sétimo ano de escolaridade, à minha excelente professora de Português e à "Biblioteca de Turma" que criámos ao longo do ano, em que nos quotizávamos e comprávamos os livros que queríamos ler (com algumas sugestões da professora...) e depois falávamos sobre eles (não sei se de quinze em quinze dias se mensalmente, havia uma aula só para a nossa "biblioteca" e os "nossos livros"), sobre o que tínhamos gostado mais, das personagens, dos lugares, estimulando o interesse dos que ainda não os tinham lido.

E claro, aconselhei a professora a sugerir livros bons (mas também de boa "digestão"...), com uma linguagem acessível, boas histórias e muita acção... Falei também do realismo mágico da "latina-américa", de Jorge Amado, de Ernest Hemingway, Luís Sepúveda ou até do nosso Camilo. Desaconselhei por completo José Saramago ou António Lobo Antunes...

Mas o importante é ler, ler, viajar dentro dos livros.

(Óleo de Gustave Caillebotte)

sexta-feira, abril 22, 2016

A Curiosa e Feliz Sobrevivência dos Livros


A proximidade do Dia Mundial do Livro fez com que fosse convidado hoje de manhã para falar sobre a importância do Livro e dos Autores na aquisição de conhecimentos e criação de mundos, nesta era dominada pela tecnologia, numa escola do Concelho de Almada (EPED)

Falei de muitas coisas, revivi os meus tempos de escola, sem me esquecer de falar das boas professoras de português que tive (pena terem sido poucas...). Falei da importância de ler para escrever, e depois fiz um paralelo entre o que está a acontecer aos jornais e aos livros nestes tempos de mudanças quase diárias.

Os jornais em papel têm os dias contados, por não serem viáveis economicamente. A falta de publicidade, o peso das redacções e a queda brutal nas vendas, faz com que eu pense que dentro de pouco tempo a maior parte dos jornais só serão publicados "on-line".

Curiosamente com os livros aconteceu o contrário, mostraram uma resistência fora do comum e conseguiram (até ao momento...) ganhar a "batalha" contra os "livros digitais".

Para justificar esta "vitória", falei da identidade própria de cada livro, que começa na beleza da capa, no cheiro do papel e da tinta, do prazer de folhear as suas páginas, anotar, marcar as suas folhas... embora continue a pensar que o melhor de cada livro são as suas palavras, capazes de nos levarem de viagem para lugares especiais e conhecer personagens extraordinárias.

O mais curioso foi a turma do 11 º ano que me recebeu  ser  composta apenas por rapazes (pensava que já não existia nada disto...), que se portaram muito bem. E foram bastante honestos, quando lhe perguntei se algum deles lia livros. A resposta foi não. As únicas mulheres presentes foram as três professoras que organizaram a sessão e foram um bom apoio.

Não sei até que ponto fui uma boa influência. Não sei se eles irão sentir alguma curiosidade pelo que está dentro dos livros. Era bom que sim. Só ficavam a ganhar...

(Fotografia de Zoltan Glass)

quinta-feira, abril 21, 2016

Há Algo Mais Importante que Ser de Direita ou de Esquerda

Sempre li, escutei e ouvi coisas que me pareciam completamente distorcidas da realidade, e em muitos casos até erradas. Provavelmente influenciado por toda a carga ideológica com que somos moldados (em casa, na escola, com os amigos...) e que acaba por ser decisiva na nossa forma de pensar e olhar o mundo que nos cerca.

Falo de se ser de esquerda ou de direita, essa bipolaridade que é capaz de provocar discussões quase ao nível do futebol, dos duelos entre o Benfica e o Sporting.

Tenho alguns amigos que não sabem nem querem saber o que é isso de se ser de direita ou de esquerda, que segundo eles, é das coisas mais parvas que existem na nossa sociedade. Mas depois não votam... e são capazes de dizer, com uma grande lata: «votar para quê?»

Eu continuo a ser de esquerda, a ter orgulho nas minhas raízes (de sangue vermelho...) e a pensar que este é o melhor caminho para a existência de uma sociedade mais justa para todos. Provavelmente vou ser sempre assim, e sei que a culpa é mais dos meus pais que de Marx.  E agradeço-lhes muito por isso.

Não estava a pensar escrever tanto sobre mim, mas foi o que saiu... tudo porque há mais qualquer coisa que a ideologia nestas maneiras de se "olhar o mundo". O meu objectivo era debruçar-me sobre as palavras de dois dos cronistas mais antigos da nossa imprensa, Pacheco Pereira e Vasco Pulido Valente, que sempre tiveram um comportamento completamente diferente na sociedade, mesmo pertencendo a áreas políticas próximas (já foram ambos deputados do PSD...). Sempre considerei o Pacheco Pereira um homem intelectualmente honesto. Mesmo quando não concordo com ele, percebo os seus pontos de vista, sei que há ali uma ideia para o país... ao contrário de Pulido Valente, que é apenas um provocador, capaz de escapar da verdade para reforçar as suas ideias estapafúrdias ou apenas dizer mal de alguém que detesta, por despeito, inveja e cinismo (embora se finja estrangeirado, tem os piores defeitos atribuídos aos portugueses...).

Utilizei como exemplo estes dois políticos  porque embora sejam da mesma área ideológica, são completamente diferentes. Há uma coisa simples que os separa e faz toda a diferença: a honestidade. Ou seja, mais importante que a ideologia, é a nossa qualidade humana. Porque não basta escrever ou falar com e em liberdade. Importante (e cada vez mais raro...) é procurarmos a verdade, sem estarmos "reféns" de partidos ou de outros interesses particulares. E infelizmente isso é o que se vê mais por aí...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, abril 20, 2016

A Bondade Humana Dentro de um "Mundo" Sem Concerto...

Se compararmos as notícias de hoje com as de há vinte anos (para não recuar mais no tempo...), ficamos com a sensação de que na actualidade toda a gente usa óculos com lentes de aumentar. A televisão então é pródiga em exemplificar o pior e o melhor que há em cada um de nós. Apesar de eu saber que o "meio termo" nunca foi notícia... e nem é preciso vir com a história do homem que mordeu o cão... acho que se está a exagerar. 

Exemplos? Os telejornais são o que são. Embora não seja consumidor do "negócio", fico com a sensação que há demasiados vilões nas nossas telenovelas. E nem vou nas séries policiais americanas, onde tudo é possível de acontecer... 

Talvez seja apenas uma "colagem" ao tal "mundo" que nos é oferecido pela comunicação social. E como as catástrofes e misérias alheias sempre conseguiram agarrar muito mais o nosso olhar - tal como as vozes dos "profetas da desgraça" - que os sorrisos do actual presidente da República, facilmente chegamos à conclusão que o "mundo" está mesmo sem conserto...

Talvez seja também por isso que  falamos cada vez menos com desconhecidos. Ou seja, estamos a deixar de acreditar que alguém poderá querer falar connosco, apenas porque tem curiosidade em querer saber qualquer coisa simples, como qual é o melhor  caminho para o "Cristo Rei", sem nos querer impingir alguma coisa ou tentar enganar-nos.

Às vezes penso que nunca foi tão fácil desconfiar da bondade humana. Qualquer dia até somos capazes de concluir que ser boa pessoa é um defeito...

(Fotografia de Robert Doisneau)

terça-feira, abril 19, 2016

O Acumular de Inutilidades que se Fingem Úteis...


Ao longo dos anos fui acumulando inutilidades, cadernos ou papeis soltos que acabaram por perder o prazo de validade. Falo de recortes de jornais mas também de muita coisa que escrevi. Encontro muitas coisas que quase me pedem para "viver", para ficarem dentro de qualquer história.

Alguns títulos ridículos, como o do caderno que passei a pente fino, datado 2003, "Tempos Novos". Provavelmente nessa altura fazia sentido. Mas doze anos depois são mesmo tempos velhos...

Mesmo assim encontrei coisas algumas interessantes, como as frases guardadas de uma entrevista do grande arquitecto brasileiro, Niiemeyer, ao "Expresso". Alguns projectos jornalísticos que não passaram disso mesmo. Uma história infantil, no mínimo curiosa. Memórias sobre o meu pai, que tinha falecido dois anos antes. Ou seja, coisas que fui sabendo da sua vida, quase sempre contadas pelo tio Valentim, que viveu com ele na Capital. Alguns começos de poemas que se transformaram em "gente", ou seja, no meu primeiro caderno de poesia publicado. E ainda várias personagens inventadas para livros que nunca chegaram a ser escritos.

Ou seja, há papeis que ficam. Apenas porque sim. Ou talvez porque gosto mesmo de acumular inutilidades...

(Óleo de Arshile Gorky)

domingo, abril 17, 2016

A História e a Beleza que os Museus nos Mostram


Às vezes somos sugestionados a fazer perguntas a nós próprios, por conversas que temos ou leituras que fazemos.

Foi o que me aconteceu ontem ao ler a entrevista de Penelope Curtis na "E" (revista do "Expresso"), a britânica que dirige actualmente o Museu Gulbenkian.

De uma forma natural vi-me a perguntar a mim próprio, porque razão gostava tanto de visitar museus... não foi difícil chegar à resposta, além de me sentir bem naquela atmosfera (normalmente rodeado de coisas únicas...), há a história e a beleza que faz parte de cada uma destas casas, que podem ser tão diferentes na sua temática e tão iguais nos seus objectivos.

E depois existem os silêncios destas salas (prefiro os museus com pouca gente...), que nos podem dizer tanto. Não sou daquelas pessoas que passam horas a olhar para uma peça. Vou sempre andando. Só paro mais que uns segundos quando sinto que há um pormenor diferente que me chama a atenção. Não deixa de ser curioso, que nos museus de arte, olho com muito mais atenção para as esculturas que há meia dúzia de anos. Reparo mais nos pormenores, na forma como está modelado o corpo ou o rosto, naquilo que as mãos seguram, para onde nos leva o seu olhar...

Somos o que somos. Não sei se os meus filhos vão gostar de museus no futuro. Às vezes a fartura enjoa, espero que não seja o caso...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, abril 16, 2016

Ela é Apenas um Rosto Perdido na Cidade

É um pouco estranho ver alguém que já andou por aí a cantar nos palcos, passar anonimamente junto das pessoas, sem precisar de se esconder atrás de uns óculos escuros. 

Entrámos numa das carruagens do metro e ninguém nos olhou de uma forma insistente ou arrastada. Algo sem preço, pelo menos para alguém que tenha tido a oportunidade de experimentar o pior lado da fama, sem se "viciar"...

A primeira vez que nos encontrámos fui durante uma reportagem jornalística. Embora ela fosse a voz da banda, abriu a boca linda apenas para sorrir e nunca para falar.

Na altura não percebi, mas eram essas as regras, ela fora contratada apenas para cantar e devia limitar-se a fazer só esse papel.

Esta aventura durou menos de meia dúzia de anos. Até acabar o curso e poder dizer até nunca mais, aos rapazes que sempre a trataram de uma forma estranha, provavelmente por gostarem de outros rapazes...

O começo do fim aconteceu durante um concerto em que o líder da banda lhe deu um estalo nos bastidores, por ela insistir em cantar e dançar no palco. Só a tinham contratado para cantar e ela no calor da música esqueceu-se... Hoje sorri, mas na altura não achou piada nenhuma e só voltou ao palco porque o baterista, o único fulano normal da banda a conseguiu acalmar com um abraço e com meia dúzia de palavras, que ainda recorda: «És maravilhosa, anda. Sem ti não somos nada.»

Continua a sorrir quando anda para trás, sabe que foi uma fase, um episódio bom enquanto durou. Felizmente nunca a deixaram ser "vedeta" ou brilhar para lá dos palcos, o único lugar onde recebia o foco principal das luzes. Só desta forma foi possível ser psicóloga, sem passar o tempo a olhar para o passado a pensar que podia ter sido isto ou aquilo.

Embora perceba, até pela sua profissão, a quase multidão de jovens que quererem ser famosos, apenas por causa do tal minuto especial, sente-se feliz por nunca ter sentido isso, para lá do palco. 

Somos todos diferentes e todos iguais. Por ela, aquele vestido amarelo com flores, ficará eternamente na montra...

(Fotografia de Georges Dambier)

sexta-feira, abril 15, 2016

Um Dia de Muita Água

O dia ainda não chegou ao fim e já nos ofereceu água suficiente para trazer por alguns momentos os ribeiros, os rios e os lagos à cidade. Eu sei que até o tempo dela, pelo menos se seguirmos à letra a sabedoria popular que nos diz que Abril é o mês das águas mil.

Durante o almoço circulei por algumas ruas que ficaram com o alcatrão submerso. Embora conduzisse devagar, "dei banho" a pelo menos um senhor. O mais grave é que era provavelmente um bom samaritano, que estava a querer limpar uma sarjeta. 

O Sol apareceu aqui e ali, quase armado em político, a querer dizer que o dia nem estava tão mau como se pintava por aí (e aqui...). E com vontade de nos lembrar o bem que esta chuvinha faz às hortas e aos rios.

Esta fotografia tem minutos, foi tirada na estrada da "Boca do Vento", com o S. Pedro a querer dar mais um grito, que ainda era normal ouvir no século XIX: 'Aí vai água!»

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, abril 14, 2016

«Não te cansas das pessoas?»


Há muito tempo que não ficávamos sós, mesmo que fosse por apenas cinco minutos.

Talvez tenha sido por isso que a Rita me perguntou: «Nunca te cansas das pessoas?»

«Claro que canso. Já me conheces um bocado e sabes que estou longe de ser um desses humanos adocicados, que só despertam bons sentimentos nos outros.»

Ela sorriu antes de replicar: «Isso existe?»

Também lhe ofereci um sorriso antes de lhe responder: «Claro que existe, então na santa terrinha da hipocrisia, são aos molhos.»

Foi então que ela foi directo ao assunto: «Há uma gaja da contabilidade que me anda a querer tirar do sério.»

«Talvez precise de um abre olhos ou um abanão.» Respondi eu, como se fosse muito entendido nos conflitos femininos.

«Isso não resulta muito com os sonsos, Luís. Temos de usar um tratamento mais refinado.»

Concordei com ela: «Tens razão, essa gente é capaz de passar a vida toda a fingir que está certa e tem razão. Nunca partem pratos e tentam sempre sacudir a água do capote para cima dos outros.» 

Quando já se avistavam dois companheiros que também queriam conversa a Rita concluiu: «Se usasse a palavra Deus no meu vocabulário, dizia agora: Deus nos livre desta gente que  come hóstias e já comprou um terreno no céu.»

Felizmente o Carlos Alberto trouxe uma mão cheia de banalidades e até uma anedota sobre os meninos e as meninas que aprendem a ser grandes no Colégio Militar.

(Fotografia de autor desconhecido)

quarta-feira, abril 13, 2016

Tempo de Pescadores de Água Doce

Este tempo estranho, com bocados de Inverno que se misturam com a Primavera e até com o Verão (que já queima quando ficamos demasiado tempo ao Sol...), atrai bastantes pescadores à beira Tejo, pelo menos na sua margem esquerda.

Normalmente são homens de meia idade, muito metidos consigo próprios, que fingem ter atenção apenas para as águas, que mudam constantemente de cor.

Aqueles que são mais faladores, juntam-se em bandos. É pelas suas palavras é possível descobrir que alguns são mais entendidos que outros na arte, ou pelo menos fingem... ao ponto de dizerem qual é o sitio exacto onde "está a dar peixe".

E é mesmo verdade. Falamos do tempo, quando não temos mais nada para dizer.

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, abril 12, 2016

O "Alentejo Prometido" de Henrique Raposo


Não estava a pensar escrever hoje sobre o livro, "Alentejo Prometido", de Henrique Raposo. Mas como fui tirando várias notas  durante a leitura, acho por bem dar a minha opinião.

É um livro muito bem escrito, que me surpreendeu pela positiva e contraria algumas opiniões negativas que li aqui e ali (provavelmente de quem não leu  o livro...).

Henrique Raposo traçou um "retrato" sobre o Alentejo baseado sobretudo na sua experiência pessoal, com um olhar marcadamente ideológico, de alguém que desde muito cedo foi educado a "diabolizar" o comunismo e a não entender a maneira de ser e de viver do povo alentejano. É o seu livro, é a história da sua família, é a sua visão, que choca por vezes com a realidade.

Onde se nota bem a componente ideológica que o Henrique introduz nesta sua história, é quando compara o Sul com o Norte, na sua religiosidade. Ou seja, coloca frente a frente o peso que a igreja católica tem nas populações nortenhas (gente temerária a Deus e que presta vassalagem aos padres das suas paróquias...) e a liberdade religiosa de um povo pouco crente, cuja vida difícil  o ensinou a depender sobretudo dele próprio. Embora utilize vários argumentos para explicar a taxa de suicídios dos alentejanos, fixa-se sobretudo na ausência da presença de Deus nas suas vidas, como responsável pelo forma como enfrentam as adversidades de ânimo leve.

Há muitas outras características que o autor atribui aos alentejanos, que facilmente poderão ser transportadas para os povos das Beiras, de Trás-os-Montes e até da Estremadura. A violência do século XIX, com a existência de bandos armados, por exemplo, verificava-se um pouco por todo o país. Com a discriminação da mulher passa-se a mesma coisa. Aliás, há muitos mais casos de violência doméstica no Norte que no Sul...

É provável que sejam mais desconfiados que outras gentes, de regiões que não sentiram tanto na pele a fome, a miséria, a injustiça e a perseguição política da PIDE e da GNR.

Mas isso está longe de explicar tudo. Por outras palavras, há claramente falta de rigor histórico por parte de Henrique Raposo. Penso que ele será sempre um melhor ficcionista que historiador.

Quando ele já na parte final (p.98) diz: «Sinto-me mais em casa em Arouca do que em Santiago. Sou filho de uma migração que saiu do Alentejo mas não sou nem quero ser alentejano», explica quase tudo sobre este olhar peculiar sobre o Alentejo. Que é apenas e só o olhar de Henrique Raposo.

Comigo passou-se o contrário, quando vim morar para Almada, que é em parte o começo do Alentejo, senti-me muito bem ao lado de todos aqueles que me receberam de braços abertos e que gostam de ser  quem são, ao mesmo tempo que se sentem orgulhosos da sua história, mesmo que esta não tenha como personagens "príncipes e princesas"...

segunda-feira, abril 11, 2016

As Pessoas, os Livros, a História...


Agora que estou quase a acabar de ler o "Alentejo Prometido", é que percebo que muito do que li sobre esta obra de Henrique Raposo, foi dito por quem não leu o livro ou fez uma leitura completamente transversal (há quem leia apenas o primeiro e o último capítulo dos livros, outros nem isso...).

E o livro até é dos curtos (107 páginas), ainda que a letra seja pequenina.

Mas eu ainda não vou falar sobre este retrato sulista (até por ainda me faltarem vinte páginas para chegar ao fim...). Vou falar sim da dificuldade que as pessoas têm em olhar para dentro de si, de fazerem autocrítica.

Eu que tenho sido "remador" de várias barcas da cultura, estou à vontade para falar do que olho, do que escuto, e claro, do que penso. Encontro muita gente que quer ser o que não é, como refere o meu amigo Orlando. Vivem a sua fantasia quase a vida inteira, colam-se aos outros, fingem que também estiveram aqui e ali, que também fizeram isto e aquilo, às vezes de uma forma ridícula, sem se quer se darem ao trabalho de pensar que a  história gosta pouco de ser enganada...

Não é de agora que todos sonhamos ser um dia "heróis" de qualquer coisa. Essa vontade persegue-nos desde a infância. O reconhecimento (do outro...) é uma necessidade humana, de todos nós...

É por isso que quando alguém nos desenha o "retrato", de uma forma fria e despiedosa, a nossa primeira reacção é dizer que aquele não somos nós. Mesmo que a imagem que nos é oferecida esteja realmente distorcida (também não faltam por aí maus "desenhadores", mais por despeito que falta de arte...), é bom perdermos algum tempo a observar os seus traços. E depois devemos olhar para o espelho, sem fugir das rugas ou do negro que nos ensombra os olhos...

(Fotografia de Brassai)

domingo, abril 10, 2016

Brincar com a Miséria Alheia

Quando se pergunta o que se levaria numa mochila se de um momento para o outro nos tornássemos "refugiados", é natural que se leve com respostas como a da artista plástica Joana Vasconcelos (que tanto tem animado todos aqueles que utilizam as redes sociais e as caixas de comentários para exercerem a sua "liberdade de expressão"). E ela também deve sorrir por ser notícia, de um não assunto, de uma quase ficção, ou antes um jogo de imaginação.

Sei que hoje não existem grandes limites na comunicação social, graças ao êxito que as notícias de cariz duvidoso têm nas audiências. Nas redes sociais ainda é pior, chegou-se a um ponto em muito boa gente se acha no direito de opinar sobre o carácter de quem não conhecem de sítio nenhum, para além das revistas e da televisão, apenas porque sim.

Infelizmente quando somos obrigados a partir, numa situação de emergência, levamos apenas o que podemos e não o que queríamos levar...

É por isso que acho pouca graça a que se brinque com a miséria alheia e se façam perguntas parvas, que às vezes merecem respostas ainda mais parvas...

(Fotografia de Fernando Barão)

sábado, abril 09, 2016

O Bom das Entrevistas e das Memórias...

Hoje estive à conversa com um amigo sobre o jornalismo que se fazia há vinte cinco anos e o que se faz hoje. Não com um objectivo crítico, mas apenas para desfiar memórias...

Recordamos muitas coisas, desde o barulho das máquinas de escrever - os primeiros computadores tinham surgido há pouco tempo (estavam longe de ser para todos e ainda tinham o écran escuro ("ms dos"), sem as vantagens do programa das "janelas", que surgiria pouco depois.

Recordámos companheiros de todas as idades, num ambiente onde existia mais liberdade de acção e também mais "desenrascanço", pela escassez de meios. Ainda não existiam telemóveis nem internet, algo que veio revolucionar as redacções e o jornalismo.

Perderam-se e ganharam-se coisas. Por exemplo, penso que nos dias de hoje era impossível ter uma página em que fosse eu a escolher as pessoas que queria entrevistar, sem interferências das chefias. E isso aconteceu no princípio dos anos 1990, nas páginas do "Record"...

Durante esses anos fiz quase quatrocentas entrevistas, a gente especial, alguns dos quais foram tão especiais que mantive contacto e sempre que nos víamos era tratado com grande companheirismo e em alguns casos mesmo amizade (Romeu Correia, Henrique Mota, Dinis Machado, Carlos Pinhão, Agostinho da Silva, Mário Viegas, Lagoa Henriques, Artur Semedo ou Fernando Lopes).

Falámos de coisas curiosas, como o facto de ter entrevistado o António Lobo Antunes num gabinete sombrio do hospital Miguel Bombarda... ou de ter conversado com o José Mourinho quando era apenas o terceiro treinador do Sporting (com Bobby Robson e Manuel Fernandes...) e que tinha sido meu companheiro nos iniciados do Caldas... ou de ter recebido a entrevista (a única em que enviei as perguntas antecipadamente...) das mãos de Álvaro Cunhal, na Soeiro Pereira Gomes.

(Fotografia de Luis Eme)

sexta-feira, abril 08, 2016

O País das "Virgens Ofendidas"


Embora não ache aceitável a linguagem do Ministro da Cultura, estranho que exista tanta gente escandalizada pela forma como ele reagiu a dois artigos insultuosos de quem devia ter muito cuidado, para não morder a língua. 

Pelos vistos é muito mais grave um governante oferecer duas bofetadas a quem o insulta que lesar o Estado em milhões, como tem acontecido em tantos negócios obscuros, nos quais os responsáveis fingem que não tiveram nada a ver com o assunto (muitas vezes de bolsos cheios...) e quem acabam por pagar a factura, somos sempre nós, os contribuintes...

quinta-feira, abril 07, 2016

A Fuga ao "Coração" da Notícia

É mais fácil do que o que parece fugirmos do tema principal de qualquer blogue e comentarmos coisas diferentes, focando a nossa atenção muitas vezes apenas num pormenor (aquilo que nos tocou mais ou nos trouxe qualquer memória). 

Estou a dizer isto porque ontem em vez de falar da beleza das livrarias e da "Ler Devagar", em Alcântara, em particular, foquei a minha atenção na história do espaço, colocando em dúvida as palavras da Rosário (nas "Horas Extraordinárias"), por ter trabalhado naquele espaço quando ainda era EPNC (Empresa Pública Notícias e Capital), em 1981.

Como me lembrava do que sucedera com o "totobola" (que tinha uma tiragem de milhões e mantinha uma rotativa a trabalhar 24 horas por dia...), que fora retirado desta empresa pública para a concorrência privada (Mirandela), e ao que parece a EPNC (que já estava em "situação económica difícil") acabou por ser absorvida pela mesma empresa (que tinha na época alguns sócios ligados ao governo de então...). Nada de extraordinário se contabilizarmos o que tem acontecido tantas vezes, em dezenas de empresas públicas, que são vendidas a preço de saldo, quase sempre em prejuízo do Estado e em benefício de amigos.

Nem precisamos de recuar muito na história, há vários exemplos de privatizações feitas pelo último governo de Coelho e de Portas, que beneficiam sobretudo os compradores.

Na minha opinião, tem sido esta falta de sentido de Estado e de vontade de servir, dos nossos governantes, a grande responsável por o nosso País continuar na situação em que se encontra...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, abril 06, 2016

E se Não Tivesse Televisão?

Sei que se não tivesse televisão estava longe de viver um drama, embora fosse capaz de colocar as mãos nos bolsos nos primeiros tempos e sentir a falta de qualquer coisa. A pessoa que mais devia estranhar era a minha companheira que me "obriga" a conhecer o enredo e as personagens de alguns telenovelas. Os meus filhos como já gostam mais do écran mais curto de tamanho, que lhes permite ir à China e voltar, limitavam-se a abanar a cabeça e os ombros.

O que mudava? Passava a ouvir muito mais música (algo que entra com mais facilidade dentro de nós...), também era capaz de ler mais jornais (essa coisa que está em desuso, livros acho que mantinha o mesmo ritmo de leitura), talvez sentisse a falta das salas cinema e ao teatro com mais intensidade...

Não sei se ficava mais informado ou não (perco muito tempo a ver notícias televisivas, programas de futebol etc), nem se me divertia menos com a ausência de algumas séries e filmes. Talvez sim, embora pudesse matar saudades no computador (que nunca uso como projector de filmes, por ser antiquado, da mesma forma que não tiro fotografias com o telemóvel...).

Outra coisa que deveria acontecer, com toda a certeza, era falarmos mais uns com os outros cá em casa, sobre a história dos nossos dias...

(Fotografia de autor desconhecido)

terça-feira, abril 05, 2016

Ser Artista ou Ser Famoso...

Em relação à conversa de ontem, houve um momento em que ficámos em silêncio, quando o Carlos quis saber se estávamos no tempo em que toda a gente quer ser artista ou apenas quer ser famoso.

Como se não estivéssemos  todos de acordo, que o que a malta quer mesmo é ser famoso, até porque parece ser uma coisa que não dá muito trabalho.

E já nem é preciso ter o palminho de cara que a Rita pensou ser determinante. É preciso  sim ter "lata" (próximo do bidon...), uma forte propensão para o disparate, e claro, fingir que se acredita  que vivemos um tempo em que vale tudo...

O Américo, que visita mais o consultório do dentista, falou-nos de raparigas com nomes do século passado, quase todas a dever qualquer coisa à beleza, que participam nos "big-brothers" da actualidade - com nomes mais mais apelativos - e não têm qualquer problema em protagonizar cenas pornográficas, em nome das audiências da dona Teresa. E também nos falou das suas famílias, que gostam de entrar nos folhetins das "revistas com famosos", que se alimentam sobretudo das meias mentiras e das meias verdades.

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, abril 04, 2016

«Quando não há dinheiro, se há coisa que é difícil é ser artista. Ainda é mais complicado que viver...»


No outro dia, sem chuva e com esplanada, o Américo trouxe para a mesa a história de vida de pintor que já viu passar por si alguns momentos de glória e que hoje vive quase na miséria. Há uns amigos que vão passando lá por casa e deixam umas mercearias, que ele diz sempre não querer, mas que acabam esquecidas dentro do saco, num canto da sala.

Nem todos o conhecemos pessoalmente, foi por isso que de inicio não se deram grandes palpites, até por a vida estar difícil para quase toda a gente.

O Carlos Alberto com a sua diplomacia, disse que hoje era muito mais complicado ser "cigarra", que há meia dúzia de anos. O Rui perguntou pelo "partido", se este não o ajudava neste momento difícil, até por ele lhe ter oferecido muitos cartazes e serigrafias. O Américo desmentiu-o de imediato, disse que ele nunca deu nada a ninguém, vendeu sempre tudo o que pode. Acrescentando, que só assim é que tinha sido possível comer caviar com espumante, na companhia de dois ou três rapazes giros.

A Rita não gostou nada desta referência mais intima e atirou-se ao Américo, focando a sua qualidade artística, dizendo que era sobre isso que devíamos falar.

O Carlos Alberto tentou argumentar que ainda não se partem pessoas ao meio, que não se pode separar o artista do homem. Eu argumentei o contrário, acrescentando que,  pelo menos quem vê a obra com um olhar crítico, deve pensar em exclusividade no artista e no seu trabalho.

Arranjei tema para mais uns minutos de conversa, sem que chegássemos a qualquer conclusão.

À despedida, a Rita teve o seguinte desabafo: «Quando  há pouco dinheiro, se há coisa que é difícil é ser artista. Ainda é mais complicado que viver...»

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, abril 02, 2016

A Ironia e o Amor...


Uma das pessoas que melhor escreve sobre o quotidiano é o jornalista Ferreira Fernandes. É um dos poucos cronistas portugueses que leio sempre, porque tem a capacidade de mesmo quando não tem assunto, escrever magistralmente sobre qualquer banalidade. 

Ele hoje escreve no "D. Notícias" sobre o amor, com a sua ironia - é uma das suas melhores armas, embora no nosso país nem toda a gente tenha aprendido o que são "figuras de estilo"...

Transcrevo a parte final da sua crónica, com a devida vénia, em que ele escreve sobre os dois casos da semana, o egípcio que desviou um avião e a inglesa que se atirou ao mar, para apanhar o paquete do seu cruzeiro: 

«Susan, continua admirável. Irei sempre vê-la, a mulher que nadou para intercetar um paquete e resgatar o seu amor. Imagino-a a nadar, no rasto do Marco Polo iluminado pela lua cheia... Inventada a sua história de amor? Não são todas, ou pelo menos as melhores? Quem só a si se expõe tem o direito de tomar um sonífero, à espera que um Montecchio a venha acordar com um beijo. Ou não.»

Só mesmo o Ferreira Fernandes é que nos colocava a pensar que o amor está cheio de razões que a própria razão desconhece. E não pensem que este quase lugar comum é coisa apenas da poesia...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, abril 01, 2016

Zaha Hadid, uma Mulher Extraordinária


Zaha Hadid deixou-nos ontem, vitima de ataque cardíaco.

Foi uma mulher extraordinária e uma das melhores arquitectas do mundo.

O mais curioso é Zaha ter nascido em Bagdad em 1950. Claro que não nasceu no seio de uma família qualquer, seu pai foi um dos fundadores do Partido Nacional Democrático do Iraque... e provavelmente, devido às suas "ideias avançadas" teve de partir para o exílio... E quem ganhou com isso foi a filha, que além de estudar na Suiça e em Inglaterra, nunca se deixou prender pelas suas origens ou pela sua condição de mulher.

Graças ao seu espírito inovador e a uma vontade indomável de quebrar barreiras, tornou-se ao longo da sua carreira na arquitecta mais famosa do mundo. Em 2004 Zaha Hadid recebeu o "Pritzker" (o Nobel da arquitectura..), sendo a primeira mulher a ser laureada com este prémio e também a receber a medalha de Ouro do Royal Institute Of British Architects.

Ontem através da televisão vi algumas das suas obras mais emblemáticas, espalhadas por todo o mundo. E não posso deixar de referir a beleza do Parque Aquático de Londres, que recebeu as competições de natação dos Jogos Olímpicos de 2012,  as "Serpentine Sackler Gallery", também em Londres, ou a Ópera de Guangzhou, na China.

(Fotografia de Brigitte Lacombe)