quarta-feira, janeiro 31, 2024

As corridas que já não fazemos de "Ceca a Meca"...


Um amigo quase antigo dizia-me que tinha saudades de desafios, dos desafios que lançava a ele próprio e que o obrigavam a correr "Ceca e Meca", para conseguir chegar ao fim dentro do tempo que fora aceite pelos outros.

Sorri, por ainda ter desafios, mas por já não ter a força e a teimosia de há dez e vinte anos, para os levar, todos, a bom porto. Disse-lhe que para este ano tinha uns três ou quatro desafios, dois deles grandes. Acrescentei que devia estar tontinho quando apresentei a "empreitada" de um deles a quem de direito, que curiosamente, foi logo aceite. A minha dificuldade era a facilidade deles...

Foi a vez dele sorrir e de dizer que me invejava, até pela tal empreitada, que por muito que me custasse, sabia que a ia levar até ao fim.

De repente fiquei com a sensação de que ele acreditava mais em mim que eu. Uma coisa estranha e momentânea.

Ambos chegámos à conclusão que não é apenas um problema de idade, é também de desilusão em relação ao outro e à sociedade, de já não estarmos dispostos a fazer as tais corridas "de Ceca a Meca", por falta de pernas e também de paciência, para aturar más vontades ou ultrapassar os obstáculos que gostam sempre de nos colocar à frente... 

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, janeiro 30, 2024

Ser agricultor quase a brincar...


Ontem e hoje de manhã andei armado em agricultor.

Já devo ter escrito que quando era pequenote e passava uma boa parte das férias grandes em casa dos meus avós maternos, detestava aquela vida do campo. O meu avô era agricultor a tempo inteiro e tinha quase uma dezena de fazendas. Não recordo o nome de todas, mas não esqueci o das mais importantes, a "Ambrósia" (a jóia da coroa...), a "Várzea", o "Arneiro" ou o "Vale da Moira" (estas duas eram vinhas...).

Eu, ao contrário do meu irmão, não tinha qualquer fascínio por aquelas coisas, nem tão pouco pela variedade de animais, que podiam suplantar algumas "quintas pedagógicas"...

Foi preciso crescer e fazer-me homem para gostar dos milagres da natureza, de ver as coisas a crescerem desde a semente até ao fruto.

Embora goste de quase tudo, mexer na terra suplanta tudo. Sou o único que nunca usa luvas nas tarefas agrícolas (normalmente fico com as unhas ligeiramente castanhas, mas é uma maravilha o contacto com a terra e com as plantas...).

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


segunda-feira, janeiro 29, 2024

Os Saudosistas do "tempo das nuvens escuras"...


Eu sei que 50 anos é bastante tempo, mas isso não explica que comece a ver por aí, cada vez menos escondidos, os saudosistas do "tempo das nuvens escuras".

Prefiro chamar-lhe "o tempo das nuvens escuras", porque nunca gostei  do "tempo da outra senhora" (até porque era o tempo dos senhores e não das senhoras...).

Por não se conseguirem libertar dos fantasmas que os perseguem,  devido à religião ou a educações demasiado rígidas e repressivas, odeiam aqueles que amam a liberdade. 

Estão sempre à espera de um deslize de um qualquer "abusador" (alguém que goste mesmo de ser livre...), para colocarem em causa a liberdade de todos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, janeiro 28, 2024

Os poetas, os leitores, os editores e a poesia...


Nunca acreditei muito na expressão, "somos um país de poetas", até por saber que a frase é dita muitas vezes de forma irónica, para se referir a quem vive uma vida com "demasiada poesia", mesmo que nunca tenha escrito ou declamado um poema.

Mas do que eu queria mesmo escrever, era sobre os verdadeiros poetas, que se fazem entender de formas diferentes, normalmente mais estranhas e difíceis que qualquer prosador que se preze.

E também por isso mesmo, que se diz que há mais gente a escrever poesia que a lê-la. É apenas mais uma outra frase, que tem muito que se lhe diga, e da qual nunca recolhi qualquer prova que fosse verdadeira.

Talvez a poesia não se venda muito e as tiragens das suas edições sejam pequenas. Mas isso acontece porque ainda há quem continue a ter vergonha de comprar livros de poesia. Eu conheço alguns desses rapazes que acham "um desperdício" gastar dinheiro com poemas. Preferem requisitá-los em bibliotecas ou então pedi-los emprestados a amigos (às vezes tenho de fingir que não tenho um ou outro livro, para não correr o risco de o perder de vista...).

Lá estou em a "pintar a manta". A única coisa que queria dizer, é que a poesia, pode não ter muitos leitores, mas tem, sem qualquer dúvida, as melhores colecções de livros com poemas, pelo menos no nosso país. Não há uma editora que não se tenha dado ao luxo, ao longo dos anos, de criar uma grande (não em tamanho mas na qualidade dos autores...) colecção de obras com poesia.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, janeiro 27, 2024

A dupla "arte de contar"...


Nós nunca sabemos o que vai na cabeça dos outros, muitas vezes imaginamos, pelas suas expressões exteriores. Sim, a alegria e a tristeza são difíceis de disfarçar, quando estão ali mesmo à flor da pele.

Mas fez-me alguma confusão, que o neto não estivesse a par de tantas coisas que o avô Fernando fez. Não devia, até porque nessa altura ele andava a viver a vida dele, e fazia muito bem.

Lembrei-me que cá por casa os meus filhos interessam-se pouco pelo que escrevo. Poderá ser pelo facto de ser um "escritor de meia tijela", mas acho que não. Tem mais a ver com a proximidade que existe desde sempre, olham para mim como pai e não como alguém que escreve. E ainda bem, sempre apostei mais nessa vertente. Prefiro ser aquele os educou do que alguém que se "esqueceu deles" para ser outras coisas...

As palavras são uma coisa... queria escrever uma coisa e já estou a escrever outra.

Queria falar da maravilha que é, alguém juntar a qualidade de contador de histórias (daqueles bons, que nos prendem com "a magia das palavras"...), com a de fazedores de livros, como aconteceu com o Fernando e também com o Romeu Correia. É raro conseguirmos juntar estes dois talentos. Eles conseguiram...

E eu fiquei a pensar que se tivesse um avô contador de histórias (e tive, mas como era analfabeto, não havia qualquer possibilidade de escrever as histórias que contava...), talvez me preocupasse pouco com os seus livros, bastava tudo o que ele ia dizendo, quando estávamos juntos.

Talvez...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, janeiro 26, 2024

A "arte de desconversar"...


A "arte de desconversar" é comum a todos nós, por várias razões. A mais forte talvez seja o facto de não conseguirmos gostar e de concordar com toda a gente. Sim, fugimos de consensos quando não existe empatia com o outro, em vez de nos aproximarmos, vamos criando uma barreira invisível entre nós, que nos vai mantendo quase sempre afastados daquilo que poderia ser uma boa conversa.

Mas também podemos "desconversar" com quem gostamos. Há pessoas que nunca ultrapassam a fase dos "porquês" e raramente são afirmativas, questionam tudo e todos. E nem sempre temos paciência para elas...

Estou a lembrar-me neste momento do Jorge, filósofo de formação e ofício, que não era capaz de ter uma conversa simples. Tinha sempre que complicar as coisas, olhar e ver o que mais ninguém via. 

Ao contrário de outros amigos, que assim que o viam aproximar-se, eram capazes de pegar num jornal ou num livro, que estivesse ali à mão, só para não o "aturarem", conversava com ele, às vezes até lhe "dava corda" (ele adorava ser contrariado, ao contrário de quase todos nós...). E no final aprendia sempre alguma coisa. 

Fazia-o também por saber que ele vinha propositadamente da Lisboa das avenidas, para o nosso café tertuliano, para estar connosco. Nem me incomodava que ele durante a viagem de cacilheiro até à nossa banda, fosse menino para inventar um tema qualquer, só para nos fazer "saltar os neurónios"...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quinta-feira, janeiro 25, 2024

Nunca entendi (nem vou entender) esta vontade da justiça em ser notícia...


Quando não mudamos de opinião como quem muda de camisa, corremos o risco de passarmos por "burros" (e acabamos por o ser no olhar dessa gente que hoje diz uma coisa e amanhã o seu contrário). Nada que nos preocupe.

Tudo isto para dizer que continuo a pensar o mesmo sobre a nossa justiça e os seus "justiceiros", desde que um ex-primeiro ministro foi preso em directo no aeroporto. E hoje foi um dia em cheio para o ministério público, para a polícia judiciária, para os juízes, para as televisões e para os muitos "especialistas" em justiça. Ao mesmo tempo que a "corrupção" chegou à Madeira, Sócrates voltou a ser "corrupto" (tal como mais duas ou três figurinhas). 

Não tenho nada contra, mas preferia mais acção de verdade (uma justiça mais certeira e mais recatada) e menos ficção (com a passagem de menos "filmes" na televisão...). Ou seja, que todos estes "bandidos" fossem realmente condenados pela justiça e não pelas televisões, pelas rádios e pelos jornais.

Estou cansado de julgamentos populares, que não passam disso mesmo, com a justiça a não funcionar, já que os processos duram anos e anos e os "condenados" permanecem em liberdade, quase sempre sem prescindir (e sem que lhes sejam retirados) dos pequenos e grande luxos da chamada alta sociedade.

E também finjo que não percebo porque razão é que existem tantas "acções justiceiras" rente às eleições.

A primeira palavra que me ocorre é mesmo, "vergonha". É uma vergonha o que vai acontecendo, tanto para a justiça como para o jornalismo. Assuntos que deviam ser tratados com seriedade e sobriedade, ficam-se pela farsa, pela comédia e pela tragédia, para depois caírem no esquecimento.

Nunca entendi (nem vou entender) esta vontade da justiça em ser notícia, de preferência em directo, deixando para segundo plano a sua verdadeira função: ser justa e eficiente.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, janeiro 24, 2024

A importância do "outro" e da liberdade (em quase tudo, até na blogosfera...)


O comentário de ontem da Catarina, sobre eu escrever e não "dizer nada" de perceptível (para ela e certamente para mais gente...), merece resposta num texto e não num comentário.

A ausência de comentários faz com que o blogue ainda se torne mais "diário" e me esqueça, por vezes, que existem leitores (que segundo a estatística são sempre mais de um cento, diariamente).

Desta vez não havia nada escrito nas entrelinhas. Apenas cansaço de toda a mediocridade que nos entra pela casa diariamente (pela televisão, como não tenho redes sociais sou poupado de muitas discussões estéreis...).

Como estamos em pré-campanha podia falar da política e dos políticos. Não percebo como é possível um partido (Chega) não ser penalizado por abrir as portas a pessoas que se desfiliam de outro partido (do PSD), por não serem colocados em lugares elegíveis. Isto em semanas. Não me lembro de tanto oportunismo e falta de vergonha, de parte a parte, na política portuguesa.

Sem sair da televisão, não percebo como é que é possível que as televisões tenham concursos de talentos, onde aparecem jovens extraordinários a cantar, e depois nos seus programas de entretenimento dos domingos à tarde, dêem palco a tanto "artista da cassete pirata", que sabem tudo, menos cantar.

Podia continuar a dar exemplos, em quase todos os sectores da sociedade, onde o oportunismo, a cunha, se sobrepõem à qualidade.

O sonho pode e deve comandar as nossas vidas, mas não deve estar colado à ideia do "vale tudo", e de que "pudemos ser tudo o que quisermos", até por ser mentira. E é aqui que aparece a América (os EUA, claro, o teu Canadá não tem essa mania de querer "mandar no mundo inteiro"), que influencia cada vez mais o Ocidente, de uma forma negativa.

Até porque partem sempre de uma permissa errada, quando se afirmam como "o país mais livre do mundo": amar a liberdade não é impor aos outros o que eles não querem...

Espero ter sido ligeiramente mais esclarecedor, Catarina.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, janeiro 23, 2024

A mediocridade que se alimenta (cada vez mais) do "sonho americano"...


Cada vez gosto menos deste mundo que nos rodeia, desta "americanização" da nossa sociedade.

Nunca achei muita piada à ideia do "sonho americano", de que tudo é possível... porque a vida não é bem assim.

Até porque quem se alimenta deste "pão-tudo é possível", gosta da ilusão quase cinéfila, de que se pode viver cada vez com menos regras, onde "pisar o outro" até pode ser uma constante. É preciso é "alimentar o sonho", mesmo quando não se tem jeito para nada. Bom é pensar que se pode ser tudo e fazer tudo.

Esta é uma das explicações para que cada vez existam mais medíocres, cuja capacidade maior é serem bons a fazer "jogo sujo", afastando todos os que lhes "fazem sombra". 

Só ainda não consegui perceber é como é que alinhamos "neste jogo", com tanta facilidade...


domingo, janeiro 21, 2024

Voltar a abraçar o Sol e o Tejo...


Por muito corajosos que sejamos, o frio e a chuva afastam-nos sempre da rua, que deixa de ser o lugar mais agradável do mundo.

Foi por isso que gostei de voltar às minhas caminhadas mais longas à beira do Tejo e encontrar várias pessoas a quererem absorver um pouco daquele Sol, que brilhava, de mão dada com um céu bem azul.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sábado, janeiro 20, 2024

Sim, "somos todos diferentes e todos iguais"...


Por múltiplas razões (sim, nunca é uma só), depois de estar muito tempo sem organizar e montar uma exposição, fiz a primeira, do ano (e dos últimos anos...), uma homenagem a um amigo que comemora o centenário neste 2024 que se inicia (ano que promete ser mais activo, para mim, felizmente...).

Durante a viagem de ida e volta para casa tive a companhia de uma amiga, que vive um daqueles dramas que só quem passa por ele, sabe o turbilhão de emoções que entram dentro de nós, nos dias, meses e até anos seguintes (a perda de um companheiro ou companheira de uma vida...). Sinto que ela está a reagir bem. Está a tentar fugir da solidão, do vazio que ocupa parte dos seus dias. Mas é sempre mais fácil para nós falarmos, que para quem vive os dramas que a vida nos impõe...

Quando nos deixámos, voltei a pensar na exposição. Sim, é uma exposição diferente de muitas outras, só faz sentido para quem a entende... para quem perceba que se trata de uma viagem em volta de 100 imagens, cada uma com a sua história...

E lá vem a velha questão, quase filosófica, mas que diz tanto da vida: "Somos todos diferentes e todos iguais"... seja na forma de olhar, seja na forma de viver.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, janeiro 19, 2024

O cinema está sempre próximo da realidade...


O cinema está sempre mais próximo da realidade do que aquilo que pensamos.

O João estava a colocar-me a par dos bons filmes que andavam por aí (são bastantes, mas não gostam muito de "pipocas"...), quando misturámos as fitas com a actualidade. 

Fui eu que iniciei as hostilidades, recordando que o cinema raramente trata bem as polícias do giro (os detectives são uma classe à parte e ainda bem), e nem falei das perseguições policiais, em que os carros com sirenes passam o tempo a fazer o pino e a dar cambalhotas nas estradas. 

O meu companheiro de conversa disse que eles são mesmo assim, gostam de fazer cara de maus, raramente falam com as pessoas com bons modos, esquecendo-se que a sua missão não é apenas perseguir e prender bandidos. 

Lá veio o bom senso (neste caso a falta dele), para a mesa...

E como somos mauzinhos fingimos compreender esta sua aproximação ao lado mais à direita da política, porque  estamos fartos de saber que esta gente das "fardas e dos cassetetes" era muito mais feliz no país do "respeitinho e da autoridade".  

Pois era, no tempo dos "outros senhores", ninguém estranhava que apanhassem rapariguinhas e as mandassem despir no interior das esquadras...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, janeiro 18, 2024

"As Bibliotecas Humanas" em Almada e a História (antes e depois de Abril)


Fui convidado para estar presente na primeira sessão de "Bibliotecas Humanas - Antes e Depois do 25 de Abril, Trabalho e Profissões em Almada", como historiador local.

A sessão funcionou como mesa redonda, com os convidados e assistentes em pé de igualdade, para que todos aqueles que quisessem dar o seu testemunho, se sentissem mais à vontade para falar (excelente ideia).

Foram ditas muitas coisas interessantes, também falei sobre a indústria naval e vinícola, sobre as deslocalizações e também sobre uma ou outra profissão, que se foi perdendo no tempo. 

Mas a parte que mais me tocou foi o testemunho de uma senhora, que relatou a sua experiência profissional, com apenas 11 anos, numa fábrica de fiação. Com esta idade colocaram-na à frente de uma máquina, onde acabou por ter um acidente de trabalho, por clara inocência, e falta de responsabilidade. Ela própria assumiu que quem ainda é criança e é obrigada a trabalhar, vê em quase tudo uma possibilidade de brincar (que era o que ela devia estar a fazer, assim como estudar, em vez de estar a trabalhar...).

Nunca tinha pensado neste ponto de vista, das crianças (que se diz que são "homens e mulheres que nunca foram meninos e meninas", a frase não é bem assim, mas assim fica mais justa...) com 10, 11 anos, ainda não terem a cabeça formatada para todas as responsabilidades que lhes eram atribuídas nas profissões que eram "obrigadas" a abraçar, e que por terem uma atitude ainda infantil perante as coisas, deviam ser muitas vezes vítimas de acidentes, completamente escusados.

Houve muitas mais coisas interessantes quer foram ditas, mas só esta valeu pela tarde passada na Biblioteca Municipal de Almada.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, janeiro 17, 2024

A Falta das "vozes" com asas que voam pelas ruas...

Neste começo de ano tenho bebido mais café em casa, por causa do frio.

Prefiro sempre beber café nas esplanadas, mas com temperaturas demasiado baixas ou chuviscos, tornam-se lugares pouco agradáveis.

Não gosto nada de ficar no interior dos cafés, com diferenças de temperatura de mais de 10 graus entre o interior e exterior. Ainda mais agora que andam por aí múltiplos vírus gripais, que adoram lugares fechados e quentinhos...

E por isso mesmo, sinto a falta das pessoas, das palavras que têm asas, dos gestos (como ontem...).

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, janeiro 16, 2024

A tão apregoada multidisciplinaridade feminina...


É normal olharmos para o mundo com os "olhos de ver", quando estamos mais disponíveis para ver o que nos rodeia, quase como se estivéssemos no cinema. 

Isso acontece quando temos a cabeça mais vazia (solta talvez seja mais apropriado...), como hoje na esplanada. 

As nuvens cirandavam, percebia-se que vinha aí chuva, podia começar a cair passado cinco minutos ou uma hora depois. Isso devia explicar a quase ausência de pessoas na parte de fora da cafetaria.

Deve ter sido por isso que olhei com algum interesse para uma mulher ligeiramente mais nova que eu. Ela lia, escrevia, fumava e bebia café, quase ao mesmo tempo.

Quase que me apeteceu meter com ela. Era um belo exemplo da tão apregoada multidisciplinaridade feminina. Mas como estava acompanhada com um "rapaz" de quatro patas, que podia ser ciumento ao ponto de "morder", paguei o café e segui viagem.

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


segunda-feira, janeiro 15, 2024

Quando a memória brinca connosco...


Com o passar dos anos, sinto que a memória quase que brinca connosco.

Há sítios que sei que nunca visitei, mas mesmo assim, há um ou outro pormenor que me dá a sensação de lá ter estado.

E também acontece o contrário, lugares que sei que já lá estive, por esta ou aquela razão, fico com dúvidas de já lá ter estado.

(Fotografia de Luís Eme - Setúbal)


domingo, janeiro 14, 2024

A cultura serve para alguma coisa? Tem alguma utilidade para as nossas vidas?»


Sabia que um dia podia acontecer, ser questionado sobre a importância da cultura. Não estava à espera que a pergunta fosse feita por um familiar. Nem que fosse tão directa:

«A cultura serve para alguma coisa? Tem alguma utilidade para as nossas vidas?» 

Disse apenas que dependia de cada um de nós, da ideia que temos de cultura. De conseguirmos sentir que pode influenciar (ou não) de uma forma positiva as nossas vidas.

Não disse mais nada. Limitei-me a ouvir e a sorrir. 

Houve várias vozes a acharem que tudo aquilo que não se consegue autofinanciar, não devia existir. Seguiu-se um ataque directo ao teatro, por a maior parte das companhias não fazerem o mesmo que o La Féria, espectáculos que enchem as salas e são lucrativos.

Enquanto falavam eu ia pensando no que não fizemos nos últimos anos, especialmente nas escolas. A cultura é muito mais que concursos de talentos. É importante perceber que nem todos podemos ser cantores, músicos, actores, artistas plásticos ou escritores (há a ideia errada de que "podemos ser tudo o que quisermos"). Devemos sim, ser educados a compreender e a gostar do mundo das artes e letras...

E por outro lado, há coisas que não se ensinam nem explicam em lugar nenhum. O prazer que eu sinto em passear pelas salas e pelos corredores de qualquer museu, sozinho, só pela companhia dos quadros que estão a dar vida às paredes, é capaz de ser uma coisa pouco comum. Até pode ter a ver com alguma "anomalia" pessoal... Sim, ninguém nasce perfeito.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, janeiro 13, 2024

O "mercado de transferências" da direita...


Sei que não devia escrever sobre o partido da extrema direita, mas o facto de ele se estar a preparar para ser um "albergue espanhol", nas próximas eleições, acolhendo os deputados do PSD que vão ficar fora das listas de deputados (ou em lugares ilegíveis...), diz muito dos seus princípios (e também das pessoas que aceitarem ser candidatos) e ao que vem.

Num país normal, esta prática interesseira de ambas as partes, seria mais que suficiente, para que se entendesse, o que é que faz esta gente andar por aí nas ruas a oferecer esferográficas e barretes...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, janeiro 11, 2024

Memórias com pessoas e conversas (com e sem jornais)...


Depois de ontem ter falado da "crise do jornalismo", acabei por recuar no tempo e lembrar-me de que, quando vim para Lisboa, com dezoito anos, fui confrontado com uma realidade muito diferente da que vivia em casa dos meus pais.

Em meia dúzia de meses, cresci muito, mesmo sem me aperceber. Os primos não tinham filhos e trataram-me quase como se "fosse deles", mas dando-me sempre a importância e a liberdade que se dá aos adultos. Era por isso que conversávamos sobre tudo, mesmo que eu soubesse quase nada...

Uma das diferenças significativas, é que entravam todos os dias dois jornais lá em casa, o "Diário de Notícias" e o "Diário de Lisboa". Parece um pormenor banal, mas está longe disso...

Alguns anos depois, em pleno cavaquismo, recordo uma conversa que tivemos num daqueles almoços de família, com os tios emigrantes, que tinham uma visão do país, completamente diferente da nossa. Fazia-lhes confusão a forma como se estava a viver, de repente toda a gente tinha um carro e uma casa nova (exagera-se sempre nas conversas...). Mas o que eles não percebiam mesmo era a "crença" geral de que "íamos ser todos ricos de um dia para o outro"...

Lembro-me que mais ou menos na mesma altura, jantei com os meus queridos primos, gente de cultura superior, que tinham preocupações completamente diferentes. Ela era um quadro superior do Ministério da Educação e sentia-se cada vez mais incomodada com a confusão que se fazia entre instrução, educação e conhecimento. Ou seja, no final dos anos oitenta, já era perceptível que quem tutelava o ensino preocupava-se em aumentar os níveis de escolaridade entre a população, sem que esta preocupação fosse acompanhada também para mais educação e mais conhecimento.

Mesmo que o cavaquismo tenha acontecido há já algum tempo, valorizou em demasia o materialismo, o "faz de conta", esquecendo outras coisas, não menos importantes, e que nos enriqueciam, sem nos encherem os bolsos de moedas...

Lembrei-me dos meus queridos primos Elisete e José, porque tinham razão no tempo certo (mesmo que ninguém os quisesse ouvir...). Sim, se hoje há muito menos analfabetos, nunca se notou o crescimento de leitores de jornais ou de livros. E se há mais instrução, não há mais educação nem conhecimento. Não é por acaso que cada vez se pratica menos o civismo no emprego, na escola e nas ruas.

Entre outras coisas, não tenho grandes dúvidas, que se lêssemos mais livros e jornais, éramos pessoas mais esclarecidas e livres.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, janeiro 10, 2024

A guerra perdida do jornalismo por uma informação mais séria e livre


O que está a acontecer no Global Média Group ("Diário de Notícias", "Jornal de Notícias", "TSF" e "O Jogo"), não é nenhuma novidade, nem é um problema de hoje no jornalismo português. Se só nos fixarmos neste grupo, já existiram três despedimentos colectivos (2009; 2014;  2020) nos últimos quinze anos. E parece estar a avizinhar-se o quarto...

E as queixas em relação aos investidores são bem anteriores ao actual "Fundo das Bahamas". Desde o tempo da Olivedesportos, passando pelos accionistas angolanos e acabando no senhor Galinha, que sempre se passaram coisas estranhas na forma de gerir aquele que é um dos títulos mais valiosos da nossa comunicação social.

Talvez agora as coisas sejam ainda mais preocupantes, até porque é impossível fazer jornalismo sem jornalistas (as redacções estão cada vez são mais reduzidas...). A forma como o "Jornal de Notícias" é tratado também é estranha, já que segundo as notícias nunca deu prejuízo e tem sido a grande referência do jornalismo que se faz no Norte.

Ouvi o Presidente da Câmara do Porto nas notícias, quase a disponibilizar-se para apoiar o "JN", defendendo que as autarquias deviam puder apoiar o jornalismo que se faz nas suas terras. Não sei se ele estava a falar a sério. Mas até é possível que sim, porque ele escreveu durante anos em jornais. Mas como sei de casos contrários, de autarquias que se recusavam a apoiar a imprensa local (Almada foi um exemplo, não é por acaso que há já alguns anos que não há um jornal no Concelho...), porque não queriam ter contraditório, só gostavam de "notícias felizes".

E é por muitos políticos terem medo do contraditório, não quererem ser questionados pelos seus erros (e são tantos de Norte a Sul...), que se chegou a esta situação. O problema não se resume às redes sociais, que acabaram por ocupar espaços informativos que já não existiam ou eram deficitários. Infelizmente acabam por ter um papel mais negativo que positivo, devido à cada vez maior difusão de notícias falsas.

Mas como até são os próprios governantes que usam as redes sociais para "ganharem eleições", não há muito a fazer. 

Há já algum tempo que o jornalismo começou a perder a guerra, por uma informação mais séria e livre...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, janeiro 09, 2024

Talvez sim, talvez sejamos estúpidos (não vem mal nenhum ao mundo, mesmo que pareça que somos cada vez menos)


«Nós por natureza, somos egoístas, só em situações de guerra ou de revolta, é que nos unimos em volta do mesmo objectivo. Mas é quase sempre coisa de dias. É o mundo que nos diz que é assim. Só não vê quem é estúpido.»

Talvez sejamos estúpidos, sim, pelo menos aqueles que alguma vez acreditaram ou acreditam no socialismo (como eu...). Mas continuava com muitas dúvidas de que só em situações limites (talvez seja o que se passa hoje em Gaza e na Ucrânia, talvez...), é que as pessoas percebem que precisam umas das outras e lutam pelo colectivo. Se fosse assim, tanta gente por esse mundo fora que morria de fome e de frio, nestes tempos difíceis...

Ele continuava a querer vender a sua "bisnaga"...

«Não é por acaso, que inventamos coisas para vivermos isolados, para dependermos cada vez menos do outro, para pudermos fazer o que nos dá na real gana, para sermos cada vez mais egoístas e individualistas.»

Não satisfeito ainda foi capaz de dizer: «Nem mesmo o sem abrigo ali da esquina pensa numa sociedade mais justa e igualitária. Ele quer é sobreviver um dia de cada vez, borrifando-se para os outros.»

Não imaginava que estava a deitar por terra o discurso, que uma boa parte das pessoas vão para a rua, por serem incapazes de continuar a viver numa sociedade altamente competitiva e individualista, que os destrói por dentro e por fora...

Consegui não responder. Cada vez respondo menos a provocações que são de tal forma extremadas, que não merecem sequer que se perca tempo com elas.

Mas sabia, que se olhasse com crueza para o mundo, mesmo que soubesse que as coisas não eram bem assim, para lá caminhavam, com a nossa complacência e habitual abanar de ombros...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, janeiro 08, 2024

48 horas sem ver notícias (voluntariamente)...


Resolvi estar dois dias sem ver qualquer serviço noticioso televisivo.

Aconteceu mais ou menos o que previra. Ao fim de algumas horas, tive alguma preocupação que tivesse acontecido qualquer coisa importante no país e me passasse completamente ao lado. Mas depois, foi um alívio, um desprendimento. Que bom não sentir qualquer saudade de políticos, comentadores, muito menos de hospitais ou comboios...

Amanhã sei que vou descobrir o mesmo país. Que mesmo que tenha existido um encontro partidário no fim de semana, os problemas deverão continuar os mesmos e as discussões políticas devem também manter-se bem "rasteiras", pelo menos do lado direito, que nem sequer parece ter jeito para "comprar sondagens"...

(Fotografia de Luís Eme - Porto Brandão)


domingo, janeiro 07, 2024

Coisas de uma sociedade muito mais masculina que a dos nossos dias...


Nem sempre se consegue falar de sexo de uma forma aberta. E se a conversa for entre homens e mulheres as coisas ainda se podem tornar mais estranhas, porque por muito que se insista, as diferenças que existem entre nós não são apenas físicas.

É por isso que só quando existe uma grande cumplicidade, e ausência de quaisquer interesses carnais, é que é possível falar de forma natural sobre coisas que "não lembram ao careca".

Foi também por isso que foi bom viajar no tempo com a Rita, coisa que não fazíamos à séculos.

Foi giro como a conversa cirandou, do presente viajámos para o passado, para como olhávamos para o sexo na adolescência e juventude, na forma antagónica com que éramos colocados pela própria sociedade e pelos seus estereótipos. Enquanto nós rapazes, tínhamos vergonha de sermos "eternamente virgens" (o normal era visitarmos bordeis porque se exigia prática ao homem...), as raparigas queriam ser virgens, o mais tempo possível (quanto mais próximo do casamento melhor...). 

Éramos colocados em pontos opostos por uma sociedade muito mais masculina que a dos nossos dias...

Ainda bem que as coisas neste campo mudaram, significativamente.

(Fotografia de Luís Eme - Interior de Cacilheiro)


sábado, janeiro 06, 2024

O prazer que se tem em "esconder" o que os "outros querem saber"...


São várias as coisas que me dizem que sou de outro tempo (até o Cartão de Cidadão...). Mas também acredito que existam traços de personalidade, que não têm de ver necessariamente com os tempos que se vivem.

Eu sabia que cada vez se preservava menos a intimidade, o negócio dos mexericos até nos mostrava que poderia ser partilhada e transformada em "novela", cada vez mais com o consentimento dos próprios.

Como sempre fui bom a guardar segredos, não era daquele mundo que estava ali às minha frente. Não valia a pena falar do prazer que se sente quando se "esconde" que se anda com alguém, porque o "normal" é contar (mesmo que seja mentira...).

E o mais curioso, é que muitas vezes são os outros com a sua curiosidade, que nos levam a manter os mistérios e a esconder relações, que podem ser ou não passageiras.

Mas talvez esteja tudo mesmo diferente, e quem tem o prazer em "esconder" o que os "outros querem saber", sejam a excepção...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quinta-feira, janeiro 04, 2024

Este país onde é cada vez mais difícil viver e morrer com dignidade...


Quem ouvir os políticos a quererem inventar "casos e casinhos" com compras da acções dos CTT pelo Governo, até fica a pensar que não há nada de mais importante para se falar neste país.

Fingem não ouvir que se está a morrer mais do que o normal, muito menos querem saber as causas. Algumas das quais se devem com toda a certeza a más opções políticas e às disputas partidárias que já entraram há muito tempo, nos hospitais e nas escolas...

Não é de hoje, que muitas pessoas doentes preferem ficar em casa a ter de ir para os hospitais, onde sabem que têm de passar por uma espécie de "purgatório", onde mesmo quem está muito mal, pode estar por ali, num canto, sozinho, a sofrer horas e horas, sem ser assistido.

Um dos meus amigos telefonou-me, para me contar que a sobrinha tinha falecido. Tinha sido descoberta em casa, depois de estar dois dias sem dar sinais de vida.  Entretanto passou uma semana e o corpo ainda está à espera de ser autopsiado. Ele disse-me que pouco lhe interessa saber se ela morreu de morte natural ou de acção voluntária. O que não falta por aí é gente cansada de viver neste mundo, onde a fantasia não consegue enganar a realidade, eternamente. O que o chateia é o "silêncio ensurdecedor" que rodeia quase tudo o que diz respeito à saúde.

Mas os políticos deste país (que sonham com o poder...), parecem mais preocupados em continuar discutir a "novela das gémeas" ou o último "casinho" do dia, que em saber ao certo o que se passa nos hospitais públicos, que têm cada vez mais dificuldade em servir as pessoas. Precisamos todos de saber a verdade, se há realmente, muitos mais doentes, ou se há, muitos menos médicos e enfermeiros nos serviços de urgência deste país, onde quem governa e quem faz oposição, tem tanta dificuldade em falar com clareza.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, janeiro 03, 2024

Teatros e teatrinhos com ou sem final...


Continuo a escrever teatro, aqui e ali. Mesmo sabendo que dificilmente estas palavras têm um grupo teatral à sua espera...

Ninguém é perfeito.

Ontem, por um mero acaso, "esbarrei" numa entrevista dada por Arthur Miller ao "Público Magazine" de Abril de  2001.

Ele falou da importância do "final" e lembrou-me de uma conversa com um encenador que dispensava finais... Mesmo sabendo que ele é um dramaturgo do século passado, como concordo com ele, também devo ser um "escritor" do século passado (se é que isso existe...). Mas vamos lá às palavras de Miller:

«O final contém o percurso. Sem um final, não há peça, o percurso é irrelevante; podemos ter algumas cenas, algumas tentativas de construir uma peça, mas é o final que interessa, pois é aí que percebemos se fomos bem sucedidos a escrever a peça ou não.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, janeiro 02, 2024

A nossa conduta como cidadãos no espaço público


As notícias da televisão, mesmo que sejam repetitivas, levantam sempre questões.

Faz-me confusão que se insista, ano após ano, com o mesmo tipo de comportamentos, completamente erráticos e ilegais. 

Nas festividades do Natal e do Ano Novo continuam a perder-se demasiadas vidas nas estradas (e nem vou falar nos mutilados...), em acidentes estúpidos, muitos deles provocados por condutores com excesso de álcool no sangue.

Mesmo que saiba que não sou exemplo para ninguém (nunca conduzi alcoolizado...), não consigo compreender este comportamento "assassino", repetido ano após ano. 

Infelizmente, é apenas mais um exemplo, que diz muito sobre a nossa conduta como cidadãos no espaço público.

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


segunda-feira, janeiro 01, 2024

Um dia a seguir ao outro, mesmo que em vez de 2023 se tenha de escrever 2024...


Eu sabia que hoje era só o dia a seguir a ontem. Foi por isso que acordei com qualquer dissabor, não olhei para ninguém como se me devessem alguma coisa.

Claro que gostava que as coisas fossem diferentes, especialmente em Gaza e na Ucrânia, mas não vou fazer por aqui nenhum "discurso de miss mundo".

Nem tão pouco me assusta o Trump (está demasiado longe para ser o tal "papão" que já começa a meter medo a tanta gente...), mesmo que pense que a culpa maior é de quem deixa que um  velho homem de 85 anos seja o seu adversário democrata.

Virando-me cá para dentro, mesmo tendo a certeza que os socialistas estão longe de merecer continuar a governar o nosso país, não consigo esquecer a "ânsia" que o PSD tem em privatizar tudo o que desperta  interesse aos seus "clientes" (pobre SNS...). Já para não falar do aeroporto no Montijo, que é um dos desejos de Arnaut para este ano que começa...

Que parvoíce. Era para dizer quase nada e deu-me para falar de política e de políticos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)