sexta-feira, março 31, 2023

Um Retrato extremamente Lúcido e Honesto, mesmo estando Inacabado...


Quando resolvemos mudar as coisas de sítio, aparece sempre uma  ou outra surpresa. Isso tem acontecido sobretudo com os livros, que resolvem "submergir" e pedir uma chance, quase a prometer que não me vou arrepender de ler as suas palavras. 

Normalmente chamo-lhes os "livros improváveis". Foi desta forma que redescobri o "Retrato Inacabado (memórias)" da autoria da actriz Carmen Dolores. Por gostar deste género literário aceitei o desafio e devo desde já dizer que foi uma bela surpresa.

O que mais sobressai nesta obra é a "verdade" da actriz, a forma honesta como ela olha para dentro e para fora de si, sem ter medo de mostrar as suas fragilidades, iguais às de qualquer ser humano, desde os primeiros tempos até à sua idade madura.

Quando ela escreve, «Com o tempo fui aprendendo que os poetas são homens como os outros, tal como eu, embora actriz, sou uma mulher exactamente igual às outras», tenta aproximar o mundo das artes e das letras do cidadão comum. Ela oferece mais exemplos, ao longo das 160 páginas, porque nunca se sentiu uma "vedeta", ou pelo menos não alimentou essa ilusão, que nem sempre dá bons resultados.

Normalmente nas páginas dos livros de memórias, encontra-se sempre um ou outro capítulo, onde se ajusta contas com alguém, porque as nossas vidas nem sempre são fáceis. Carmen conseguiu resistir a este "lado negro" e apenas ajusta contas consigo própria, todas as outras personagens que passam pelo livro são tratadas com respeito, carinho e muita camaradagem.

Apesar de ser um livro simples, tocou-me bastante este "Retrato Inacabado", de Carmen Dolores.


quinta-feira, março 30, 2023

Com Tantos "Salvadores da Pátria", o Futuro do País está assegurado...


Quem assistiu hoje às notícias televisivas descobriu uma nova classe de "salvadores da pátria", os empresários do alojamento local.

Quem os ouvisse, ficava com a sensação de que tinham feito os seus negócios apenas para ajudar o país, para oferecer um novo rosto às cidades onde têm as suas casas, e não para ganharem dinheiro com a "galinha" que continua a pôr "ovos de oiro", o turismo.

Quase que fiquei zonzo, ao ver tanta gente preocupada com a economia e com os empregos deste País.

Depois lembrei-me que alguns destes "patrioteiros" foram os principais responsáveis pelo despejo de centenas de famílias dos chamados bairros históricos de Lisboa, que tiveram de ir morar para os subúrbios da Capital. E já se sente há algum tempo o resultado destas mudanças, a perda de identidade local e de vida própria, porque quase que se limitam a servir o turismo e os turistas.

É mesmo caso para dizer: Com tantos "salvadores da pátria", o futuro do País está assegurado...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, março 29, 2023

O Surpreendente Passeio Higiénico de um Ministro à Lisnave (com promessas, claro...)


Fiquei agradado por ver o ministro das Finanças a passear pela Lisnave (da Margueira...) com a "mayor" da cidade de Almada (que raramente se deixa ver, ao ponto de alguns munícipes ainda não a conhecerem...) e respectivos acompanhantes e a dizer, entre outras coisas, que é desta, que se vai realizar a descontaminação ambiental daquele espaço.

E ainda melhor, o estaleiro gigante abandonado há mais de vinte anos, afinal pode ser a tal solução para o défice habitacional que se faz sentir na "Grande Lisboa". Finalmente ouvi alguém a dizer que se poderá construir por ali habitação social a pensar nos jovens. Até ao dia de hoje só tive conhecimento de projectos megalómanos para a Lisnave, cuja habitação - de luxo - só poderia estar ao alcance de milionários.

Embora seja coisa para se prolongar no tempo (hoje foi só dia de promessas...), é bom saber que o Tejo pode estar ao alcance de todas as bolsas, até porque ninguém vive das vistas que tem ou não tem. O grande exemplo é o bairro social do "picapau amarelo", cuja localização foi tão invejada pela actual presidente da Câmara de Almada, há já algum tempo...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, março 28, 2023

Chegar "Ligeiramente" Atrasado ao Teatro...


Este título é quase mentiroso, porque as coisas não aconteceram assim. Não foi ao "teatro" que cheguei atrasado, mas sim ao "Dia Mundial do Teatro", que se festejou ontem.

É por estes pequenos pormenores que nos apercebemos que ainda não acertámos todos os passos, há coisas que ainda ficam para trás, esquecidas.

Curiosamente, na madrugada de 27 acordei bastante cedo e ainda na cama comecei a escrever o que poderiam ser duas peças de teatro (vieram duas ideias quase em simultâneo...), no caderno da "teatrices". É provável que não avancem muito (tem acontecido muito com este género literário, penso muitas vezes que era muito mais fácil ter uma ligação qualquer a uma companhia, mesmo amadora, e escrever um pouco de acordo com o que eles querem experimentar no palco...).

Mas não são coisas que me chateiem muito. Escrevo porque me apetece, porque algumas ideias vêm ter comigo. Se "morrem" quase à nascença, é porque não vieram com força suficiente, para se aguentarem "no mundo"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, março 27, 2023

«Há, Ele é isso tudo? Ainda bem! Assim tenho a certeza que ninguém mo rouba!»


Tenho impressão que as pessoas falam cada vez mais alto nas ruas, com e sem telemóvel.

Muitas vezes não queremos saber da vida delas para nada, mas é impossível não ouvir algumas coisas, com a estranheza possível.

Mas nem tudo é dramático ou triste. Três jovens estavam entretidas a "azucrinar" a cabeça de outra jovem, por causa do namorado desta. Ele era feio, gordo, usava óculos, era desengonçado... e provavelmente mais alguma coisa que me escapou.

O mais curioso, foi a rapariga namoradeira ter conseguido calar as outras três com uma resposta quase "assassina",  deixando-as a olhar umas para as outras, sem contudo perderem a leveza do momento.

Bastou-lhe dizer: «Há, ele é isso tudo? Ainda bem! Assim tenho a certeza de que ninguém mo rouba!»

Claro que alguns segundos depois, acabaram todas a rir, como se tudo não passasse de uma piada.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sábado, março 25, 2023

Os "Puros", a Literatura e a Vida...


Quase todas as semanas os "puros" das redes sociais e da vida inventam novas vítimas na literatura. A escritora Enid Blyton parece ser a última e já está a ser "banida" das bibliotecas do seu país, que desaconselham a sua leitura, de uma forma já mais oficial que formal.

Sinto vergonha desta gente e deste tempo, em que se finge perceber que o mundo nem sempre foi igual ao que é, nos nossos dias.

Voltando aos livros, continuo a pensar que, quando os livros mexem com a nossa inteligência ou com outra coisa qualquer, a única coisa sensata que devemos fazer, é colocá-los num canto e deixá-los por lá ficar, sossegadinhos. Ponto final.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, março 24, 2023

Dois "Pedregulhos" no Charco...


Não deixa de ser curioso, que as duas instituições mais conservadoras e menos democráticas da sociedade portuguesa estejam, de alguma forma, a ser colocadas em causa pela forma como funcionam e como interpretam os acontecimentos.

Falo da Igreja Católica e das Forças Armadas (em particular a Armada, que até tem fama de ser o seu ramo "mais democrático"...) e da reacção aos casos de abusos sexuais e à recusa de 13 marinheiros em embarcaram num navio longe de estar operacional.

O advogado Garcia Pereira, na entrevista que deu hoje ao "DN", foi bastante pertinente na forma como abordou este último caso, assim como o funcionamento da justiça, em geral, no nosso país.

Embora saiba que é necessária a disciplina nas Forças Armadas, as coisas têm mesmo de mudar. De uma forma simplista, a mentira de um oficial continua a valer mais que a verdade de um sargento ou de uma praça. E isso não pode continuar, num Estado de direito.

E quando se fala em obediência, apesar do nosso hino nos convidar a "contra os canhões marchar", não se pode, nem deve, entender esta frase de uma forma literal. Não se pode obedecer "cegamente" a uma ordem. Se um comandante mandar que nos atiremos para um poço, profundo sem água, é evidente que temos todo o direito de a recusar, mesmo que depois possamos ser acusados de insubordinação...

É por isso que espero que estes "dois pedregulhos" atirados ao charco, ajudem estas duas instituições a aproximarem-se da sociedade e a funcionarem de uma forma mais democrática e respeitadora dos direitos humanos.

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


quinta-feira, março 23, 2023

A Verdade que está Dentro do Olhar...


Passei por Lisboa e encontrei-me com um amigo das fotografias, com quem aprendo sempre qualquer coisa, nas nossas conversas animadas.

Desta vez até andámos pelo futuro. Como se tem inventado tanta coisa, ele falou-me de um daqueles inventos, que acabava com a dificuldade cada vez maior que existe em "roubar fotografias" aos rostos das pessoas com quem nos cruzamos.

Quando  ele me disse, «Sabes, gostava de ainda cá estar, quando alguém resolver inventar algo que torne possível que, apenas com o nosso olhar, sem o uso de qualquer máquina fotográfica, seja possível retratar uma pessoa ou um objecto, tornando-a muito mais próxima daquilo que realmente queremos transferir para o mundo das imagens», eu limitei-me a sorrir.

E depois contei-lhe que tinha encontrado no cacilheiro uma jovem extremamente bonita, muçulmana, que trazia a cabeça coberta, com uma espécie de lenço azul. Tive uma grande vontade de a fotografar, mas era impossível fazê-lo, sem que ela desse por isso. Mesmo que os meus olhos a tivessem "fotografado", mais que uma vez...

Voltámos a sorrir, até por sabermos que o futuro estava sempre pronto a surpreender-nos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, março 22, 2023

Um Mundo Cheio de Pessoas Mal Agradecidas...


Se há coisa que evito, é ser mal agradecido. Não quer dizer que o consiga, sempre, mas pelo menos tento ter sempre a memória bem viva.

Faço-o porque uma das coisas que mais detesto são as pessoas que têm a memória muito curta e que se esquecem daqueles que os ajudam e lhe fazem bem.

Ouvir hoje o Cristiano Ronaldo, sempre que lhe foi possível, puxar este novo seleccionador para cima, ao mesmo tempo que tentava "beliscar" o trabalho de Fernando Santos, sem nunca se referir ao seu nome (na conferência de imprensa da selecção), mostra o seu carácter. 

Fico à espera da sua reacção, quando for para o banco. Porque, mesmo que jogue amanhã a titular, já quase toda a gente percebeu que ele não é o melhor avançado português. Pelo que, mais tarde ou mais cedo, sairá do onze da Selecção.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


terça-feira, março 21, 2023

"Éramos uma Invenção tão Boa"


Éramos uma Invenção tão Boa
 
 
Eles amputaram
As tuas coxas das minhas ancas.
Tanto quanto sei
São todos cirurgiões. Todos eles.
 
Eles desmantelaram-nos
Um ao outro
Tanto quanto sei
São todos engenheiros. Todos eles.
 
Que pena. Éramos uma invenção
Tão boa e tão amável.
Um aeroplano feito de um homem e de uma mulher.
Com asas e tudo.
Pairávamos ligeiramente por cima da terra.
 
Até voávamos um pouco.
 
 
Yehuda Amichai

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, março 20, 2023

A "Prima Vera" Acabou de Chegar...


Durante anos e anos, o dia 21 de Março festejava o começo da Primavera, e também os dias da Árvore e da Poesia por esse Mundo fora.

Até que a ciência disse que afinal a Primavera chegava ligeiramente mais cedo, ainda a 20 de Março...

Felizmente a Primavera não floresce apenas os campos, que ficam mais bonitos e cheirosos. As ruas também ficam mais coloridas porque com o aumento da temperatura, as mulheres começam a tirar os vestidos dos armários e saem de casa, mais leves e floridas...

(Fotografia de Luís Eme - Constância)


domingo, março 19, 2023

Rui Nabeiro: o "Patrão com Memória"...


O empresário Rui Nabeiro deixou-nos hoje. Teve todos os motivos para partir, com um sorriso no rosto, pelo legado empresarial e humanista que deixa atrás de si.

Li no "Cais do Olhar" do Sammy, que tinha dito um dia: «Hei-de ser um rico diferente dos que há por aí.» 

E foi mesmo muito diferente. 

Foi um rico, um patrão, um empresário com memória. Nunca se esqueceu de onde veio, nem nunca foi ganancioso, ao ponto de querer "tudo para si", como é comum no mundo empresarial português.

É uma pena para todos nós que o seu exemplo humanista, não seja regra, em vez de excepção, neste mundo capitalista cada vez mais "selvagem". 

Portugal seria um país muito melhor para todos.


sábado, março 18, 2023

Não sei se foi o neo-realismo ou surrealismo, quem esteve de visita ao café...


Tenho alguns amigos que podiam ter escrito argumentos para filmes de realizadores como o Manoel de Oliveira, que fazem aquelas fitas que gostamos de chamar de "europeias".

Estarmos dentro ou perto dos sessenta também não deve ajudar nada, diga-se de passagem...

Se numa conversa começares a ouvir coisas mais ou menos estranhas, o melhor que tens a fazer é mudar de mesa, mudar de café e até fazer uma rifa com os teus amigos.

Não sei quem começou, nem porquê. Mas isso é o menos importante. Só sei que comecei a ouvir coisas como:

«A partir de certa altura, começamos a olhar mais para trás e a querer fazer o percurso inverso, é como se fugíssemos de alguma coisa...»

«Talvez saibamos que temos um "abismo" à nossa espera.»

«Sim. Talvez queiramos fugir do fim.» 

«É isso... Somos demasiado realistas e bem informados. Estamos fartos de saber que este país não é para ninguém, nem para velhos, nem para novos.»

«Tira daí o "ninguém". Se fores um velho inglês ou francês, este país assenta-te que nem uma luva. Até a velhota da mercearia aprende a falar estrangeiro, só para ter servir na palma da mão.»

Depois do diálogo entre o "Velho um" e o "Velho dois", entrou em cena o "Velho três":

«Quem diria, afinal não são só as clientes das cirurgias plásticas e dos "botoxes" desta vida, que não querem ser velhas...»

(esqueci-me de apontar a noss gargalhada geral, a pensar nas "lilis" deste mundo...)

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


sexta-feira, março 17, 2023

«O mundo muda sempre mais depressa que nós.»


Não sei se é bem assim, como o Jorge disse, que «o mundo muda sempre mais depressa que nós.»

Depende sempre do "mundo" onde nós estamos, da nossa latitude e longitude...

De certeza que na maior parte dos países de África (e até em vários da América Latina...), as coisas mudam quase em câmara lenta, que as pessoas quando acordam para um novo dia, têm de enfrentar os mesmos problemas de sempre, pois a miséria, a repressão e a guerra continuam a ser as únicas coisas que costumam ter em abundância...

(Fotografia de Luís Eme - Vila Velha de Rodão)


quinta-feira, março 16, 2023

Uma Conversa com Cinema no meio da Vidinha...


Já há muito tempo que não falava de cinema. Do cinema a sério, das salas escuras e silenciosas (as memórias do Chico sobre o Cine-Incrível não contam...), com um ecrã gigante.

Além da andarmos à volta de algumas salas e de alguns filmes, também olhámos para dentro de nós como as nossas vidas mudam quando aparecem os filhos... Mudam mesmo, se não fingirmos que continuamos "pássaros livres", assim que anoitece, deixando-os entregues às mães e sogras, desejosas de viverem segundas maternidades...

Voltando ao cinema, nem foi precisar inventar justificações para as nossas faltas de comparência nas salas. Bastou focarmo-nos nas mudanças nos últimos vinte anos. Hoje parece que a acção é a única coisa que importa, usa-se e abusa-se das fitas "sobrenaturais", quase banda desenhada feita com seres humanos em vez de bonecos. Para tornar tudo ainda mais maluco, aumentaram o som das salas dos centros comerciais (praticamente as únicas existentes...), quase até ao ensurdecedor.

Estivemos os dois de acordo, não foi apenas uma coisa, que nos afastou do cinema. Nem mesmo as famosas pipocas. Até porque as últimas vezes que fui ao cinema, foi com os meus filhos e com pipocas.

Ambos sabemos que vida é feita de mudanças. E a partir de certa altura, parece que o que passou é melhor do que o que ainda está para vir. 

Foi mais ou menos esta a conclusão a que chegamos, pelo menos em relação ao cinema...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, março 15, 2023

Mais de Vinte Anos a "Mascarar a Realidade"...


O que aconteceu na Madeira, com uma embarcação da Marinha e com 13 marinheiros, que se recusaram a participar numa acção de vigilância, tem muito a ver com estes tempos, em que toda a gente parece ter vontade de "explodir".

Provavelmente os marinheiros irão ser castigados por insubordinação. Mas a partir de agora, vai ser muito mais difícil aos governos e ao almirantado continuarem a "mascarar a realidade". 

Porque, pior que o mau estado de uma boa parte dos navios de guerra da Marinha, é a falta de marinheiros. Cada vez se sente mais a falta de homens e mulheres nas unidades navais, colocando em risco as missões normais de defesa e fiscalização, num país com uma costa atlântica como a nossa...

E se a Saúde e a Educação podem  ver parte dos seus problemas resolvidos através das parcerias público-privadas (tão desejadas pela direita...), às Forças Armadas só resta o Estado. Esse mesmo, que se tornou perito em varrer os "problemas para debaixo do tapete"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, março 14, 2023

«Por que é que estamos todos cada vez mais parvos?»


Dois homens começaram a discutir, por causa de um cão que em vez de falar como nós, ladrava... 

O homem de mais idade e dono do cão, acabou por virar as costas ao outro, que só parou de gritar, quando o senhor com mais juízo e vergonha já estava bem longe.

Foi por isso quase natural a pergunta do Carlos: «por que é que estamos todos cada vez mais parvos?»

Olhámos uns para os outros, surpreendidos pela velocidade de raciocínio do nosso  companheiro. Acabámos por sorrir, mesmo sabendo que o assunto era para tudo, menos para graças.

O Jorge foi o único que esboçou uma resposta, com outra pergunta: «querem ver que o "bicho", além de nos ter afectado as vias respiratórias, também nos afectou o cérebro?»

Quase que parecia uma conversa de malucos. Quase...

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)


segunda-feira, março 13, 2023

"Dizer o que se quer", para depois se ouvir, o que "não se quer"...


É já antiga a má relação entre Nelson Évora e Pedro Pichardo.

Nelson nunca viu com bons olhos a chegada de Pedro a Portugal e ao Benfica (que ele abandonara, a troco de um melhor contrato por parte do Sporting...). Em pouco tempo passou de "número um" a "número dois" do triplo salto. Pedro além de ganhar mais títulos, ainda bateu os seus recordes com as cores do nosso País.

Com Nelson a caminho da "reforma", pensava que tudo isto já estava sanado. Mas não, passado todo este tempo, o atleta  voltou a colocar em causa a vinda do atleta cubano para o nosso país, assim como o processo da sua nacionalização e a própria Federação de Atletismo. 

E quando se "diz o que se quer", com o objectivo de colocar em causa o outro, pode acabar por se ouvir "o que não se quer"...

Foi o aconteceu ontem. Pedro finalmente respondeu à letra a Nelson (talvez tenha ido longe demais, mas limitou-se a responder a mais uma provocação).

O passado de Nelson Évora distancia-o daquilo que até se poderia chamar, "um português "bacteriologicamente puro" (este expressão é horrível, é quase "nazi"...), pois nasceu na Costa do Marfim e é de cor, e ainda bem. E por isso mesmo, torna ainda mais estranha, esta sua "não aceitação" de Pedro Pichardo como atleta português...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, março 12, 2023

Gostar ou não, de ter "vida privada"...


Volta e meia, lá volto eu, aos "discos riscados"... 

Talvez todos tenhamos necessidade de nos justificar, de xis em xis tempo. Ou de perceber que apesar de nos considerarmos "libertários", somos demasiado conservadores, em muitos aspectos das nossas vidas...

Tudo isto para dizer, que não se pode dizer que eu seja crítico das redes sociais, apenas não as frequento. E também não se pode dizer que sinta falta delas na minha vidinha.

A primeira desculpa que dou quando sou questionado (voltei a dá-la mais uma vez, em família, e por isso, voltou a ser bem aceite...), é não ter tempo para estar. Percebem que gosto mais de escrever sobre o que apetece que fazer "mini-reportagens" sobre onde fui no domingo ou mostrar o que comi ontem, publicamente. 

Às vezes penso que devia ter facebook, quanto mais não fosse para ver como estão os meus primos da América ou da Europa. Mas depois olho para a minha vida, e percebo que tenho um feitio estranho, que continuo a gostar de "nadar contra a corrente", a adorar ser "apenas mais um", que escapa a sete pés de passadeiras e nunca usa roupas que brilham...

É por isso que continuo a dizer, "agora não". 

Talvez ainda seja inventada alguma coisa mais parecida comigo (como são os blogues)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, março 11, 2023

Um título de livro que parece uma piada foleira ("O Super-Camões")


Fernando Pessoa depois de se tornar "moda", tem dado pano para muitas mangas, especialmente a partir dos anos oitenta do século passado.

Ainda antes de se abrir a arca sem fundo do poeta, já existiam demasiados "donos da verdade", sobre a história de vida do Fernando. A coisa ainda se tornou mais complicada porque ele também foi Alberto, Álvaro, Bernardo, Ricardo - para referir apenas os seus nomes com mais peso literário.

Ou seja, Pessoa nunca se livrou de afirmações polémicas, com e sem nexo. Para variar, a sexualidade, que ele sempre manteve privada, é das coisas com que mais gostam de implicar. Nem mesmo a existência da Ofélia o livrou da fama de homossexual, para uns, ou de ter sido celibatário e morrido virgem, para outros. 

No último ano surgiram duas biografias, uma escrita por Richard Zenith e outra por João Pedro George. E para que tudo corresse com normalidade,  lá surgiu a polémica do costume...

João Pedro George (useiro e vezeiro em "disparar" sobre tudo o mexe na literatura portuguesa...), apesar de se ter desculpado, que a sua biografia era um trabalho para não académicos (é muito boa esta...), não se livrou das comparações com o livro de Zenith. E parece que ficou a perder (nos anos de investigação da obra do poeta e no número de páginas, perde com toda a certeza...) e não achou muita piada.

Mas eu não vou fazer qualquer tipo de comparação entre as duas biografias. Só vou falar do mau gosto do título da biografia de João Pedro George. "O Super-Camões", além de ser redutor para o nosso poeta gigante, Luís de Camões, acho-o mais apropriado para uma obra de banda-desenhada ou de literatura infantil.

O mais curioso, foi ainda não ter lido nada a este respeito. Provavelmente sou o único que não gosta deste título e que o acha uma piada foleira aos nossos dois poetas maiores.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, março 10, 2023

A "Caça" ao Pacheco Pereira pela dita "imprensa cor de rosa"...


Só na quarta-feira, quando almocei com dois amigos, é que tive a percepção da "caça" ao Pacheco Pereira, levada a cabo por uma parte de uma comunicação social que sempre foi mais castanha que rosa, diga-se de passagem.

Li o artigo em causa no "Público", em que Pacheco Pereira fala não só das violações  da Igreja, como também nas relações ambíguas existentes no seu seio, com a existência de "sobrinhas", "afilhadas", que vivem nas casas de alguns padres. E depois vai mais longe, alargando o leque de relações entre adultos e crianças, na própria sociedade. Normalmente também são apelidados de "afilhados". Pacheco Pereira, mesmo sem dizer o nome, dá pistas suficientes para se chegar a Marco Paulo.

O historiador deu este exemplo, por não perceber a razão, pela qual estas relações (há dezenas delas nos meios artísticos e televisivos...) nunca provocaram ondas de indignação na sociedade. São sim, muitas vezes patrocinadas pelas revistas que vivem quase num mundo paralelo, que uma boa parte das vezes, não passa de um "mundo do faz de conta". É dessa forma que é comum "inventarem" namoradas a actores ou músicos (são os mais "explorados" por este género jornalístico...), que socialmente têm receio de assumir a sua homossexualidade, por terem noção que o nosso país é tudo menos aberto neste campo...

Eu percebo a linha de defesa montada por esta imprensa e pela televisão que se alimenta de mexericos. Sempre tiveram uma posição ambígua, protegendo e fechando os olhos às tais relações, no mínimo estranhas, que Pacheco Pereira denunciou, com a coragem que o caracteriza. 

E por isso, têm de defender o "negócio" e os "marcos" que lhes abrem a porta de casa...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, março 09, 2023

No dia nove volta tudo ao normal...


Já devo ter escrito alguma coisa parecida, porque este meu sentimento não é de agora, é de sempre.

Sempre me fez confusão que a Mulher aceitasse esta coisa esquisita de só ter um dia por ano, para "festejar e ser festejada".

E tanta hipocrisia que se liberta por esse mundo fora, em discursos, sorrisos, abraços, beijos, prendas (as floristas e as chocolateiras agradecem...) e promessas, tantas promessas. 

Pois é, fazem-se sempre muitas promessas, daquelas de um só dia...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, março 08, 2023

"Os Homens que são como lugares mal situados"


Talvez seja por causa dos "homens que são como lugares mal situados", que é necessário comemorar o dia 8 de Março. Devem existir bastantes no Irão e no Afeganistão, e claro, no nosso país. Até são capazes de comprar flores e tudo, só hoje...


Os Homens que são como lugares mal situados


Homens que são como lugares mal situados
Homens que são como casas saqueadas
Que são como sítios fora dos mapas
Como pedras fora do chão
Como crianças órfãs
Homens sem fuso horário
Homens agitados sem bússola onde repousem

Homens que são como fronteiras invadidas
Que são como caminhos barricados
Homens que querem passar pelos atalhos sufocados
Homens sulfatados por todos os destinos
Desempregados das suas vidas

Homens que são como a negação das estratégias
Que são como os esconderijos dos contrabandistas
Homens encarcerados abrindo-se com facas

Homens que são como danos irreparáveis
Homens que são sobreviventes vivos
Homens que são como sítios desviados
Do lugar...

Daniel Faria


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, março 07, 2023

A Igreja do Cardeal Clemente não é a mesma do Papa Francisco


Depois de ouvir o que o Cardeal e alguns bispos portugueses disseram, quase a quererem "branquear" os abusos sexuais perpetuados pelos seus pares, fiquei com a sensação de que a nossa Igreja Católica não é a Igreja do Papa Francisco.

E vou ainda mais longe. Se fosse católico praticante, depois das declarações que ouvi, não voltaria a assistir a uma missa ou a outro evento religioso deste credo.

Felizmente, Daniel Sampaio, que fazia parte da Comissão Independente, e sabe bem o que constava no relatório apresentado à Igreja, não teve qualquer problema em chamar "mentiroso" a Dom Manuel Clemente.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


segunda-feira, março 06, 2023

O Rio que "Dança" entre o Azul e o Verde...


Ela disse-me uma das coisas que mais me invejava, era eu poder caminhar quando me apetecesse, à beira de um rio, com as águas vivas e bonitas, pintadas de tonalidades que nunca saíam do verde e do azul.

O rio da sua cidade, além de não ser tão largo, quase que não se mexia e normalmente tinha uma cor acastanhada...

Sorri com a compreensão possível. Estava farto de saber que havia poucos rios que esta capacidade de "dançarem" entre o azul e o verde, mesmo quando aparecem nuvens...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


domingo, março 05, 2023

Quando a Realidade é "Encomendada"...


Estava a ver a reportagem televisiva (SIC) sobre as casas abandonadas pelo Estado na Serra de Montesinho, no Jornal da Noite, quando comecei a pensar que havia ali qualquer coisa que não batia certo.

Num país com centenas de aldeias quase desertas por esse interior fora (Beira Baixa, Beira Alta e Trás-os-Montes), onde o que mais existe são casas vazias, quase que soa a mau gosto fazer-se uma reportagem destas, distante dos grandes centros urbanos (especialmente Lisboa e Porto), onde também existem centenas de prédios devolutos e abandonados pelo mesmo Estado, que ainda não sabe bem o que é que lhe pertence, de Norte a Sul. E estes sim, uteis para quem precisa de uma casa próxima do local de trabalho.

Claro que pode sempre ser uma reportagem "encomendada" por alguém que está interessado em comprar e ganhar algum dinheiro com as casas de montanha abandonadas, com o chamado "turismo selvagem". 

É por isso que convém lembrar-lhes que existem por ali animais, como os lobos, veados, gatos selvagens, sem esquecer os musaranhos, ouriços-caixeiro e toupeiras, entre outros de menor dimensão. 

E na minha opinião, é muito mais importante preservar o seu habitat natural que abrir novas portas para o turismo.

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


sábado, março 04, 2023

Este tempo é de muitas coisas, até de "puritanos" (com e sem sacristia)...



Nem mesmo os escândalos da igreja católica - o espaço onde se devem encontrar mais "puritanos" por metro quadrado -, deixam esta espécie de gente sem vontade de apontar dedos ou de mostrar as garras contra os autores livres, que gostam de todas as palavras, seja na literatura, no cinema ou no teatro (ainda não chegou à arte, quando chegar começam a "vestir" estátuas e a tapar quadros...).

Felizmente os "puritanos" andam distraídos e ainda não "atacaram" os dicionários de sinónimos, que os classificam exactamente como são, ainda que com alguma benevolência: intransigentes, intolerantes, rígidos e rigorosos.

Ou seja, é gente que não sabe viver com, e em liberdade. Dai a grande dificuldade em respeitarem a liberdade dos outros...

(Fotografia de Luís Eme - Seixal)


sexta-feira, março 03, 2023

Concordo cada vez mais com o meu Avô Anarquista...


Sinto que estão a querer destruir a escola, pelo menos como ela é entendida numa sociedade verdadeiramente democrática, uma escola pública, que quer ser igual para todos. Normalmente são os governos mais virados para a direita e para os negócios privados, que começam a abanar estas estruturas (isso tem acontecido nos últimos vinte anos, para não ir mais longe.). E agora parecem estar como querem. Até contam com a cumplicidade de muitos professores e funcionários...

Não sei o que irá sobrar, depois de todos estes anos das más práticas e políticas educativas. Mas com o caminho cada vez mais aberto para o regresso da direita ao poder, não é difícil de prever que num futuro próximo, irão ser concedidas mais licenças para colégios de "excelência" (onde só há espaço para os filhos das boas famílias ou para os alunos de notas exemplares...). E se ainda existir jornalismo de investigação, mais tarde ou mais cedo, ficará a saber-se das ligações familiares de quem faz parte dos conselhos de administração, com os ministros e secretários de estado do costume...

Não vou escrever sobre a saúde, porque aí as coisas ainda são feitas mais às claras. Segundo se diz e escreve há anos, não existe um hospital público que seja bem gerido. Os médicos e enfermeiros parecem concordar... Quem esfrega as mãos com estas "conclusões" são os grandes grupos económicos, como a CUF, que depois de andar anos e anos a comer a carne e os ossos dos operários das muitas indústrias de que foi dono, descobriu nestes tempos modernos, uma forma mais fácil, e limpa, de ganhar dinheiro.

Havia uma coisa que o meu avô paterno percebeu desde muito cedo, no meio da sua quase ignorância "obrigatória" (foi praticamente proibido de ir à escola, tal como o meu avô materno e milhares de pessoas das suas gerações...), que o mundo seria muito melhor se não existissem ricos, como os que ia conhecendo à medida que se fazia homem: pessoas que queriam ser donas de tudo, até das pessoas...

Depois de termos vivido alguns anos com a esperança de uma sociedade mais igualitária, reparo que está a aparecer, em demasiadas esquinas das nossas vidas, a gente que o meu avô me ensinou a abominar, que quer ser dona de tudo, até das pessoas...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, março 02, 2023

Essa coisa absurda que é "matar palavras"...


Estamos sempre a descobrir coisas novas, mesmo que nem sempre contribuam para a nossa felicidade. 

Depois da batalha contra as palavras "ofensivas" (por alguma razão foram escolhidas pelos autores...) que os falsos puritanos querem roubar aos livros, li hoje no blogue "Horas Extraordinárias" que o Instituto Camões vai considerar "palavras mortas", todas aquelas que não sejam utilizadas nos últimos três anos.

Pensava que a vocação do Instituto Camões era acarinhar as palavras em português, nunca "matá-las". 

Pelos vistos estava enganado...

Eu sei que o mundo está cheio de idiotas que ocupam cargos de poder (na política é um "ver se te avias"...), mas em sectores como o da cultura, já de si frágeis, pela notória falta de apoio e investimento, eram dispensáveis.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, março 01, 2023

Ter ideias a mais e tempo a menos...


É normal que isto vá acontecendo, à medida que o tempo vai passando, ter ideias a mais e tempo a menos para as concretizar. Embora tenha a sensação de que isso sempre me aconteceu.

Acho que todas as pessoas criativas se sentem desaproveitadas (excluindo os  de que conta terem nascido "com o rabiosque virado para a lua" e os que passam a vida a ser empurrados, para aqui e para ali, pelos pais, pelos tios, pelos primos e pelos - não menos importantes - "padrinhos").

Estas minhas palavras não pretendem "lamber feridas", são uma simples constatação de quem de vez enquanto, tem de deitar fora papeis e passar os olhos para o que fez e não fez...

O mundo da cultura talvez seja o espaço mais desigual, onde se desperdiça mais talento, sem que exista uma razão racional para a entrada, ou não, no "elevador da fama" (esquecendo-nos do tal "amiguismo" e da "protecção familiar", que continua bem viva...). 

Isto também explica o porquê de haver tanta gente que canta, pinta, escreve, sem que o talento seja a sua maior virtude.

É também por isso que há tantos mortos famosos, que durante o tempo que viveram foram quase sempre ignorados e se alimentaram do famoso "pão que o diabo amassou"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)