segunda-feira, junho 20, 2022

Atravesso o Rio Sempre com Companhia...


Sempre que atravesso o Rio, levo na sacola um livro ligeiro (quase sempre de poesia, por serem geralmente curtos de páginas...). Hoje levei o "Horto de Incêndio" do Al Berto. É um livro sofrido e dorido, pela doença do poeta e pelo desaparecimento de amigos e provavelmente, amantes...

Lembrei-me de outro poeta, por saber que tinham vários pontos em comum, como era o desaparecimento de uma certa Lisboa, mais vadia e vagabunda, por ter lido na véspera uma frase sua já antiga (do final de 2004, quando deu uma entrevista ao suplemento "Actual" do Expresso).

Mário Cesariny quase que pedia desculpa por "ter sido abandonado" pela poesia:

«Tenho vergonha de dizer isto, parece que estou a armar-me ao Rimbaud. Mas a poesia foi um fogo tão poderoso em mim, que ardeu tudo, só ficaram as cinzas. Sou um poeta esgotado, em toda a acepção da palavra. Não há nada na gaveta e eu próprio sou uma arca vazia, esvaziada, pelo menos.»

Al Berto não foi abandonado pela poesia. Foi sim, por um mundo ainda mais preconceituoso que este dos nossos dias, que já viveu dias melhores...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


5 comentários:

  1. Nos finais da década de 80, atravessei o Tejo, diariamente, durante dois anos. Era, na altura, uma viagem que durava 30 minutos para cada lado. E também levava o meu livro, claro. Mas, em dias bonitos, gostava de ver nascer o Sol ou pôr-se, conforme a hora da viagem.
    Esses tempos que vivi parecem-me, agora, cada vez mais distantes...

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    1. Imagino que fossem viagens até ao Barreiro, pela meia-hora, Maria (também as fiz, mais ou menos nessa época...).

      E estão, longe.

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    2. Exatamente, Luís.
      Dei aulas na Escola Secundária Alfredo da Silva. Foi lá que fiz o meu estágio profissional e me efetivei.
      Depois, voltei para Lisboa, onde ainda trabalho...até ao final do ano, altura em que me irei reformar. 😊

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  2. Também levo sempre um livro quando atravesso o Tejo.
    Um abraço e saúde

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