sábado, maio 25, 2024

O café que agora era das "velhas"...


Estava ali, quase encostado ao balcão, à espera de um café. As quatro empregadas parece que estavam ali para outras coisas e não para atender clientes.

Sabia que só parava ali porque queria, a praça continuava a ter mais três cafés, um deles até ficava a menos de vinte metros de distância. Só que o café que usavam era fraquito, contrariando a dinâmica do dono, que trabalhava pelas quatro empregadas, que falavam e resmungavam, fingindo que não havia clientes deste lado.

Uma delas queixava-se que o café se tinha tornado no "café das velhas". Olhei de soslaio e vi que ela tinha razão, as mesas estavam cheias delas, com chá e bolinhos, misturados com palavras alegres. Felizmente havia por ali pouca preocupação com os diabetes e com o colesterol.

Pensei que há muito tempo que não me sentava no interior, na tal sala que agora era de visitas das "velhas". Talvez nem fosse má ideia ficar por ali na mesa ao lado, a fingir-me distraído e a escrever o que me apetecia e não me apetecia, nos guardanapos de papel tipo bíblia, roubando-lhes uma ou outra história das suas vidas.

Mas quando olhei para a sala, já com a chávena de café na mão, senti que não era boa ideia. Faltavam-me os amigos de ontem, que também conversavam muito mas faziam menos despesa que aquelas senhoras que ainda tinham roupa de domingo nos armários.

Não. Iria continuar a beber café ao balcão, sozinho. E quando estivesse acompanhado, continuava a preferir a esplanada...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


5 comentários:

  1. O termo “velhas” fez-me lembrar um comentário que ouvi de um homem - português (claro!!) – quando estava a falar com os amigos, dizendo que tinha ido “ao baile das velhas”. Eu ainda era bastante jovem na altura e o termo “velhas” não me soou bem. Para além de que o dito homem era (e é) casado. Costumava ver o casal uma ou duas vezes por ano ou em casamentos ou eventos culturais patrocinados pelo consulado ou pelas associações portuguesas. Sempre que o via a primeira coisa que me vinha à mente era o tal “baile das velhas”.

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    1. Claro que é uma palavra que soa sempre de uma forma depreciativa, Catarina.

      Mas eu achei que devia usar a palavra, crua, usada pela empregada do café. As coisas são o que são.

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    2. Fizeste bem, evidentemente. : )

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  2. As "velhas" ao domingo não são fonte de inspiração? 😉

    Abraço

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    1. Podiam ser, Rosa...

      Mas normalmente procuro o "imprevisto". :)

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